Investigação científica

A ciência moderna alcançou grandes progressos ­através da metodologia da repetibilidade, universalidade e objetividade. Os cientistas foram desenvolvendo as suas investigações no estudo concentrado de cada parte do todo e, assim, descobrindo valiosos conhecimentos para as gerações futuras.

Contudo, foram relativamente ignorados pela ciência alguns fenómenos limítrofes de cada parte, certas inter­-relações entre as partes e uma perspetiva mais abrangente do seu conjunto, ou seja, do todo.

Mais recentemente, vários cientistas de diversos países e em diferentes universidades têm vindo a abrir caminho ao esclarecimento, na investigação destes fenómenos, assumindo uma visão holística, tentando perceber a totalidade que existe em cada parte, e admitindo a possibilidade da existência de um sistema de informação vasto e invisível, a ser estudado com o máximo rigor.

A Parapsicologia é atualmente definida como uma «disciplina científica que estuda fenómenos da experiência humana e animal nos quais parecem existir interações não correntemente explicáveis dentro dos paradigmas habituais de tempo, espaço e energia conhecidas».

Utiliza o método científico, embora estude fenómenos geralmente espontâneos e por vezes inconscientes, difíceis de reproduzir de forma voluntária nos laboratórios de investigação. Comprovados estatisticamente, admite­-se que possam vir a ser estudados por um método próprio, a ser desenvolvido.

Esta foi uma área que interessou ao ser humano desde a Antiguidade, tendo sido assinalados múltiplos fenómenos. A visão não retiniana de imagens não captadas por terceiros, a capacidade de ouvir, cheirar ou sentir aquilo que outros circunstantes não captam, podendo essas sensações corresponder a fenómenos acontecidos a distâncias enormes, no presente, no passado ou até no futuro, são alguns exemplos. Assim como a captação de pensamentos de outros seres, próximos ou distantes, a faculdade de falar corretamente línguas estrangeiras totalmente desconhecidas do indivíduo, a capacidade de produzir a movimentação de objetos a uma certa distância (por vezes quilómetros), sem contacto físico e a possibilidade de influenciar o comportamento de terceiros, próximos ou distantes, pela força do pensamento.

Talvez pela ausência de explicação lógica para esses fenómenos no enquadramento de então, talvez por alguns deles conflituarem com conceitos e preconceitos socialmente estabelecidos, talvez pelo oportunismo, o sensacionalismo e as fraudes a que recorriam alguns seres sem escrúpulos, procurando tirar vantagem da ignorância humana, a Parapsicologia foi olhada com reserva e mesmo com descrédito.

Contudo, durante o século xx, esta disciplina científica conquistou o interesse de uma plêiade de investigadores, vindos de diversos campos: psicólogos, médicos, físicos, matemáticos, etc. Os fenómenos parapsicológicos são atualmente estudados em algumas dezenas de universidades, institutos e laboratórios especializados, espalhados por todo o mundo, mas principalmente na Europa e na América do Norte.

Entre os divulgadores da Parapsicologia, destacou­-se o psicólogo norte­-americano Robert Morris, professor na Universidade de Edimburgo entre 1985 e 2004, onde orientou 32 doutoramentos em Parapsicologia e se tornou um prestigiado investigador e palestrante. Morris habituou­-se a visitar muitas universidades na Europa e nos EUA, onde divulgava a Parapsicologia e apoiava a investigação que nesses locais era feita. Os seus alunos e seguidores estão atualmente espalhados por todo o mundo.

Do trabalho realizado na área, reconhece­-se hoje que esta fenomenologia envolve uma multiplicidade de variáveis e persiste como bastante complexa para o atual nível de conhecimentos da Humanidade. Admite­-se que as faculdades parapsicológicas são normais e que existem em todos os indivíduos, manifestando­-se, contudo, apenas em algumas pessoas e/ou em certas circunstâncias.

Os fenómenos parapsicológicos podem ser classificados em psi­-gama — que inclui a telepatia, a clarividência e a precognição —, psi­-kappa ou psicocinese e psi­-theta — que inclui o estudo de vivências para lá do corpo físico, como as experiências fora do corpo, as experiências de quase morte, as memórias de supostas vidas passadas e a transcomunicação instrumental (Roberts, 2001; Fontana, 2006; Irwin, 2007; Cardeña et al, 2014).

A investigação parapsicológica evoluiu, tornando­-se extremamente rigorosa e exigente. Após um século de trabalho continuado, muitos cientistas mantêm a opinião de que os fenómenos parapsicológicos que se produzem de forma controlada não são suficientemente intensos, nem suficientemente reprodutíveis, para conseguirem a sua aceitação oficial como factos naturais, ou para exigirem uma mudança do atual paradigma científico.

Contudo, a análise imparcial e objetiva dos casos espontâneos tem levado à aceitação generalizada da sua existência, e continua a constituir um forte incentivo à necessidade de serem prosseguidas e desenvolvidas as investigações, até ao esclarecimento total do tema. Acresce que — como afirma Stanley Krippner, professor de Psicologia e diretor do Centro de Estudos da Consciência, da Universidade Saybrook, em S. Francisco — «a investigação parapsicológica é uma das fontes de dados que nos indicam que a nossa atual visão do mundo é, no melhor dos casos, incompleta e, no pior dos casos, defeituosa.»

Os resultados da investigação parapsicológica sugerem formas de fluxo de informação e de influência que são naturalmente unitivas, confundindo as fronteiras convencionais entre uns organismos e os outros, entre os organismos e o seu meio ambiente e entre os organismos e a sua localização no espaço e no tempo. É hoje ponto assente que o investigador é parte inevitável do que está a ser estudado, influenciando­-o e podendo ser influenciado.

Alguns cientistas sugerem agora que o espantoso grau de coerência entre os seres vivos pode depender, fundamentalmente, de conexões entre si, explicadas pela mecânica quântica. A noção do Universo como um todo interligado iria, então, além da mera descrição matemática exata do mundo material, abarcando os fenómenos psíquicos. Existiria como que um entrelaçamento de tudo o que existe no Universo numa realidade global holística, compatível com a teoria dos superstrings (Bem, 1994; Descamps, 1997; Jahn, 1997; Radin, 1997, 2006; Cetin, 1999; Andrade, 2001; Braude, 2003; Greene, 2004; Schwarz, 2004; Goswami, 2005; Green, 2007; Sheldrake, 2009).

Por exemplo, numa experiência realizada por Leanna Standish, verificou­-se através de ressonância magnética funcional por imagiologia a ativação do córtex visual de um gémeo distante do irmão exposto a estímulos luminosos. Estes resultados confirmaram o já observado por EEG (eletroencefalograma) e publicado na revista Science, em 1965 (Duane, 1965; Standish, 2003; Achterberg, 2005).

Em 2008, Samuel Moulton e Stephen Kosslyn procuraram reproduzir este tipo de resultados no seu laboratório de Harvard, o que não conseguiram, considerando, então, os seus resultados como «a mais forte evidência obtida contra a existência dos fenómenos paranormais».

Por outro lado, o Projeto Consciência Global, dirigido por Roger Nelson desde 1997, permite inferir períodos de coerência mental global perante acontecimentos de grande impacto nos meios noticiosos, que atraem em breves minutos a atenção de uma percentagem considerável da população mundial. Utilizando largas dezenas de geradores aleatórios de números, espalhados por todo o planeta, foram detetados desvios claros do acaso em 459 acontecimentos impactantes, com probabilidades de 3,9 biliões para um. Os resultados sugerem que quando milhões de pessoas se concentram mentalmente de modo coerente, a coerência física no mundo também aumenta (Radin, 2006).

Este reenquadramento do ser humano como partícula do Todo, esta reaproximação do ser humano à Natureza, não parece ser tarefa só para a investigação parapsicológica, mas admite­-se que ela possa desempenhar um papel da maior importância.