LONDRES, AGOSTO

A constipação de Lord Goldbaum não melhorou e afetou-lhe os pulmões. Retirou-se para o seu quarto no número um de Park Lane e Lady Goldbaum deixou o Hampshire para estar ao lado do marido. Fez todos os possíveis para manter as visitas afastadas. Todos os dias, ao abrir os jornais, esperavam ver anunciada uma declaração de guerra. Parecia inevitável. A única questão era quando.

Para completo desespero de Lord Goldbaum, também parecia cada vez mais provável que a guerra pusesse fim às casas bancárias. Há anos que as finanças europeias atravessavam fronteiras, com todas as economias tecidas num só organismo, intricada e firmemente. As empresas alemãs pediam empréstimos em Londres e os bancos de Londres recolhiam fundos em Paris, Nápoles e Berlim. Agora, depois de décadas de cooperação, as nações estavam a tentar separar-se apressadamente. Os laços estavam a ser quebrados em todas as capitais, e os mercados financeiros europeus pareciam subitamente fracos e desguarnecidos. Corretores, banqueiros e políticos estavam todos a esforçar-se ao máximo para proteger os fundos, mas as bolsas de valores sangravam ouro e dinheiro, que corriam como a água para uma valeta numa tempestade. Da sua cama, apoiado por uma abundância de almofadas, Lord Goldbaum ditou uma carta ao ministro das Finanças, implorando-lhe que fechasse a Bolsa de Valores até a crise acalmar e que suspendesse a lei que insistia na conversão do dinheiro em ouro. Se essa lei não fosse suspensa, os bancos entrariam em insolvência, avisou.

Sentada no quarto do marido depois de jantar, Lady Goldbaum lembrou-se de que não tinham sido incomodados por um mensageiro o dia todo.

Lord Goldbaum estava a dormir quando o ministro das Finanças foi admitido aos seus aposentos e, ao acordar, apanhou um pequeno susto ao ver Lloyd George sentado num cadeirão, com um ar embaraçado. Estendeu a mão e Lloyd George apertou-a, começando a dizer:

— Lord Goldbaum, sei que tivemos alguns conflitos políticos no passado…

— Senhor Lloyd George, neste momento nada disso interessa. O que posso fazer para ajudar?

Foi acordado um empréstimo de um milhão de libras caso eclodisse a guerra, que, embora não tivesse sido ainda declarada, parecia inevitável. Mas o ministro hesitou; parecia não querer partir.

— Há mais alguma coisa que possa fazer para o ajudar, senhor Lloyd George? — perguntou Lord Goldbaum.

— Zarpou um navio para a América do Sul e, embora seja supostamente neutro, temos motivos para suspeitar que carrega reservas para os alemães, muito provavelmente ouro.

— Quer que trave o navio?

— Sim.

Lord Goldbaum tocou a sineta e o camareiro trouxe papel e uma caneta. Com alguma dificuldade, escrevinhou um bilhete, percebendo que a mão se recusava a segurar bem na caneta. Quando olhou para baixo, viu que a sua letra se tinha transformado nas inscrições tremidas de um velho. Passou o bilhete ao camareiro.

— Está feito. Foi fácil — disse a Lloyd George.

Depois de o ministro ter partido, Lord Goldbaum reclinou-se na sua almofada, exausto com o esforço da conversa. Fechou os olhos; queria dormir e queria ver o filho.