CAPÍTULO TRINTA E SETE

 

Aidan, ainda a gemer com dores, tentou proteger-se quando o homem baixou a bota na direção da sua cara, sabendo que o seu crânio estava prestes a ser esmagado. Ele daria qualquer coisa para ter o seu pai com ele agora, para ter os seus irmãos ali - ou acima de tudo, para ter Kyra ali. Ele sabia que ela iria protegê-lo. Agora, ele teria de enfrentar o seu destino sozinho. Se ao menos ele fosse mais velho, maior, mais forte.

Quando a bota se baixou e Aidan levantou as mãos, encolhendo-se, tentando proteger-se, um rosnado súbito cortou o ar - um barulho que o arrepiou. Aidan ficou chocado ao ver Branco a correr para a frente. O cão enorme e selvagem, de alguma forma, tinha encontrando uma reserva de força, saltou e atirou-se para o peito do homem, enfiando-lhe os seus dentes afiados antes que ele conseguisse bater em Aidan.

O homem gritava enquanto Branco rosnava violentamente e balançava a cabeça em todas as direções, mordendo o homem nas mãos, braços, peito e rosto.

Finalmente, o homem, a sangrar, rebolou para o lado, a gemer.

Branco, ainda a rosnar, com a boca a pingar sangue, ainda não tinha terminado. Deu um passo em frente, dirigindo-se claramente à jugular do homem, preparando-se para matá-lo de uma vez por todas. Mas Branco tropeçou e caiu e Aidan percebeu que ele ainda estava demasido ferido para acabar com o homem.

O homem, sentindo uma oportunidade, não esperou. Rapidamente arrastou-se apoiado nas suas mãos e joelhos e, depois, começou a percorrer aos tropeções todo o caminho de volta para a frente da sua carruagem. Ele subiu e sentou-se de uma forma instável e chicoteou os seus cavalos.

Aidan ficou consternado ao ver vê-los partir, a galope. Em pouco tempo a carruagem tinha desaparecido na noite, deixando Aidan e Branco completamente sozinhos na floresta negra, a dias de distância da civilização.

Aidan estava ali, com o seu corpo ainda abalado pela dor, exausto demais para ficar de pé, e, ficou surpreso ao sentir uma língua na sua cara. Ele olhou e viu Branco debruçando, também deitado, a lambê-lo.

Aidan chegou-se a ele e abraçou-o e o cão encostou a cabeça ao seu peito, o que o surpreendeu.

"Devo-te a minha vida", disse Aidan.

Branco olhou para ele com olhos que pareciam responder: E tu também me salvaste.

Aidan sabia que ao fazer o que tinha feito, provavelmente tinha acabado de confiscar a sua única hipótese de sobrevivência. Agora, estava ali deitado, sozinho, naquela noite de frio, com fome, espancado, com um cão selvagem ferido ao seu lado, os dois, sem ninguém para os ajudar. No entanto, Aidan não se importava. Ele tinha feito o que era correto e nada importava mais do que isso.

Aidan não podia desistir. Ele não podia simplesmente ficar ali e morrer e não podia deixar, tão pouco, que Branco morresse. E se eles não se começassem a mexer, ele sabia que, em pouco tempo, ficariam endurecidos e congelariam até à morte.

Aidan num esforço supremo, levantou-se de uma forma instável, ficou de pé, segurando as costelas onde o homem o tinha pontapeado. Ele então ajudou Branco, arrastando-o até aos seus pés, também. Os dois ficaram ali, a olhar em frente para a longa e aberta estrada. Aidan sabia que provavelmente morreriam ali – mas independentemente do que acontecesse, ele tinha salvado aquele animal.

Aidan pôs um pé diante do outro, com Branco a coxear ao lado dele, e, os dois partiram juntos - um pequeno rapaz e um cão ferido, sozinhos sob as estrelas na vasta floresta preta - dando os seus primeiros passos na impossível longa caminhada para Andros.