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ALYSSA BRADFORD NÃO ATENDEU o telefone. Eric ligou do celular, ainda na mesa do café. Falou em tom baixo, porém hostil, ao deixar uma nova mensagem que exigia uma ligação de volta e, com certeza, dessa vez ele iria falar com o marido dela. Alguém tinha morrido, porra, e ele precisava saber que merda estava acontecendo.
O telefone não tocou. Ele permaneceu sentado ali durante algum tempo, esperando e lembrando-se de Gavin Murray, com seus óculos escuros, seus cigarros e sua voz pretensiosa. Morto na van que explodiu.
A garçonete se aproximou:
— Algum problema com a comida? — perguntou ela, encarando o prato quase intocado.
— Não — respondeu ele. — Nenhum problema. Só... pensando.
Comeu sem sentir o gosto de nada, pagou a conta e voltou para seu quarto. Mal tinha aberto a porta quando ouviu o telefone tocar. Alyssa, pensou, é melhor que seja você.
Mas não era. Era o gerente do hotel para lhe informar que a polícia queria falar com ele.
— Diga-lhes que descerei em cinco minutos. — Desligou e ligou para Claire.
— Você está em casa? — perguntou quando ela atendeu.
— Sim. Por quê?
— Quero que saia daí.
— Como?
— Preciso que você me escute por um minuto, e que acredite que não estou completamente maluco. Você ainda acredita em mim?
— Eric, o que está acontecendo?
— Alguém me seguiu de Chicago até aqui. Um homem chamado Gavin Murray. Anote esse nome ou pelo menos lembre-se dele, sim? Gavin Murray. Esse cara era um detetive particular de uma empresa de Chicago chamada Soluções de Crises Corporativas.
— Certo.
Ele escutou o barulho de uma folha de papel sendo rasgada e depois outro som correspondente à mulher procurando por uma caneta.
— Ele apareceu aqui no hotel, ontem — falou Eric. — E sabia tudo sobre mim. Mencionou até seu nome. Sabia que estávamos separados, mas que ainda não estávamos legalmente divorciados.
— O quê?
— Isso mesmo, detalhado demais, não acha? Ele fez a pesquisa direitinho, gente como ele faz isso rápido e facilmente. De início, não fiquei muito preocupado. Mas agora estou começando a ficar.
— Você acha que devo ter medo dele?
— Não mais. Ele está morto.
— Está o quê?
— Alguém o matou na noite passada — disse Eric. — Foi assassinado, explodiram sua van com ele dentro. Ainda não sei dos detalhes. Estou indo falar com a polícia neste momento. Mas o que eu sei é que ele me seguiu até aqui e me ofereceu 75 mil para que eu parasse de fazer perguntas sobre Campbell Bradford, e então foi morto. Não faço ideia do que isso significa, mas tenho que lhe dizer que ele efetivamente me ameaçou ontem à noite. Falou que outros tipos de persuasão poderiam ser usados se eu ignorasse o dinheiro.
— Eric...
— Tenho certeza de que essa precaução é desnecessária, mas, de qualquer modo, queria que você saísse de casa por uns tempos. Até que possamos entender um pouco mais sobre esta situação, acho que seria bom que fizesse isso. Pelo menos, iria me trazer certa tranquilidade.
— Eric — repetiu ela, em voz baixa —, você bebeu mais daquela água?
— Isso não interessa, porque temos de...
— Você bebeu?
— E daí se eu bebi?
— Só estava imaginando... Você tem certeza de que isso tudo aconteceu mesmo? Tem certeza de que este homem...
— Era real? — disse ele, dando uma gargalhada. — É isso mesmo que quer saber? Merda, Claire, era só isso que me faltava: você questionando minha sanidade. Sim, o homem era real e, sim, ele está morto agora. Ele está morto. Alguém o matou e estou indo conversar com a polícia neste momento sobre isso, mas, se não acredita em mim, ligue o computador e procure saber, faça o que achar melhor, contanto que se convença...
— Está bem — disse ela. — Está bem, fique calmo. Só perguntei, mais nada.
Fez-se silêncio por alguns segundos.
— Vou sair de casa. Se é isso que quer que eu faça, eu faço, ok?
— Obrigado.
— Não fique chateado por eu perguntar, mas por que você bebeu aquela água de novo?
Assim que começou a responder, o aparelho de telefone do quarto começou a tocar outra vez — provavelmente a polícia querendo saber por que Eric estava demorando tanto para descer. Mas ele contou a Claire sobre a terrível noite que tivera, como a água de Anne McKinney o acalmara e sobre a visão que teve de Campbell Bradford e do rapaz com o violino.
— A única coisa que me preocupa agora — disse ela — é o que esta água anda fazendo com você. Tanto física quanto mentalmente. Toda essa história é assustadora e estranha, mas podemos lidar com ela. Só que essa água... é o que me assusta mais, Eric. Seu corpo está dependente dela. O cérebro também. Isso é perigoso.
— Ainda não sabemos se estou dependente — respondeu ele, mas a dor de cabeça estava de volta e sua boca estava seca.
— Você precisa de tratamento — disse ela. Entretanto, nesse momento, ele ouviu uma batida na porta e percebeu que a polícia decidira não mais esperar.
— Tenho que ir, Claire. Vou falar com a polícia agora. Por favor, saia de sua casa por uns tempos, está bem? Pelo menos até eu saber o que está acontecendo.
Ela falou que iria sair, mandou-o ter cuidado e para que não bebesse mais daquela água.