LONDRES, 27 DE JULHO
Lord Goldbaum lia os mercados como um adivinho interpreta borras de café, e eram os próprios mercados a tranquilizá-lo. A Bolsa de Viena tinha entrado numa ligeira queda a meio do mês, mas em Londres não se detetava qualquer turbulência. As manchetes dos jornais pregavam catástrofe e terror, mas eram os mercados que revelavam as verdadeiras expectativas dos homens. Na sua experiência, um homem era mais honesto com o seu corretor do que com o seu rabi e mais cuidadoso com o seu dinheiro do que com a sua alma.
Até que, no dia 27, o seu escrivão-chefe bateu à porta da sala do conselho de administração para o informar que havia muito movimento na bolsa. Dentro de uma hora, Lord Goldbaum detetou que todos os bancos continentais, sobretudo os alemães e austríacos, estavam a retirar grandes quantidades de dinheiro das bolsas de valores e que o governo alemão tinha parado de pagar os juros dos seus empréstimos aos bancos ingleses, incluindo aqueles que tinham dívidas para com a Casa Goldbaum. As empresas com grande volume de negócios no continente encontrar-se-iam rapidamente numa situação difícil. Segundo a sua estimativa, havia já letras de câmbio pendentes no valor de trezentos milhões de libras. Se fosse declarada guerra, nunca seriam pagas. Mandou um telegrama de aviso para Paris. Jacques respondeu com um telegrama em código a solicitar uma grande venda de ouro para o governo francês. Quando chegou, Lord Goldbaum baixou as persianas na sala do conselho de administração e comeu a sua tarte de galinha e alho-porro sem a saborear. Era evidente que os primos franceses acreditavam que a guerra estava próxima e queriam prover os cofres de guerra do seu governo.
Deu por si preso num dilema moral terrível. Era entendido por todos e aceite de boa-fé que as comunicações entre os administradores das diferentes Casas eram completamente confidenciais. Mas compreendeu, com um terror crescente, que teria agora de pôr a nação antes da família. Sempre houvera, até então, alguma maneira de servir ao mesmo tempo os interesses dos Goldbaum e do seu país. Sentiu algo dentro de si partir-se, como um tendão. Sentia-se à deriva, infeliz. Bebeu um gole de leite para acalmar o estômago e suspirou. Jacques fora seu amigo e confidente durante muitos anos. Admirava e respeitava Edgar. Estes homens eram seus primos, além de seus parceiros, e, enquanto trabalhava na Casa de Londres, frustrado com as exigências da indústria ou do governo, consolava-se com a ideia de que os membros da sua família, em Viena, Paris e Berlim, trabalhavam em escritórios quase iguais, sentindo a mesma coisa.
Imaginou as diversas Casas Goldbaum da Europa como pérolas num colar, e via a guerra como o golpe que viria quebrar a corrente. Com uma sensação de tristeza a asfixiá-lo, compreendeu que acabaria por ser o filho mais novo a conduzir a família inglesa nesta era nova e malograda. Não era este o legado que queria deixar a Albert.
Esforçando-se por não deixar a mão tremer, Lord Goldbaum escreveu uma resposta a Jacques: «Lamento não. Mandar ouro inglês para Europa traição com guerra a eclodir.»
Enviou dois telegramas mais. Um ao primeiro-ministro, quebrando o compromisso implícito para com a família e avisando Asquith de que os mercados estavam claramente a sentir a guerra iminente. O segundo telegrama foi para Albert. Dizia: «Voltem para casa imediatamente.»