Livre-arbítrio

Livre­-arbítrio é a faculdade de praticar ou não um ato qualquer, ou seja, a liberdade que cada ser humano tem de atuar pelo domínio da razão, de acordo com os seus mais elevados interesses, ou, pelo contrário, atuar segundo as suas tendências. É, então, uma característica controlada pela vontade e, quando bem usada, orientada pelo raciocínio.

Trata­-se do poder que o ser humano — na aparência ao contrário dos restantes animais — tem de se autodeterminar, isto é, de escolher o seu caminho independentemente das suas próprias tendências, das influências de terceiros e das circunstâncias ambientais em geral. É a própria vontade que se comporta como um juiz ou árbitro que decide.

Admite­-se, então, que nenhum objeto, nenhum valor, nenhuma necessidade (física, metafísica ou moral) se impõe à escolha humana. O ser humano não precisa nem tem de ser comandado por nada nem por ninguém, possuindo consciência da sua responsabilidade em decidir por si o seu presente e o seu futuro.

Usufruindo do livre­-arbítrio, o indivíduo tem o poder de construir o seu caminho, pelos pensamentos que alimenta e pelos atos que pratica. Ao acumular experiência, vai fortalecendo a convicção de que a sua sorte está na própria capacidade de decidir o seu caminho. Assim, pode em qualquer momento mudar o rumo da sua vida.

Tomando decisões egoístas ou perversas, estará naturalmente a complicar o seu futuro pela via da desorientação e do sofrimento. Os quais se mantêm com a indolência, a displicência ou a negligência, retardando a natural progressão evolutiva. Esta tem lugar quando o indivíduo, no pleno usufruto da sua liberdade, utiliza o raciocínio e orienta a vontade, pensando construtivamente e atuando em sintonia com as Leis Universais, de acordo com os seus mais elevados interesses, os quais se aproximam dos mais elevados interesses dos outros e, logo, do Todo.

O indivíduo vai corrigindo a sua trajetória evolutiva, não por ser obrigado a isso, mas por, em liberdade, ser essa a opção que lhe proporciona o mais profundo prazer de realização pessoal, de contributo para o Todo e de integração progressiva neste. A educação não deve, assim, ser repressiva nem demasiado normativa, mas sobretudo orientativa, direcionando­-se para os valores universais, e responsabilizante no sentido do desenvolvimento da convicção firme da própria capacidade de escolher os pensamentos, selecionar as palavras e decidir os atos.

À medida que evolui, o ser humano vai­-se empolgando cada vez menos com o gozo material das coisas e abandonando automaticamente a prática de ações que a sua consciência reprove. Quanto mais se mantém atento e esforçado para se ir corrigindo, mais vai progredindo, adquirindo sabedoria e desenvolvendo a sua capacidade de controlar cada vez melhor os seus pensamentos e os seus atos, no apuramento do uso do seu livre­-arbítrio.

Nesse sentido, é aconselhável que cada indivíduo, de vez em quando, pondere se tem atuado ou não de acordo com os seus mais elevados interesses — o que implica atuar também de acordo com os superiores interesses dos outros — e em como fazer para conseguir controlar­-se racionalmente, de forma a utilizar apropriadamente o seu livre­-arbítrio e a conseguir um maior êxito material e espiritual. E, nesse exercício, algumas questões assumem primordial importância.

Será pertinente a análise da capacidade de manutenção do pensamento orientado positivamente em proveito próprio e dos que estão mais próximos. Importará considerar o desenvolvimento da força de vontade e se esta tem sido aplicada de forma positiva.

É conveniente examinar se tem sido mantido o equilíbrio emocional, evitando todo e qualquer descontrolo (verbal, de atitudes e mesmo de pensamentos). Não poderá deixar de ser apreciado o nível de cumprimento dos deveres familiares e profissionais e, complementarmente, o tipo de linguagem utilizada, o plano de alimentação seguido, o género de ocupação dos tempos livres e até a gestão do tempo de sono.

Convirá considerar o nível de confiança em si próprio e a frequência e o grau de assunção das responsabilidades. Tam­bém será bom verificar até que ponto é assumido o hábito de tomar decisões só depois de terem sido devidamente ponderadas, e de ter sido conseguida a vantajosa serenidade interior.

Não deverá ser esquecida a análise da capacidade de manutenção do bom humor, sobretudo nos momentos difíceis. Também será proveitosa a verificação do respeito ao semelhante, o nível de tolerância, as palavras e as atitudes utilizadas nas situações de discordância.

Útil também será a verificação da periodicidade com que são assumidas, perante terceiros, atitudes não desejadas em sentido inverso, bem como da disponibilidade para se ser útil sem nada solicitar em troca. Pertinente será ainda a análise da capacidade de se afastar tranquilamente dos ambientes hostis, maledicentes ou de qualquer forma indesejáveis e de os esquecer.

Será oportuno saborear um pensamento de Albert Einstein:

O sábio, bem convencido da lei da causalidade de qualquer acontecimento, decifra o futuro e o passado submetidos às mesmas regras de necessidade e determinismo. A moral não lhe suscita problemas com os deuses, mas simplesmente com os homens. A sua religiosidade consiste em espantar­-se, em extasiar­-se diante da harmonia das leis da Natureza, revelando uma inteligência tão superior que todos os pensamentos humanos e todo o seu engenho não podem desvendar, diante dela, a não ser o que for irrisório. Este sentimento desenvolve a regra dominante da vida, da sua coragem, na medida em que supera a servidão dos desejos egoístas.