Villon-sur-Sarthe, França

29 de julho de 1714

Uma rapariga corre como se a própria vida dependesse disso.

O ar de verão queima-lhe as costas, mas não há archotes, não há multidões enfurecidas, apenas as lanternas distantes do copo d’água, o brilho avermelhado do sol a descer no horizonte, a abrir fendas e a derramar-se pelas colinas, e a rapariga corre, com as saias a enredarem-se na relva enquanto foge em direção ao bosque, tentando ser mais rápida do que a luz moribunda.

As vozes continuam no vento, gritando o seu nome.

Adeline? Adeline? Adeline!

A sua sombra alonga-se diante dela — demasiado comprida, com os contornos já a esbaterem-se —, e florinhas brancas esvoaçam-lhe do cabelo, amontoando-se no chão como estrelas. Uma constelação deixada à sua passagem, quase como a que traz no rosto.

Sete sardas. Uma por cada amor que tivesse, fora o que Estele dissera, quando a rapariga ainda era nova.

Uma por cada vida que conhecesse.

Uma por cada deus que velasse por ela.

Agora, fazem troça dela, essas sete sardas. Promessas. Mentiras. Não teve amores, não viveu vidas, não se cruzou com deuses e agora já não tem tempo.

Mas a rapariga não abranda, não olha para trás; não quer ver a vida que ali está, à sua espera. Estática como um desenho. Sólida como um túmulo.

Em vez disso, corre.