DEZ SEMANAS DEPOIS DO REGRESSO
Nick continua a fingir comigo. Fingimos juntos que somos felizes e despreocupados e que estamos apaixonados. Mas ouço-o a teclar no computador a altas horas da noite. A escrever. A escrever a sua versão, eu sei disso. Eu sei disso, percebo pela forma febril como lhe saem as palavras, com as teclas a fazer cliques e claques como um milhão de insetos. Tento aceder ao computador quando ele está a dormir (embora ele agora durma como eu, agitado e ansioso, e eu durma como ele). Mas ele aprendeu a lição, sabe que já não é o adorado Nicky, a salvo do mal — já não usa a data do seu aniversário, ou do da sua mãe, ou do de Bleecker, como password. Não consigo entrar.
Mesmo assim, ouço-o a digitar rapidamente e sem parar, e consigo imaginá-lo debruçado sobre o teclado, com os ombros para cima e a língua presa entre os dentes, e sei que tive razão em proteger-me. Em tomar a minha precaução.
Porque ele não está a escrever uma história de amor.