Sensibilidade
No mundo atual, é relativamente frequente uma pessoa sentir-se invadida por um turbilhão de pensamentos. Por vezes tem dificuldade em pôr alguma ordem no seu processo mental. Em alguns casos dá conta de que perdeu o controlo de si e de que tomou atitudes que estão em desacordo com a sua própria vontade, com os seus sentimentos e com as suas mais profundas convicções.
Com frequência, as vítimas desse descontrolo são os seres mais queridos. Por vezes os cônjuges, outras os filhos, os amigos, os colegas... Por vezes são ditas coisas quase sem nexo, que o próprio na realidade não sente, mas que magoam muito quem as ouve.
Parece que está ao alcance de qualquer um submeter-se a um processo de aprendizado que lhe permita um distanciamento das situações que vivencia, ou mesmo dos pensamentos que lhe chegam. Que o faça sentir-se como uma entidade independente, que está a percorrer o seu próprio caminho, não se deixando influenciar levianamente por qualquer coisa que aconteça à sua volta. Assim como quem se põe à janela da vida...
Aprender a ver as tragédias que os órgãos de comunicação social nos mostram como algo que está a acontecer com terceiros e não connosco. Cientes de que se nos deixarmos perturbar por esses acontecimentos perderemos discernimento e capacidade de intervenção positiva.
Aprender a olhar as pessoas que nos rodeiam como seres que não são perfeitos, logo que têm algumas imperfeições e que, por isso, por vezes nos tentam agredir de uma ou outra forma. Conscientes de que se nos envolvermos nessa onda negativa — mesmo que seja apenas a reter o pensamento no que nos fizeram ou a julgar a sua atitude —, perderemos a capacidade de os ajudarmos a serem melhores e de encontrarmos, racionalmente, as melhores soluções para as questões que nos colocam.
Aprender a perceber que os pensamentos que chegam à nossa mente podem ter as mais diversas origens, próximas ou longínquas. Cientes de que esses pensamentos não são forçosamente parte integrante do nosso eu, pelo que devem ser alvo de uma análise peneiradora, separando aqueles em que nos interessa focar a nossa atenção e aqueles que deveremos, com serenidade, repelir.
Admitindo que os pensamentos são como que ondas vibratórias que cruzam o Universo, emitidos por seres humanos, mas também por outros animais, bem como por seres espirituais que já deixaram o seu corpo físico, é de considerar a nossa capacidade de captarmos esses pensamentos, consentindo ou não que influenciem a nossa vida (May, 1990; Schmidt, 2004; Sheldrake, 2004; Radin, 2006).
As pessoas com maior sensibilidade captarão mais e melhor os pensamentos que cruzam o Universo, mas isso não é mau, pelo contrário, é algo enriquecedor. O que será mau é o indivíduo não saber discernir entre os seus próprios pensamentos e os que lhe chegam de fora, alimentando a sua própria confusão e não sabendo defender-se do que é negativo e que acaba por o perturbar, talvez por fazer ressonância com as suas próprias debilidades.
À medida que a sensibilidade se desenvolve, o ser vai sentindo cada vez mais o que se passa à sua volta. No início, o desenvolvimento da sensibilidade é algo descontrolado. O indivíduo sente o que se passa, mas deixa-se perturbar, submerge na onda envolvente.
Com o tempo, porém, o ser humano vai distinguindo entre o que sente a partir do ambiente envolvente e o que é o seu próprio pensamento e educa este para se manter norteado pelos seus superiores interesses. O desenvolvimento da personalidade proporciona ao ser condições para saber utilizar a sua sensibilidade em proveito próprio e dos seus semelhantes, numa crescente harmonia com a Natureza.
Mantendo o pensamento positivo, disponibilizando-se a assumir as atitudes mais corretas — para si, para o outro e para o Todo — em todas as situações, o ser humano cria condições para receber a intuição certa no momento certo, conjugando-a com um raciocínio sereno, lógico e superior.
Para trás ficarão assim os deleites materiais das sensações mais primitivas. A capacidade intuitiva poderá desenvolver-se progressivamente.
O indivíduo aprende a desviar-se do que não presta, a não ter medo de coisa alguma, a controlar os seus pensamentos, as suas palavras e os seus atos, a confiar em si próprio e, sobretudo, nas leis universais. Nada o perturba. Sente-se bem.
E que satisfação sente aquele que se torna capaz de assistir a uma discussão entre familiares ou amigos sem se deixar envolver nela, mantendo sempre pensamentos construtivos, procurando com serenidade uma solução inteligente, equilibrada, justa, digna para todos!
E que prazer imenso sente aquele que aprende a não responder de forma descontrolada a este ou àquele agressor físico, verbal ou até só mental, conseguindo manter-se à janela da vida, olhando o agressor como alguém que ainda não sabe fazer melhor do que está fazendo! Procura então desviar-se da agressão e tenta ajudar o agressor a perceber que não deve repetir tal.
E que satisfação sente aquele que já não mais se deixa perturbar pelos pensamentos que chegam — seja qual for a sua origem —, conquistando o direito a viver sereno, em paz espiritual e irradiando essa mesma paz à sua volta!...