Psicocinese
Psicocinese é a interação mental com a matéria animada ou inanimada, pela simples ação do pensamento. Os fenómenos deste tipo também são conhecidos por psi-kappa e podem ocorrer espontaneamente, de forma inconsciente, ou deliberada e conscientemente. A sua explicação não era viável pelas leis da física clássica, mas especula-se que é compatível com a física quântica.
A psicocinese é conhecida desde a Antiguidade. No século xix, Daniel Dunglas Home era famoso por levitar. Já no século passado, Rudi Schneider tornou-se conhecido por fazer mover objetos sem a interferência de meios físicos. Nos anos setenta, o israelita Uri Geller deslumbrou os telespetadores de todo o mundo ao dobrar objetos metálicos, como colheres, pela sua concentração mental; mais tarde, admitiu ter utilizado truques em algumas situações.
Atualmente é dividida em três áreas: micro, macro e biopsicocinese. A micropsicocinese é investigada sob o rigor do método científico pelo menos desde 1934, altura em que J. B. Rhine começou a estudar, na Universidade de Duke, um jogador que dizia ter a faculdade de influir nos dados que lançava, fazendo com que ficassem voltados para cima os números que pretendia. E, de facto, embora não ficasse para cima sempre o número desejado, eram estatisticamente muito significativas as vezes em que isso acontecia.
Outros investigadores, como Robert Jahn e Brenda Dunne, da Universidade de Princeton, têm estudado, com resultados interessantes, a interação mente-máquina. E outros, como Dean Radin e Roger Nelson, têm evidenciado a possível interferência da mente humana no funcionamento de computadores, segundo o estado psicológico do operador.
A macropsicocinese é a influência sobre objetos de grande tamanho ou até múltiplos, como acontece nos chamados casos poltergeist. Foi disso exemplo a russa Nina Kulagina, observada também por cientistas ocidentais que fotografaram e filmaram a movimentação pelo ar de diversos objetos em simultâneo sem a intervenção de meios físicos. Muitos outros casos estão descritos e documentados (Pratt, 1973; Péoc’h, 2001; Fontana, 2006).
Poltergeist é um termo utilizado em Psiquiatria e em Parapsicologia, que abarca um conjunto de fenómenos de psicocinese pouco frequentes e de origem desconhecida, por vezes atribuídos à presença de determinada pessoa ou de seres espirituais. Estes fenómenos manifestam-se, frequentemente, ligados a um lugar, pelo que foram muitas vezes relacionados com aquilo a que se chamou «casas assombradas» ou «lugares assombrados».
Estão descritos bastantes casos destes, envolvendo o aparecimento de imagens não retinianas, a audição de vozes e de sons estranhos de origem aparentemente não física, bem como a movimentação de objetos sem interações explicáveis dentro dos paradigmas habituais. Estas situações são, com frequência, associadas à presença de determinada pessoa — muitas vezes uma criança ou um adolescente —, com grande sensibilidade, a quem são atribuídas características de sensitivo ou médium.
Desde tempos remotos que o povo atribui a origem destes fenómenos a seres espirituais, identificando, por exemplo, alguém já falecido que habitou a casa ou se relacionou com os seus habitantes. A presença do dito sensitivo servirá como desencadeadora dos fenómenos, por ele poder ser um meio propício à manifestação de energias ainda não abrangidas pelo conhecimento científico.
Durante séculos, este tipo de situações não mereceu a atenção dos cientistas, o que fez prolongar a ignorância sobre elas. Finalmente, como já foi dito, nas últimas décadas, diversos investigadores de várias universidades europeias e norte-americanas decidiram dedicar-se ao estudo destes fenómenos, apesar da dificuldade de enquadramento no método científico, pois a generalidade dos fenómenos descritos são muito dificilmente reprodutíveis em condições experimentais.
O investigador inglês Alan Gauld compilou quinhentos casos de poltergeist, analisando as suas diferentes características e relatando a presença ou ausência de cada uma delas, com grande variabilidade. Mais recentemente, James Houran e Rense Lange, investigadores do departamento de Psiquiatria da Southern Illinois University School of Medicine, publicaram em livro — Hauntings and Poltergeists: Multidisciplinary Perspectives — um grande balanço sobre o tema. Aí são relatados muitos casos verídicos de poltergeist; descrevendo o contexto sociocultural; avançando as explicações conhecidas e as hipóteses que têm vindo a ser equacionadas; apresentando uma discussão entre aqueles que realçam certas práticas fraudulentas, mantendo um grande ceticismo, e aqueles que evidenciam os factos incontestáveis, apontando a necessidade de se incrementar a investigação de base científica, que permita alicerçar e desenvolver o seu conhecimento.
O crescente interesse do tema fica evidenciado pela sua divulgação, também recente, no cinema e na televisão. Impressiona verem-se objetos a voar, ouvirem-se vozes de defuntos ou ruídos estranhos, vislumbrarem-se imagens maravilhosas ou aterradoras, por vezes de familiares já falecidos.
A biopsicocinese é a influência do pensamento sobre organismos biológicos, como culturas de células, plantas, animais ou seres humanos. Vários investigadores estudaram a influência mental sobre o crescimento de lotes de sementes, comparadas com outras de controlo, com resultados estatisticamente significativos (Roney-Dougal, 2002).
Outros cientistas analisaram ao microscópio o desenvolvimento influenciado mentalmente de colónias de fungos e de bactérias cultivadas em placa, comparando-as com grupos de controlo, tendo encontrado também resultados estatisticamente significativos. Bernard Grad da Universidade McGill, no Canadá, estudou com êxito a capacidade de influir mentalmente na cicatrização de feridas cirúrgicas de ratos de experiência, comparados com grupos de controlo.
Algumas pessoas dizem-se capazes de curar ou contribuir para a cura de doenças pela imposição das mãos no local da patologia, outras consideram-se capazes de o fazer à distância, apenas por orientarem o seu pensamento com intensidade nesse sentido. Cientistas como os norte-americanos Daniel J. Benor e Stanley Krippner têm-se dedicado ao estudo destes fenómenos, mas, para já, sem resultados suficientemente significativos, no quadro do paradigma científico atual. Outros cientistas, nomeadamente William Bengston do Colégio S. José, em Nova Iorque, reportaram recentemente resultados significativos e replicáveis, na cura de ratos de laboratório injetados com cancro (Grad, 1976; De’Carli, 1998; Benor, 2007).
Continuam a existir muitas dúvidas em torno da psicocinese, mas, como diz Gertrude R. Schmeidler, professora de Psicologia na Universidade de Nova Iorque, «céticos e parapsicólogos só podem beneficiar da investigação científica das experiências e das crenças do paranormal, e assim concordarem em quais são as causas reais dos fenómenos [...] certos de que quanto mais investigarem, mais consensos se formarão».