Capítulo 50
''Faltam quinze minutos, chefe. Melhor irmos. Galbraith será o primeiro.''
''Obrigado, Clive, minha gravata está torta?''
''Está perfeita lugar, chefe. Eu encontro você para tomar uma cerveja na hora do almoço. É a sua vez de pagar.''
''Deverei voltar bem antes, Clive. O caso do Galbraith será só uma formalidade. Ele será detido e levado à prisão de Swansea às onze no mais tardar.''
Gravel caminhou confiante para dentro do tribunal local bem na hora de ver o doutor entrar, sentar no banco dos réus e encarar três oficiais locais. Ele parecia meio desgrenhado, com a barba por fazer, bastante diferente da imagem de profissional respeitável que ele geralmente encenava para o mundo.
O inspetor sentou no banco das testemunhas, pegou a bíblia, fez o juramento e apresentou fatos básicos do caso. Ele nunca tinha se sentido tão relaxado em toda sua vida… A sala de audiências era familiar, os fatos pareciam falar por si próprios: Galbraith era um perigo para a sociedade - isso parecia óbvio. Ele deveria ser mantido em custódia, na prisão de Swansea ou Cardiff, até o julgamento. Que outra conclusão sensata haveria? Gravel prestou atenção quando o advogado de Galbraith apelou para liberdade condicional, citando o bom caráter do doutor, posição social e elevado status profissional… Certamente os magistrados não iriam cair em uma merda daquelas, não dada a natureza monstruosa dos fatos.
O inspetor ficou ainda mais surpreso quando os três magistrados se retiraram para considerar o pedido… Que merda precisava ainda ser considerada? O que Gravel não sabia era que dois dos três magistrados conheciam o doutor. Ou para ser mais preciso, um realmente o conhecia: sua verdadeira natureza, o que ele era e o que ele fazia, e a outra achava que o conhecia, mas não de verdade. Reverendo Jones, o chefe da bancada, era um vigário aposentado em seus setenta anos que compartilhava dos interesses criminais de Galbraith e era um membro ativo da comunidade pedófila local. A senhora Mary Price, em contraste, era uma professora de história de uma das duas escolas da cidade. Ela era bem-intencionada, mas ingênua e teve contato com o doutor por consequência de seu trabalho… Ela tinha ouvido atentamente as alegações, mas não conseguia aceitar que um homem bom como Dr. Galbraith, tão charmoso, um homem importante que sempre tinha tempo para conversar e perguntar como estava sua família, tenha feito alguma coisa errada, mesmo com todas as evidências apresentadas pela polícia.
Quando os três magistrados retornaram ao tribunal, todos, com exceção do Dr. Galbraith que estava olhando intensamente para o reverendo com olhos esperançosos, estavam totalmente certos de que ele iria ser aprisionado enquanto esperava pelo julgamento. A sala ficou em absoluto silêncio enquanto o Reverendo Jones começou a falar em uma voz baixa e monótona, fazendo com que Gravel se esforçasse para ouvir apesar de sua excelente audição. ''Nós consideramos cuidadosamente as acusações. O caso será encaminhado para o Tribunal da Coroa. Lamentavelmente, não tenho escolha a respeito disso. Em tais casos, é normal a prisão preventiva do réu por conta dos interesses de segurança pública. ''Gravel se inclinou para frente, apurando seus ouvidos… Onde esta merda ia parar? O Reverendo Jones continuou. ''No entanto, nesse caso há várias considerações excepcionais.'' Gravel se moveu para a ponta da cadeira… Excepcionais? Que merda ele estava falando? ''Dr. Galbraith é um homem de excelente caráter. Um indivíduo altamente respeitável e status impecável, que cumpre seu papel essencial em nossa comunidade local. Ele nos serviu altruisticamente por muitos anos. Incontáveis crianças perturbadas e suas famílias infelizes têm muito a agradecer a ele. A liberdade provisória a fim de responder processo em liberdade será concedida com a condição de que ele se reporte à polícia semanalmente.'' O inspetor balançou sua cabeça devagar… O homem era um completo idiota.
O Reverendo Jones olhou diretamente para o doutor. ''Dr. Galbraith, sou obrigado a dizer que você não deve se aproximar das testemunhas, embora em seu caso tenho certeza que tais condições são inteiramente desnecessárias.'' Gravel não conseguia acreditar no que ele tinha acabado de ouvir… Em todos esses anos, ele já tinha testemunhado decisões loucas, mas essa levou o troféu. Ele pulou de sua cadeira e jogou seus braços no ar. ''Que merda vocês acabaram de fazer?'' O Reverendo Jones olhou para ele com olhos acusativos… Não era novidade os réus desafiarem as autoridades públicas, mas nunca a polícia. Ele fixou os olhos em Gravel e rosnou inflexivelmente, ''Cuidado, Inspetor. Lembre-se a quem está se endereçando. Mais uma palavra vinda do senhor e eu o prendo por desacato.'' Gravel mordeu o lábio inferior com força e recuou em direção à saída enquanto resmungava obscenidades… A decisão estava feita e não havia merda nenhuma que ele pudesse fazer para mudar isso. Ele escolheu ignorar o sorriso malicioso de Dr. Galbraith e seu pedido bem-humorado de uma carona para casa conforme ele saia. O inspetor se apressou em sair do edifício do Tribunal e entrou em uma rua comercial cheia de gente, movimentada com clientes animados em aproveitar as ofertas de inverno… Ele precisava beber. Ele precisava muito beber.
Gravel entrou no bar mais próximo, pediu um conhaque e o engoliu de uma vez, seguido de outro, que ele consumiu de modo similar. Ele colocou seu copo vazio sob a bancada e saiu apressado do bar em direção ao Correio de Caerystwyth… Ele precisava de uma cabine telefônica. Merda! Alguém estava usando. Mas ao menos, estava funcionando. Devia esperar? Não, ele não tinha tempo a perder. Ele bateu forte no vidro com os nós dos dedos de uma das mãos até o usuário irritado se virar em direção dele e lhe mostrar o dedo do meio. Gravel abriu a porta e olhou para o adolescente, cuja braveza evaporou imediatamente. ''Polícia. Fora!''
Qual era o maldito número? Ele entrou em contato com o serviço de informações da lista telefônica, pegou rapidamente algumas moedas do bolso de sua calça, discou e esperou… Atenda, vamos, atenda esse merda!
Cynthia se aproximou do telefone apreensivamente… Por favor, que não seja ele. Por favor, que não seja ele. Ela pegou o receptor e timidamente suspirou, ''Alô?''
''Senhora Galbraith?''
Silêncio.
''Cynthia, é o inspetor Gravel, nós nos conhecemos em sua casa outro dia.''
''Me lembro.''
''Cynthia, não tenho o hábito de fazer isso, mas é um caso excepcional.''
Ela apertou o telefone. ''Meu marido sabe que o senhor está ligando?''
''Não, Cynthia, ele não sabe, e isso é bom. A audiência terminou. Ele está encarando algumas acusações sérias. Mas, foi dado a ele o habeas corpus.''
''Habeas corpus?''
''Isso significa que ele está livre para ir para casa, Cynthia. Por favor, me ouça cuidadosamente. Você não tem muito tempo. Você precisa entender que seu marido é um homem muito perigoso. Ele está sendo acusado por crimes terríveis contra crianças. Por favor, saia daí enquanto ainda tem uma chance. Por que você não vai para a casa de seus pais? Suas filhas já estão lá. Você precisa…''
Cynthia não ouviu o resto do pedido fervoroso de Gravel. Ela decidiu que já tinha ouvido o suficiente e colocou o telefone de volta no gancho, exatamente ao mesmo tempo que Dr. Galbraith entrava em um táxi e dava ao motorista seu endereço. Cynthia sentou-se na mesa da cozinha com a cabeça em suas mãos e olhou para o armário galês por quase cinco minutos antes de finalmente decidir agir. Ela abriu a gaveta, pegou a chave da porta de segurança com os dedos tremendo e colocou seu ombro contra o lado do armário, usando todo seu peso e força limitados para gradualmente o empurrar para o lado. Ela ficou de pé, encarando a porta parcialmente livre, ofegante, tomando coragem para se mover e então, de repente, seguiu adiante, agarrou a maçaneta e a abriu. Ela olhou para os degraus de concreto e hesitou por alguns segundos… Ela ainda podia correr. Ainda era uma opção, não era? Não… era muito tarde. Mas e se o menino estivesse lá e precisasse de sua ajuda? Não, não dessa vez; não tinha retorno, não dessa vez. Cynthia desceu seu primeiro degrau, fez uma pausa breve nas escadas considerando uma fuga apesar de sua nova determinação, e então desceu rapidamente até o fim, sem se permitir tempo o suficiente para mudar de ideia. Ela tentou colocar a chave na fechadura, a derrubou no chão, a pegou novamente e tentou de novo… Suas mãos estavam tremendo muito. Não iria abrir. Elas estavam tremendo demais. Ela encaixou a chave na fechadura com sua mão direita enquanto a segurava com a mão esquerda… Estava funcionando. Estava funcionando mesmo.
Houve um click metálico quando ela finalmente girou a chave na fechadura… É isso, Cynthia. É isso! Ela tinha feito. Estava aberta. Realmente aberta.
Uma pequena parte dela desejava que a porta tivesse permanecido trancada, mas não estava, e ela a empurrou devagar, centímetro por centímetro e investigou na escuridão com olhos nervosos… Estava escuro, muito escuro para ver. Talvez aquilo não fosse algo tão ruim. Talvez ela devesse voltar e correr. Ela balançou sua cabeça com determinação… Não, não dessa vez; não haveria fuga dessa vez. Cynthia colocou sua mão através do vão da porta e procurou por um interruptor de luz… Sim, lá estava ele. Lá estava ele.
O botão funcionou na terceira tentativa, acendendo uma luz fluorescente brilhante. Cynthia fechou seus olhos com força, protegendo-os da repentina e intensa luz. Deu um passo para frente e aos poucos os abriu, apertando os olhos dentro do lugar branco. A princípio, Cynthia não viu o menino pendurado na parede do lado esquerdo da porta, ou os instrumentos de tortura, ou o gancho de metal suspenso do teto. Suas primeiras impressões foram de ser um espaço estranho, frio e clínico e apesar do cheiro pútrido de carne humana. Inicialmente, ela se sentiu estranhamente tranquilizada pela aparência de laboratório científico… Talvez as pessoas estivessem erradas afinal de contas. Talvez o seu marido estivesse simplesmente sendo mal interpretado e não fosse um criminoso. Ela deu um outro passo para frente com uma nova confiança e vagarosamente escaneou o cômodo com os olhos piscando. Quando ela viu o menino emagrecido e definhando pela primeira vez ela simplesmente ficou de pé e olhou, desesperadamente querendo acreditar que aquele horror diante dela era um produto de sua imaginação ao invés da sombria realidade. Cynthia andou em direção de Anthony e o tocou gentilmente em sua bochecha direita… Ele era real. Não era trabalho. Não era ciência. Seu marido era um monstro. Não havia como negar o horror que ele tinha feito. Cynthia colocou sua mão ainda mais levemente sobre o peito de Anthony e segurou-a ali… Ela estava imaginando coisas? Ela estava em negação? Não, havia um batimento cardíaco. Um fraco, mas definitivo batimento cardíaco! Graças a Deus, ele estava vivo. O menino estava definitivamente vivo.
Em uma loucura hormonal, ela rapidamente se esforçou para o libertá-lo de suas algemas até suas unhas pintadas se quebrarem e sangrarem. Mas seus esforços eram sem esperança. Ela caiu em seus pés e chorou… Nenhum esforço de sua parte seria suficiente, não importava o quanto ela tentasse. E mesmo que ela finalmente o conseguisse soltar, o que parecia uma causa perdida, ela não poderia carregá-lo até a porta ou arrastá-lo sozinha pelos degraus. Ela simplesmente não tinha força física para isso.
Cynthia pulou… Ela precisava de ajuda. Ela precisava pedir ajuda. Ela se virou sem olhar para trás e correu pelos degraus… Por que ela não disse ao inspetor o que ela sabia quando teve a oportunidade? Ela deveria ter dito. Parecia tão óbvio. Por que ela não contou a ele?
Cynthia ouviu a voz de seu marido em sua cabeça… Menina burra. Menina burra! Por que não consegue fazer nada direito?
Ela entrou na cozinha, mas parou repentinamente e ouviu algo, esperando que seus ouvidos a estivessem enganando. A chave na fechadura. A porta da frente estava se abrindo! A porta se fechou. Passos no hall. Ele estava de volta. Oh não, ele estava de volta! Ela podia correr. Ela poderia se esconder. Ela podia tentar acalmá-lo. Não entre em pânico, Cynthia, não entre em pânico.
Ela respirou profundamente repetidamente e imaginou o menino pendurado em um gancho de metal ensanguentado naquele local terrível; o inferno que seu marido tinha criado… Não haveria retorno. Não haveria correria; não dessa vez. Não dessa vez! Cynthia ouviu os passos do doutor chegando perto, perto, cada vez mais perto. E então ele apareceu: tencionando e relaxando seus músculos, afrouxando seus ombros poderosos e transformando suas mãos em armas formidáveis. Ele olhou para ela, para o armário movido e então para ela de novo… A vagabunda tinha aberto a porta. Inacreditável! Ela tinha mesmo aberto a porta.
Ele deu um passo em direção a ela, gritando: alto e mais alto e mais alto até ela acreditar que a sala realmente estivesse tremendo. ''Que porra você fez, sua vadia idiota?''
Cynthia apalpou o balcão, centímetro por centímetro, centímetro por centímetro… Quase lá, quase lá. Vamos, Cynthia, quase lá. E então ela se moveu rapidamente, como um corredor na largada e rapidamente agarrou uma faca de trinta centímetros do bloco de facas de madeira na bancada de granito negro e brilhante. Ela se moveu gradualmente em direção à entrada do porão em movimentos lentos, enquanto estendia a faca em sua frente agarrando fortemente ao redor de seu cabo com ambas as mãos.
Dr. Galbraith arregalou seus olhos, respirou fundo, grunhiu como uma besta enfurecida e de repente correu em direção dela, atingindo sua cabeça com um golpe enquanto ela tentou o atingir com a lâmina, em vão. Cynthia tropeçou para trás, perdeu seu equilíbrio e bateu no batente da porta antes de cair no chão. O doutor se aproximou dela, levantou sua perna direita e a chutou fortemente em suas costelas, antes de pisar sobre seu corpo vulnerável e avançar em direção aos primeiros degraus do porão.
Cynthia lutava para respirar, e apesar das quatro costelas quebradas, de alguma forma levantou seu corpo atordoado e trêmulo, focou nas costas musculosas do doutor com os olhos turvos, rastejou-se para frente rapidamente até alcança-lo, suspendeu seu braço direito e enfiou a faca profundamente na sua coxa esquerda com tanta força quanto seu corpo ferido poderia reunir, atingindo o osso com a ponta da lâmina afiada.
O doutor gritou como um macaco ensandecido, mais do choque de que Cynthia se atrevera a fazer algo assim, do que da dor real. Ele usou sua perna direita para chutar sua cabeça como se estivesse dando um coice, enquanto ela agarrava suas pernas em uma tentativa de impedir que continuasse. Cynthia gritou. Ela estava atordoada, aturdida, sua cabeça zunindo, mas ela não desistia. Enquanto ele a segurava e erguia seu pé para esmagar sua cabeça, ela agarrou o tecido de suas calças, estendeu seu braço livre e enfiou a lâmina profundamente dentro de sua coxa pela segunda vez. Ele se esquivou atleticamente, libertou-se de seu punho frágil e deu uma joelhada em seu rosto, deixando-a à beira da inconsciência. Ele olhou para baixo, para seu corpo frágil e saboreou o momento. Dr. Galbraith foi mancando até a cozinha e pegou uma toalha branca da gaveta, a amarrou em volta da coxa ferida e mancou em direção dos degraus com o sangue escorrendo de sua perna e ensopando suas calças sob medida. Ele bateu repetidamente em sua cabeça com dedos ansiosos… Era hora de matar o pirralho. Hora de destruir as provas. Ele ia forçar a vadia intrometida a ajudá-lo com essa tarefa em particular, antes de a matar.
Assim que ele se aproximava do fim da escada, Cynthia se arrastou e levantou-se sobre suas pernas aturdidas. Ela cambaleou em direção à escada e levou dois minutos para chegar até o fim, segurando a faca firmemente em sua mão direita.
Quando ela finalmente alcançou o porão, ela viu o doutor de pé em frente do armário de medicamentos, preparando uma seringa com um líquido claro, se virando e rapidamente se aproximando de Anthony com uma expressão determinada em sua face.
Quando Cynthia cambaleou em direção a ele com sua faca atrás de suas costas, ele parou, repentinamente consciente de sua presença e surpreso por sua determinação… Talvez ele devesse revisar sua tese em alguma data futura. A vagabunda tinha coragem apesar da sua situação desesperadora. Interessante, patético, mas interessante!
Dr. Galbraith focou novamente no presente, encontrou os olhos de Cynthia e sorriu. ''Sua aparição não poderia ser hora melhor, minha querida. Você chegou bem na hora de assistir o pirralho morrer. E então, uma vez que você tenha me ajudado a desfazer do corpo, será a sua vez. Eu suspeito que isso talvez venha a ser uma libertação bem-vinda, minha querida. Mas não me entenda mal, você não morrerá tão facilmente. Eu vou demorar e você irá sofrer. Oh sim, você irá sofrer. Mas não é de se preocupar, minha querida, isso é para depois.''
Cynthia arrastou um pé para frente, e outro, e outro até chegar ao lado de seu marido exatamente quando ele estava prestes a inserir a agulha no abdômen inchado do menino. Ele parecia estranhamente inconsciente da presença dela quando ela pegou a faca com ambas as mãos, agarrou-a fortemente, a ergueu sobre sua cabeça e a trouxe abaixo sob a parte de cima de suas costas com toda força que sua magreza permitiria.
Dr. Galbraith deixou a seringa cair, curvou-se para frente, perdeu seu equilíbrio sobre o chão manchado, colidiu com a parede imediatamente ao lado das correntes de Anthony e bateu seu rosto contra o piso branco duro, com Cynthia de pé acima dele e lutando pela vida. Ele estava aturdido, devagar para reagir e Cynthia aproveitou-se da oportunidade. Ela ergueu a faca acima de sua cabeça pela segunda vez e cravou-a músculo de seu ombro direito com toda sua força, deixando seu braço inútil. Cynthia tirou a lâmina, e levantou-se vagarosamente sobre o corpo incapacitado do homem que tinha trazido tanta dor e infelicidade para o seu mundo… Ele estava morto? Ele estava, não estava? Claro que ele estava morto.
Ela se ajoelhou ao seu lado, de alguma forma juntou forças para rolá-lo sobre suas costas e olhou para seu rosto aparentemente sem vida por um minuto ou mais, antes de esticar sua mão nervosamente para sentir se havia uma batida de coração… estava terminado? Estava mesmo terminado? Com certeza tinha terminado. Mas ela tinha que ter certeza. Gostando ou não, ela tinha que ter certeza. Conforme Cynthia se curvou para frente e colocou seu rosto próximo ao dele para ouvir qualquer sinal de respiração, ele de repente abriu um olho, e então o outro e mordeu sua orelha. Mas ela reagiu rapidamente, desviando para trás e fazendo seu ataque falhar. Conforme ele se arrastava na tentativa de agarrar sua garganta, ela pulou de pé, ergueu a faca sobre sua cabeça com ambas as mãos e o esfaqueou com força, antes de repetir o processo de novo e de novo e de novo. Quando ele estava totalmente irreconhecível como sendo o homem que havia a atormentado, ela parou e desabou a seu lado, ensanguentada e exausta. Enquanto Cynthia descansava ali, naquele lugar horrível, aquele monumento ao mal, respirando com dificuldade, ela se deu conta… Estava acabado. Dessa vez tinha mesmo acabado. Todo o medo repentinamente a deixou e naquele momento tudo era calmaria… Ela estava segura. A criança estava salva. O monstro não estava mais lá e seu mundo era um lugar melhor. Cynthia estava alheia à sua dor e à arma agarrada fortemente em sua mão direita enquanto subia os degraus, atravessava a cozinha e ia em direção do hall. A faca caiu sob o piso e a assustou enquanto pegava o telefone e discava nove-nove-nove.
Ela tropeçou na sala, caiu no chão do lado de um armário velho e escuro e ousou destrancar o armário com os dedos ensanguentados, notando que não tremiam mais. Ela pegou seu LP favorito da coleção que não tinha visto, muito menos tocado em anos e se levantou. Cynthia tirou o vinil de sua capa colorida, levantou a tampa de plástico do toca-discos, colocou seu disco gentilmente para tocar, esperou a agulha fazer contato com o vinil e aumentou o volume. Ela se sentou no luxuoso carpete com uma nova vitalidade e ouviu alegremente ao glorioso medley das visionárias canções de Bowie, enquanto esperava pelos serviços de emergência chegarem.