O sexto sentido

Ao ver e rever o belo filme O Sexto Sentido, de M. Night Shyamalan, ressaltam dois aspetos: as formidáveis interpretações de Bruce Willis e, sobretudo, do pequeno Haley Joel Osment e um argumento que se percebe muito mais em busca da realidade do que da ficção. O menino Haley Joel acaba por, com cerca de dez anos, assumir o maior destaque de interpretação, ao desempenhar de forma brilhante um papel difícil de criança dotada de características mediúnicas.

O realizador explora o tema do sexto sentido ou perceção extrassensorial ou mediunidade de uma forma inteligente. Torna­-se interessante uma certa ausência de espetacularidade, percebendo­-se a preocupação de tratar o tema com seriedade, em busca do eventualmente real e provocando aqui e ali uma sensação assustadora no espetador. Como diz o próprio realizador e argumentista, provocando «um medo que tem por base a realidade. Surge dos medos das pessoas reais, das crianças e dos adultos reais, do medo da perda, do desconhecido, de ter um sexto sentido relativamente ao que está para lá dos medos e de não compreender essas intuições».

O Sexto Sentido é daqueles filmes que dão para ponderar diversos aspetos. A continuidade da existência do espírito, para lá da morte física. A possibilidade da permanência do espírito na atmosfera da Terra, tentando interferir na atividade de seres fisicamente vivos. A hipótese de esses espíritos poderem visualizar­-se a si mesmos e mostrar­-se a terceiros com um corpo fluídico, muito semelhante ao físico que tiveram. A possibilidade de alguns seres humanos verem e/ou ouvirem esses seres, mantendo com eles contactos através do pensamento, ou até da expressão verbal.

E mais. A possibilidade de se verem imagens ou ouvirem sons agradáveis, bem como desagradáveis. A capacidade de quem vê ou ouve se impressionar ou se deixar influenciar, bem como a capacidade de se manter sereno, aconteça o que acontecer. A eventualidade de, sem se ver nem ouvir, ou mesmo cheirar, a presença de seres espirituais, os sentir por mera intuição ou por sensações físicas diversas. A capacidade de atrair ou sintonizar com esses seres e a de os repelir pela força do pensamento.

Daí: a possibilidade de os seres espirituais pouco evoluídos poderem prejudicar as pessoas e a de os seres espirituais muito evoluídos as poderem ajudar. Como também: a capacidade de, através de pensamentos negativos, os seres humanos atraírem e sintonizarem­-se com o que é negativo e de, através de pensamentos positivos e/ou construtivos, atraírem e sintonizarem­-se com o que é positivo. O que poderá constituir a chave para um comportamento humano verdadeiramente responsável, ao perceber que, pelo pensamento, opta por se religar ao que não lhe interessa ou ao que muito lhe interessa.

Segundo os dicionários, «mediunidade» é a capacidade que se atribui a certas pessoas de poderem comunicar com seres sem corpo físico, normalmente designados por almas ou espíritos. Também se poderá definir como sendo a sensibilidade ao que está para lá da matéria.

Embora haja quem lhe chame «sexto sentido», reconhecem diversos autores que a mediunidade está relacionada com os vários sentidos físicos, sendo referida a mediunidade vidente, a auditiva, a olfativa, a intuitiva, a telepática, a psicográfica, a de incorporação e algumas mais.

Mediunidade vidente, por exemplo, será a capacidade de visualizar imagens não relacionadas com corpos físicos, como terá acontecido aos pastorinhos no chamado «milagre de Fátima» e em muitas outras situações, abundantemente descritas (Kastenbaum, 1988; Houran, 2001; Chéroux, 2004; Collerton, 2005).

Mediunidade intuitiva será a capacidade de captar ideias de terceiros, quer de forma inconsciente, como parece poder acontecer com a generalidade das pessoas, quer de forma consciente, como Fernando Pessoa dizia acontecer consigo (Lancastre, 1981).

Mediunidade de incorporação será a possibilidade de um ser espiritual fazer prevalecer a sua vontade sobre um ser humano, tomando transitoriamente — durante segundos, minutos ou horas — o comando do seu corpo físico. Nestas circunstâncias pode expressar (por vezes com voz compatível com a sua última passagem pela Terra, e não com a voz do médium), algumas ideias ou mesmo disparates que nada têm que ver com o médium ou provocando atos — desde ataques do tipo epilético até crimes — que também nada têm que ver com a vontade do médium. Este apenas é responsável por consentir perder o controlo do seu corpo físico.

Algumas destas formas de mediunidade têm sido abordadas noutros filmes, como no caso de Ghost — Espírito do Amor, A Cidade dos Anjos, Para Além do Horizonte, O Exorcista, Poltergeist e Hereafter — Outra Vida.

Admite­-se que a mediunidade é uma capacidade inata e com possibilidade de desenvolvimento, existindo em todos os seres humanos, embora em diferentes graus. Será, então, algo natural, normal, que pode ser útil ao indivíduo e aos seus semelhantes se bem aproveitada, mas prejudicial se perniciosamente utilizada.

Desde tempos imemoriais que o Homem utilizou as suas características mediúnicas nas mais diversas práticas místicas. Em torno dessas características foram forjados muitos conceitos, alguns tabus e variadas doutrinas. Curiosamente, os movimentos religiosos pareceram preferir fantasiar em torno dos seres com mediunidade mais desenvolvida, ora considerando­-os possessos e até condenando­-os à morte, ora admitindo­-os como veículos de uma missão divina, designando de miraculosas algumas das suas vivências.

Muito negócio foi estabelecido em torno da mediunidade, dos conceitos, dos tabus, das doutrinas e dos ditos milagres. Ainda hoje, infelizmente, muita gente explora a ignorância do seu semelhante nestas áreas.

A ciência demorou a começar a dedicar­-se ao estudo da mediunidade, procurando distinguir o falso do verdadeiro, atribuir relações de causa e efeito e criar condições de replicabilidade irrefutável (Rhine, 1984; Radin, 1997; Bartalomei, 2004; Kelly, 2011; Carpenter, 2012).

Algumas dezenas de universidades europeias, norte­-ame­ricanas e mesmo de outros países têm atualmente investigadores a estudar este tema. Os resultados começam a despontar e poderão possibilitar uma perspetiva diferente do ser humano à superfície da Terra.

À medida que o esclarecimento tem lugar, segue­-se a desmistificação, passando toda esta fenomenologia a ser encarada como natural. E as pessoas vão percebendo que o que por vezes atrapalha não é terem mediunidade, mas não saberem lidar com essa sua característica, pois sendo mais sensíveis ao que se passa à sua volta, são também mais suscetíveis de se enredarem ou de se perturbarem com aquilo que não lhes interessa, com o que não presta.

O que parece atrapalhar as pessoas é terem dificuldade em entender que se mantiverem o seu pensamento positivo, permanentemente construtivo, quando têm características mediúnicas desenvolvidas, podem analisar melhor o que se passa à sua volta. Mas quando compreendem o quanto podem ser úteis a si próprias e aos que as rodeiam, mantendo o pensamento positivo, optam por focar a sua atenção no controlo do pensamento, de forma a sintonizar­-se, com muita satisfação, com a Harmonia Universal. Podem então experimentar momentos de êxtase capazes de as transformar e, com elas, a sociedade, abrindo caminho a uma nova Era neste planeta, em que as pessoas sintam prazer no esforço que fazem no sentido do aperfeiçoamento que lhes permita manterem­-se harmoniosamente sintonizadas com as Leis Universais.