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— Outra — disse Hadden.

Mas eu fiquei parado, esperando, observando aquele pequeno escocês em preto e branco, de joelhos, arrancando tufos de grama do chão, com o telefone escorregando da minha própria mão, pen­sando: “Carol, Carol, será sempre assim, vai ser assim para sempre, Carol...?”.

— A coletiva de imprensa está marcada pra amanhã.

— Domingo?

— Segunda-feira é feriado.

— Isso vai destruir a sua cobertura do jubileu.

— Ela não morreu.

— Sério?

— Ela teve sorte.

— Você acha?

— Oldman acha que ele estava perturbado.

— Tiro o chapéu para George.

— Oldman disse que você deveria ter entrado em contato ao receber qualquer notícia.

— Ele conseguiu alguma coisa?

— Não disse nada. E você também não deveria dizer.

Ah, Carol, alguma novidade para os mortos?

 

Jubelum...

 

Outra voz no apartamento de Bradford, na escuridão atrás das pesadas cortinas.

Ka Su Peng ergueu os olhos, movendo os lábios, e por fim se pronunciou:

— Em outubro do ano passado, eu era prostituta.

Ela viajara dezesseis mil quilômetros para chegar ali e sentar-se na penumbra, entre móveis encardidos, com sua pele cinzenta, seus cabelos azuis, dezesseis mil quilômetros para trepar com homens de Yorkshire em troca de sujas notas de cinco libras atiradas em suas palmas úmidas.

Dezesseis mil quilômetros para terminar assim.

— Não conheço muita gente, e geralmente estou sozinha. Faço o primeiro turno na Lumb Lane, antes de os bares fecharem. Ele me pegou na porta do Perseverance. O Percy, como eles chamam. Era um carro escuro, limpo. Ele era amigável, quieto, mas amigável. Disse que não tinha dormido muito, estava cansado. Eu disse que também estava cansada. Olhos cansados, os seus olhos pa­reciam muito cansados. Ele dirigiu até o parque atrás da White Abbey e me perguntou quanto, eu disse cinco, e ele disse que me pagaria depois, mas eu disse que queria antes, pois ele poderia não me pagar, como já acontecera outras vezes. Ele disse que tudo bem, mas pediu que eu entrasse na parte de trás do carro. E foi o que eu fiz, então ele me bateu na cabeça com um martelo. Três vezes. E eu caí na grama, e ele tentou me bater outra vez, mas eu fechei os olhos e coloquei as mãos na cabeça. Ele me bateu de novo e depois parou, e eu pude escutar sua respiração próxima ao meu ouvido, e então a respiração parou, e eu fiquei deitada ali, tudo preto e branco, carros passando, e então eu me levantei e caminhei até o telefone, liguei para a polícia, que veio até a cabine de telefone e me levou ao hospital.

Ela vestia blusa cor de creme e calça da mesma cor, com os pés colados um no outro, seus dedos nus tocando-se.

— Você se lembra de como ele era?

Ka Su Peng fechou os olhos, mordeu o lábio inferior.

— Sinto muito — me desculpei.

— Tudo bem. Não quero me lembrar, quero me esquecer, mas não posso, só consigo me lembrar. Isso é tudo o que eu me lembro.

— Se não quiser falar sobre isso...

— Não. Ele era branco, 1,65 metro de altura, mais ou menos...

Senti que alguém colocava a mão no meu joelho, e lá estava ele de novo, como se fosse mágica, sorrindo na escuridão, com carne entre os dentes.

— Corpulento...

Ele deu um tapinha na barriga e arrotou.

— Com cabelos ondulados e escuros, e um bigode à la Jason King.

Ele arrumou os cabelos, o bigode, com aquele sorriso forçado.

— E tinha sotaque daqui?

— Não. De Liverpool, talvez.

Ele ergueu uma das sobrancelhas.

— E disse que o seu nome era Dave ou Don, não tenho certeza.

Ele franziu a testa e sacudiu a cabeça.

— Vestia camisa amarela e calça jeans.

— Algo mais?

Ela suspirou.

— É tudo o que eu me lembro.

Ele piscou mais uma vez e foi embora, como se fosse mágica.

— É suficiente? — ela perguntou.

— É bastante — murmurei.

Passado o horror, o amanhã e o depois de amanhã.

De repente, ela perguntou:

— Você acha que ele vai voltar?

— E ele já foi embora alguma vez?

— Eu às vezes, às vezes, escuto sua respiração no travesseiro ao meu lado — ela respondeu, com seu rosto triste, marcado pela violência, e com cachos de cabelo escondendo as feridas.

Eu me aproximei no escuro e perguntei:

— Posso?

Ela inclinou o corpo para a frente e afastou os fios de cabelo do rosto.

 

Na sala dos fundos, ela fechou as cortinas.

Coloquei uma nota de dez libras na mesa de cabeceira e nos sentamos, de costas um para o outro, em cantos opostos da mesma cama de solteiro, tirando nossas roupas, numa manhã de domin­go, em Bradford.

Eu me levantei e baixei a calça.

Quando virei para trás, ela estava deitada na cama, nua.

Eu me deitei em cima dela, com o meu pau mole.

Ela moveu as mãos entre as minhas pernas, depois se afastou um pouco, esticou a mão até a mesa de cabeceira e pegou uma camisinha.

Colocou a camisinha no meu pau e fez com que eu a penetrasse.

Começou a se mover para cima e para baixo, seus seios eram pouco mais que os mamilos, para cima e para baixo, seu corpo era ossudo, para cima e para baixo, com os olhos fechados, para cima e para baixo, com a boca aberta, para cima e para baixo, para cima e para baixo, para cima, para baixo, para cima, para baixo.

Fechei os olhos.

Amanhecia.

 

Nos vestimos em silêncio.

Na porta, perguntei:

— Posso voltar?

— Agora? — ela perguntou, e abrimos um sorriso, surpresos.

 

Com um sorriso ameaçador, o assistente-chefe superintendente George Oldman disse:

— Senhores, como todos sabem, aproximadamente às três da manhã de sábado, dia 4, a senhora Linda Clark, de 36 anos, re­sidente em Bierley, foi vítima de um ataque violento no terreno baldio atrás do templo Sikh, na Bowling Back Lane, em Bradford. Nesse ataque, a senhora Clark foi atingida no crânio, nas costas e no abdômen. Ela foi operada no próprio sábado de manhã e passou por outras cirurgias esta semana. No entanto, apesar da gravidade de seus ferimentos, a senhora Clark pôde nos oferecer um relato detalhado do que aconteceu antes do ataque.

Ele fez uma pausa, tomou um gole de água e continuou:

— A senhora Clark passou a noite de sexta-feira no salão de baile Mecca, no centro de Bradford. Ela usava um vestido longo de veludo preto e um paletó verde de algodão. Às duas da manhã, aproximadamente, saiu do Mecca e seguiu para Cheapside, onde entrou na fila para pegar um táxi. Quinze minutos mais tarde, resolveu caminhar em direção a Bierley. Meia hora depois, a senhora Clark aceitou a carona oferecida pelo motorista de um Ford Cortina Mark II, branco ou amarelo, com teto preto, que parou na Wakefield Road. A senhora Clark foi então levada à Bowling Back Lane, onde aconteceu o ataque. Ela nos ofereceu uma descrição detalhada do motorista.

Ele fez uma nova pausa.

— O homem que buscamos é branco, tem aproximadamente 35 anos de idade, 1,80 metro, e é corpulento. Foi descrito como tendo cabelos castanho-claros na altura do ombro, sobrancelhas grossas e bochechas gordas. Quem conhece alguém que se encaixe nessa descrição, que dirija um Ford Cortina Mark II, branco ou amarelo, com teto preto, ou que tenha acesso a esse veículo, deve, por favor, entrar em contato com a Sala de Ocorrências de Brad­ford ou com a delegacia de polícia mais próxima, com urgência.

Outro gole de água, outra pausa.

— Gostaria também de dizer que as evidências encontradas no local do ataque nos levam a crer que o homem responsável pela agressão à senhora Clark é o mesmo que assassinou Theresa Camp­bell, Clare Strachan, Joan Richards e Marie Watts, e o mesmo homem que atacou Joyce Jobson em Halifax, em 1974, Anita Bird em Cleckheaton, também em 1974, e a senhorita Ka Su Peng em Bradford, no último mês de outubro.

Pausa.

A sala inteira:

O Estripador de Yorkshire.

Escrevi: Clare Strachan?

Circulei o seu nome.

Oldman perguntou se alguém tinha perguntas.

— Roger?

— O senhor poderia esclarecer uma evidência que aponte a razão de o último ataque ter sido obra do... do Estripador de Yorkshire?

— Neste momento, não.

Ele está se distanciando...

— Jack?

— A descrição oferecida pela senhora Clark parece contra­dizer as descrições anteriores, pelo menos as que foram divul­ga­das. Por exemplo, tanto Anita Bird quanto Ka Su Peng disseram que o homem que as atacou tinha cabelos escuros e encaraco­la­dos, e barba ou bigode...

George, afiado, respondeu:

— Sim, Jack, mas a senhorita de Bradford, a senhorita Peng, disse que o homem que a atacou tinha sotaque escocês, o que entra em contradição com o que foi dito por Anita Bird, e a descrição oferecida pela senhorita Bird foi baseada na hipótese de que o homem que passou por ela na rua foi o mesmo que a atacou mais tarde.

— Hipótese que você antes aceitava.

— Antes, Jack. Antes.

 

Caminhei pelo mercado de Kirkgate, que estava deserto, pelas calmas ruas de domingo na cidade, entre as bandeirolas, tudo vermelho, azul e branco, sob o sol das três da tarde.

Entrei num beco de paralelepípedos, querendo escapar do calor, buscando uma parede e uma palavra escrita em vermelho.

Mas a palavra desaparecera, ou talvez eu estivesse no beco er­rado, e as únicas palavras que encontrei ali foram Ódio e Leeds.

Então segui para Briggate, depois para Headrow, até a catedral, e entrei.

Eu me sentei no fundo, na escuridão fria e silenciosa, suando por conta da caminhada, ofegante como um cão.

No primeiro banco, havia uma senhora com bengala tentando se levantar, uma criança lendo um livro de rezas, luzes baixas no altar, estátuas e quadros, todos com seus olhos em cima de mim.

Ergui os olhos, meu suor secara, minha respiração estava mais calma.

E ali estava eu, diante Dele, diante da cruz, pensando em fodas, assassinatos e martelos, vendo os pregos nas suas mãos, pensando em fodas, assassinatos com chaves de fendas, vendo os pregos nos seus pés, com lágrimas nos olhos Dele, lágrimas nos olhos deles, lágrimas nos meus olhos.

Mas a criança tomou a senhora pela mão, e desceram o cor­redor. Quando chegaram à fila onde eu estava sentado, fizeram uma pausa, na frente das estátuas e dos quadros, do altar em sombras, e a criança estendeu o livro de orações, que eu peguei, observando-as enquanto iam embora.

Baixei os olhos e li em voz alta as palavras que estavam ali:

 

Salmo 88

 

Pois a minha alma está farta de males,

e a minha vida já se encontra à beira da morte.

Sou contado com os que baixam à cova;

sou como um homem sem força,

atirado entre os mortos; como os feridos de morte

que jazem na sepultura, dos quais já não te lembras;

são desamparados de tuas mãos.

Puseste-me na mais profunda cova,

nos lugares tenebrosos, nos abismos.

Sobre mim pesa a tua ira;

tu me abates com todas as tuas ondas.

 

Apartaste de mim os meus conhecidos e me fizeste

objeto de abominação para com eles;

estou preso e não vejo como sair.

Os meus olhos desfalecem de aflição;

dia após dia, venho clamando a ti, Senhor,

e te levanto as minhas mãos.

Mostrarás tu prodígios aos mortos

ou os finados se levantarão para te louvar?

Será referida a tua bondade na sepultura?

A tua fidelidade, nos abismos?

Acaso nas trevas se manifestam as tuas maravilhas?

E a tua justiça, na terra do esquecimento?

 

Mas eu, Senhor, clamo a ti por socorro,

e antemanhã já se antecipa diante de ti a minha oração.

Por que rejeitas, Senhor, a minha alma e ocultas de mim o rosto?

Ando aflito e prestes a expirar desde moço;

sob o peso dos teus terrores, estou desorientado.

Por sobre mim passaram as tuas iras,

os teus terrores deram cabo de mim.

Eles me rodeiam como água, de contínuo;

a um tempo me circundam.

Para longe de mim afastaste amigo e companheiro;

os meus conhecidos são trevas.

 

Fodas e assassinatos com martelos, os pregos nas mãos Dele, fodas e assassinatos com chaves de fenda, os pregos nos pés Dele, fodas e assassinatos, as lágrimas nos olhos deles, as lágrimas nos olhos Dele, assassinatos, lágrimas nos meus olhos.

Podemos subir agora e tudo terminará.

Saí correndo da catedral, atravessando as portas de madeira, afastando-me do martelo, pelas ruas quentes e escuras, afastando-me Dele, passando pelas bandeirolas vermelhas, pois as brancas e azuis estavam desaparecidas, afastando-me de todos, atravessando o dia 5 de junho de 1977, correndo.

Ah, Carol.

E finalmente fiquei de pé na porta do Griffin, com minhas roupas em chamas, minhas mãos e olhos voltados para o céu, gritando:

Carol, Carol, tem que haver outra maneira.

 

A redação estava morta.

Eu me sentei e escrevi:

 

ESTRUPADOR ATACA NOVAMENTE

Ontem, a polícia conseguiu dar mais um passo na busca do chamado Estripador de Yorkshire, que acreditam ser o responsável pelos assassinatos de quatro prostitutas e pelos ataques a três outras mulheres, seguidos de um quarto ataque, na manhã do último sábado.

A senhora Linda Clark, de 36 anos de idade, residente em Bierley, Brad­ford, foi atacada num terreno baldio próximo à Bowling Back Lane, em Brad­ford, logo após ter passado a noite no salão de baile Mecca, no centro dessa mesma cidade.

A senhora Clark sofreu fraturas no crânio e feridas de punhaladas no estômago e nas costas, como consequência de ter aceito uma carona na Wakefield Road. E passará por uma segunda cirurgia ainda esta semana.

A polícia fez a seguinte descrição do veículo e do seu motorista, que gostariam de interrogar por contra do ataque à senhora Clark:

O homem é branco, com aproximadamente 35 anos de idade, mais ou menos 1,80 metro de altura e corpulento. Seus cabelos castanho-claros chegam à altura dos ombros, e suas sobrancelhas são grossas. Ele dirigia um Ford Cortina Mark II, branco ou de cor clara, e com teto preto. A polícia pede a qualquer pessoa que tenha informações que entre em contato direto com a Sala de Ocorrências de Bradford pelo telefone 476532 ou 476533, ou que procure a delegacia mais próxima, com urgência.

Parei de digitar e abri os olhos.

Subi as escadas e deixei a folha de papel na bandeja de Bill.

Depois me preparei para ir embora, mas voltei, peguei a minha caneta e, com tinta vermelha, escrevi:

Não é ele.

 

Desci as escadas, saindo em direção à escuridão e a outras coisas.

The Press Club, lotado, domingo à noite.

George Graves, com a cabeça caída na mesa, os cadarços das botas atados um ao outro, e Tom e Bernard lutando para acender os próprios cigarros.

— Dia cheio? — perguntou Bet.

— Sim.

— Ele está te perseguindo, esse seu Estripador.

Fiz que sim e engoli o uísque escocês.

Steph bateu no meu ombro.

— Outra dose?

— Para ser mais sociável.

— Você não é assim, Jack — ela disse, sorrindo.

Bet serviu mais uma dose.

— Ele recebeu uma visita mais cedo.

— Quem, eu?

— Um jovem, um skinhead.

— Sério?

— Sério. E já vi aquele cara antes, mas juro pela minha vida que não me lembro do nome dele.

— Ele disse o que queria?

— Não. Outra dose?

— Apenas sendo cortês, imagino?

— Sim, é o espírito da coisa.

— Eu diria que sim — concordei, tomando mais uma dose.

 

Parei no topo da escada e abri a porta.

A sala estava vazia, as janelas abertas, minhas cortinas su­jas como se fossem grandes velas ondulantes de uma caravela a caminho do Novo Mundo, e o fresco ar noturno me atingia em cheio.

Eu me sentei e me servi mais uma dose de uísque, que tomei, depois peguei o meu livro e comecei a cochilar.

Foi então que ela surgiu, naquelas montanhas que me pareciam incrivelmente altas, como se eu tivesse viajado para muito, muito longe.

Ela colocou as mãos sobre os meus olhos, mãos frias como duas pedras de gelo:

— Sentiu a minha falta?

Tentei olhar em volta, mas eu me sentia muito fraco.

— Sentiu a minha falta, meu querido Jackie?

Eu fiz que sim.

— Ótimo — ela respondeu, colando sua boca à minha.

Atingi sua língua, sua grande e dura língua.

Ela parou, agarrando o meu pau.

— Quero que você me coma, Jack. Quero que me coma como comeu aquela puta.

 

A rua era tomada por seis garagens estreitas, todas repletas de pichações brancas, suas portas com reminiscências de pintura verde. Era um beco na Church Street, e as garagens formavam uma espécie de passagem em direção ao esta­cionamento de vários andares na outra extremidade da rua. Todas as seis ga­ragens pertenciam ao senhor Thomas Morrison, que morreu sem deixar testamento, e por isso estavam abandonadas. A número seis trans­formou-se em abrigo para mendigos, necessitados, alcoólatras, drogados e prostitutas da região.

Era pequena, com cerca de quatro metros quadrados, e podia ser alcançada por qualquer das portas duplas da frente. Caixas faziam as vezes de mesas, junto a pilhas de madeira e mais lixo. Uma fogueira fora acesa numa lareira improvisada, e as cinzas tomaram conta do que restara de roupas. Na parede oposta à porta estava escrito em vermelho vivo: The Fisherman’s Widow. Em todas as partes, garrafas, garrafas de xerez, de bebidas destiladas, de produtos químicos, todas vazias. Um casaco militar masculino fazia as vezes de cortina sobre a janela, a única janela, que se abria para o nada.

 

Acordei, com o seu hálito ainda quente sobre o meu travesseiro.

Havia livros fora das estantes, jogados pela sala, todos os meus livros de bolso de Jack, o Estripador, todos eles, e as minhas fitas também, tiraram todas da gaveta inferior, mas continuavam dentro de suas caixinhas, com nomes e datas, todas espalhadas pela sala, e os meus recortes também.

Ela correu pela sala, com um pedaço de papel entre os dentes:

Preston, novembro de 1975.

Fiquei de pé na cama, depois de joelhos no chão:

Sofro com o seu terror,

estou desesperada.

Um diário.

Sofro com o seu terror,

estou desesperada.

Aquilo fora um diário.

O quarto estava tomado, as seis rodopiavam e se lamuriavam numa louca cacofonia, livros pelo ar, fitas no chão, recortes de jornal ao vento, dedos nos meus ouvidos, suas mãos sobre os meus olhos, suas mentiras, meus livros, as mentiras deles, as minhas fitas, as mentiras dela, meus recortes, aquele maldito diário.

Sofro com o seu terror,

estou desesperada.

O telefone tocava.