Madorna de Iaiá

Jorge de Lima

(1893­-1953)

Iaiá está na rede de tucum.

A mucama de Iaiá tange os piuns,

balança a rede,

canta um lundum

tão bambo, tão molengo, tão dengoso,

que Iaiá tem vontade de dormir.

Com quem?

Rem­-rem.

Que preguiça, que calor!

Iaiá tira a camisa,

toma aluá,

prende o cocó,

limpa o suor,

pula pra rede.

Mas que cheiro gostoso tem Iaiá!

Que vontade doida de dormir...

Com quem?

Cheiro de mel da casa das caldeiras!

O saguim de Iaiá dorme num coco.

Iaiá ferra no sono,

prende a cabeça,

abre­-se a rede,

como uma ingá.

Para a mucama de cantar,

tange os piuns,

cala o rem­-rem,

abre a janela,

olha o curral:

– um bruto sossego no curral!

Muito longe uma peitica faz si­-dó...

si­-dó... si­-dó... si­-dó...

Antes que Iaiá corte a madorna,

a moleca de Iaiá

balança a rede,

tange os piuns,

canta um lundum

tão bambo,

tão molengo,

tão dengoso,

que Iaiá sem se acordar,

se coça,

se estira

e se abre toda, na rede de tucum.

Sonha com quem?

“Novos Poemas”, Rio de Janeiro, 1929.