A análise serena do percurso terreno de seres como Moisés, Lao Tsé, Zaratustra, Buda, Confúcio, Sócrates e Jesus permite-nos perceber o esforço que cada um deles terá feito no sentido do esclarecimento espiritual da Humanidade.
Não disseram exatamente a mesma coisa, mas as suas mensagens tiveram um fundo comum de aproximação à Sabedoria Total. Não atuaram da mesma forma, antes de acordo com a época em que viveram e os hábitos de então, mas todos souberam assumir um comportamento exemplar. Deixaram, todos eles, rastos luminosos que permitiram às gerações que lhes sucederam usufruir de perspetivas existenciais mais evoluídas.
Curiosamente, não se lhes conhece a intenção de formarem agrupamentos religiosos ou doutrinários. Contudo, os seus seguidores — em alguns casos — foram-se organizando e constituindo grupos religiosos e seitas muito diversificadas, atualmente mais de oito mil. As mensagens que foram deixadas eram, e são, muito bonitas, mas nem sempre os seguidores souberam estar à sua altura, muitas vezes deturpando-as e utilizando-as de forma contraditória.
Assim, por um lado, foi possível a Humanidade ir evoluindo da adoração da Natureza (animismo) para a adoração de entidades divinas diversas (politeísmo) e daí para a adoração de uma só entidade (monoteísmo), embora com nomes diversos: Jeová, Alá, Deus, etc. Mais recentemente, a própria explicação científica de fenómenos naturais, que eram inexplicáveis para os nossos antepassados, contribuiu para a evolução do fanatismo subserviente para a tolerância racional, no sentido da independência espiritual do fenómeno adulatório.
A análise comparada dos diferentes «sistemas» instituídos permite-nos concluir que, em essência, existe uma mensagem comum que se pode sublimar assim:
1. O princípio que dá a vida está em cada um de nós e fora de nós; é imortal e parece não poder ser visto, ouvido ou sentido, mas é percebido por todos aqueles que, de facto, o desejem.
2. Cada partícula desse princípio também é imortal e encontra-se a fazer uma trajetória evolutiva no sentido do aperfeiçoamento total.
3. Cada ser humano, como partícula desse princípio, é responsável por tudo o que pensa, diz e faz, assim como por tudo o que lhe acontece.
Alguns líderes religiosos têm dado passos muito positivos no sentido da aproximação entre as suas organizações. Parece que, se cada uma dessas instituições quiser secundarizar o que não é prioritário, poderá haver uma mais forte tendência para a aproximação entre todos, sobretudo no plano das ideias. Buda dizia: «Bem-aventurados os que sabem, e cujo conhecimento é livre de ilusões e superstições.»
O esforço evolutivo que cada ser vai fazendo por si, e o esforço que cada uma dessas instituições deverá empreender, poderão possibilitar o encontro de todos num alvo comum, que afinal todos perseguem ou deverão perseguir — a Sabedoria Total.
Mas, será necessário que todos os que mentem passem a falar verdade, que todos os que negoceiam se transformem em idealistas, que todos os que ludibriam ou exploram se tornem puros. Só assim a Humanidade se libertará da mentira, dos mitos, dos tabus, das crenças e práticas místicas. Só assim o ser humano deixará de pedir ou suplicar a resolução dos seus problemas, passando definitivamente a esforçar-se por se ajudar a si mesmo e ao outro, utilizando de maneira apropriada a força do seu pensamento, a sua vontade e as suas capacidades intuitiva, criativa e altruísta.
Perante esta conceção, cada um de nós vem à Terra as vezes necessárias para fazer o seu percurso de amadurecimento espiritual. Depois, irá fazer a sua evolução noutros planos, ainda não conhecidos dos seres humanos nesta fase do seu desenvolvimento, sempre num trajeto de aproximação à Sabedoria Total, ao Absoluto.
O corpo físico estará para o nosso verdadeiro eu como a nossa roupa está para o corpo físico. Cada vez que vimos à Terra, utilizamos durante alguns anos um corpo físico, que nos enquadra neste mundo material.
Ao ligarmo-nos a esse corpo físico, desmemorizamos temporariamente o nosso percurso passado, para podermos ir vencendo as diversas situações com mais facilidade, sem estarmos demasiado apegados a experiências anteriores.
Assim, cada uma das nossas experiências terrenas é apenas um pequeno capítulo de um longo percurso evolutivo que vamos fazendo, desde o nada ao Todo. A consciencialização desse percurso será fundamental para a compreensão da realidade universal, para o enquadramento nessa realidade e para a enorme satisfação de aproveitamento de todo o potencial disponível.
Algumas doutrinas defendem que cada um de nós escolhe o momento e o local da sua vinda à Terra. Nesta perspetiva, somos nós que selecionamos a região do globo, a raça, o sexo, o estrato social, a família e os nossos pais (Mattos, 1983; Benner, 1989; Besant, 1995; Andrade, 2001; Morales, 2004).
Segundo esta conceção, cada um de nós terá feito, antes de vir à Terra, uma análise das suas próprias capacidades, procurando identificar as suas características menos evoluídas, a fim de escolher o ambiente mais propício à vivência de situações que lhe permitam adquirir conhecimentos enriquecedores em áreas de maior fragilidade pessoal, dando continuidade a uma trajetória evolutiva de autoaperfeiçoamento.
Para adquirir os referidos conhecimentos, cada um de nós terá de ultrapassar situações que são difíceis, o que naturalmente poderá envolver um certo sofrimento pessoal. Sofrimento que durará apenas até que a atenção e o esforço individuais concentrados na resolução daquela situação nos permitam conquistar o direito a ultrapassá-la, a que sucede a satisfação do dever cumprido, tanto mais elevada quanto maior for a sensação da riqueza conquistada.
A sensação de que este enriquecimento interior é verdadeiro e definitivo (para todo o sempre) minimiza ou apaga aquilo que antes considerámos difícil, complexo e, por vezes, quase inultrapassável, e motiva-nos para a aquisição de novos conhecimentos, encarando de forma positiva a necessidade de ultrapassarmos outras dificuldades e de, entretanto, vivenciarmos, de novo, algum sofrimento relativo a outras debilidades nossas.
Esta perspetiva é criticada por muitos e não aceite pela maioria, nomeadamente por aqueles que pensam que não pode haver conhecimento sem função cerebral. Mas é responsabilizante do indivíduo. Segundo ela, não há razão para nos lastimarmos do ambiente que nos rodeia, pois fomos nós que o escolhemos. Tivemos o livre-arbítrio para selecionar o ambiente onde nascemos, prevendo uma certa linha de tendência do tipo de experiências que iríamos encontrar. E mantemos o nosso livre-arbítrio, que nos permite, a cada momento, encaminharmos os nossos passos para onde entendermos, sendo assim os primeiros responsáveis pelo que a seguir nos acontece.
Enquanto crianças, a responsabilidade do que nos acontece é partilhada decrescentemente com os pais. Mas, tendo-os escolhido — tendo em conta as suas características e aquilo em que poderão ou não ajudar os filhos — ninguém se deverá queixar de falta de apoio dos pais.