Evidências
Alma é o princípio espiritual, a parte imaterial do ser humano e aparentemente também de outros seres. Uma partícula do Todo, que pode animar um determinado corpo físico e persistir para lá da morte deste. Uma pequena parte da Energia Universal que pode mesmo voltar a animar sucessivamente outros corpos físicos.
Quinze mil anos antes de Cristo, o ser humano desenhava nas grutas de Lascaux a alma em forma de pássaro. No Oriente e no Ocidente, a alma foi identificada como o sopro da vida. As palavras indiana atman, hebraica ruah e grega psyche designam a respiração, sendo que esta, quando consciente, pode centrar-nos no momento, unindo o corpo físico e a mente.
Na Grécia Antiga, a alma tornou-se uma ideia abstrata, imaterial e imortal. Para Aristóteles, a alma «faz-nos viver, sentir e pensar». No século xvii, Descartes separava a Res cogitans da Res extensa, ou seja, o espírito que reconhece do objeto reconhecido na sua expressão corporal.
Durante o século xx, o grande desenvolvimento científico e tecnológico permitiu o estudo aprofundado do corpo material, quase ignorando a dimensão espiritual. A vida humana foi muitas vezes entendida como interação entre matéria e informação, como se o ser humano fosse dirigido por sistemas neuronais e hormonais, a partir de um determinado programa genético.
Admitindo, porém, que o organismo não se consegue organizar a si mesmo, alguns pensadores continuam a defender que a alma é o princípio da organização de tudo o que tem vida. Daniel Hell, professor da Universidade de Zurique, afirma que «a alma representa aquilo que os homens só podem experimentar por e em si próprios, de certo modo, em primeira mão». Para Hell, «a alma é símbolo para a experiência do vivo (vitalidade psíquica) [...], é símbolo para uma vivência incondicionada e imediata do momento (existência psíquica) [...] e é símbolo para o que comove no relacionamento interpessoal (encontro psíquico)».
Por outro lado, muitos investigadores têm estudado, nas últimas décadas, as experiências de quase morte — estado de morte clínica experimentado durante alguns minutos ou horas, após os quais o ser volta à vida física. Nestes casos, a pessoa descreve com alguma precisão o que se passou em torno do seu corpo físico enquanto esteve dada como morta. Segundo um rastreio nacional da Gallup, feito nos EUA em 1982, cerca de oito milhões de norte-americanos dizem ter passado por pelo menos uma dessas experiências. E, destes, nove por cento afirma ter estado fora do seu corpo físico, visualizando-o a partir do exterior (Kübler-Ross, 1969; Morse, 1986; LaBerge, 1988; Appleby, 1989; Greyson, 1992; Blackmore, 1993; Van Lommel, 2001; Moody, 2004; Murray, 2005; Nelson, 2006; Parnia, 2006; Ehrsson, 2007; Easton, 2009).
Nas experiências fora do corpo — que também podem existir nas experiências de quase morte —, o indivíduo relata distanciar-se do seu corpo físico, e identifica acontecimentos que, entretanto, tiveram lugar em locais inacessíveis aos seus cinco sentidos. Este tipo de experiências tem aliás sido estudado e relatado como fenómenos que podem acontecer espontaneamente ou ser provocados em laboratório, em certos indivíduos e em determinadas situações. Olaf Blanke, neurologista do Hospital Universitário de Genebra, afirmou conseguir nos seus doentes «sensações de que a consciência parece separar-se do corpo físico por um estímulo elétrico na prega angular específica do hemisfério cerebral direito».
Entre outros, Pascal Bruckner tenta libertar o ser humano da tendência para a objetivação exclusiva, defendendo uma perspetiva global de ser uno, com corpo e alma. O sofrimento realmente ultrapassa os conhecimentos da biologia e remete o ser humano para a sua vida psíquica.
Na atualidade, alguns cientistas procuram esclarecer a realidade humana, tentando demonstrar que existe em cada um de nós uma consciência que anima o corpo físico e que se separa dele no momento da morte física, conservando a sua memória e personalidade. Estes estudos não estão devidamente comprovados e têm sido refutados em diversas publicações científicas. Contudo, parecem ser cada vez mais os investigadores que, segundo o rigor do método científico, tentam demonstrar a verdade ou inverdade da perspetiva de Harvey Spencer Louis: «O Homem é uma alma revestida com um corpo e não um corpo animado por uma alma.»
A vida espiritual é evidenciada por um grande conjunto de dados. Muitos são os relatos de pessoas que veem imagens ou ouvem sons de seres fisicamente mortos. Hoje é possível a captação, por meios eletrónicos, de sons e imagens relativos a esses seres (transcomunicação instrumental).
Diversos são os casos apontados de crianças que apresentam habilidades musicais não aprendidas ou o domínio inato de línguas desconhecidas no meio onde nasceram. Alguns seres transmitem, consciente ou inconscientemente, mensagens por via oral ou pela escrita automática (psicografia), sendo por vezes revelados assuntos que não podiam ser do conhecimento do indivíduo que serve de veículo transmissor, mas sim de outros seres que já não existem fisicamente.
Estão estudados casos de pessoas, incluindo crianças, que apresentam recordações de supostas vidas passadas, ostentando, por vezes, marcas de nascença em locais do corpo onde teriam sofrido ferimentos na vida física imediatamente anterior; e, em alguns desses casos, foi verificada e confirmada a veracidade histórica dos factos relatados. A terapia de regressão a vivências passadas leva, com frequência, o paciente a experienciar de forma intensa situações que lhe parecem corresponder a outras suas vidas físicas (Dethlefsen, 1976; Stevenson, 1997; Desjardins, 1998; Simões, 2003; Weiss, 2006).
Estes factos encontram-se, na generalidade, amplamente descritos, sendo que alguns deles remontam à Antiguidade. Entre esses relatos verificou-se bastante charlatanice. Esta terá sido uma das razões pelas quais a ciência oficial teve relutância em estudá-los e aceitá-los como universalmente provados.
Contudo, a evidência dos factos tem vindo a aumentar recentemente, graças a pesquisas honestas e discretas, realizadas na tranquilidade dos laboratórios de investigação científica. Talvez essas evidências experimentais e observacionais possam, dentro de algum tempo, induzir uma nova «revolução» nas bases científicas vigentes, confirmativa da perspetiva existencial aqui explanada.
Trata-se de uma possível alteração do paradigma científico vigente, dado estar hoje demonstrado que o que vemos depende da maneira como o observamos, ou seja, que não existe objetividade sem subjetividade. Talvez a aplicação do paradigma científico atual necessite de uma ampliação do seu conceito, admitindo condições de experiência direta de menor objetividade, mas de indubitável realismo, como meio de aquisição de conhecimento.
Talvez seja a altura de um novo paradigma, mais abrangente, pluralista, e holístico, em que os cientistas estejam mais abertos para aprofundar o estudo dos fenómenos existentes e ainda não explicados, esclarecendo a Humanidade sobre a verdade e a mentira daquilo em que atualmente acredita e sobre as hipóteses e teorias que coloca (Braude, 2003; Bockris, 2004; Green, 2007; Sheldrake, 2009; Cardeña, Lynn & Krippner, 2014).