Capítulo 10

O celular tocou enquanto arrumava minha bolsa para dormir fora. Vi quem estava ligando e olhei para o relógio. O Ethan tinha dito que chegaria por volta das sete para me pegar. Faltavam 15 minutos.

— Você não está pensando em desistir de me levar para dormir na sua casa hoje, não, né?

Ethan riu.

— Sem chance. Espero que você esteja com as suas coisas prontas, baby.

— Então por que você ainda não está aqui para me buscar?

— Bom, eu mandei um carro te pegar. Apareceu uma coisinha chata aqui no trabalho. Eu sinto muito... O nome do motorista é Neil, ele trabalha para mim. O Neil vai te deixar no meu apartamento e quero que você se sinta em casa até eu chegar lá. Você faz isso para mim, minha querida?

— Acho que sim, tudo bem. — Minha cabeça estava rodando, tonta com todas as implicações de me ver sozinha na casa dele. Não estava exatamente com medo, mas a ideia não me deixava muito animada. — Você tem certeza, Ethan? Quero dizer, a gente pode fazer isso uma outra noite, se você estiver ocupado.

— Eu vou dormir com você hoje, Brynne. Na minha cama. Fim de papo.

— Ai, meu deus. — Sorri ao telefone. — Posso ir preparando o jantar para você, então? Tem comida em casa, ou é melhor eu pedir ao seu motorista para dar uma paradinha no supermercado?

— Não precisa. Tem comida e até mesmo algumas coisas prontas no freezer. Minha empregada prepara alguns pratos e congela. Você escolhe o que quiser. Desculpe. — Ouvi algumas vozes abafadas ao fundo e o Ethan falando com alguém. — Preciso desligar, baby. Assim que der, vou para lá te ver.

Cheguei a dar “tchau”, mas ele já tinha desligado. Fiquei olhando para o celular por alguns instantes antes de guardá-lo, me sentindo de novo como a Alice no País das Maravilhas, tudo muito surreal. Minha vida parecia estar em ritmo frenético, sem que eu pudesse mudar as marchas. Fui de solteira a namorada em pouco mais de uma semana, e não havia sinal de uma desacelerada no horizonte. Não mesmo.

O celular tocou novamente, um número não identificado.

— Alô? — atendi.

— Boa noite, madame, meu nome é Neil McManus. O senhor Blackstone me pediu para vir buscar a senhorita. Há um Rover preto aguardando em frente ao seu prédio. — O sotaque inglês suave formava as palavras com cuidado.

Neil. Lembrei-me do que Ethan havia dito sobre o motorista.

— Claro, já tô descendo.

Pendurei minha bolsa no ombro e desci bem rápido. O carro que me esperava parecia exatamente com o do Ethan, mas quase tropecei quando vi o Neil-motorista; enorme, musculoso, louro, de cabelo espetado e olhos bem escuros.

— Você! — falei, completamente chocada. Era o cara com a tatuagem do Jimi Hendrix que tinha visto mais cedo.

— Sim, madame. — Ele abriu a porta do carro para mim, a expressão impassível.

— Você tava me seguindo de manhã! — Não foi uma pergunta, e tenho certeza de que o Neil percebeu isso. Botei minha bolsa no chão, cruzei os braços debaixo dos seios e fiz pose de má. — Me dê uma boa razão para eu entrar nesse carro com você, Neil.

Ele sorriu e olhou para a minha sacola na calçada.

— Eu trabalho para o senhor Blackstone? — Fiz a melhor cara de pedra que consegui. Ele tentou de novo. — Ele vai me demitir sem dó nem piedade se não te levar para o apartamento dele, exatamente como as instruções passadas? — Olhou de volta para mim, os olhos escuros bem sinceros, e completou: — Gosto muito do meu emprego, madame.

Minha cabeça voltou a rodar com mais pensamentos muito loucos: o que eu estava fazendo, o que o Ethan planejava, quantas pessoas estavam envolvidas nisso... A lista poderia continuar indefinidamente. Caramba, caramba, a gente precisava ou não conversar? Ainda assim, não seria justo descontar minhas frustrações no Neil, que aparentemente estava só cumprindo ordens.

— Muito bem, Neil. — Peguei a bolsa do chão e me sentei no banco de trás. — Mas vou quebrar esse acordo se você continuar me chamando de “madame”, ok? Meu nome é Brynne. E se o senhor Blackstone não gostar, você pode dizer a ele que venha se entender comigo, a americana informal. Ele deveria saber que as garotas americanas detestam ser chamadas de “madame”.

Neil inclinou a cabeça e abriu um sorriso, ao mesmo tempo em que fechava minha porta. Ele começou a dirigir e eu me acomodei no banco de trás. O silêncio me irritava e achei melhor abrir o jogo.

— Então o Ethan te contratou para me seguir por Londres, né?

— Para proteção, mada... Brynne. Não para seguir — respondeu Neil.

— Proteção contra o quê? — perguntei. — Você também fica me olhando quando saio pra correr de manhã?

Neil olhou para mim pelo retrovisor.

— Essa cidade pode ser perigosa. — Os olhos dele se voltaram para a rua. Tinha começado a chover e os limpadores de para-brisa iam e vinham em um ritmo marcado. — Ele só gosta de tomar conta, só isso.

— É, eu sei. — O Ethan toma conta demais e é um pouco mais controlador que o aceitável, para o meu gosto. E ele estava bem encrencado comigo. — Mas então, há quanto tempo você trabalha para ele, Neil? O Ethan não me conta nada. Vamos ver se você pode me dar uma luz.

Cheguei para o lado, para poder conversar com ele pelo espelho.

— Faz seis anos agora. Estivemos juntos nas FE.

— Forças Especiais, certo? Então vocês são um tipo de James Bond do governo britânico?

Neil riu de verdade e balançou a cabeça.

— Posso entender por que o senhor Blackstone fica de olho, Brynne. Você tem uma imaginação e tanto.

— É, o Ethan me disse isso também — falei, seca.

Por mais chateada que eu estivesse com as conclusões precipitadas do Ethan — todas completamente sem sentido —, eu não podia descontar no Neil. Ele parecia ser um cara legal, e tinha ótimo gosto musical. Simpatizava com ele. Estava simplesmente fazendo seu trabalho. O que quer que fosse isso, no que me dizia respeito.

O Neil estacionou o carro na garagem e subimos pelo elevador de serviço. Antes que me desse conta, estávamos de novo dentro do apartamento lindo do Ethan, só que dessa vez sem ele.

Neil me pediu que gravasse o número do celular dele nos meus contatos e disse que estaria perto, caso eu precisasse de alguma coisa.

— O quão perto é perto? Vou ter privacidade aqui? Você não pode tomar conta de mim dentro da casa dele, pode? — Encarei-o nos olhos, procurando algum sinal de inverdade. — Nem pense em mentir para mim, Neil. Eu ia passar por aquela porta tão rápido que o Ethan ia sentir o ventinho passando por ele lá onde tá agora.

O Neil chegou mesmo a estremecer.

— Você tem total privacidade aqui. Não tem câmeras no apartamento, só a do hall dos elevadores. Então, se você saísse, eu veria. Estou em outro apartamento, do outro lado. Não é longe. Mas o senhor Blackstone quer muito que você se sinta em casa. — Ele levou o telefone à orelha e deu uma balançadinha. — Liga para mim se você precisar de alguma coisa, Brynne.

A porta se fechou e meu protetor tinha ido embora.

Bom, isso era esquisito. Sozinha na casa do Ethan, com a minha malinha para passar a noite, e uma cabeça para lá de confusa. Imaginei se algum dia voltaria a me sentir normal de novo.

Começando pelo começo, certo? Fui até a geladeira, peguei uma garrafa de água gelada e bebi a metade. Havia tanta comida fresca lá dentro, que o jantar não seria um problema. Dei uma olhada na cafeteira que ele tinha ali ao lado e comecei a babar. Muito bacana mesmo. Preparei uma xícara para mim e fui explorar o freezer. A empregada da casa parecia ser organizada ao ponto de etiquetar e datar todas as refeições congeladas em potes plásticos. Mas não me interessei muito. Depois daquele incrível almoço chinês que ele me fez comer, eu não estava com fome.

Entrei no quarto e, imediatamente, fui tomada pelas lembranças da última vez que estive ali. Fechei os olhos e respirei fundo para sentir o cheiro do Ethan. Ele estava em todo lugar, mesmo ausente. Fui até o banheiro dele. O box do chuveiro, todo em mármore, era maravilhoso, mas a banheira incrível era uma verdadeira fantasia para uma menina que não tinha nada parecido no seu apartamento. Logo, soube o que ia fazer primeiro.

Uma hora depois, minha pele estava cor-de-rosa por causa do calor e macia por causa da espuma. Vesti a camiseta do Jimi Hendrix e uma cueca de seda do Ethan, que ficava bem larguinha em mim. Organizei minhas compras da farmácia em uma gaveta do banheiro, raspei as pernas e passei no corpo um creme com cheirinho de flores.

Voltei até a máquina de café e preparei mais uma xícara para mim, antes de explorar os outros cômodos do apartamento. A sala de exercícios tinha uma esteira supermoderna, de último tipo, de frente para uma janela de vidro, que ia do chão até o teto. A vista me tirou o fôlego. Adoro a visão da cidade à noite, toda iluminada, mas imaginei que ela seria igualmente espetacular de dia.

Encontrei o que imaginava ser o escritório dele e girei a maçaneta. O cômodo era realmente um escritório. Uma mesa grande, pesada, de carvalho era o centro das atenções; na parede em frente, havia um painel de monitores de TV e outros equipamentos de tecnologia. Mas foi a parede atrás da mesa que chamou a minha atenção: um aquário de água salgada brilhava, com luzes, cores e bolhas distorcidas pelo vidro. Cheguei mais perto e observei um arco-íris de peixes coloridos, nadando apressados entre formações elegantes de corais. O peixe-leão, no entanto, não parecia ter pressa. Ele veio até o vidro e abriu os espinhos multicoloridos, como se quisesse me cumprimentar.

— Ei, bonitão. Como será que o Ethan te chama, hein? — perguntei ao meu amigo peixe, e dei um gole no café.

Tomei um iogurte de cereja sentada em frente ao bar da cozinha e preparei uma segunda xícara de café. Uma parede inteira da sala principal era coberta com prateleiras de livros. Dei uma boa olhada na coleção, que era eclética — para dizer o mínimo. Clássicos, best-sellers, policiais e toneladas de romances históricos preenchiam a maior parte. Havia também alguns livros sobre história militar e fotografia. Também havia uma boa quantidade de títulos de estatística e jogos de azar. Ele também tinha alguns romances pop e outros volumes de poesia, o que me fez sorrir. Gostava de saber que o Ethan valorizava os livros.

Peguei um livro de cartas enviadas pelo Keats para Fanny Brawne e levei-o comigo para o sofá, para sentar, ler e relaxar. Tinha meu café, cartas de amor angustiadas do poeta para sua garota e as luzes de Londres piscando na minha frente.

Passei uma boa hora ali antes de baixar o livro. Olhei para a cidade. Foi nesse exato lugar que o Ethan me despiu, em frente à porta da varanda. Ele tinha dado um passo para trás e dito que nada se comparava à visão do meu corpo nu, de pé, no meio da casa dele. Ai, Ethan. Decidi mandar um SMS para ele:

Brynne Bennett: <--- está p. da vida com vc por causa do lance do Neil. Vc é louco?!!!

Ele não levou sequer um segundo para me responder:

Ethan Blackstone: <--- louco por vc & precisamos conversar. Mta saudade.

O eufemismo do ano!

Brynne Bennett: <--- está vestida c 1 cueca sua... e precisamos mesmo, malandro!

Tive que rir ao ler a mensagem seguinte:

Ethan Blackstone: <--- acabei de ficar de pau duro imaginando vc na minha cueca. Pf deixe em cima do travesseiro pq ñ vou lavar nunca.

Brynne Bennett: <--- ainda está puta, mas acha q vc tem uma bela máquina de café.

Ethan Blackstone: <--- acha que tem uma namorada linda. Vc comeu?

Brynne Bennett: <--- comeu. Vc tem um peixe-leão. :)

Ethan Blackstone: <--- É o Simba. Cuido dele & ele me tolera. Vcs 2 têm mto em comum.

A resposta me fez sorrir. Aparentemente, o Ethan tinha um fraco por animais.

Disparei de volta:

Brynne Bennett: Vc ñ vai ganhar mais boquetes por causa desse comentário. :P

Ethan Blackstone: <--- quer tanto te dar umas palmadas & beijar & trepar. Vc tá me matando, baby!

Brynne Bennett: <--- tá ficando com sono. Vou tomar remédio e ir pra cama. Ñ me tente!

Ethan Blackstone: Nunca! Vai dormir, minha linda. Vou te encontrar.

Levantei do sofá do Ethan e fui para a cozinha lavar a louça. Limpei a cafeteira e a aprontei para o dia seguinte. Só o que eu precisava fazer era ligá-la. Usei minha escova de dentes roxa nova e tomei o comprimido. Os lençóis supermacios da cama do Ethan tinham o cheiro dele; me acalmavam na minha solidão ali. Preenchi a cabeça com aquele perfume e apaguei.

Braços fortes me abraçavam. O cheiro que eu adoro impregnava o ambiente. Lábios me beijavam. Abri os olhos no meio da noite e vi sombras. Sabia quem estava ali, claro. Meu despertar foi calmo e gentil, uma coisa boa, e para mim, isso era uma experiência totalmente nova.

— Você está aqui — murmurei entre os lábios dele.

— E você também — sussurrou ele. — Puta merda, eu adoro te encontrar na minha cama.

As mãos do Ethan tiveram bastante trabalho enquanto eu dormia. Estava nua da cintura para baixo, a cueca de seda tirada de mim havia tempo. O Ethan estava nu também. Podia sentir os músculos dele tentando se misturar aos meus. Minha camiseta estava levantada e meus seios eram devorados pelos lábios dele, o bigode espetando a pele sensível, provocando os mamilos com chupões, até que eu me transformasse numa criatura que gemia debaixo dele.

Enterrei meus dedos no cabelo dele e pude sentir o movimento da cabeça, conforme ele trabalhava nos mamilos e sentia o peso dos seios com as mãos. Ele parou, arrancou minha camiseta e me encarou, faminto e lindo. A luz que vinha do banheiro permitia que eu visse um pouco dele, o que era bom. Precisava enxergar quando ele viesse para cima de mim. Fazia com que tivesse mais certeza de que estaria segura com ele.

— A sua cama tem seu cheiro.

— Você é a única coisa que quero cheirar e mais, quero seu gosto na minha boca. — Ele afastou minhas pernas e se abaixou.

— Meu deus, Ethan! — Os movimentos da língua dele na minha boceta, rodando e dançando na carne quente, toda aberta para ele, me levaram de sonolenta a excitada em menos de um segundo. Não conseguia me manter quieta, mesmo com ele me segurando e abrindo minhas coxas. O orgasmo veio tão rápido e forte, que me ouvi gritando, montando a língua dele como uma devassa, meus músculos retesados, latejando de prazer ardente.

O Ethan grunhiu lá embaixo, encostado nos lábios da minha boceta, e em seguida se afastou, provavelmente admirando aquilo que ele queria tomar com o pau. Ele não perguntou nada. Simplesmente meteu.

Ethan levantou minhas pernas por cima dos ombros dele e enfiou fundo, com força. Conforme o pau dele ia me preenchendo, ele emitia sons de prazer. Fui tomada por essa invasão enquanto ainda me recuperava do orgasmo, então só o que podia fazer era aguentar firme. O sexo era furioso e ele me dizia o quanto estava gostando, como ele desejava me ter ali naquela cama e como eu era bonita. Tudo o que fazia com que me sentisse mais próxima dele. Mais dependente dele. Mais envolvida no mundo dele. Eu sabia disso.

O Ethan me fez gozar de novo; ele me deu estocadas quase violentas, feitas primeiro para punir, tomar propriedade, e em segundo lugar, para dar prazer. Mas quando veio, o prazer foi avassalador, ao mesmo tempo em que ele me enchia com o orgasmo explosivo dele. Senti lágrimas escorrerem para o travesseiro, enquanto recebia o que ele tinha para mim. Falou o meu nome, meio engasgado, os olhos travados nos meus como das outras vezes. Sabia que ele tinha visto minhas lágrimas.

Ethan tirou minhas pernas de cima dos ombros dele e se deitou por cima de mim, segurando meu rosto e acariciando-o, mantendo o pau ainda lá dentro, aproveitando o prazer até fim.

— Você é minha.

— Eu sei.

O Ethan me beijou com cuidado, nossos corpos unidos, gentilmente explorando meus lábios e me dando mordidinhas delicadas. Abraçou-me e nos beijamos por um longo momento, até que ele saiu de dentro de mim.

Trepar com ele só pode ser descrito como “belo” na minha cabeça. Sei muito bem que para os outros era tudo pornográfico, mas para mim era um simples e belo ato conjunto. A intimidade com ele, me querendo tão intensamente, era uma droga viciante. Mais potente do que qualquer coisa que tivesse experimentado na minha vida até então. Acho que seria capaz de perdoar o Ethan de quase qualquer coisa que ele fizesse para me magoar. E esse foi o meu grande erro.