Estamos caminhando rapidamente para uma sociedade muito diferente, que em parte vislumbramos, mas que ainda nos reserva inúmeras surpresas. Será uma sociedade conectada, com possibilidades de comunicação, interação e aprendizagem inimagináveis hoje. Os processos de educação serão profundamente diferentes dos atuais. Todas as sociedades educam, transmitem seus valores e tradições; como isso será feito daqui a 40 ou 50 anos, não sabemos claramente. Mas sabemos que a aprendizagem será a essência da nova sociedade: aprender a conhecer, a sentir, a comunicar-se, a equilibrar o individual e o social. Será uma sociedade de maior participação direta, que decidirá as principais questões sem tantos intermediários (haverá mais debates, consultas e referendos on-line). A informação estará disponível, as formas de aprender serão muito variadas e as formas de organizar o ensino também. Todos os alunos estarão conectados às redes digitais por celulares, computadores portáteis, TVs digitais interativas. Os mais pobres terão equipamentos mais simples, mas todos estarão conectados. E essa é uma realidade impensável hoje, mas que rapidamente está se tornando viável. As cidades e as escolas se conectarão, os alunos terão acesso individual e grupal às redes digitais, dentro e fora da escola. Todas as salas de aula estarão conectadas, abertas para o mundo, serão salas de pesquisa, de publicação, de debates presenciais e virtuais, de avaliação.
As tecnologias evoluem muito mais rapidamente do que a cultura. A cultura implica padrões, repetição, consolidação. A cultura educacional também. As tecnologias permitem mudanças profundas, que praticamente permanecem inexploradas, em virtude da inércia da cultura tradicional, do medo, dos valores consolidados. Por isso, sempre haverá um distanciamento entre as possibilidades e a realidade. O ser humano avança com inúmeras contradições, muito mais devagar que os costumes, hábitos, valores. Intelectualmente, também avançamos muito mais do que na prática. Há sempre um distanciamento grande entre o desejo e a ação. Apesar de tudo, está-se construindo uma outra sociedade, que, em uma ou duas décadas, será muito diferente da que vivemos.
Toda sociedade será uma sociedade que aprende de inúmeras formas, em tempo real, com vastíssimo material audiovisual disponível. A aprendizagem será mais tutorial, de apoio, ajuda. Será uma aprendizagem entre pares, entre colegas e entre mestres e discípulos conectados em rede, trocando informações, experiências, vivências. Aprenderemos em qualquer lugar, a qualquer hora, com tecnologias móveis poderosas, instantâneas, integradas, acessíveis. Não precisaremos ir a lugares específicos o tempo todo. Iremos para alguns contatos iniciais e para a avaliação final. O restante do tempo, estaremos conectados audiovisual e interativamente, quando quisermos, com quem quisermos. Haverá formas de acelerar o acesso à informação (implantes e outros recursos que a nanotecnologia promete). Haverá máquinas inteligentes, em muitos aspectos mais inteligentes que os seres humanos. Por isso, é impossível antecipar a educação do futuro, mas podemos apontar alguns caminhos, que nos ajudarão a mudar radicalmente o panorama atual, tão conservador e massificado.
Estamos caminhando para uma aproximação sem precedentes entre os cursos presenciais (cada vez mais semipresenciais) e os cursos a distância ou on-line, que combinará o melhor do presencial (quando possível) com as facilidades do virtual. Em poucos anos, dificilmente teremos um curso totalmente presencial. Por isso, caminhamos para fórmulas diferentes de organização dos processos de ensino-aprendizagem. Caminhamos rapidamente para a flexibilização progressiva e acentuada de cursos, tempos, espaços, gerenciamento, interação, metodologias, tecnologias e avaliação. Isso nos obriga a experimentar pessoal e institucionalmente novos modelos e novas soluções para cada situação.
Com a educação on-line, com o avanço da banda larga na internet, com a TV digital e o celular de quarta geração, teremos todas as possibilidades de cursos: dos totalmente prontos oferecidos por mídias audiovisuais até os construídos ao vivo, com forte interação grupal e pouca previsibilidade. Realizaremos alguns cursos totalmente individualizados e outros baseados em colaboração. Teremos cursos totalmente on-line e outros parcialmente on-line. Só não encontraremos os modelos convencionais. Muitas pessoas aprenderão com outras e só se submeterão a algum tipo de validação final de aprendizagem para fins de certificação.
Estamos caminhando para um conjunto de situações de educação on-line plenamente audiovisuais. Caminhamos para processos de comunicação audiovisual, com forte interação do melhor que conhecemos da televisão (qualidade da imagem, som, imagens ao vivo) com o melhor da internet (acesso a bancos de dados, pesquisa individual e grupal, desenvolvimento de projetos em conjunto, apresentação de resultados) e do celular (mobilidade). Tudo isso exige uma pedagogia muito mais flexível, integradora e experimental.
Podemos pensar em cursos cada vez mais personalizados, mais adaptados a cada aluno ou grupo de alunos. Cursos com materiais audiovisuais e atividades bem planejados e produzidos e que, depois, são oferecidos no ritmo de cada aluno, sob a supervisão de um professor orientador ou de uma pequena equipe, que coloca esse aluno em contato com grupos em estágios semelhantes. Os professores podem agir como hoje fazem os orientadores de pós-graduação. Dão poucas aulas presenciais e virtuais. Acompanham os projetos pedagógicos dos alunos individualmente e também em grupo e os supervisionam e gerenciam, para que obtenham os melhores resultados. Os professores mapeiam a pesquisa, os projetos. Marcam algumas reuniões presenciais e virtuais. Integram esses projetos com os de outros colegas. O currículo é muito mais livre, escolhido de comum acordo entre alunos, professores e instituição. Há alguns momentos comuns presenciais e/ou virtuais (totalmente audiovisuais e interativos), mas, na maior parte do tempo, o processo é virtual e em tempos diferenciados.
Em poucas décadas, os modelos atuais de ensinar e aprender comporão um capítulo específico da história da educação e, mais adiante, da pré-história dela. Nossos prédios e a organização em salas de aula, de acesso diário, em tempos fixos e com atividades iguais para todos serão considerados modelos totalmente antipedagógicos e antieconômicos, e analisados como a organização possível numa sociedade industrial do passado, já totalmente superada e esquecida.
As escolas ainda se sentem fortemente pressionadas pelas expectativas tradicionais das famílias, pela pressão do acesso às melhores universidades, pelo cipoal de normas das várias instâncias administrativas, pela força da cultura educacional convencional. Mesmo os colégios mais avançados tecnologicamente continuam apegados às aulas com transmissão de conteúdo, fragmentadas em disciplinas, com presença obrigatória e pouca flexibilidade e inovação. Os grandes portais de serviços educacionais virtuais e franquias, no essencial, massificam fórmulas, materiais didáticos e atividades. O virtual, até agora, é um complemento – só – do presencial, este é o que realmente conta e continua acontecendo da mesma forma.
Sabemos que os problemas principais não são os tecnológicos, mas os decorrentes da brutal desigualdade de acesso à educação, de oportunidades, de condições. Mesmo com essa desigualdade, a escola – como a sociedade, em geral – enfrenta mudanças estruturais profundas e terá uma configuração muito diferente da que conhecemos.
Com o apoio das tecnologias, os pilares de uma educação inovadora se apoiam em um conjunto de propostas com alguns grandes eixos, que lhe servem de guia e de base: conhecimento integrador e inovador; desenvolvimento da autoestima e do autoconhecimento (valorização de todos); formação de alunos empreendedores (criativos, com iniciativa); construção de alunos cidadãos (com valores individuais e sociais). São pilares que poderão tornar o processo de ensino-aprendizagem muito mais flexível, integrado, empreendedor e inovador. Podemos, apesar das inúmeras contradições, modelos e situações diferentes, apontar algumas tendências na educação básica, que parecem mais fortes e convergentes.
Aos poucos, a escola se tornará mais flexível, aberta e inovadora. Será mais criativa e menos cheia de imposições e obrigações. Diminuirá sensivelmente a obrigação de todos terem de aprender as mesmas coisas, no mesmo espaço, ao mesmo tempo e da mesma forma.
As competências básicas serão cada vez mais as de saber escolher, avaliar as informações importantes para cada etapa da aprendizagem, as de relacionar tudo, de pôr em prática o compreendido teoricamente e organizar sínteses baseadas em práticas individuais e grupais. Outras competências necessárias serão as de saber conviver presencial e virtualmente, interagir afetiva e eticamente com colegas nas mais diferentes situações. A aprendizagem terá um componente muito mais lúdico, prático, de intervenção em situações próximas e distantes, e envolverá a sociedade toda no ensino e não só os profissionais da área. Toda a sociedade será educadora, um grande espaço de apoio e interação para aprender tanto prática como teoricamente.
Caminhamos para que a maioria das escolas e dos alunos tenha acesso às tecnologias e redes digitais, com recursos de diferentes graus de sofisticação. Isso pode parecer miragem hoje, mas é uma tendência ineludível.
Se temos materiais interessantes em todos os formatos – vídeo, TV, DVD, internet – por que temos de pedir ao professor que transmita esses mesmos conteúdos na sala de aula de viva voz? Por que não disponibilizamos a informação para os alunos e ocupamos o professor na organização e no gerenciamento dos processos de compreensão desse conteúdo, de interação com a realidade do aluno, de solução de dúvidas? Os grandes temas de cada área de conhecimento podem estar pré-gravados. Os alunos podem assistir a eles coletiva ou individualmente. Coletivamente, em salas de aula. Individualmente, em casa, na biblioteca física ou virtual.
O foco da aprendizagem se direcionará para a pesquisa, para o desenvolvimento de projetos e não predominantemente para a transmissão de conteúdos específicos. A interação com os alunos será parcialmente presencial e cada vez mais virtual. Cada aluno terá um professor tutor (ou mais) desde o começo, que o orientará (presencial e virtualmente) nas escolhas dos temas e caminhos mais importantes.
O papel do Estado é disponibilizar para todos os melhores materiais – públicos e da iniciativa privada –, as melhores metodologias, as melhores experiências, em todos os níveis de ensino. As escolas escolhem os conteúdos mais pertinentes a cada etapa e os trabalham de acordo com a sua realidade, o seu ritmo, as suas possibilidades. Não se trata de uniformizar conteúdos, de assistirmos todos a um mesmo DVD, mas de aproveitar os recursos multimídia e de comunicação que só os grandes grupos e o Estado podem disponibilizar. A escola organiza seus projetos de pesquisa e, na fase de acesso à informação, já encontra o material desejado. O material não é para consumo imediato, mas para integração em projetos, em atividades grupais e individuais, de acordo com o momento e a necessidade de cada classe. O professor continua sendo importante, não como informador nem como papagaio repetidor de informações prontas, mas como mediador, como organizador de processos. Ele é um articulador de aprendizagens ativas, um conselheiro de pessoas diferentes, um avaliador de resultados. Seu papel é mais nobre, menos repetitivo e mais criativo do que na escola convencional.
Os currículos serão muito mais flexíveis e personalizados. Teremos, em geral, menos disciplinas obrigatórias e alguns eixos temáticos principais, sem um modelo único, imposto da mesma forma e simultaneamente para todos. Algumas áreas serão privilegiadas – como saber ler, interpretar, escrever, contar, raciocinar – e, depois, oferecidas alternativas diferentes de avançar na formação. Haverá atividades individuais e atividades colaborativas, em que os alunos pesquisem e desenvolvam projetos em grupo e aprendam pela interação, pela participação e pela produção conjunta. Os alunos terão mais liberdade para a escolha de atividades artísticas, cuja importância será muito maior do que hoje. Cada aluno irá construindo um percurso em grande parte comum, mas adaptado a si mesmo, personalizado, em diálogo permanente com o professor orientador. Muitos alunos estudarão em casa, conectados, e só participarão de alguns processos de avaliação externa para certificação.
A educação escolar será muito mais voltada para a prática, a pesquisa, os projetos, as atividades integradas semipresenciais. Haverá menos ênfase no conteúdo; a educação será mais rápida (módulos mais curtos), não organizada em disciplinas e sim em grandes temas e questões, com abordagem cada vez mais interdisciplinar e complexa. Focará mais o desenvolvimento de projetos, de pesquisas, jogos, de aprender junto e também individualmente.
As escolas estarão conectadas a grandes portais nacionais públicos e privados com todos os conteúdos principais disponíveis para o acesso grupal e individual, quando for conveniente, de acordo com o projeto pedagógico de cada escola, adaptado a cada grupo e aluno. O conteúdo das principais matérias estará gravado por grandes especialistas e com recursos avançados de comunicação (material continuamente atualizado). Haverá algumas aulas de informação, que poderão ser ao vivo ou baseadas em material pronto, aulas locais ou em muitos lugares simultaneamente. Os professores criarão atividades para trabalhar colaborativamente, antes e depois dessas aulas informativas básicas, e ajudarão a esclarecer as dúvidas. Será possível tirar dúvidas com especialistas e orientadores, que ficarão à disposição, presencial e/ou virtualmente, em determinados momentos.
As aulas serão predominantemente colaborativas, com turmas não muito grandes, com cada vez mais atividades virtuais, em que se interage por texto, imagem e som, com atividades on-line – em tempo real – e outras, em que os alunos poderão escolher quando e como acessar e realizar. O modelo de um professor por disciplina para turmas de 40 alunos será substituído por outros modelos, muito mais flexíveis espaçotemporalmente. Só deverá continuar o modelo atual de um professor para uma turma nos primeiros anos de socialização, de alfabetização. A aprendizagem será organizada progressivamente em diferentes espaços e tempos. Os alunos permanecerão uma parte do tempo na escola, mas não necessariamente na mesma sala. Farão visitas, trabalhos em grupo virtuais e presenciais, pesquisas individuais e em grupo. À medida que forem crescendo, mais horas de atividades virtuais terão. A escola será menos presencial e mais próxima de vários espaços – do bairro, da cidade – e de várias comunidades virtuais, de acordo com a idade e com os interesses específicos dos grupos e das competências desenvolvidas. Haverá também integração maior com comunidades virtuais, dentro e fora do país, em projetos comuns. Os alunos continuarão fisicamente presentes, aprendendo a conviver fisicamente, mas também virtualmente.
Escolas com identidades próximas, como, por exemplo, colégios de uma ou várias congregações religiosas, utilizarão os melhores recursos humanos e tecnológicos para otimizar custos, sinergia, mobilidade. Compartilharão ambientes virtuais multimídia e comunicação digital audiovisual interativa, bases de dados, aulas prontas e aulas ao vivo, em determinados momentos de forma mais intensa. Haverá parcerias nacionais e internacionais frequentes para certificações específicas, por exemplo, em línguas, mas também em artes, história, até graus de intercâmbio mais amplos (validade de um diploma em mais de um país etc.).
As aulas com grandes especialistas e comunicadores, com tutores on-line e presenciais, serão fundamentais para a melhoria da escola pública, principalmente de periferia, onde esses profissionais nunca chegariam de outra forma. Com a TV digital e a internet móvel de alta velocidade, todas as escolas poderão ter os melhores professores a seu dispor, combinados com atividades tutoriais semipresenciais. A escola da era industrial – todos os alunos na mesma turma, no mesmo lugar, ao mesmo tempo, fazendo a mesma atividade, sendo avaliados da mesma forma – irá dando o lugar, aos poucos, a modelos flexíveis, que valorizem o melhor da presença e o melhor do virtual, o melhor do local, do nacional e do internacional.
Há mudanças que as instituições educacionais podem realizar no curto prazo (dependendo da situação em que se encontrem), como investimento em infraestrutura de acesso a redes e laboratórios. É fundamental a ampliação de laboratórios conectados à internet, com número de computadores adequado tanto para acesso dos alunos como para utilização em aulas. A escola pode estar totalmente conectada, sem fio, em todas as dependências e espaços. Hoje, uma instituição precisa ter um bom campus virtual, um conjunto de soluções que permitam a integração do administrativo e do pedagógico.
Cada vez mais, torna-se importante ter um grande portal da educação básica e outro da superior. Com aulas, atividades, material multimídia, bibliotecas, softwares educacionais, soluções tecnológicas de livre acesso, grandes temas de aula gravados com todos os recursos e os melhores especialistas, com sugestão de atividades. Produzir e divulgar material multimídia de grande impacto, de grande poder de sedução e que não traga as informações todas prontas, organizadas, mas que provoque, incentive a pesquisa, problematize.
Do ponto de vista tecnológico, se estamos em um lugar fixo, poderemos conectar-nos por meio de telas de LCD, de alta definição, com pessoas em lugares diferentes, e recriar uma sala de encontros com todos os equipamentos e funcionalidades necessárias para a interação e aprendizagem. Abrem-se telas menores, com cada um dos participantes, que podem ser maximizadas na hora precisa. O professor tem a possibilidade de organizar a participação, de moderá-la, de interferir, de destacar, de sintetizar. Pode superpor sua voz à apresentação de um vídeo, mostrar resumos de temas, elaborar uma síntese na hora ou solicitar a um aluno que o faça. A comunicação será feita pela mídia que cada um achar mais conveniente: uns falam, outros também escrevem as principais ideias e as projetam como legendas em um televisor de tela plana. A aula está sendo gravada e fica disponível para futuras consultas ou para o acesso de alunos que não puderam fazê-lo no horário on-line.
Qualquer aluno conectado pode desenvolver atividades sozinho ou em grupo, participar de debates, de pesquisas, de projetos com inúmeras opções de bibliotecas digitais, bancos de casos, jogos para cada tipo de atividade, filmes ligados à temática, discussões já travadas sobre o assunto. A combinação de temas, estratégias e mídias será múltipla, dependendo mais da oportunidade, da conveniência, do que de custos e limitações, como as de hoje.
Desde pequenos, os alunos se acostumarão a aprender em um ambiente multimídia, com múltiplas possibilidades de escolha, de bases de dados animadas, de jogos, de filmes, de simulações, de pequenas aulas já gravadas sobre o tema e que servem como iniciação, motivação, ilustração. Mesmo as crianças estando juntas numa escola, mudará totalmente a forma de aprender. O professor dará o roteiro de cada etapa de aprendizagem, com uma introdução motivadora sobre um novo tema. Os alunos acessam material sobre o tema, pesquisam por sua conta outras possibilidades. Trazem resultados em sínteses multimídias. Algumas são apresentadas e debatidas. O professor dá algum tempo para pesquisas em grupos presenciais ou com alunos a distância, mas que são vistos e ouvidos na tela. Com fones de ouvido e microfones sensíveis, podem, na mesma sala, acontecer conversas simultâneas com pessoas diferentes. Os pequenos combinarão atividades socializadoras sem tecnologias, nessa etapa de vida, para aprender a conviver, a estar juntos, mas as tecnologias modificarão profundamente a forma de aprender. A aula expositiva, falada e unidirecional será uma exceção.
Serão implantadas, em convênio com as secretarias estaduais de educação, antenas digitais e conexões de banda larga em escolas, secretarias e universidades, para recepção de canais digitais e para teleconferências nacionais e regionais. Os professores terão acesso a programas de atualização sem deslocamentos, sem sair da escola. Será uma forma de acelerar a capacitação de diferentes segmentos. A medicina já vem fazendo isso há anos, interligando por TV os hospitais e as escolas de medicina. Mas já temos soluções mais avançadas, que combinam transmissão com alguma interação ao vivo. Esse sistema permitirá o envio de material digital sobre qualquer assunto e a flexibilização do uso didático: haverá momentos em que todo o país assiste a um evento; em outros, só uma determinada área: matemática, e, mais especificamente, professores de matemática na educação infantil, por exemplo.
As instituições superiores precisam estar atentas, porque as mudanças que vêm por aí são muito profundas. Embora sempre haja uma margem de imprevisibilidade e erro nas previsões, algumas tendências parece que se consolidarão:
• concentração das instituições em redes ou grupos poderosos, em grandes blocos, fruto de parcerias, consórcios de alcance nacional e internacional; prevalência das universidades com grande prestígio intelectual e gerencial e capacidade de inovar, que dominarão o mercado pela diversidade da oferta, pelos bons profissionais, boa infraestrutura e custo competitivo;
• infraestrutura avançada de comunicação instantânea, nos modos audiovisual e textual, com alunos e professores em qualquer momento e lugar; produção multimídia de aulas e atividades adaptadas a cada tipo de curso, de demanda, com formatos bem diferentes; universidades como grandes centros de organização de múltiplos e variados processos de aprendizagem: cursos prontos com alguma interação (roteiros previsíveis de aprendizagem) e cursos com roteiros pouco previsíveis, abertos, na base de jogos, seminários de alta interação, com produção contínua;
• capacidade de gestão de diferentes cursos, de atrair alunos, de manter equipes integradas com educadores abertos e produtores audiovisuais; instituições menores do que hoje, com menos ocupação de espaço, e muitas totalmente virtuais;
• capacitação contínua dos professores e gestores na organização da aprendizagem multissensorial, multimídia, multiconectada.
Uma escola ativa foca em pesquisa, projetos, experimentação, criação, já tem tudo pronto para acontecer. Não depende só de alta tecnologia, mas de pessoas criativas e de projetos pedagógicos institucionais bem gerenciados. O problema é de gestão inovadora. Bons gestores são fundamentais para dinamizar a escola, para buscar caminhos, para motivar todos os envolvidos. Não se formam gestores e professores inovadores com oficinas e cursos de formação tradicionais. A escola precisa urgentemente de difusão de modelos viáveis de sucesso, de práticas inovadoras simples, acessíveis, adequadas para a situação em que ela está.
Será cada vez mais importante o papel dos gestores e dos dirigentes como animadores, pessoas de visão, dinamizadoras das relações entre professores, alunos e comunidade. Todos os envolvidos com educação são gestores. O professor também é gestor de pessoas, é representante institucional.
É necessário investir urgentemente em gestores jovens e motivados, que estejam prontos para mudar, inovar, avançar com rapidez e firmeza, apoiados em professores com as mesmas características e a mesma disposição. Essa capacitação contínua pode acontecer mediante grandes acordos nacionais entre o setor público e o privado, entre o federal, o estadual e o municipal. Não podemos perder mais tempo. A educação é um direito básico e não deve ter coloração partidária. Os países que avançam mais na educação não mudam suas políticas a cada governo, podem mudar pessoas, mas não diretrizes fundamentais.
Toda a sociedade estará mais envolvida na educação, todas as instituições serão educadoras e contribuirão mais diretamente para a educação escolar. A integração entre família, escola, organizações sociais, cidades físicas e digitais será muito maior. Todas as cidades estarão conectadas digitalmente, todos os serviços integrados, com muitas ofertas educativas disponíveis, com graus diferentes de orientação, organização, estruturação.
Estado, empresas e universidades estarão muito mais integrados. O aluno aprenderá, desde o começo de qualquer curso, em situações reais, combinando experimentação, leitura, atividades individuais e grupais, com supervisão de professores on-line. Desde o primeiro momento, haverá integração entre a prática e a reflexão teórica. Poderão acontecer algumas aulas presenciais ou on-line, mas, na maior parte do tempo, os alunos estarão mais conectados do que presentes fisicamente. Será impensável manter os universitários enclausurados em salas de aula por anos seguidos.
Teremos experiências mais ousadas, que quebrarão o modelo disciplinar, como hoje fazem as chamadas escolas democráticas. Muitas escolas trabalharão com projetos integrados ou baseados em problemas reais, pesquisando-os em grupo, refletindo sobre eles, buscando soluções e implementando-as até onde for possível, mais no formato semipresencial ou on-line do que no presencial.
Será muito mais comum o aproveitamento da experiência concreta como aprendizagem acadêmica. Um aluno poderá fazer de um trabalho o seu projeto de curso desde o começo, como se fosse um trabalho de conclusão de curso permanente. Haverá cursos in company com mais frequência, com currículo adaptado à experiência vivida e às necessidades do grupo. Teremos alguns princípios e padrões gerais, para que alguns títulos de saúde, de engenharias etc. possam ser aceitos em outros países. Mas a ideia de um currículo único, com conteúdos iguais para todos, parecerá anacrônica. Existirá, provavelmente, a certificação periódica, o exame de competências a cada período determinado. Mas a preparação não será puramente teórica. Teremos muitos cursos preparatórios para essas certificações periódicas. A necessidade de educação ao longo da vida será sentida por todos, em todas as áreas, e haverá agências certificadoras diferentes, não só o Ministério da Educação ou uma agência para cada área, como acontece hoje no Brasil.
A educação profissional será cada vez mais valorizada, com a oferta de cursos de curta duração, de atualização, de inserção rápida no mercado, cursos de nível técnico e tecnológico, mais práticos e flexíveis. Aprenderemos fazendo, em situações reais, interagindo com quem sabe mais, passando por diversas etapas de aprendizagem: do estágio inicial para o domínio básico, o domínio avançado e o de expertos.
Teremos todo tipo de instituições, as inovadoras e as conservadoras, as ágeis e as lentas. Algumas tentarão permanecer no modelo do passado e serão vistas, daqui a vários anos, como saudosistas, como hoje vemos algumas igrejas celebrando missa em latim, o que era normal até a década de 1960 e hoje é exceção.
Vejo o educador do futuro como alguém que poderá estar vinculado a uma instituição predominantemente, mas não exclusivamente. Ele participará de inúmeros momentos de cursos de outras organizações, de orientação de pesquisas em diferentes lugares e níveis. Desde qualquer lugar, poderá conectar-se com seus alunos, vê-los e falar com eles. Haverá programas para facilitar a gestão de grupos grandes e de grupos menores a distância. As conexões serão sem fio. O professor poderá entrar em contato com seus alunos durante uma viagem de avião, da praia ou de outro país. Ele será multitarefa, orientará muitos grupos de alunos, dará consultoria a empresas, treinamento e capacitações on-line, alternando esses momentos com aulas, orientações de grupos, desenvolvimento de pesquisas com colegas de outras instituições. A ciência será cada vez mais compartilhada e desterritorializada. Os pesquisadores não precisam morar perto, o importante é que saibam trabalhar juntos virtualmente, que saibam cooperar a distância, que tenham espírito cooperativo mais do que competitivo. Em determinadas áreas do conhecimento, como em exatas ou biológicas, em que os projetos dependam de experimentação física, laboratorial, haverá mais necessidade de contato do que em outras áreas, como humanas, em que a flexibilidade espaçotemporal será maior.
O educador está começando a aprender a trabalhar em situações muito diferentes: com poucos ou muitos alunos, com mais ou menos encontros presenciais, com um processo personalizado (professor autor e gestor) ou mais despersonalizado (separação entre o autor e o gestor de aprendizagem). Quanto mais situações diferentes experimente, mais bem preparado estará para vivenciar diferentes papéis, metodologias, projetos pedagógicos, muitos ainda em fase de experimentação.
A primeira aula é presencial: o professor faz sua apresentação e o mesmo é feito por cada aluno, com detalhes dos hobbies, das atividades, das perspectivas pessoais. O professor mostra para os alunos a importância do curso, a forma de trabalhar a distância, mas conectados audiovisualmente. Apresenta o plano do curso, explica as atividades principais, organiza atividades de pesquisa, abre a discussão para dúvidas e sugestões. Os alunos fazem algumas simulações do ambiente virtual, para nivelar o conhecimento tecnológico de todos, para facilitar o uso das ferramentas a distância, daquele momento em diante. Uma câmara grava o que acontece na sala de aula e fica automaticamente disponível para quem queira assistir à gravação depois ou para quem não pôde comparecer ou ficar até o final.
A primeira atividade a distância é cada aluno gravar um pequeno vídeo de apresentação e colocá-lo na rede, no tópico perfil do aluno. Assim, cada colega pode checar quem é aquele que fez um comentário interessante ou estranho.
Os alunos têm o planejamento do curso na internet por escrito, com um pequeno vídeo explicativo do professor sobre as primeiras atividades da semana. Nessa primeira semana, além do preenchimento do perfil, cada aluno faz um levantamento dos vídeos, reportagens, textos sobre o primeiro tema do curso: experiências inovadoras no ensino superior. Depois de pesquisar bastante, Pedro vê que sua colega Cristina está conectada e lhe pergunta se podem se encontrar. Cristina lhe pede para ir à sala 1 do videochat e comentam os filmes de experiências pedagógicas que encontraram. Assistem aos vídeos, comentam os pontos interessantes de cada um e escolhem um para mostrar e comentar na classe. Gravam uma introdução ao vídeo selecionado e escrevem um texto destacando os pontos inovadores da experiência que o vídeo mostra. Disponibilizam a atividade no lugar da internet reservado para a atividade 1 e guardam uma cópia no portfólio ou na biblioteca pessoal de cada um.
No dia seguinte, Pedro viaja de carro para o interior, a serviço, e somente acha tempo para conectar-se ao curso no fim da manhã. Liga o iPhone e se conecta sem fio com o ambiente virtual do curso. Vê que tem vários vídeos de colegas com projetos a que pode assistir quando quiser. Como está com pressa, só dá uma olhada rápida e percebe que aparece uma mensagem gravada do professor: “Leiam, por gentileza, o texto 1 que está no módulo 1, no tópico material do curso. É sobre as mudanças que as tecnologias trouxeram para o ensino superior. Comentem no fórum quais foram essas mudanças”. Pedro envia, do celular com imagem, uma rápida mensagem para Cristina: “Cris, estou viajando. Dê uma olhada nos vídeos e no texto que o professor indicou. Hoje, estou sem tempo. Amanhã de manhã, conversamos sobre o assunto”. O professor marca alguns horários de atendimento, para grupos e para a classe em conjunto. Encontram-se a distância, num ambiente bem fácil de conversar. Cada aluno liga sua câmera, no lugar onde se encontra. Aparece sua imagem reduzida na tela. O professor saúda os alunos, faz breves comentários. A síntese aparece numa tela. Pergunta quem tem alguma dúvida. Várias pessoas se inscrevem. Ele vai dando vez a cada um. Alguns colocam as questões de viva voz; outros, por escrito. O chat vai sendo gravado, com imagem, som e texto, e é disponibilizado depois, para quem quiser.
Além dessa primeira atividade, a agenda do curso prevê também uma pesquisa, em listas de discussão de educação superior, sobre novas questões que as tecnologias trazem para o ensino. Os alunos se inscrevem em uma lista, levantam como o tema vem sendo discutido em mensagens gravadas de texto e de áudio e elaboram um relato sobre as principais questões. Esse relato fica disponível no portfólio ou na biblioteca virtual de cada aluno, no formato texto e áudio, para acesso pelo professor e pelos colegas do curso.
O professor marca um videochat de atendimento de uma hora, em dois horários diferentes da semana, para que todos possam ter oportunidade de participar e para evitar a aglomeração de alunos no mesmo momento. Neles, os alunos se conectam de onde estão pela internet, pelo celular, pela tela da televisão e veem o professor; ele também vê os alunos. Alguns enviam as perguntas por escrito; outros, ao vivo. O professor dispõe de comandos que lhe permitem escolher a mensagem que quer priorizar. Se um aluno demora na pergunta, envia-lhe um sinal. Se demora demais na resposta, pode interrompê-lo. Educadores e alunos podem estar conectados de casa, do trabalho ou viajando, pois usam conexão sem fio (wireless). O professor orienta também os grupos de pesquisa. Termina o videochat. Desfaz-se a conexão. O professor, se quiser, coloca o vídeo como arquivo para consulta, para que os participantes o acessem depois, com mais calma. Pode pedir a um assistente ou monitor que edite o material, retire a parte mais social da conversa e deixe só o que interessa a todos do ponto de vista pedagógico.
O professor entra agora em um curso de pós-graduação e acompanha as atividades que os alunos enviaram no gerenciador de tarefas. Corrige algumas e deixa outras para mais tarde, porque tem de se preparar para uma teleaula em rede nacional, que vai atingir milhares de alunos simultaneamente. Revisa o roteiro, preparado por ele e pela equipe pedagógica e de produção. Vai para o estúdio de TV, testa os equipamentos, o microfone, as transparências eletrônicas, as vinhetas, os vídeos. Os alunos o aguardam em telessalas, com 50 alunos em média, com telão, projetor multimídia, uma câmera local que registra o que acontece e é vista pelo professor remotamente. Em cada telessala, há um tutor, um auxiliar que já recebeu o roteiro da aula, as instruções sobre as atividades que os alunos realizam durante o aquecimento para a aula, as que acontecerão em determinados momentos ao longo da aula e as que serão realizadas posteriormente, para aprofundar conceitos, fazer pesquisas mais organizadas, chegar a conclusões. Quem não pode ir a uma telessala acessa a aula de onde se encontrar.
O professor observa os alunos fazendo as atividades iniciais localmente, pelos monitores remotos. Há alguns auxiliares, numa sala ao lado do estúdio, separada por vidro à prova de som. Ele vai até lá. Os professores assistentes dão orientações aos tutores, tiram as primeiras dúvidas, encaminham algumas questões para o professor principal. Este escolhe algumas e vai para o estúdio iniciar a teleaula ao vivo. Alguns alunos não conseguiram ir naquele momento até a telessala e se conectam por uma antena direta com a telessala ou pelo canal de internet de onde estão. O professor começa a aula comentando algumas questões que recebeu de algumas telessalas, dirige-se a todos com familiaridade, brinca com algumas cidades, alguns tutores de sala mais conhecidos. Faz a passagem para o tema do dia. Após uma introdução, passa um trecho de filme que tem a ver com o tema. Comenta as cenas. Explica alguns conceitos, com apoio de PowerPoint animado. Faz uma pergunta com várias alternativas, para que os alunos escolham a correta. O professor recebe no seu vídeo a porcentagem de acertos e erros instantaneamente. Se percebe que o conceito não ficou claro, esclarece melhor o ponto anterior. Se a compreensão foi boa, segue adiante. Pede que os alunos realizem uma atividade de aplicação daquele conceito à realidade deles. Os alunos têm 15 minutos para elaborar a resposta e enviar para sua área respectiva na internet. O professor e os assistentes acompanham o andamento da discussão, conversam com os tutores locais sobre a atividade, escolhem algumas respostas para comentá-las a seguir. O professor pede, em seguida, que o teleposto de Garanhuns, em Pernambuco, explique sua resposta e a confronta com a de Vacaria, no Rio Grande do Sul. Explica as coincidências e divergências e os porquês, e continua com a segunda parte da aula, com uma explicação e um estudo de caso, que será debatido localmente, depois de uma parada para um descanso de 15 minutos.
Os assistentes, no meio-tempo, vão recebendo comentários, sugestões, perguntas de cada telessala. Respondem algumas, encaminham outras para o professor principal. Há muitas mensagens com elogios ao interesse que a aula está despertando em várias cidades. Alguns pedem que haja mais tempo para os debates, porque o ritmo está muito acelerado. Os alunos têm um controle remoto, com uma série de funções. Depois do descanso, trabalham o caso em pequenos grupos, por 30 minutos, analisando-o e comparando-o com sua realidade. O professor acompanha o que acontece nas telessalas, conversa com alguma em particular, se vê que esta precisa de maior atenção; os assistentes fazem o mesmo com outras.
Retoma a aula, com o relato de três ou quatro telepostos diferentes dos anteriores. Comenta, avança no tema e faz uma rápida avaliação de compreensão de conceitos no fim, ao vivo. Pelas respostas, constata se deve retomar o tema ou pode avançar para o seguinte na próxima aula ao vivo, na semana posterior. Enquanto isso, alguns textos serão lidos pelos alunos individualmente e realizados alguns exercícios. Se os alunos tiverem dúvidas, poderão recorrer ao tutor local ou ao orientador eletrônico, sempre o mesmo ao longo do curso.
O professor volta ao curso de graduação em pedagogia. Tem um assistente – um monitor que ganha uma bolsa da instituição para fazer esse trabalho com alguns professores – que o ajuda a checar as primeiras informações, a responder às mensagens mais simples, que seleciona o que é prioritário para o professor. Este libera mais um texto para leitura. É um texto mais acadêmico sobre “tendências na pedagogia atual”. Tem links para um aprofundamento sobre os principais teóricos da pedagogia contemporânea. Esse texto será objeto de uma aula virtual on-line na semana seguinte. O professor pede que os alunos façam uma leitura prévia, para ter mais base para a aula on-line. Prepara também uma nova atividade sobre “novas metodologias no ensino superior”. Os alunos se organizarão em duplas e pesquisarão experiências, programas, projetos de universidades que vêm desenvolvendo novas formas de trabalhar em sala de aula e em ambientes virtuais. Os alunos terão uma semana para realizar a pesquisa e para disponibilizá-la no portfólio e enviá-la no gerenciador de tarefas até a data marcada.
Na semana seguinte, há uma aula virtual. Os alunos se conectam numa sala virtual disponível, previamente agendada, sem ter de ir fisicamente à universidade. Os mais carentes ou os que acharem mais conveniente vão a um dos laboratórios da universidade e se conectam lá. O professor retoma os comentários do fórum e o material dos portfólios dos alunos e os discute, às vezes, de forma mais genérica, às vezes, referindo-se a determinados alunos. Algumas duplas apresentam suas pesquisas. Abre-se o debate aos alunos, no videochat. O professor apresenta alguns tópicos na forma de PowerPoint no quadro branco eletrônico, enquanto fala. De vez em quando, um aluno pede permissão para fazer algum comentário, o que acontece quando o professor consente. A aula não é longa, para não ser cansativa. O professor enfatiza a importância da pesquisa em dupla que solicitou, sobre experiências de universidades com aulas presenciais e a distância, e marca o retorno para a aula presencial, no campus, para a semana seguinte, quando será avaliado todo o processo das quatro semanas virtuais, apresentadas as últimas atividades, de forma resumida, e feita, junto com o professor, uma síntese do tema tratado no primeiro módulo. A última meia hora da aula presencial é para explicar o que vai acontecer na etapa virtual seguinte, na passagem para o segundo módulo. A aula é gravada e disponibilizada com vídeo e áudio na página do curso, para registro ou acesso, e assim o ciclo continua entre o presencial, o virtual e o presencial de novo até a avaliação final.
O curso de pós-graduação tem 30 alunos de várias cidades do Brasil. É sobre “aprendizagem colaborativa na educação on-line”. O professor fez uma proposta de curso bem aberta. Ele tem algum material e ideias que quer compartilhar com os alunos e, depois de ouvi-los, pretende ir construindo o curso, sem uma agenda previamente determinada. O curso é totalmente a distância, pela dificuldade em trazer os alunos para um mesmo campus, mas serão utilizados todos os recursos de comunicação disponíveis na universidade. O primeiro encontro é em uma sala virtual, uma aula em que todos podem se ver a distância. O professor faz uma rápida apresentação de si mesmo. O mesmo fazem seus alunos. A aula é gravada por uma câmera. A seguir, o professor faz a proposta de um curso plenamente colaborativo, enumerando alguns tópicos que lhe parecem fundamentais para a questão da aprendizagem colaborativa. Os alunos vão fazendo suas sugestões e escolhem o primeiro tópico para pesquisa: “o que é a aprendizagem colaborativa e que autores trabalham melhor esse tema”. Organizam-se em pequenos grupos para a pesquisa de textos, autores, experiências sobre aprendizagem colaborativa, cujos resultados serão apresentados aos outros ao longo de uma semana. Todos lerão as colaborações de todos e participarão de um fórum sobre o tema.
Sete dias depois, encontram-se virtualmente e comentam as principais contribuições, que pontos estão claros e o que vale a pena aprofundar. Decidem que o grupo 1, formado por três alunos, aprofundará e coordenará a discussão da nova semana, centrada entre a colaboração e a cooperação na visão de vários autores. Cada grupo assume a coordenação por uma semana e todos vão decidindo que atividades utilizar, semana a semana, e que recursos serão on-line e off-line. Cada aluno participará de um projeto colaborativo com uma classe específica e o professor o acompanhará e avaliará, para ser apresentado como trabalho final do curso, com todos os recursos telemáticos e audiovisuais a distância.
O professor, às vezes, sente saudades do presencial. Era tão bom encontrar-se com os alunos, tomar um café com eles. Quase já não há tempo para isso. A vida está cada vez mais corrida, as atividades se multiplicam, os encontros são na maioria virtuais. Por isso, os encontros ao vivo tornam-se tão importantes. Os professores falam de como, antes, todos os alunos tinham de ir a uma mesma sala durante quatro anos, de segunda a sexta-feira. Os mais jovens não acreditam. Pensam que é história do tempo das cavernas! Da pré-história!
O professor faz cursos de atualização. Já está na fase do pós-doutoramento e o faz a distância, em Barcelona. Como contrapartida, é convidado por alguns professores da Universidade Autônoma para falar sobre experiências significativas na educação brasileira, sem sair do Brasil.
Enquanto isso, muitos professores, também daqui a dez anos, continuam repetindo seus cursos, sua metodologia, não se atualizam. Repetem, copiam aulas da internet e as repassam para os alunos. Reproduzem as mesmas atividades, os mesmos assuntos, a mesma forma de avaliar. Dão aula do mesmo jeito, utilizando o mínimo de tecnologias.
Há escolas e universidades que vivem do passado, da tradição. Continuam os problemas, como sempre, mas, cada vez fica mais claro quem está avançando e quem está no mesmo lugar.
Outras escolas se dizem modernas, mas vão massificando o ensino. Pagam especialistas para aulas magnas de abertura, gravam as aulas e mantêm um mínimo de interação on-line. No máximo, dispõem de um plantão genérico para tirar dúvidas, com poucos tutores para muitos alunos. Permanece a diferença entre as escolas de qualidade e as outras, as que investem na formação de docentes e na atualização tecnológica e metodológica e as que repetem fórmulas, pagando menos aos profissionais.
Vale a pena inovar, testar, experimentar, porque avançaremos mais rapidamente e com segurança na busca de novos modelos, que estejam de acordo com as mudanças rápidas que experimentamos em todos os campos e com a necessidade de aprender continuamente.