17

A ligação da minha mãe é assim:

Mãe: “Como estão suas notas?”

Eu: “Eu já te falei. Nós só vamos pegar o boletim na próxima semana.”

Mãe: “Isso não é motivo para não saber se você está indo bem. Você não pode perguntar aos professores?”

Eu: [suspiro exasperado] “Ninguém faz isso. Os professores não querem ser incomodados.”

Mãe: “Não é incômodo. É o trabalho deles.”

Eu: “Vou esperar o boletim.”

Mãe: “Você deve ter uma ideia de como está indo. Você não disse que é monitora agora? Não é necessário ter notas boas para isso?”

Eu: “Sim, estou tirando notas mais altas, então...”

Mãe: “Mais altas quanto?”

Eu: [pausa] “As primeiras médias não foram as melhores.”

Mãe: “Ruins quanto?”

Eu: “Não foram ótimas.”

Mãe: “Primeiro, você me diz que quer se mudar porque um ambiente acadêmico melhor motivaria você. Agora, me conta uma história diferente!”

Eu: [silêncio]

Mãe: “E então você vai me dizer que morar com seu pai está dando certo!”

Eu: “Está bom”.

Mãe: [bufa] “Acho difícil acreditar nisso”.

Não vou contar a verdade sobre mim e papai, de jeito nenhum. Toda a mágoa que está por baixo das superfícies brilhantes do meu novo quarto; todas as coisas que não dizemos, encobertadas por conversas educadas.

Todos nós escondemos alguma coisa. Até a família de Scott, que, de fora, parece totalmente normal, tem um segredo crucial. Ele poderia ter contado para tantas pessoas, mas, por alguma razão, decidiu contar para mim. Scott sabe que pode confiar em mim. Ele precisa de mim tanto quanto preciso dele. Quero que ele saiba que pode contar sempre comigo, que podemos nos ajudar de um jeito que mais ninguém pode.

Que pertencemos um ao outro.

Pego minha caixa de desejos e leio todos os bilhetes que escrevi para mim. Muitos deles foram escritos muito antes de me mudar para cá. Agora aqui estou eu, com Scott na rua ao lado. Uma parte de mim quer manter o segredo e apenas ver como as coisas se desenvolvem entre nós. Tenho muito medo de contar a ele. Tenho medo de que ele não se sinta da mesma forma e, aí, nem amigos seremos. Mas então me lembro do “Saber”.

Hoje, mais do que nunca, sei que pertencemos um ao outro. De repente, sou dominada por uma sensação de urgência. Não consigo sair do meu quarto suficientemente rápido. Corro com aquela sensação eletrizante de sexta-feira à noite me impulsionando. Atravesso a noite até sua rua com o coração disparado. Tudo que importa é finalmente ficarmos juntos.

Quando chego ao seu quarteirão, ando mais devagar. Aliso os cabelos. Tento regularizar a respiração.

Toco sua campainha.

Meu coração acelera novamente. Respiro profundamente.

— Quem é? — pergunta ele pelo interfone.

— Sou eu, Brooke.

Ele abre a porta, mas não posso entrar. Provavelmente seus pais estão em casa e de modo algum posso dizer o que tenho para dizer na frente deles. Os apartamentos em Nova York têm zero de privacidade. Até para ir ao banheiro sem que ninguém saiba o que você está fazendo é um desafio. De qualquer forma, não posso arriscar contar para Scott em seu quarto. E se ele não sentir a mesma coisa por mim? Conseguir fugir rapidamente é essencial.

Toco a campainha de novo.

— A porta não está funcionando? — Scott pergunta pelo interfone.

— Você pode descer?

— Ah, sim. Só um minuto.

Fabuloso. Eu provavelmente interrompi uma conversa profunda com Leslie. Pode até ser que ela esteja lá com ele. Talvez eu deva ir embora. Posso lhe dizer que esqueci que precisava ir a algum lugar.

Scott abre a porta. Meu estômago vira.

— E aí, vizinha? — diz ele.

Abro a boca para dizer “oi”, mas não sai nada.

Ele repete:

— E aí?

Chegou a hora. A Hora que deveria ter sido a Hora no piquenique do segundo ano, ano passado. A Hora que passou da hora há muito tempo.

— Leslie é sua namorada? — pergunto.

Eu não tinha a intenção de começar assim, saiu sem querer.

— Não exatamente — responde ele. — É complicado.

— Complicado quanto?

Scott pensa.

— Vamos dizer apenas que temos divergências.

Isso poderia ser tanto uma boa quanto uma péssima notícia. Será que queria dizer que ele é quem está levando as coisas mais a sério? Ou será que é Leslie? Se eu tivesse de adivinhar, diria que é Leslie.

Espero que eu esteja certa.

— Vim aqui por sua causa — digo eu.

— Humm... é, legal. E aí, você queria comer um sanduíche ou...?

— Não, quero dizer... eu vim para Nova York por sua causa. Mudei para cá para estar com você.

— Você mudou para cá por minha causa?

Faço que sim com a cabeça.

— Por quê?

— Porque... Tudo bem, sei que vai parecer esquisito, já que não nos conhecíamos antes, mas sentia que, se você me conhecesse, compreenderia que nós pertencemos um ao outro.

— Mas nós mal nos conhecemos!

— Não, eu sei. Sei que é estranho.

— Uau, isso é... demais!

— Desculpe, não tive a intenção de deixá-lo sem ação.

— Não sei o que dizer.

— Tudo bem. — Lágrimas fazem meus olhos arderem. — Eu vou... preciso ir!

Se Scott quisesse ficar comigo, estaria me dizendo isso nesse momento. No entanto, ele não diz nada. Está parado ali, olhando para qualquer lugar, menos para mim.

Eu.

Estou.

Envergonhada.

— Você não precisa ir embora — diz Scott.

— Tenho de ir.

Vou para casa o mais rápido que consigo. Quero correr, mas estou chorando. Correr e chorar não combinam muito bem. Aprendi isso a duras penas.

Então é assim que nos sentimos quando nosso coração se despedaça.

Não acredito. “O Saber” me traiu. Tudo o que achava que era verdade é mentira. Não que eu esteja surpresa, é a história da minha vida!

É difícil perceber quanto tempo se passou quando tudo o que se quer é que o mundo vá embora. Só quero ficar escondida aqui, no meu quarto, para sempre. Já chorei até a metade da caixa de lenços de papel. Desta vez, estou achando ótimo que papai só venha para casa bem mais tarde.

A campainha toca.

Não vou atender de jeito nenhum. Chorei tanto que meu rosto está todo inchado e os olhos estão vermelhos. Se eu ignorar quem quer que seja, a pessoa vai embora.

Só que ela não vai. A campainha continua tocando. Tão irritante! Por que não me deixam em paz? O que querem comigo?

Quando a campainha toca pela bilionésima vez, vou até lá a passos largos e abro rapidamente a porta, nem pergunto quem é.

É Scott.

Ele não diz nada. Ele não tem de dizer nada. Ele passa os braços em volta das minhas costas e me puxa para perto dele.

Quando me beija, cada um dos meus sonhos se realiza.