Surpreender o Ethan no trabalho parecia uma boa ideia, mas não queria me arriscar a fazê-lo sem alguma assistência. Pedi a ajuda da Elaina primeiro. Gostava bastante dela. Parecia honesta e direta, qualidades que eu respeitava numa pessoa. Ela era noiva do Neil. Descobri isso depois que comecei a dormir por várias noites na casa do Ethan. Um dia, esperando o elevador no hall pela manhã, encontrei com os dois saindo do apartamento no outro lado do corredor, de mãos dadas. O Ethan percebeu minha surpresa e me contou que eles iam se casar no outono.
Fiquei aliviada em ver que a Elaina não ficou com ciúmes de ter o noivo me levando para cima e para baixo, por toda Londres. Acho que ela estava feliz em ver o Ethan com uma namorada. Já tinha reparado que os empregados realmente se importavam com ele. E eu gostava disso.
— Alô, Elaina, é a Brynne.
— Oi, Brynne. Por que você não ligou direto para o celular do Ethan? — Garota esperta, sempre de olho em tudo.
— Estive pensando em fazer uma surpresa para ele no almoço. Você poderia checar a agenda dele para mim?
Ouvi as páginas virando, e em seguida ela me botou em espera.
— Hoje ele vai estar no escritório. Ocupado com telefonemas e conferências, mas sem compromissos marcados na agenda.
— Obrigada, Elaina. Eu poderia ter perguntado à Frances, mas o Ethan fica com ela no viva-voz, então ele me ouviria ligando e estragaria a surpresa. Posso levar alguma coisa da King para todos vocês? Vão ser só sanduíches, mas imaginei que se você fizesse a Frances dizer ao Ethan que era ela quem estava pedindo, daí ele não saberia que vou ser eu a moça das entregas...
Elaina riu e me botou de novo em espera, enquanto anotava os pedidos de todos.
— A Frances me pediu para te dizer que ela gosta do seu estilo, Brynne. Manter o chefe na linha é bom para ele.
— Também acho — respondi, anotando os pedidos. — Obrigada pela ajuda. Devo chegar aí em menos de uma hora.
Terminei a ligação com a Elaina, liguei para a delicatessen para encomendar os sanduíches, e em seguida para o Neil, para combinar a carona. Limpei minha área de trabalho e organizei o material, enquanto esperava. Já tinha feito tudo que precisava fazer ali, e não voltaria por pelo menos uma semana. As provas finais estavam chegando e eu precisava estudar. O plano era me esconder na casa do Ethan e estudar enquanto ele estivesse no trabalho, usar a sala de ginástica e a cafeteira incrível. Basicamente, sumir do mapa um pouco. Precisava desse tempo; as minhas notas também.
Olhei pela última vez para Lady Percival e senti uma explosão de orgulho. A pintura tinha ficado ótima, e o melhor é que agora eu sabia o nome do livro que ela trazia nas mãos. O Ethan tinha me ajudado a desvendar o mistério, naquela manhã em que ele me levou até o trabalho e eu o convidei para entrar.
O livro que a senhora misteriosa segurava era, de fato, tão raro e especial que a Mallerton Society queria incluí-la na exposição mesmo que a restauração ainda não estivesse nem perto de estar concluída. Eles queriam mostrá-la como um exemplo das pistas ambíguas que podem ser reveladas por uma restauração e uma limpeza bem-feitas. A descoberta do título também descortinou informações importantes sobre a origem do artista. O interesse por Sir Tristan Mallerton estava renascendo, muito embora ele já estivesse morto havia tantos anos.
O celular vibrou com uma mensagem do Neil. Ele já tinha chegado, então juntei minhas coisas e saí, acenando para o Rory no caminho.
Neil me ajudou com a comida e usou um cartão de crédito corporativo para pagar, o que fez com que eu lhe desse um olhar de reprovação.
— Bom, ele acha que foi a Frances quem encomendou o almoço e é assim que ela faz. Se você pagar, ele vai encher a paciência depois, quando descobrir — explicou Neil.
— Ele sempre foi assim tão controlador, Neil? — perguntei, quando já estávamos de volta ao carro. Neil e eu tínhamos um bom relacionamento. Respeitávamos mutuamente nossas posições e necessidades, então a comunicação fluía.
— Não. — Neil balançou a cabeça. — Ethan teve um período difícil quando saiu das Forças Especiais. A guerra muda tudo, todo mundo que se envolve com ela. O Ethan se envolveu demais e conseguiu sair vivo. Ele é um milagre ambulante.
— Eu vi as cicatrizes.
— Ele te contou o que aconteceu no Afeganistão? — Neil olhou para mim pelo espelho retrovisor.
— Não — respondi com honestidade, mesmo sabendo que a partir daí não tiraria mais nenhuma informação do Neil, e que não chegaria perto de compreender o passado do Ethan, assim como ele não saberia nada do meu.
Elaina nos ajudou a distribuir a comida para os funcionários. Em seguida, a Frances me acompanhou até o santuário do Ethan. Com um olhar respeitoso, fechou a porta. Ele falava ao telefone.
Meu bonitão estava ocupado com o trabalho, mas ainda assim estendeu a mão para mim. Botei os sanduíches em cima da mesa e fui até ele. Ágil como uma cobra, passou o braço pela minha cintura e me colocou sentada em seu colo, sem se distrair da ligação no telefone.
— Certo, eu sei. Mas você fala para esses idiotas que a Blackstone Security trabalha com a família real. Quando Sua Majestade, a Rainha vai a um evento público, não resta uma saída sequer sem um segurança. Ponto. Sem chance.
Comecei a desembrulhar o almoço, enquanto Ethan continuava a falar ao telefone. Ele botou a mão no meu pescoço e fez carinhos. Era uma sensação divina, ainda que qualquer idiota pudesse perceber que ele estava superocupado.
Botei o sanduíche dele no prato antes de desembrulhar o meu. Dei uma mordida na salada de frango no pão integral, enquanto ele continuava a acariciar meu pescoço. Não é difícil uma garota se acostumar a isso. Ethan era afetuoso. Adorava que ele quisesse me tocar o tempo todo, meu “pegajosozinho” do coração. Eu já tinha comido quase metade do sanduíche quando ele desligou o telefone.
Com as duas mãos, me virou para ele — ainda no seu colo — e me deu um beijo bem caprichado.
— Finalmente me livrei desse cara! Às vezes parece que tô falando com uma parede — resmungou. Em seguida olhou para mim, para o prato e sorriu. — Você me trouxe almoço... E me trouxe também essa delícia que é você!
— Trouxe mesmo! — Sorri de volta.
— O que eu devoro primeiro, o sanduíche ou você? — Levantou as sobrancelhas de um jeito maroto e foi botando as mãos por dentro do meu suéter.
— Acho melhor você devorar o sanduíche, antes que mais alguém te ligue.
O telefone tocou.
Ethan franziu o rosto e atendeu, resignado. A segunda ligação foi relativamente rápida, e ele conseguiu começar a comer o rosbife no pão preto antes que viesse a terceira. Essa ele preferiu botar no viva-voz, para ir conversando e comendo ao mesmo tempo. Não era lá muito elegante, mas funcionava bem.
Eu estava feliz em sentar ali e ouvi-lo trabalhar, enquanto ele passava a mão nas minhas costas, de cima a baixo. Ethan fez com que me sentisse bem em ter vindo, mesmo que não conseguíssemos ter um almoço apropriado. O momento era louco, tanto para ele quanto para mim. Não posso imaginar o trabalho dele sendo mais complicado do que agora, às vésperas das Olimpíadas em Londres. Ele poderia ter me mandado um bilhete dizendo: “Comprei sua foto e adoraria te conhecer — lá para meados de agosto.”
Ele deixou o telefone no viva-voz e pudemos dar alguns beijos rápidos, entre dentadas e ligações, mas a hora passou rapidamente e achei que não deveria mais ficar por ali.
— É melhor eu ir, Ethan. — Beijei-o e fui me levantando.
— Não! — Ele me segurou no colo. — Não vai agora. Eu gosto de ter você aqui comigo. Você me acalma, querida. — Encostou a cabeça na minha e continuou: — Você é como um raio de luz em um nevoeiro de ignorância e frustração.
— Sério? Você gostou que eu tivesse vindo e complicado ainda mais seu dia? E te forçado a comer? — Brinquei com o prendedor na gravata dele e afrouxei o nó um pouco. — Você está tão ocupado com seus afazeres e estou te interrompendo.
— Não, não está. — Passou os lábios pelo meu pescoço. — Isso só demonstra que você se importa comigo.
— Claro que sim, Ethan.
— Então você fica mais um pouco?
Como eu poderia dizer não, se ele era tão doce comigo?
— Tudo bem, mas só mais uma hora. Depois, tenho mesmo que ir. Preciso passar no apartamento e pegar algumas coisas. Eu preciso estudar para as provas e quero entrar no ritmo. Você não é o único aqui com uma agenda cheia. — Apertei o queixo dele e o fiz sorrir para mim.
— Eu quero transar com você aqui mesmo, na minha mesa — grunhiu e me levantou, me botando sentada na escrivaninha, a bunda primeiro.
Gemi enquanto ele abria minhas pernas para se encaixar entre elas:
— Ethan, aqui é seu escritório! A gente não pode!
Ele tateou embaixo da mesa e ouvi o clique da porta travando.
— Te quero tanto, tem que ser agora. Preciso de você. Por favor?
Ethan estava em cima de mim, as mãos me pegando, empurrando minhas costas para a mesa e forçando os quadris sobre os meus. Deixei que ele me escorregasse para a beirada da mesa, meu corpo já se amolecendo e se aquecendo para ele. Os dedos longos e habilidosos acharam o caminho até a minha calcinha, que ele arrancou pelas minhas pernas, passando pelas botas e deixando-a cair no chão. Já tinha me tocado de que, todas as vezes em que eu usava saia, o Ethan se mostrava um tremendo oportunista.
— Você é louco — murmurei, sem me preocupar mais com o fato de que estávamos prestes a trepar em cima da mesa de trabalho, no meio do escritório.
— Louco por você — respondeu ele, apalpando meu clitóris para me deixar toda molhada.
Ouvi o barulho da fivela do cinto dele e o zíper da calça abrindo em seguida. E logo depois ele estava enfiando aquele calor delicioso até lá dentro, bem fundo e devagar.
Ethan se inclinou sobre mim e segurou meu rosto com as duas mãos. Em seguida, beijou-me com força, metendo a língua dentro da minha boca, como ele gostava de fazer. Ethan dominava o sexo. Ele queria a língua, os dedos e o pau dentro de mim ao mesmo tempo. Como se assim ele pudesse me ter por completo. Não sei o porquê, era esse o jeito dele. E ele adorava. Era honesto e totalmente direto. Com o Ethan, eu sabia exatamente o que aconteceria, e tudo sempre acabava com um orgasmo que me deixava tremendo.
Ethan começou a se mover e eu também. Estávamos loucos, selvagens, totalmente entregues, fodendo em cima da mesa, até que o telefone tocou. Ele tinha deixado o viva-voz ligado.
— Não atende — pedi, quase chegando ao clímax.
— Claro que não — grunhiu ele, metendo mais rapidamente dentro de mim, o pau chegando naquela densidade máxima que ele alcançava, instantes antes do gozo chegar.
Ethan deslizou os dedos mágicos sobre meu clitóris e eu me desmontei, mordendo o lábio para conter o grito. Ele não estava distante de mim. Cobriu minha boca com a dele, para evitar que um de nós dois gritássemos e bombeou o orgasmo para dentro de mim.
A chamada não atendida foi para a caixa postal, mas dava para ouvi-la pelo alto-falante.
— Ethan Blackstone não pode atender neste momento. Por favor, deixe seu recado e o número onde poderá ser encontrado.
O bip tocou e nós dois nos separamos um pouco, ainda ofegantes, com os rostos a apenas centímetros de distância. Sorri para ele; ele acariciou meu cabelo e me beijou como todo amante deveria fazer. Assim, me sentia preciosa. Ele fazia com que me sentisse assim.
— Você é um imbecil, Blackstone! Eu te contratei para proteger minha filha, não para você trepar com ela! Ela passou pelos diabos e a última coisa que ela precisa é de outra traição que a deixe magoada. Pelo jeito que ela fala, acho que ela está apaixonada por você.
Ethan correu para o telefone para desligá-lo, mas era tarde demais. Já tinha ouvido a voz do meu próprio pai falando tudo isso. Eu sabia a verdade sobre Ethan e eu. Empurrei-o com força, lutando para me desvencilhar dele.
— Brynne, não! Por favor, deixa eu te explicar.
Nossos corpos ainda estavam unidos, mas ele estava branco como uma folha de papel, absolutamente apavorado.
— Sai de cima de mim. Tira seu pau de dentro de mim e me deixa ir, seu mentiroso filho da puta!
Ele me segurou, os olhos me encarando.
— Baby, me escuta. Eu ia te contar tudo, já estava querendo fazer isso há um tempo. Mas não queria te trazer más lembranças. Não quero te magoar.
— Sai de cima de mim agora!
— Por favor, não vai embora, Brynne. Eu não quis te magoar, só estava te protegendo das lembranças. A sua segurança está em cheque... Daí quando eu encontrei você... E não pude me controlar. Não consigo ficar longe de você. — Ele tentou me beijar.
Virei o rosto para o outro lado e fechei os olhos. Toda a confiança que eu tinha nesse homem havia desaparecido. No lugar dela, uma dor terrível tomava conta do meu coração. Ele sabia tudo sobre mim. Sabia o que tinha acontecido comigo. Provavelmente, tinha assistido ao vídeo. E havia gente lá fora para me machucar? Por quê? Ele havia sido contratado pelo meu pai e esse tempo todo ele sabia de tudo. Eu não. Como ele pôde? Como pode ser que o Ethan por quem me apaixonei tenha me traído desse jeito?
— Waterloo. — Virei-me e fiquei parada, olhando.
— Não, não, não... Por favor, não, Brynne. — Balançou a cabeça para a frente e para trás, com os olhos transtornados.
— Waterloo, porra, Ethan. E se você não me largar, vou gritar até as paredes explodirem — falei devagar e bem claro, com meu coração endurecido e sangrando.
Ele se afastou de mim e me ajudou a sentar. Pulei da mesa dele e alcancei minha bolsa. Ele fechou o zíper e tentou novamente:
— Brynne, querida, eu... Eu te amo. Eu te amo tanto; que faria qualquer coisa pra não magoar você. Sinto muito. Sinto muito, sinto muito, porra.
Tentei sair pela porta, mas não consegui abri-la.
— Destranca isso — exigi.
— Você ouviu o que eu acabei de falar?
Olhei para ele e fiz que sim com a cabeça.
— Abre a porta para eu sair. — Surpreendentemente, não estava jogada ao chão chorando, me descabelando. Só precisava sair dali e ir para casa. Tinha um objetivo: voltar para a minha casa.
Ethan esfregou a cabeça e olhou para baixo; em seguida, foi até a mesa e apertou o botão ou o que quer que fosse ali embaixo que abria a porta. Ouvi o clique e saí.
— Obrigada pelo almoço, querida — gritou a Frances, enquanto eu saía correndo.
Acenei para ela, mas não consegui falar nada. Só fui andando. Estava com a minha bolsa, mas sem calcinha. E não voltaria para pegá-la. Me tira daqui e me leva para casa... Me tira daqui e me leva para casa... Me tira daqui...
Meu deus, eu estava deixando o Ethan. Estava terminado. Ele mentiu para mim e não podia confiar mais nele. Ele disse que me amava. É isso que os amantes fazem? Mentem?
Também não falei com a Elaina quando passei pela recepção, a caminho dos elevadores. Apertei o botão e me dei conta de que ele estava bem atrás de mim. Ethan tinha me seguido, mas ainda assim eu não amoleci.
— Brynne... Querida, por favor, não me abandona assim. Céus, eu fiz merda. Eu te amo. Por favor.
Ele botou as mãos nos meus ombros e eu encolhi um pouco.
— Não, você não ama, não. — Foi só o que consegui dizer.
— Amo, sim! — gritou, com a voz irritada. — Você pode me deixar, mas ainda assim vou estar te protegendo. Vou continuar tomando conta de você para me certificar de que esteja em segurança e de que ninguém vai te fazer mal.
— E o que você fez comigo? — retruquei, furiosa. — Você está demitido, Ethan. Nunca mais me procure.
A campainha do elevador tocou e eu entrei, virando de frente para ele. Pela expressão no rosto de Ethan, sabia que estava sofrendo. Não tanto quanto eu, claro, mas ele parecia devastado, desesperado.
— Brynne, não faz isso — implorou pela fresta entre as portas do elevador, que se fecharam, me deixando sozinha lá dentro.
Ouvi uma batida na porta, alta, e um palavrão compreensível, conforme o carro começou a descer. Só queria conseguir chegar lá embaixo, na rua, onde eu pegaria um táxi para me levar para casa. Onde eu finalmente iria desmontar, assim que entrasse na sala. Daí me arrastaria até o quarto, até a cama, onde me aninharia e tentaria esquecê-lo. Ethan Blackstone. Eu estava fadada ao fracasso. Sabia disso. Nunca seria capaz de esquecer Ethan. Nunca.