A pele escura do Benny ficava linda em contraste com a camisa amarelo-clara enrolada no torso musculoso. Benny jorrava confiança por todos os poros, em todos os aspectos da vida. Totalmente otimista. Eu queria ser como ele. Eu estava fazendo o meu melhor, mas digamos que o meu melhor era uma grande merda.
— Então esse tal de Ethan está todo interessado em você, hein? Eu vi como ele estava te olhando, Brynne. Ele não parou de te encarar — comentou Ben. — Mas eu não estou julgando ele por isso.
O Benny é sempre doce desse jeito. Ele é o cara a quem procuro quando preciso de um ombro amigo. Mas é um tanto enxerido. Tentei a noite toda manter o foco da conversa nas fotografias e na exposição, mas ele insistia em falar do Ethan.
— Ele sempre dá um jeito de ficar por cima, sabe? Não gosto disso, Ben. — Mergulhei minha batata frita (me recuso a chamá-las de chips, como eles fazem aqui) no molho e botei na boca. — Obrigada por garantir que eu continuasse a ser uma mulher direita hoje à noite. — Comi outra batata. — Disse ao Ethan que tinha planos, o que era uma mentira descarada, até você ligar.
Ben apontou para mim com uma batata frita e sorriu debochado.
— Então foi por isso que você quase entrou pelo celular quando eu liguei, né?
Dei um gole na sidra Sheppy’s. Já estava cheia do hambúrguer e das batatas.
— Obrigada pelo convite, meu amigo — falei, soando entediante até para mim mesma.
— Mas por que você não sai com ele? Ele é gostoso. Ele está a fim. Você com certeza poderia se divertir. — Benny pegou minha mão e pressionou os lábios macios na minha pele. — Você precisa se divertir, amiga. Dar uma boa trepada. Todo mundo precisa de vez em quando. Faz quanto tempo?
Puxei a mão e tomei outro gole de sidra.
— Não vou falar sobre quando foi a última vez que transei, Ben. Limites, por favor.
Ele me deu um olhar paciente.
— Você precisa ter um orgasmo, querida.
Ignorei o comentário.
— Ele é tão intenso. O que diz, o que faz, a sobrancelha arqueada e aqueles olhos azuis... — Apontei um dedo para a minha cabeça como uma arma e fingi puxar o gatilho. — Não consigo pensar quando ele começa a dar ordens. — Notei que o Ben também tinha afastado o prato. — Podemos ir, não acha?
— Sim. Vamos levar sua boceta sexualmente frustrada de volta para casa. Quem sabe você não tem um encontro com o seu vibrador? Isso ia ajudar.
Chutei o Benny por baixo da mesa.
No táxi, a caminho de casa, pensei sobre a noite anterior, no carro do Ethan. Era óbvio que eu tinha ficado confortável, tanto que peguei no sono. Isso, aliás, me deixou pasma. Nunca tinha feito nada assim. Nunca! Com o meu passado, baixar a guarda desse jeito com um estranho não estava no roteiro, principalmente o lance de dormir. Então por que tinha deixado acontecer com o Ethan? Será que foi a beleza dele? Apesar de só ter visto o rosto, posso adiantar que ele tem um corpo e tanto debaixo daquele terno de seda. O homem era um pedaço de mau caminho. Por que eu, quando ele certamente poderia ter qualquer uma que escolhesse?
— Então você vai fazer uma sessão de fotos amanhã na Lorenzo?
— Vou. — Abracei Ben. — Obrigada pela indicação, querido, e pelo jantar. Você é o melhor. — Dei um beijo na bochecha dele. — Vaya con Dios, gostosão.
— Adoro quando você fala espanhol comigo, meu amor! — Benny fez um gesto com as mãos, apontando para o peito. — Continua assim! Quero impressionar o Ricardo da próxima vez que ele vier aqui.
Deixei o Ben sorridente no táxi e mandei um beijo. Subi para o apartamento que amo loucamente e em menos de cinco minutos estava no chuveiro. Dez minutos depois do banho e já tinha até vestido meu pijama. Foi só eu acabar de escovar os dentes que o celular tocou. Olhei para a tela. Droga. Ethan.
Apertei aceitar e arrumei coragem para falar.
— Ethan...
— Gosto de quando você diz o meu nome e por isso acho que vou te perdoar por ter desligado na minha cara hoje. — Aquela voz elegante e britânica tomou conta de mim, fazendo imediatamente com que me lembrasse da masculinidade dele e da constante promessa de sexo.
— Desculpa. — Esperei ele dizer alguma coisa, mas ele não disse nada. Ainda não tinha aceitado sair com ele... nós dois sabíamos disso.
Finalmente, ele perguntou:
— Mas então, como foi sua noite hoje? — Pude visualizar aquele ruga de irritação que ele faz na boca.
— Boa... Ótima. Acabei de chegar do jantar, aliás.
— O que você comeu no jantar, Brynne?
— E pra que você quer saber, Ethan?
— Para eu aprender o que você gosta. — E ele fez de novo! Tirou-me da defensiva com palavras fáceis e insinuações sexuais, como sempre. Imediatamente, me senti uma vaca, grossa e sem sentimentos.
— Comi um hambúrguer com batatas fritas e tomei uma sidra Sheppy’s. — Relaxei um pouco e suavizei o tom.
— Vegetariano?
— De jeito nenhum. Eu amo carne, quer dizer, eu como... carne... o tempo todo. — Meu Deus do céu. O breve instante de relaxamento acabou ali mesmo e voltei a tropeçar nas palavras, igual a uma adolescente.
Ethan riu do outro lado da linha.
— Então umas boas carnes e sidra no menu vão te deixar satisfeita?
— Ei, eu nunca disse que ia sair com você. — Fechei os olhos.
— Mas você vai. — A voz dele mexeu comigo. Mesmo pelo telefone, sem o sentido da visão, ele me atraía e me fazia concordar em vê-lo novamente. Olhar para ele de novo. Sentir o cheiro dele de novo.
Eu resmunguei no telefone:
— Assim você me mata, Ethan.
— Não. — Ele deu uma risadinha. — Nós já chegamos à conclusão de que eu não sou um serial killer, lembra?
— Isso é o que você diz, senhor Blackstone, mas saiba que se você me matar mesmo, será o primeiro na lista de suspeitos.
Ele riu e o som da risada dele me fez sorrir.
— Isso quer dizer que você anda falando de mim para os teus amigos?
— Pode ser que eu tenha um diário secreto e tenha escrito sobre você. Quando a polícia vier revistar o meu apartamento em busca de provas, vai encontrá-lo.
— A senhorita tem bastante talento para fazer drama. Teve aula de teatro na escola?
— Não, mas assisti a muitos episódios de CSI.
— Ok, agora eu estou entendendo tudo. Carne, sidra, CSI. É um mix bem eclético o que estou preparando para você... Entre outras coisas. — Falou essa última parte bem devagar e eu pude sentir a sugestão implícita nas palavras fazer efeito bem no meio das pernas. — Onde eu te pego amanhã, depois da sessão de fotos?
— São fotos de estúdio, na agência Lorenzo mesmo. Fica no décimo andar do edifício Shires.
— Vou te encontrar, Brynne. Manda pra mim uma mensagem quando estiver acabando e eu vou lá. Boa noite. — A voz dele mudou e soou mais abrupta.
Ouvi um clique na linha e me dei conta de que Ethan tinha desligado dessa vez. Revanche? Talvez. Mas enquanto me ajeitava na cama para dormir, no escuro, repassei mentalmente nossa conversa e tive certeza de que ele tinha conseguido decidir tudo de novo. Eu tinha um encontro marcado com Ethan amanhã à noite, sem jamais ter realmente concordado em ir.
Mandei a mensagem para o Ethan enquanto o Marco olhava as fotos. Já havíamos trabalhado juntos uma outra vez e tinha gostado muito dele. Baseado em Milão, ele gostava de poses clássicas, fazendo alusão aos anos 30 e 40.
— Você está linda nessas aqui, bella — elogiou Marco, com um sotaque italiano delicioso. — A câmera é sua amiga.
— Foi bacana. Obrigada, Marco.
Como tinha que me aprontar, fui para o vestiário. Tentei não me preocupar demais com a aparência, mas o Ethan era tão bonito... Já eu era simplesmente eu. Sabia que tinha um corpo bom. Fazia exercícios para mantê-lo assim, e como hoje em dia ele era meu ganha-pão, me cuidava ainda melhor. Eu fiz muito sucesso quando era mais nova. Demais, até. Mas não era bonita. Cabelo comprido, castanho-claro, nada especial. Os olhos eram provavelmente o que havia de mais diferente em mim. A cor era estranha — uma mistura de castanho, cinza, azul e verde. Nunca soube o que botar na carteira de motorista, quando ainda estava nos EUA. Acabei ficando com castanho mesmo.
Abri a bolsa e deixei o robe cair no chão. Já era quase verão e, como era um encontro casual, depois de um dia de trabalho, escolhi roupas simples, que não iam amassar muito dentro de uma bolsa de viagem: calça de linho rústico, larguinha, uma camiseta preta sem mangas e sapatilhas pretas. Pendurei nos ombros o meu casaquinho verde favorito e fui dar um jeito no resto. Penteei o cabelo e fiz um rabo de cavalo, com uma mecha enrolada em volta do elástico. Depois, a maquiagem, nada demorado. Quase nunca uso mais do que rímel e blush. Um pouco de brilho nos lábios, uma borrifada de perfume e pronto. Prontinha, Brynne.
Apertei o botão para chamar o elevador e esperei. O Ethan não tinha dito exatamente onde a gente ia se encontrar, mas imaginei que esperar no lobby faria sentido. Ele parecia conhecer muito bem a cidade.
O Marco me levou até o hall e se despediu com um abraço. Ele era um cara efusivo, sempre abraçando e dando dois beijinhos na bochecha daquele jeito europeu que deixava os americanos babando. Tenho que admitir que fico encantada com esse tipo de comportamento carinhoso, que a gente vê tão raramente no meu país.
Abracei-o de volta e dei a bochecha. Marco apertou os lábios contra meu rosto no exato momento em que as portas do elevador abriram e de dentro saiu o Ethan, com uma cara fechada.
Dei um passo em falso ao me afastar do Marco e senti as mãos do Ethan me segurando, bem na minha cintura.
— Brynne, querida, aqui está você.
Ethan tirou as mãos da minha cintura e passou os braços pelos meus ombros, me puxando de perto do Marco diretamente para ele. Fiquei de frente para o corpo dele, rígido e musculoso. Podia sentir o olhar do Ethan para o Marco e soube que tinha que falar alguma coisa antes que o clima pesasse ainda mais.
— Apresenta a gente, Brynne — falou na minha orelha, com a pontinha do cavanhaque fazendo cosquinha no meu pescoço e amolecendo meus joelhos.
— Ethan Blackstone, Marco Carvaletti, me-me-meu fotógrafo de hoje. — Merda! Por que soar tão vacilante e fraca? Era fato, eu estava em perigo com esse homem. Ele me afetava de um jeito irritante, mas ao mesmo tempo muito excitante. Uma sensação confusa e tentadora, que gritava “perigo!” dentro da minha cabeça.
Ethan estendeu a mão para cumprimentar o italiano alto, que tinha uma expressão esquisita, como se não entendesse muito bem aquela situação.
— Como a minha garota se portou hoje, senhor Carvaletti? — falou Ethan, devagar, com aquela voz elegante.
Marco deu um meio-sorriso.
— Brynne sempre é perfeita no trabalho, senhor Blackstone. Sempre. — O elevador apitou de novo e Marco estendeu o braço para segurar a porta.
— Você não vai descer? — perguntou, lá de dentro.
— Eventualmente, mas não agora — respondeu Ethan, me segurando firme, com as mãos nos meus braços.
Ficamos de frente para as portas do elevador enquanto fechavam. Eventualmente ia descer? Como sempre acontecia quando estava ao lado do Ethan, vi um duplo sentido nesse comentário. Imediatamente imaginei a visão da cabeça dele de cima, só os cabelos escuros se movendo lentamente, enquanto o rosto se enterrava entre as minhas pernas — e era mais do que a minha libido suportava naquele momento.
— Tchau, Marco, obrigada pela oportunidade — gritei por entre as portas, levantando a mão para acenar.
— Obrigado a você, bella, as fotos ficaram lindas, como sempre — respondeu Marco, soprando um beijinho pela fresta da porta, e me deixando sozinha com aquele homem que, sem sombra de dúvida, estava com o pau duro encostado na minha bunda e dava toda a pinta de saber usá-lo muito bem.
— O que você tá fazendo? Qual foi a do “minha garota” e toda essa coisa de ficar marcando território, Ethan? — perguntei, me soltando das mãos dele. Virei para aquele rosto lindo, consciente da minha respiração ofegante, que a cada vez que inspirava, inalava inebriantes doses do delicioso cheiro de perfume.
Ele veio para cima de mim, me encostou na parede do corredor, com o corpo largo me pressionando, e aproximou a boca da minha. Os lábios do Ethan eram macios, em contraste com o cavanhaque. A língua, que parecia de veludo, logo encontrou com a minha e foi explorando cada canto da minha boca, brincando por dentro dela, mordiscando meu lábio inferior, indo cada vez mais fundo. Ele apertou mais forte o quadril contra o meu e senti o volume do pau encostando em mim. Ethan Blackstone tinha total controle sobre meu corpo.
Gemi com os beijos e afundei meus dedos entre os cachos de cabelo dele. Puxei-o para mais perto e esfreguei meus mamilos durinhos nos músculos do peitoral dele, tão duro e másculo que nem parecia de verdade. Mas ele era real, sim, e estava me beijando apaixonadamente em um local público, o corredor do décimo andar do edifício Shires, em frente ao escritório da agência Lorenzo. Ele veio aqui para me encontrar.
Ethan segurou meu rosto com as duas mãos, de forma que eu não podia me mover e evitar o beijo dele, se quisesse. Estava completamente entregue a ele e ao que quer que pedisse de mim. Minha reação ao Ethan era a fraqueza. Já sabia disso havia muito tempo, mesmo que só na imaginação. A versão real era devastadora.
Ele tirou uma das mãos do meu rosto e desceu-a até o pescoço. O beijo diminuiu de intensidade, até que ele descolou os lábios e eu senti o ar fresco tocar na minha boca úmida.
— Abre os olhos — Ethan mandou. Obedeci e vi o rosto dele logo ali, a centímetros de mim, os olhos azuis pegando fogo de tesão.
— Não sou sua garota, Ethan.
— Durante esse beijo você foi, Brynne. — Com os olhos piscando, ele me lia perfeitamente. Depois respirou fundo.
Eu estava toda melada entre as pernas e fiquei imaginando se ele podia sentir o cheiro. Você tem um perfume tão bom e tão sexy.
Jesus Cristo! Ele passou o polegar na minha clavícula, ainda com a mão no pescoço. Não fiz nada para impedi-lo. Estava gostando, também. Baguncei o cabelo dele com as mãos. Ainda assim era bonito demais — aposto que já saía lindo da cama de manhã. Cama. Será que o nosso futuro imediato incluía uma cama? Não faltava nada para eu levá-lo para a cama, pelo menos não da minha parte. E ninguém tinha que ser um gênio para saber que ele queria sexo. A grande questão era se eu queria.
— Ethan. — Empurrei a parede de aço que era o corpo dele, sem sucesso. — Por que você está fazendo isso? Por que age assim comigo?
— Não sei. Não consigo me controlar. Eu tentei deixar você em paz, mas não posso. — Ele passou a outra mão no meu cabelo e foi descendo até pousá-la no pescoço também. — Não quero ficar longe de você.
Desenhou círculos eróticos com os polegares no meu pescoço:
— Você me deseja também, Brynne, eu sei que sim.
— Como você sabe? — Minha voz saiu baixa, soprada em um sussurro.
Ele encostou novamente os lábios nos meus e beijou-me devagar.
— Eu consigo ver no seu olhar o jeito que você reage quando eu te toco.
Mal conseguia ficar de pé quando ele me beijou novamente. Mas ficar de pé para quê? Não precisava. Ele me segurava, minhas costas na parede e os quadris colados nos dele. A campainha do elevador tocou e ele deu um passo atrás. Desabei nos braços dele. Ele me segurou, enquanto um casal saía do elevador.
— Não podemos, estamos em um lugar público. Não faço esse tipo de coisa. Não posso ficar com você assim...
Ele rapidamente cobriu meus lábios com alguns dedos, para me calar, e beijou minha mão.
— Eu sei — falou gentilmente. — Está tudo bem, não precisa entrar em pânico.
Não consegui fazer mais do que olhar para ele, maravilhada, enquanto sentia aqueles lábios macios encostarem de leve na minha mão. Os pelos que rodeavam a boca espetavam um pouco, mas nada que se comparasse à aspereza sexy do beijo anterior.
Ethan me lançou um olhar de desejo e segurou a mão que tinha acabado de beijar. Levantou minha bolsa do chão com a outra mão e me levou para o elevador.
— Primeiro vamos jantar, depois podemos falar sobre essas coisas.
De uma maneira que já estava se tornando frequente ao me ver na presença do Ethan, aceitei que ele tomasse o controle de novo. Ele decidia tudo, e eu fazia exatamente o que ele queria.