Regresso ao futuro
Nas últimas décadas, um apreciável número de psiquia-tras e psicólogos utilizou a regressão como terapia, fazendo os pacientes regressar aos seus primeiros anos de vida, à vida intrauterina e a experiências de supostas vidas passadas (Dethlefsen, 1976; Lucas, 1993; Simões, 2003; Barbeau, 2005). Mais recentemente, vários terapeutas fizeram os seus clientes vivenciar supostas experiências do futuro (Richtie, 1987).
As sessões de regressão têm muitas vezes um grande impacto por deixarem perceber situações traumáticas que podem explicar determinados problemas ou constrangimentos do presente e por permitirem uma relativamente fácil correção, a partir da consciencialização do paciente. Claro que estes domínios podem pertencer apenas ao imaginário, mas o que é importante para o terapeuta é a força das memórias evocadas e trabalhadas poder melhorar o curso presente e futuro da vida do cliente.
Quando agora são utilizadas hipotéticas memórias futuras, o terapeuta necessita de ter ainda mais cuidado, alertando para a possibilidade de os conteúdos serem meramente imaginários, ou mesmo projeções de desejos subconscientes dos pacientes. As memórias futuras são como sonhos, misturando-se muitas vezes — no dizer do psiquiatra norte-americano Brian Weiss — «o símbolo e a metáfora, esperanças profundamente enraizadas e desejos, recordações reais e experiências pré-cognitivas». Só porque o paciente vê o futuro, isso não quer dizer, obviamente, que esse futuro seja verdadeiro; será provavelmente um dos futuros possíveis, a acontecer ou não de acordo com as decisões do próprio.
Analisando, porém, muitas centenas de casos e seguindo a sua evolução posterior, Weiss conclui que «muitas visões do futuro próximo provaram ser verdadeiras». E, mais do que isso, afirma que «o futuro parece ser um destino flexível; existindo uma multiplicidade de futuros possíveis e futuros prováveis [...]. Os nossos futuros individuais [...] dependem em grande parte das nossas escolhas e ações no presente. Os nossos futuros a longo prazo, os nossos futuros coletivos, o futuro do nosso planeta dependem das decisões cumulativas de todas as pessoas».
Curiosamente, Weiss consegue que os seus doentes projetem várias situações de futuro próximo ou distante. A partir daí, eles percebem de uma forma muito vincada que se tomarem no presente as decisões corretas e fizerem o caminho apropriado, o futuro ser-lhes-á relativamente agradável. Ao invés, se tomarem as decisões erradas e não se esforçarem por construir soluções favoráveis, o futuro ser-lhes-á desfavorável.
Quando fazemos escolhas, estamos a moldar o nosso futuro, quer em termos individuais, quer em termos coletivos. A regressão ao futuro, ou progressão, afinal apenas confirma que o acaso não existe. O nosso presente é fruto das nossas decisões passadas. O nosso futuro será o resultado daquilo que formos querendo e construindo.
Conscientes disso, podemos então encarar o futuro de uma forma verdadeiramente responsável, assumindo os nossos atos e utilizando apropriadamente o nosso livre-arbítrio, de forma útil para nós próprios e para os outros. Assim, poderemos progredir e contribuir para a progressão geral.
Grande parte da Humanidade admite pela fé a vida além da morte física, defendendo algumas correntes a possibilidade do regresso da alma a um outro corpo físico, que venha a nascer posteriormente. Nas últimas décadas, o tema das vidas sucessivas tem sido bastante tratado. O que não tem merecido ainda muita atenção no Ocidente é o que se passará no intervalo entre duas vidas físicas (Newton, 1995).
Admitem alguns pensadores que a alma que se libertou do corpo físico, mais cedo ou mais tarde, apercebe-se disso e eleva-se ao seu plano cósmico (de acordo com a sua evolução espiritual). Os seres mais esclarecidos percebê-lo-ão de imediato, enquanto os menos evoluídos poderão manter-se religados — durante dias, meses ou anos — aos acontecimentos, às pessoas ou ao património material que deixaram, alguns julgando estarem ainda fisicamente vivos, outros percebendo o seu estado.
Mas sempre chegará o momento em que se darão conta de que a sua trajetória evolutiva deverá continuar noutros parâmetros, onde, com satisfação, se juntam a seres de nível espiritual semelhante, fazendo uma análise retrospetiva do seu percurso e planeando o seu futuro. Assim deixam de perturbar espiritualmente os seres que ainda se mantêm fisicamente no planeta.
Segundo esta corrente, depois de completamente esclarecidos, poderão optar por regressar fisicamente a um mundo-escola como a Terra, para darem continuidade ao seu aprendizado, ou poderão manter-se ancorados no seu nível cósmico, que alguns designam mundo astral, apoiando espiritualmente, a partir daí, aqueles que vivem as suas experiências terrenas e, eventualmente, noutros planetas do mesmo tipo.
As descrições destes mundos astrais revelam outra dimensão, outro plano, com seres sem corpo físico, sem forma definida, sem voz. Mas são partículas que vibram, analisam, raciocinam, mantendo uma memória humanamente inimaginável que cobre tudo o que é passado e, eventualmente, também o que é futuro.
Convivem com seres amigos; intrínseca e absolutamente amigos. Como que do mesmo nível, de evolução espiritual semelhante. Entre eles reina a paz, a solidariedade, a cumplicidade, nos objetivos e nas atitudes.
São consciências permanentes que analisam o passado bem conseguido sem se glorificar e o passado negativo sem se culpabilizar ou mortificar. As coisas aconteceram como aconteceram. É como manter a permanente visualização de um filme com muitos capítulos e outros tantos intervalos pelo meio. Um filme em que nada é esquecido, escondido ou enganado, mas onde tudo está gravado, desde os pensamentos aos atos, desde cada fecundação até cada morte física, e além dessas mortes físicas.
Durante a passagem pelos mundos-escola como a Terra, a generalidade dos seres ignora o que se passa nos mundos astrais. Nestes, apercebem-se de tudo o que se passa nos mundos-escola e nos mundos astrais até ao seu nível evolutivo, desconhecendo o que se passa nos mais evoluídos.
Nesta perspetiva, os mundos-escola serão locais de aprendizado entre seres de diferentes níveis espirituais, enquanto os mundos astrais serão locais de reflexão e organização entre seres do mesmo nível, bem como de trabalho em prol da comunidade.
Embora não demonstradas cientificamente, estas conjeturas fazem algum sentido. Será irrealista tomá-las como a verdade definitiva, mas também será desaconselhável ignorá-las ou menosprezá-las. Pelo contrário, deverão ser tidas em consideração, estudadas e aprofundadas, de forma a que a Humanidade aproveite todas as suas potencialidades e se enquadre melhor na realidade universal.