A Terra parece ser um mundo-escola, ou seja, um planeta onde vimos para aprender, apresentando-se-nos, ao longo de uma existência, situações diversificadas, que nos permitem absorver novos conhecimentos, corrigir deficiências do passado, evoluir.
Essa evolução será tanto maior quanto maior for o esforço honesto e construtivo que fizermos, útil para nós mesmos, útil para os seres que nos rodeiam e útil em termos universais. As dificuldades que nos surgem são afinal oportunidades para aprendermos, ao desenvolvermos o esforço necessário e suficiente para as vencermos.
Os sofrimentos por que vamos passando podem ser vistos como situações de alerta para a má utilização do nosso livre-arbítrio no passado ou no presente. São oportunidades para procurarmos detetar as causas que geraram, ou geram, tais efeitos, as corrigirmos e as não repetirmos.
Poderemos considerar que o sofrimento é originado, essencialmente, por raciocínios ou atitudes inadequadas do presente, bem como do passado, recente ou remoto, do próprio e, por outro lado, por situações ambientais inerentes ao desenvolvimento da vida no planeta.
Quando o indivíduo se descuida na condução dos seus pensamentos, das suas palavras ou das suas atitudes, tornando-se pernicioso para si ou para terceiros, parece ficar sujeito a sofrimento de maior ou menor duração, até proceder à correção definitiva de cada um dos seus erros. Admite-se que esse sofrimento possa ser imediatamente desencadeado, ou aparecer mais tarde. Os defensores da teoria das vidas sucessivas admitem que o sofrimento se relaciona, em alguns casos, com questões relativas a supostas vidas passadas (Jesus, 1973; Mattos, 1983; Kastenbaum, 1988; Drouot, 1996; Ramacharaca, 1998; Morales, 2004).
As situações ambientais, provocadoras de sofrimento individual, poderão estar relacionadas com opções desfavoráveis, tomadas pelo indivíduo na esfera familiar, no mundo dos negócios, ou até na área do lazer. Ao escolher ambientes adversos, coloca-se em posição suscetível de consequências dolorosas. Mas o sofrimento de origem ambiental pode não ter que ver com atitudes isoladas, inserindo-se no normal desenvolvimento dos acontecimentos relativos à vida do planeta, em conformidade com as opções de terceiros e as leis naturais.
Ponderando sobre o tema, não parece que a evolução se faça exatamente pelo sofrimento, mas sim pela atuação favorável ao próprio e a todos. A correção dos erros será necessária, mas poderá acontecer pelo esforço lúcido do próprio, sem a imperiosa presença do sofrimento.
A realização de atos dignos e benéficos gera satisfação por proporcionar a sensação de progressão na autoestrada da trajetória evolutiva, que cada um de nós vai fazendo. O sofrimento poderá ser como que o rail limitativo dessa autoestrada, com o qual chocamos quando nos descuidamos na autocondução do nosso próprio eu.
Contudo, para progredirmos eficazmente, não precisamos de nos apoiar nos rails do sofrimento. Será até desejável que procuremos conduzir-nos com cuidado, tentando perceber e corrigir a trajetória, sem chocarmos com os ditos rails. Quanto mais ações construtivas realizarmos, mais progrediremos. Quanto melhor procurarmos corrigir os erros do passado, melhor progrediremos.
Assim, o sofrimento não será indispensável para o esclarecimento, mas apenas um meio possível, no caso de ainda não sabermos utilizar outros. Funcionará como um sinal de alerta, que se manterá enquanto não corrigirmos a situação, enquanto não desenvolvermos o esforço suficiente para nos aperfeiçoarmos, enquanto não assumirmos uma postura verdadeiramente útil para connosco e para com os outros, por pensamentos, palavras e atos.
A alegria da realização construtiva traduzirá a maior eficácia da evolução pela realização, relativamente à evolução pelo sofrimento. É na realização construtiva que o ser humano sente o profundo prazer da vibração síncrona com a Natureza.
Seres de diversos níveis espirituais, habitando a Terra em simultâneo, vamos aprendendo uns com os outros. Com os mais evoluídos espiritualmente aprendemos a seguir os seus exemplos; e com os menos evoluídos a não cometer os erros que neles identificamos. A sós, pelo exercício da meditação, temos condições para escolher o caminho que, de facto, nos interessa seguir.
Nenhum de nós é perfeito. Uns têm tendência a cometer certos erros; outros já não cometem esses erros, mas falham noutros aspetos, já ultrapassados pelos primeiros. Na convivência com todos, vamos tendo imensas oportunidades para nos aperfeiçoarmos.
Pela meditação, o ser humano pode ir-se orientando para um progressivo estado de purificação da sua alma. A meditação pode-se exercitar na ação. E, no contacto com o mundo, o indivíduo pode ir conquistando progressivamente sabedoria e o estado de pureza.
A Sabedoria Universal, o Absoluto, existe. É. Os seres humanos vão-lhe fazendo um esforço de aproximação. Cada um de nós, de facto, deseja, no mais profundo do seu eu, saber mais hoje do que sabia ontem. Uns com mais intensidade, outros com menos, mas todos almejamos saber mais. Aqueles que preguiçam até poderão ficar estagnados. Mas não creio que alguém ambicione saber menos amanhã do que sabe hoje.
E, no que diz respeito ao acesso à Sabedoria Universal, parece que o que se vai adquirindo é para ficar. Não há involução de mais conhecimento para menos, quer em termos individuais, quer coletivos. A trajetória evolutiva que vamos fazendo tem sempre o sentido positivo. Quando cada um de nós estagna temporariamente, poderá parecer que regride, mas apenas o fará em termos comparativos com aqueles que continuam a evoluir, nunca em termos absolutos.
Quando a Humanidade se deixa enredar em mentiras habilmente elaboradas, ou quando assume comportamentos algo primitivos, até parece passar por períodos de involução. Mas essa involução será também apenas aparente em relação ao normal fluir das coisas.
O ser humano que se afasta do seu caminho, aquele que pensa, diz ou faz coisas que prejudicam a normal evolução — sua e/ou dos outros —, mais cedo ou mais tarde, recebe avisos naturais que lhe permitem repensar as situações e corrigir a trajetória. Esses avisos, comummente identificados com sofrimento, são muitas vezes olhados com desagrado, quando afinal parecem ser benéficos em termos absolutos.
Também em termos coletivos, por vezes, parecem tornar-se necessárias grandes correções de trajetória. Quando os seres humanos, em conjunto, se afastam da evolução natural, transgredindo as Leis Universais, talvez só o sofrimento — às vezes brutal —, provocado por situações catastróficas, os desperte para a realidade, induzindo a opção de reassunção do sentido positivo da Vida.
Estaremos então, individual ou coletivamente, condenados a esta ou àquela situação de sofrimento? Não me parece. Sempre podemos utilizar de forma correta o nosso livre-arbítrio e procurar o caminho do aperfeiçoamento, antes de sermos açoitados pela Natureza.
E assim vamos descrevendo a nossa trajetória evolutiva a título individual. E o somatório das trajetórias dos seres que se encontram na Terra traduz-se na evolução espiritual que se vai verificando no planeta, em paralelo com a evolução material, compatível com a teoria da origem das espécies de Darwin.
Trajetória de aperfeiçoamento, mas também de descoberta do que é mais evoluído, do que é melhor, superior e ao qual ainda não tínhamos chegado. Trajetória de aproximação progressiva à Sabedoria Total, ao Absoluto.
Evoluir espiritualmente, porém, parece ser, em simultâneo, o desenvolvimento de um esforço de sentido positivo e um deixar fluir em nós a verdade. Porque afinal a Sabedoria Total sempre terá existido. Nós é que ainda lá não chegámos. E, para chegarmos, será essencial o desenvolvimento desse saudável esforço de aperfeiçoamento. Mas esse esforço, por si só, talvez seja limitado, por nos deixar demasiado concentrados em nós próprios.
Parece ser necessário manter uma grande sintonia com a Natureza, deixando confiantemente fluir a verdade. Mas ela, de facto, também só parece encontrar condições para fluir quando nos disponibilizamos para o tal esforço honesto na sua busca, destapando aquilo que até então não conseguíamos ver, embora lá estivesse desde sempre!...