ZIRL, DISTRITO DE INNSBRUCK,
INÍCIO DE JULHO

Era uma pena que aquela questão tão desagradável ainda estivesse por resolver, mas todos concordavam que não havia necessidade de Greta e Albert adiarem as suas férias nos Alpes. Depois de algumas semanas de férias, iriam até Viena antes de regressarem finalmente a Inglaterra.

O calor de julho tornara-se desagradável para Greta e foi um alívio retirar-se para a frescura das montanhas. Acordavam tarde e passeavam, depois de almoço, ao leve calor da tarde. Greta sempre amara os Alpes. Mesmo no pico do verão, havia uma frescura no ar. As vacas percorriam as encostas verdejantes cheias de flores amarelas, como um céu cheio de estrelas. O eco dos badalos recordava-a do seu badalo em Fontmell e, cada vez que ouvia um, quase esperava ver Withers a surgir por trás de um chalé, no seu passo apressado. Greta estava decidida a encontrar genciana e edelweiss para levar para o seu jardim e caminhava com um sacho e vasinhos numa mochila de lona. Albert andava à caça de borboletas nativas e trouxera a sua rede e os frascos. Uma carroça puxada por mulas levava-os para cima por um caminho de terra batida nos meandros de um trilho alpino, e desciam juntos a passo lento, partilhando uma garrafa de vinho suave e adocicado e explorando as encostas.

— Quem me dera que pudéssemos ficar até meio de agosto — disse Greta. — Celebra-se o aniversário do imperador em toda a Áustria-Hungria. Até as aldeias mais modestas festejam. É um espetáculo único.

Parou para observar umas violetas que cresciam num pedaço de musgo.

— Alguma vez o conheceste?

— Só uma vez, quando condecorou o meu pai. Mesmo na altura, já parecia velho, mas tinha uns belos olhos azuis. Estava rodeado de tanta gente. Guardas de uniforme imperial, oficiais, criados. Acho que nunca está só, nem por um minuto.

— Segura aqui.

Albert passou-lhe o frasco enquanto recolhia suavemente uma borboleta da relva ao lado de Greta. Pô-la dentro do frasco e ela passou-lho de volta para as mãos.

— Não quero segurar o frasco enquanto ela morre. Detesto a sensação delas a baterem contra o vidro — disse Greta.

— Elas não sentem dor — disse Albert.

— Como é que sabes? Não és uma borboleta.

— Não têm recetores de dor, como as pessoas. Sabem quando são tocadas, mas é só isso. Uma borboleta consegue voar e comer e tenta acasalar, mesmo sem abdómen.

Greta olhou para a borboleta moribunda. Era branca, com as pontas das asas cinzentas, mas na asa posterior tinha várias pintas escarlates, como gotas de sangue espremidas de um dedo para um lenço.

— Estou cansada. Vamos voltar — disse Greta.

Albert guardou o equipamento e desceram lentamente o carreiro da encosta.

Nessa noite, Greta sonhou que estava no Palácio de Schönbrunn a ver o imperador Francisco José a jogar às cartas com a Morte. O imperador vestia o seu uniforme imperial e viam-se as suas fartas patilhas, e a Morte tinha as asas de uma enorme borboleta-apolo, brancas com pintas de um vermelho intenso. Estavam a jogar num silêncio cúmplice, como dois velhos amigos.