Nova Iorque
14 de novembro de 2013
Felizmente, Brooklyn tem muitos cafés.
Henry não voltou ao Roast, pelo menos desde o Grande Incêndio de 2013, como Robbie chama a todo o episódio com Vanessa (com uma alegria um pouco excessiva). Chega ao início da fila e pede um café com leite a um tipo muito simpático chamado Patrick, que, graças a Deus, é hétero e que olha para ele com olhos turvos, mas parece apenas ver um cliente perfeito, alguém amável e breve e...
— Henry?
O estômago contorce-se. Porque conhece aquela voz, alta e doce, conhece a forma como se curva em torno do seu nome, e regressa àquela noite e está ajoelhado como um idiota, e ela recusa.
És espetacular. És mesmo. Mas não és...
Vira-se, e ali está ela.
— Tabitha.
O cabelo está um pouco mais comprido, a franja cresceu até formar uma extensão de louro na testa, um caracol contra a face, e encontra-se ali, com a graciosidade fácil de uma dançarina entre posições. Henry não a vê desde aquela noite, conseguiu, até esse momento, evitá-la, evitar aquilo. E quer recuar, deixar o máximo possível de distância entre ambos. Mas as pernas recusam-se a mexer.
Ela sorri-lhe, alegre e afável. Lembra-se de estar apaixonado por aquele sorriso, nos tempos em que parecia uma vitória sempre que merecia um vislumbre dele. Agora oferece-lho simplesmente, com os olhos castanhos envolvidos em névoa.
— Tive saudades tuas — diz ela. — Tive tantas saudades tuas.
— Também tive saudades tuas — diz ele, porque é verdade. Dois anos de vida em comum, substituídos por uma vida separados, e haverá sempre um espaço vazio com a forma dela. — Tinha uma caixa com as tuas coisas — diz ele —, mas houve um incêndio.
— Oh, meu Deus. — Toca-lhe no braço. — Estás bem? Alguém se magoou?
— Não, não. — Abana a cabeça, a pensar em Vanessa, junto ao lava-louça. — Foi apagado.
Tabitha caminha para ele, hesitante.
— Oh, meu Deus.
De perto, cheira a lilás. Foi preciso passar-se uma semana para que aquele aroma desaparecesse dos seus lençóis, mais uma para se dissipar das almofadas do sofá, das toalhas de banho. Encosta-se a ele, e seria tão fácil voltar atrás, ceder à mesma gravidade perigosa que o atraiu para Robbie, a atração familiar de algo amado e perdido e depois recuperado.
Mas não é real.
Não é real.
— Tabitha — diz ele, guiando-a de volta. — Foste tu que acabaste.
— Não. — Abana a cabeça. — Não estava pronta para dar o próximo passo. Mas nunca quis que acabasse. Amo-te, Henry.
E, apesar de tudo, fraqueja. Porque acredita nela. Ou, pelo menos, acredita que ela acredita nela, e isso é pior porque continua a não ser real.
— Podemos tentar de novo? — pergunta.
Henry engole em seco e abana a cabeça.
Quer perguntar-lhe o que vê, compreender o abismo entre quem era e o que ela desejava. Mas não pergunta.
Porque, no fim de contas, não importa.
A névoa rodopia em torno da sua visão. E ele sabe-o: seja quem for que ela veja, não é ele.
Nunca foi.
Nunca será.
Por isso deixa-a ir.