Espaço e tempo
Desde o século xix sabe-se que toda a matéria é formada por diferentes combinações de algumas dezenas de átomos. Já no início do século xx, alguns cientistas descobriram que os átomos são constituídos por partículas mais pequenas: eletrões, protões e neutrões. Ficou-se a saber que o núcleo atómico, à volta do qual giram os eletrões, é composto pelo protão e o neutrão; e que todos os átomos são combinações dessas três partículas, que foram chamadas subatómicas.
Em meados do século xx, o físico Murray Gell-Mann, descobriu que os protões e os neutrões são formados de partículas ainda menores, a que chamou quarks; sendo cada protão e cada neutrão constituído por três quarks. Assim, toda a matéria conhecida é constituída por quarks e eletrões, na época definidos como pequeníssimos pontos indivisíveis.
Em 1984, os físicos John Schwarz e Michael Green apresentaram uma teoria segundo a qual as entidades mais fundamentais no Universo não são pontos, mas objetos unidimensionais alongados como fios, que têm a capacidade de vibrar, a que deram o nome de superstrings. Esses superstrings ou supercordas, infinitamente menores do que as infinitésimas partículas subatómicas, são por eles considerados os elementos básicos do Universo.
Os superstrings vibram em movimentos ondulados e movem-se incessantemente no espaço, carregando consigo energia produzida pelas suas vibrações. Estas vibrações têm diferentes frequências, sendo que as baixas produzem baixas energias, constitutivas dos corpos físicos, e as altas produzem altas energias, não materializáveis.
Diferentes vibrações de supercordas constituem quarks, eletrões e tudo o que existe no Universo. Assim, segundo a teoria dos superstrings, os animais, as plantas, as rochas, a água, o ar, os raios infravermelhos, os raios X e tudo o resto são diferentes vibrações das mesmas partículas básicas. Na aparência entidades separadas, somos afinal seres de energia vibrátil, intimamente ligados com tudo o mais no Universo, participantes de um imenso campo universal de Energia.
Cada um de nós é uma pequeníssima parte da Energia Universal, rodeado dessa Energia Universal, constitutiva de outros corpos materiais (nas suas mais baixas vibrações), mas também de subtil energia vital (nas suas mais altas vibrações), rodeando e interpenetrando permanentemente os corpos materiais, num mesmo campo universal. A alta energia desse campo não parece ser observável, mas apenas os seus efeitos, pois, sendo suscetível de transferência, pode influenciar os corpos do baixo campo, que se apresentarão revitalizados (Aïvanhov, 1983; Mattos, 1983; Andrade, 2001; Goswami, 2005; Radin, 2006).
Segundo o físico Bedri C. Cetin, a «energia segue a atenção», ou seja, a consciência humana parece ter acesso à Energia Universal, fora do conceito conhecido de espaço, podendo canalizá-la mentalmente para o seu corpo físico em geral, para uma região sua ou órgão em particular, ou enviá-la para benefício de um terceiro, fisicamente próximo ou distante. Assim se poderão explicar múltiplas práticas utilizadas em medicinas alternativas, desde a cura pela imposição das mãos até às canalizações de energia à distância (Grad, 1976; Strübin, 1996; De’Carli, 1998; Roney-Dougal, 2002; Chéroux, 2004).
Vários autores, incluindo Einstein, têm sublinhado que «espaço» e «tempo» são noções relativas, que não existem em termos absolutos, sendo apenas uma questão de perspetiva; à medida que modificamos a nossa perspetiva, experimentamos a realidade de formas diferentes.
O norte-americano Neale Donald Walsch, no seu livro Conversas com Deus 3 utiliza um exemplo interessante:
De uma macroperspetiva, não existe separabilidade, e de longe todas as partículas de tudo apenas parecem o Todo.
Tal como se olha para uma pedra aos nossos pés e se vê a pedra, nesse preciso momento e nesse lugar, inteira, completa e perfeita. Mas, mesmo na fração de momento em que a pedra se mantém na nossa perceção, passam-se muitas coisas nela — um movimento incrível, a uma velocidade incrível, das partículas (átomos, protões, neutrões e partículas subatómicas) dessa pedra. E que fazem essas partículas? Fazem da pedra o que ela é.
Ao olharmos para essa pedra, não vemos este processo. Mesmo que, concetualmente, estejamos conscientes dele, para nós está tudo a acontecer «agora». A pedra não se está a tornar uma pedra; é uma pedra, aqui e agora mesmo.
No entanto, se fôssemos a consciência de uma das partículas submoleculares no interior dessa pedra, sentir-nos-íamos a mover a uma velocidade louca, primeiro «aqui», depois «ali». E se uma voz exterior à pedra nos dissesse «Está tudo a acontecer ao mesmo tempo», chamar-lhe-íamos mentirosa ou charlatã.
Contudo, numa perspetiva à distância da pedra, a ideia de que qualquer parte da pedra esteja separada de outra e, além disso, se movimente a uma velocidade louca, aparentaria ser a mentira. A essa distância poder-se-ia ver o que não se podia ver de perto — que tudo é Um, e que todo o movimento não moveu nada (Walsch, 2003).
Quando um astronauta pousado na Lua olha para a Terra, esta também lhe parece um corpo uno e sem movimento interior, não sendo possível indicar a quantidade de corpos, subcorpos e microcorpos nela existente e a movimentarem-se às mais diversas velocidades. O mesmo acontece relativamente aos muitos corpos celestes que observamos a partir da Terra.
A pedra do exemplo acima move-se e não se move ao mesmo tempo. Permite-nos perceber que não existe «tempo» entre o movimento dos átomos e o aspeto da pedra que ele cria. A pedra já o é, enquanto os movimentos ocorrem e porque eles ocorrem. O movimento está a ocorrer na imobilidade da pedra. A separabilidade dos seus elementos existe na unidade da pedra. A causa e o efeito, afinal, são instantâneos ou mesmo simultâneos.
A vida parece caracterizar-se por movimentos, que nos são invisíveis, incrivelmente rápidos, que não afetam a imobilidade visível e o ser de tudo e do Todo. A vida está a acontecer a todo o momento e em toda a parte. O «espaço» e o «tempo» parecem ser artifícios pelos quais se separam as partes do Todo, se divide o indivisível, para o ver e o experimentar de uma maneira mais completa.
Assim sendo, os fenómenos «espaço» e «tempo» são funções da perspetiva. Se resolvermos assumir uma perspetiva diferente, poderemos deixar de ver a microrrealidade para passar a ver a macrorrealidade. Ou vice-versa. Ou poderemos passar a perspetivar em simultâneo a micro e a macrorrealidade.
Atente-se que uma qualquer realidade macro (por exemplo, a pedra quando comparada com os seus átomos constituintes) não é senão uma microrrealidade de uma outra macrorrealidade (por exemplo, a pedra quando vista a partir de uma aeronave voando a uma baixa altitude), que é uma parte mais pequena de uma realidade ainda maior (o respetivo continente), e assim por diante (o planeta Terra), até ao infinito.
O «espaço» e o «tempo» serão, então, perspetivas com uma raiz histórica de vivência humana. À medida que cada ser vai modificando a sua perspetiva, vai experimentando a realidade de uma forma diferente. Provavelmente cada vez mais abrangente. Provavelmente cada vez mais próxima do Todo, desde o infinitamente pequeno até ao infinitamente grande.