Anos atrás li uma coisa numa carta de Tchekhov que me impressionou. Era um conselho para um de seus muitos correspondentes, e dizia mais ou menos o seguinte: Amigo, você não precisa escrever sobre gente extraordinária que realiza feitos extraordinários e memoráveis. (Entendam que na época eu estava na faculdade e lia peças sobre príncipes, duques e sobre a derrubada de reinos. Buscas do cálice sagrado e coisas do gênero, grandes façanhas com o objetivo de pôr os heróis em seus devidos lugares. Romances com heróis exagerados e fora da realidade.) Mas ler o que Tchekhov tinha a dizer naquela carta, bem como em outras cartas, e seus contos me levou a ver as coisas de modo diferente.

 

Raymond Carver

“The art of fiction LXXVI

Paris Review, verão de 1983