Anexo i

Residências no Rio

 

 

 

 

 

 

 

quando deixei o oeste paulista, vim para o Rio, aonde cheguei a 10 de março de 1933. Fui morar com meus tios Maria e Heitor Modesto, que estavam instalados à rua Santa Clara 188 A, um pouco acima da esquina de Tonelero. Era uma linda moradia de estilo normando de que ocupávamos o primeiro andar e um sótão habitável onde meu tio tinha instalado seu escritório e biblioteca. Esse sótão era de telha-vã, muito fresco — delicioso para dormir naquele fim de verão. Eu o fazia à cearense, em rede pendurada nas tesouras do madeirame que sustentava a armação do telhado. O térreo desta casa era numerado como 188 B e residência doutra família, composta de senhora viúva e duas filhas. Uma delas, a mais velha, chamava-se Sílvia. Era morena, um pouco cheia de corpo, fisionomia aberta e amável, pródiga de bons-dias e boas-tardes. Trabalhava numa repartição e lembro do tio dizendo que era “funcionária conhecida pelo zelo e competência”. Reatei o tempo e o período que começou para mim, suspendia um pouco Juiz de Fora, Belo Horizonte, os cafezais da Alta Araraquarense e o Rio reapareceu com o prestígio, as sugestões de Visconde de Figueiredo, Aristides Lobo, campo de São Cristóvão, Itapagipe, Pedro Ivo, Major Ávila. Reintegrei-me na vida carioca pelo sol de Copacabana, pelas areias do Posto Quatro. Todas as casas do bairro eram de antiga construção portuguesa ou bangalôs de dois andares, crescendo de requinte à medida que as transversais se aproximavam da praia e apresentando-se numa concentração de opulência nas ruas Sá Ferreira, Sousa Lima e Barcelos. Só dois arranha-céus: o Edifício Olinda, no Posto Seis e o do extremo oposto, numerado como 290, ao Leme. Ainda havia tatuís, conchas na praia. Minhas manhãs eu as passava torrando ao sol, deitado nas areias secas, cujo contato é doce como carícia preguiçosa. Quando ficava todo árido de tanto calor ia mergulhar e retomar nas ondas altas minhas braçadas de Icaraí. Depois andava a pé na areia molhada, rente ao mar, para sentir novamente a sensação do chão fugindo ao recolher da vaga — que experimentara, menino, quando fora com tia Alice visitar sua amiga solteirona: uma de que já contei a história e que fora ludibriada por noivo parecido com George Walsh. Ia até o Posto Seis. Como estavam crescidas as amendoeiras plantadas pelos Muniz Freire! para se abrigarem à sua sombra. Olhava a casa deles, lembrando os tempos da doença de Ennes de Sousa e sua convalescença em Copacabana. Mas não via aparecer a morena Araci. A praia me abria o apetite e o almoço sempre cuidado dos tios Modesto era longa e silenciosamente saboreado. O casal conversava pouco à mesa — hora de comer, comer. Eu também calava, dedicava-me com alma à excelente cozinha onde a carne de porco, o tutu, o tropeiro e o angu eram feitos à mineira, mais especificamente com baldas de Cataguases — que era a terra de tio Heitor; os peixes e pratos do mar, à cearense, avivados com pimenta e banhando no leite de coco; já a feijoada dominical era carioca — como a descrevi, falando dos ajantarados do velho Maneco Modesto, em Delgado de Carvalho. Depois eu ia para a cidade, traçar com os amigos planos de minha permanência no Rio. Logo, por intermédio de Afonso Arinos e Rodrigo, obtive de Virgílio de Melo Franco carta decisiva para Pedro Ernesto, pedindo meu aproveitamento nos quadros da Assistência Pública Municipal — então em vias de passar pela grande Reforma que foi uma das marcas da benemérita administração daquele insigne governador da cidade. Como eu preferisse a saúde pública, para seguir os passos de meu pai — guardei a carta como trunfo, para usá-la, depois de procurar Washington Pires, então titular do recém-criado Ministério da Educação e Saúde. Eu tinha sido seu discípulo de neurologia e com Joaquim Nunes Coutinho Cavalcanti e Francisco de Sá Pires éramos dos alunos que frequentavam sua casa para longas conversas noturnas. Ele era pitoresco, grande contador de estórias sempre extraordinárias, de fatos tão bem urdidos que pareciam arranjo de ficção. Sua participação como voluntário da Legião Estrangeira, na Primeira Grande Guerra. Seus contatos com o Deuxième Bureau, ida à Rússia e o conhecimento de Kérenski. De como evitara um atentado contra o rei Jorge, arrebatando bomba das mãos dum anarquista e atirando-a ao Tâmisa. Sua consequente medalha, kbe e tratamento de Sir. Éramos recebidos no seu gabinete e palestrávamos até altas da noite. Eu logo confundi aquela cordialidade com amizade e esperava tudo do professor de Belo Horizonte. Fui procurá-lo. Seu gabinete era na Gaiola de Ouro, então sede do ministério recém. Anunciei-me e a rapidez com que fui recebido pareceu-me de bom augúrio. Entrei. Ele fez sinal que eu esperasse, apontou-me um grupo defronte de sua mesa e continuou a escrever e a assinar vasta papelada. Eu olhava bestificado o Washington que tinha à minha frente — mais claro de pele, com plaqueados vermelhos do corado, os cabelos negros e reluzentes de brilhantina, nobremente grisalhando nas têmporas. Usava uma camisa extraordinária, aos riscos multicores repetidos pelo colarinho que espelhava de goma como o peitilho duro que estufava e dava impressão dum papo de pomba-trocal dentro do qual sumira o pescoço curto. Suas famosas sobrancelhas pareciam escovas metálicas e fulguravam também. Menos que as mãos que jamegavam rapidamente num brilho de corrida de brilhantes. Era a cintilação das dez unhas envernizadas. Lembrava um gaúcho daqueles tempos, um noivo pronto para o altar. Jamais pude esquecê-lo naquela sua glória que apagava a de Salomão. E foi sua figura trescalando olores recendendo loção de violetas, acesa por dentro duma satisfação imensa que eu tive presente e deixei nos versos do meu “O defunto” quando anelei como coisas extrassupremas as vestes que o cingiam, togavam, transfiguravam.

 

E quero ir de casimira:

de jaquetão com debrum,

calça listrada, plastron

e os mais altos colarinhos.

Deem-me um terno de ministro

ou roupa nova de noivo…

 

De vez em quando o ministro me fiscalizava mirada rápida como a querer surpreender qualquer coisa na minha fisionomia. Era evidente. Procurava a fresta às vezes se abrindo para nossa alma ser devassada. Resolvi escancará-la, facilitar a prospecção, fazendo cara da maior admiração e enlevo não só por sua pessoa como pela outra, feita de substância especial, a do ministro. Do mesmo modo como eu o tinha adivinhado ele captou a aparência de meu entusiasmo, deve ter gostado, porque resolveu prolongar a situação — recebendo e despachando em sussurro uns três postulantes — mostrando-se com um, paternal; com o segundo, esquivo, com o último, breve, ríspido. Eu arregalava os olhos e fazia quase imperceptíveis sinais de sim com a cabeça — como na hora das grandes performances dos atores. Não nos perdíamos de vista e seguíamo-nos com rabos de olho e nossos respectivos pensamentos.

 

— Que quererá comigo? esse Nava. Pedido na certa. Não é pra me ver que ele aparece. Interesse dele. É despedir logo sem prometer nada senão essa sarna não me deixa o gabinete daqui pra diante. Mas primeiro deix’ele me ver de ministro, despachando e recebendo. Mandarentrar mais uns, p’r’ele admirar.

 

— Por que cargas-dágua? esse guedelhudo me mandou entrar primeiro e agora está fazendo os outros passarem na minha frente. Será? Para se mostrar de ministro. Dito e feito. Olha com’ele tá gostando dessa admiração que mostrei na cara. Ele faz a mímica do sim, do não, do vamos-ver e olha pra surpreender minha reação.

 

Aquilo continuou, entraram mais dois, ele prosseguindo na pantomima mas eu, afinal enfastiado, olhei a janela, um pedaço de céu azul e uma nuvem muito branca, uma só — que lá se ia soprada que nem fiapo de algodão. Afinal entrou o café e ele fez-me aproximar. Em dez palavras disse o que queria. Respondeu retomando a mímica do não, que era impossível, que se pudesse, mas as vagas mal chegavam para os gaúchos com o viático do Getúlio, para os amigos do Olegário, com o dito do Palácio da Liberdade. É não, Nava, não! mas creia que lamento muito. Quer um conselho? do seu professor. Volte para Monte Aprazível e faça-se mesmo por lá. Era a velha coisa do mineiro lobo do mineiro (como eu comprovaria mais tarde outras duas vezes). Funcionando aquela serência que eu inventei no meu Beira-mar e que é o sentimento inevitável do vizinho. Saí e corri ao escritório do Adauto Cardoso — para com ele invectivar e gozar o ministro. O amigo riu muito e instou para que eu não perdesse mais tempo e que tratasse de ir depressa, amanhã mesmo, levar a carta do Virgílio ao Pedro Ernesto.

Fui no dia seguinte ao velho Palácio da Prefeitura. Peitei um contínuo, não mofei muito, fui recebido por Pedro Ernesto Batista. Jamais esqueci esse nosso primeiro encontro. Era um homem mediano de altura, moreno, cabelos abertos ao meio e acamados à custa de brilhantina. Com o penteado e as costeletas, lembrava o Perry Bennett de Os mistérios de Nova York. Vestia casimira clara, gravata primorosa, falava grave, tom simpático. Leu com atenção toda a longa carta do Virgílio. Encarou-me sorrindo e sem hesitação certificou que eu seria nomeado médico auxiliar e que a Reforma sairia dentro de mês, mês e meio. E quando eu ia abrindo a boca ele estendeu a mão me interrompendo. Não me agradeça não, jovem colega. Agradeço eu. Sim senhor, eu, porque graças a você vou ter a oportunidade de prestar um serviço ao Virgílio — que é homem de pedir raramente. Agradeço a você — muito obrigado. Riu mais, levantou-se, levou-me até à porta com a mão passada no meu ombro. Duas audiências… Uma, com velho conhecido; outra, com pessoa que nunca tinha visto. A primeira serviu-me para encerrar uma amizade, a segunda, para começar a seguir dedicadamente um dos melhores homens que já encontrei. A seguir. Foi o que eu fiz pelo resto de sua vida. Segui-o, visitando-o na prisão, no quartel de Frei Caneca, no Hospital da Penitência, deste hospital a sua casa no dia do livramento, no seu novo consultório e depois no caminho derradeiro que levamos mais de três horas para percorrer — do necrotério da Casa de Saúde Doutor Eiras ao Cemitério de São João Batista. Mas tudo isto eram coisas por vir.

Fui nomeado. Comecei a trabalhar no Rio. Veio 1934, os tios foram para as águas e mudei-me para a Tijuca. Sempre na eterna procura de meus velhos caminhos. Morei apenas uns meses no bairro de minha infância e adolescência. Fui para uma pensão no gênero da de d. Adelaide, à rua Haddock Lobo, também num prédio apalacetado do lado ímpar, entre a casa do pavão que continua de pé e a rua do Matoso. Não lembro bem o número. Mas andando na sua calçada, conferindo perspectivas, contando os passos, avaliando as distâncias das velhas casas que sobraram, coloco-me no lugar onde deve ter existido meu prédio. É onde está o 171 — Edifício Solimões. Retomei meus hábitos de cinema de bairro e os favorecidos pela vegetação luxuriante do nosso jardim, sua escuridão e pelo fato dos quartos de baixo terem entrada independente e serem habitados por moços solteiros. Recebíamos a quem bem entendíamos. Jamais reclamação. Ou éramos muito empelicados ou o andar de cima fazia vista grossa. Dessa pensão mudei para outra, em Conde de Bonfim. Esta era num casarão amarelo, porão habitável e mais dois andares, casa de hóspedes requintada, com restaurante à la carte e pequeno bar. Moradia de altas patentes e altos funcionários. Lá tinha penates um dos criadores de nossa polícia técnica, o famoso Epitácio Timbaúba. Lembro dele, de seus olhos argutos, muito arregalados e muito negros, seu vozeirão, sua simpática comunicabilidade. Nesse prédio residira em velhos tempos o ilustre clínico Barbosa Romeu cujas festas enchiam-se dos estudantes de medicina, alunos do dono da casa. Em tempos mais recentes tinha sido a moradia do meu amigo Francisco Peixoto Filho (Chicão). A casa fora alugada pelo pai deputado e só mesmo naquele despotismo de construção é que podia se acomodar a família mineira numerosa e mais a passarada do velho político. O local está completamente modificado. Mas o prédio, que era o número 177, com a largura dos jardins da frente, devia estar na zona ocupada hoje pelo arranha-céu número 183. Digo isto pelas proporções da área da pensão e pela do edifício que tomou o seu lugar, por desnível do terreno que da rua ganha planos em elevação para o fundo da nova construção como era em rampa na chácara anterior.

Todo o período que morei em Haddock Lobo e Conde de Bonfim, ou seja, parte de 1934 e de 1935, noite ou outra ia aos cinemas do bairro mas mais frequentemente à casa de meu amigo e colega Alcides Estillac Leal, em São Francisco Xavier, número 456, pertíssimo da entrada do boulevard Vinte e Oito de Setembro. Era o velho prédio em que residira seu pai, o marechal, e lá, nos adiantes do porão habitável que serviam de escritório ao colega, mergulhávamos nos livros de patologia, clínica e metabologia — preparando-nos para a livre-docência de clínica médica, sempre protelada pelo Estillac que cada dia mais preparado queria ficar ainda melhor para o ano vindouro. Afinal ele desistiu do concurso e do exercício da clínica para cuidar só de laboratório. Entretanto não deixou de ser clínico e é um dos melhores internistas que conheço até hoje. Esse saber e essa aptidão são outras faces de Alcides Estillac Leal — um dos homens mais perfeitos com quem tenho convivido, amigo seguro e médico na grande, na integral validade do termo. Estou passando assim rapidamente nestas residências e pouco falando dos meus “encontros” humanos desse período porque terei de retomá-los em detalhe. Então cuidarei mais longamente do Estillac — figura para várias páginas e não para poucas linhas.

Aos domingos almoçava com os Modesto. Em fins de 1935, chamado por eles, deixei minha vida de pensão e passei-me para sua casa. Fiz questão de contribuir com o meu terço ou não aceitaria o convite. Depois de muita luta eles concordaram. Assim me vi na rua Paul Redfern, onde eles moravam à esquina de Prudente de Morais. A casa, muito modificada, existe até hoje e é a numerada pelo último logradouro como o 1836 — onde está atualmente o Restaurante Sereia. De suas sacadas, depois da intentona de 35, fui testemunha de fato relevante. Uma prisão histórica quase à esquina ao lado, no lado ímpar de Paul Redfern. Nessa esquina existia um baldio hoje ocupado pelo número 37 ou talvez por este e mais o 35. Pois foi o 33, talvez o 35 ou prédio anterior que existisse no lugar é que foi invadido por uma matula de policiais chegados à toda, numas três limusines. De dentro da casa atiravam pelas janelas livros, papéis, pacotes de impressos, arquivos de aço, tudo empilhado a trouxe-mouxe num caminhão da caravana. Finalmente saíram de cambulhada e apanhando murros na cabeça, na cara, pontapés nas partes, na barriga e na bunda — um homem grosso, vermelho, muito louro e já sangrando, uma senhora magra, pele clara e cabelos castanhos ou pintados de henné. Aos empurrões e às porradas, foram metidos cada um num carro com os tiras que continuavam a enchê-lo ali, na rua, à cara de uma multidão atônita, de pessoas penduradas em todas as janelas. Fazia um dia azul, um sol admirável, seriam suas três da tarde mais ou menos. Durante este esporro cheio de violência e de gritaria notei que uma moça loura, silhueta fina, mais para alta, vinha andando dos lados do canal. Sentindo a barulhada, parou no meio do quarteirão, inteirou-se, fez meia-volta e foi seguindo na direção do Leblon andando, no princípio, com naturalidade, depois mais depressa e finalmente pondo-se a correr até virar a primeira esquina. Os carros saíram chispados, a rua esvaziou-se, aquietou, calou e eu, ainda indignado, saí para meu banho de mar à tarde. No dia seguinte corri aos jornais para saber quem teria sido preso. Nada. A censura imperava. Só meses depois, lendo notícias então consentidas vi que tinha sido testemunha da prisão de Harry Berger, de sua mulher e que percebera, chegando à casa e escapando por pouco da prisão àquela hora — Olga Benário Prestes. Essa foi presa tempos depois e nossas autoridades e nosso governo entregaram-na aos seus colegas da Gestapo e do Reich. Essa mulher de brasileiro e mãe de brasileira, dizem, foi executada a machado na Alemanha. Seu sangue caiu sobre os que a entregaram e que morreram também tragicamente, agoniadamente. De malamorte. De um posso dizer que se não foi à câmara de gás, a câmara de gás veio até a ele.

Mas estávamos muito apertados em Paul Redfern e os Modesto e eu decidimos procurar casa maior. Alugamos uma, recém-construída na Urca, propriedade de meu colega de Assistência o dr. Cassiano Gomes. Era uma bela residência, estilo normando, como a de Santa Clara e logo o sótão teve o telhado forrado, o chão carpetado e virou numa excelente sala de estar que servia de nosso escritório, livraria e sala de jogo do tio para o pôquer de depois dos ajantarados dominicais. Era o número 53 da rua Gomes Pereira. Nunca esquecerei dessa casa onde moramos meses de 1935, 1936, 1937, parte de 1938. Ali, sozinho, acabei de preparar-me para a livre-docência de clínica médica na Faculdade da Praia. Tinha-me licenciado da Assistência para estudar melhor e adotei sistema de vida diferente e o horário de que gosto no momento dos meus grandes esforços intelectuais. Levantava às onze, almoçava e começava a ler à uma da tarde. Ia até dezoito horas. Parava, conversava um pouco, jantava, banzava e às vinte e uma estava abancado a minha escrivaninha. À meia-noite parecia que ia cair de sono. Levantava um pouco, andava, fumava, ia à janela contemplar a vista prodigiosa do mar, da fímbria de Botafogo e do Corcovado, à minha frente; via lampejar aqui e ali a onda, retomava os livros. À uma da madrugada, por estranho fenômeno constitucional estava novo em folha e dava uma virada até as quatro da manhã. Aí arriava mesmo no leito e era um sono só até onze dia alto. Recomeçava. Assim fiz nos dois últimos meses de cavação, até ao concurso, em novembro de 1936. Foi nesse sótão que mais tarde, a 23 de julho de 1938, dum jato, rejeitei de mim “O defunto”.

Quando terminou o contrato com a casa de Gomes Pereira, separei-me novamente dos tios e fui morar em Laranjeiras, no 575, vizinho de casa de Gastão Cruls, pensão de d. Carmelita Gonçalves Maciel. Guardo excelente lembrança desse tempo, dessa senhora, uma das pessoas mais bem-educadas com que já me encontrei. Morei com sua família, fins de 1938 e início do 39. Foi quando minha mãe mudou-se de Belo Horizonte para o Rio e alugamos o apartamento 302 da rua Laranjeiras número 382. Aí fiquei quatro anos, até 1943. A 29 de junho desse ano, casei e foi a Glória.