CAPÍTULO TRÊS

O neurologista observou os raios-X de novo, procurando marcas que dariam a impressão de que o crânio havia sido batido por um martelinho. O dr. Klein estava atrás dele, de braços cruzados. Os dois procuraram lesões e acúmulo de fluido; uma alteração possível da glândula pineal. Estavam tentando encontrar indícios de crânio lacunar, a suposta depressão que indicaria a ocorrência de pressão intracraniana crônica. Eles não encontraram nada. A data era 28 de abril, quinta-feira.

O neurologista tirou os óculos e os guardou com cuidado no bolso esquerdo de seu avental.

— Não há nada aqui, Sam. Nada que eu esteja vendo.

Klein franziu o cenho e balançou a cabeça.

— Não faz sentido — disse ele.

— Quer mais uma bateria?

— Não. Eu acho que farei uma punção lombar.

— Boa ideia.

— Enquanto isso, gostaria de examiná-la.

— Pode ser hoje?

— Bem, estou... — O telefone tocou. — Com licença. — Ele atendeu. — Sim?

— Sra. MacNeil ao telefone. Diz que é urgente.

— Qual é a linha?

— Ela está na três.

Ele apertou o botão.

— Aqui é o dr. Klein.

A voz de Chris estava alterada, beirando a histeria.

— Ah, meu Deus, doutor, é Regan. Pode vir agora?

— O que houve?

— Não sei, doutor, não consigo descrever. Por favor, venha logo! Venha!

— Estou indo!

Ele desligou e chamou a recepcionista.

— Susan, diga a Dresner para atender meus pacientes. — Ele desligou o telefone e começou a tirar o avental. — É ela, Dick — disse ele. — Quer ir comigo? É logo depois da ponte.

— Tenho cerca de uma hora.

— Certo, vamos.

Eles chegaram dentro de minutos e, à porta, onde Sharon os recebeu, com cara de medo, eles ouviram os gemidos e gritos de terror vindos do quarto de Regan.

— Sou Sharon Spencer — disse ela. — Vamos. Ela está lá em cima.

Sharon os levou até o quarto de Regan, entreabriu a porta e disse:

— Chris, os médicos!

Chris aproximou-se da porta no mesmo instante, com o rosto contorcido de medo.

— Meu Deus, entrem! — disse ela com a voz trêmula. — Entrem e vejam o que ela está fazendo.

— Este é o doutor...

No meio da apresentação, Klein parou ao ver Regan. Gritando de forma histérica e balançando os braços, seu corpo parecia estar se erguendo horizontalmente no ar, acima da cama, e batendo com força de volta no colchão. Isso estava acontecendo muito depressa, muitas e muitas vezes.

— Mãe, faça com que ele pare! — Regan gritava. — Pare! Ele está tentando me matar! Não deixe! Faça com que ele paaaaareeee, mããããeeee!

— Minha filha! — Chris gritou, que levou a mão à boca e a mordeu. Ela olhou para Klein. — O que está acontecendo, doutor? O que é isso?

Klein balançou a cabeça, olhos grudados em Regan, enquanto o fenômeno prosseguia. Ela se erguia cerca de trinta centímetros e caía na cama, como se mãos invisíveis a estivessem levantando e derrubando. Chris levou as duas mãos à boca, observando fixamente, quando os movimentos cessaram de forma abrupta e Regan começou a se virar de um lado para o outro, revirando os olhos, de modo que apenas as partes brancas ficassem à vista.

— Ai, ele está me queimando... queimando! — Ela gemeu quando suas pernas começaram a se cruzar e se descruzar rapidamente.

Os médicos se aproximaram, cada um de um lado da cama, e Regan, que ainda se retorcia, jogou a cabeça para trás, mostrando a garganta inchada e protuberante ao murmurar em um tom gutural:

— Nowonmai... Nowonmai...

Klein checou sua pulsação.

— Vamos ver o que está acontecendo, querida — disse ele delicadamente.

E, de repente, ele voou pelo quarto, lançado para trás pela força de um golpe do braço de Regan, desferido quando ela se sentou, com o rosto contorcido de ódio.

— A porca é minha! — Ela gritou com uma voz rouca e forte. — Ela é minha! Fique longe dela! Ela é minha!

Gritou muito alto, e então caiu de costas como se alguém a tivesse empurrado.

Ergueu a camisola, expondo a genitália.

Me come! Me come! — Ela gritou aos médicos, e com as duas mãos começou a se masturbar sem parar. Momentos depois, Chris saiu correndo do quarto aos prantos, depois de Regan levar os dedos aos lábios e lambê-los.

Impressionado, observando em choque, Klein se aproximou da cama de novo, dessa vez com medo, enquanto Regan parecia se proteger, com os braços cruzados, acariciando-os com as mãos.

— Ah, sim, minha pérola... — disse ela com aquela voz rouca e de olhos fechados, como se estivesse em êxtase. — Minha menina... minha flor... minha pérola... — E, mais uma vez, retorceu-se de um lado a outro, gemendo sílabas sem sentido repetidas vezes, até que, de repente, sentou-se, arregalando os olhos, impotente e aterrorizada.

Miou como um gato.

E então latiu.

Em seguida, relinchou.

E, inclinando-se para a frente, começou a girar o torso em círculos rápidos. Tentava puxar o ar.

— Faça-o parar! — disse ela, chorando. — Por favor, faça com que ele pare! Está doendo! Faça-o parar! Faça-o parar! Não consigo respirar!

Klein já vira o bastante. Pegou sua bolsa de remédios, levou-a até a janela e rapidamente começou a preparar uma injeção.

O neurologista continuou ao lado da cama e viu Regan cair para trás, revirando os olhos de novo, e, com o corpo rolando de um lado a outro, murmurou rapidamente em gemidos guturais. O neurologista se aproximou e tentou entender o que era dito. Então, viu Klein chamando, endireitou-se e aproximou-se do colega.

— Vou administrar Librium — disse Klein a ele, segurando a seringa à luz da janela. — Mas você terá que segurá-la.

O neurologista assentiu, mas pareceu preocupado, inclinando a cabeça de um lado a outro, como se quisesse ouvir os murmúrios vindos da cama.

— O que ela está dizendo? — perguntou Klein.

— Não sei. Apenas bobagens. Palavras sem sentido. — Mas sua própria explicação pareceu deixá-lo insatisfeito. — Ela diz o que diz como se significasse alguma coisa. Tem cadência.

Klein assentiu em direção à cama e os homens se aproximaram dos dois lados. Com a chegada deles, a atormentada criança ficou rígida, como numa contração muscular causada por tétano, e os médicos, que tinham parado ao lado da cama, viraram-se e se entreolharam. Então, observaram mais uma vez Regan arquear o corpo para cima, numa posição impossível, curvando-se para trás, na forma de um arco, até a ponta da cabeça tocar seus pés. Ela gritava de dor.

Os médicos se entreolharam assustados, sem entender. Klein fez um sinal ao neurologista, mas, antes que ele pudesse segurá-la, Regan desmaiou e urinou na cama.

Klein se aproximou e levantou sua pálpebra. Conferiu sua pulsação.

— Ela ficará desacordada por um tempo — disse ele. — Acho que ela teve uma convulsão. Concorda?

— Sim, creio que sim.

— Bem, vamos nos precaver.

Ele aplicou a injeção.

— Bem, o que acha? — perguntou Klein ao pressionar um curativo no local da injeção.

— Lobo temporal. Claro, talvez a esquizofrenia seja uma possibilidade, Sam, mas o início foi muito repentino. Ela não tem histórico, certo?

— Não, não tem.

— Neurastenia?

Klein balançou a cabeça, negando.

— Histeria, então?

— Já pensei nisso — disse Klein.

— Claro. Mas ela teria que ser uma aberração para conseguir retorcer o corpo como fez de modo voluntário, não acha? — disse, balançando a cabeça. — Não, creio ser patológico, Sam... Sua força, as paranoias, as alucinações. Esquizofrenia, tudo bem; esses sintomas explicam. O lobo temporal também explicaria as convulsões. Mas tem uma coisa que me incomoda... — Ele hesitou, franzindo o cenho.

— O que é?

— Bem, não tenho certeza, mas acredito ter ouvido sinais de dissociação: “Minha pérola”, “minha menina”, “minha flor”, “a porca”. Tive a sensação de que ela falava sobre si mesma. Foi a impressão que você teve também ou estou imaginando coisas?

Enquanto pensava na pergunta, Klein tocou o lábio inferior com um dedo, e respondeu:

— Olha, sinceramente, naquele momento, não me ocorreu, mas agora que você disse... — Ele fez um som na garganta, e pareceu pensativo. — Pode ser. Sim, acho que pode ser — disse, dando de ombros. — Farei uma punção lombar agora, enquanto ela está apagada, e talvez descubramos algo. Concorda?

O neurologista assentiu.

Klein procurou na maleta, encontrou um comprimido e, quando o enfiou no bolso, perguntou ao neurologista:

— Você pode ficar?

O neurologista olhou o relógio.

— Sim, claro.

— Vamos conversar com a mãe.

Eles saíram do quarto e foram para o corredor.

Com a cabeça baixa, Chris e Sharon estavam recostadas na balaustrada da escada. Quando os médicos se aproximaram, Chris secou o nariz com um lenço úmido e amassado. Seus olhos estavam vermelhos e inchados de tanto chorar.

— Ela está dormindo — disse Klein — e fortemente sedada. Imagino que vá dormir até amanhã.

Assentindo, Chris respondeu, desanimada:

— Que bom... Ouçam, sinto muito por ter sido tão fraca.

— A senhora está indo bem — disse Klein. — É uma situação assustadora. A propósito, este é o dr. Richard Coleman.

Chris sorriu para ele, sem jeito.

— Obrigada por ter vindo.

— O dr. Coleman é neurologista.

— É mesmo? E o que o senhor acha? — perguntou ela ao transferir o olhar de um homem para o outro.

— Bem, ainda acreditamos ser um problema no lobo temporal — respondeu Klein. — E...

— Meu Deus, de que diabos estão falando? — Chris alterou-se de repente. — Ela tem agido como uma maluca, como se tivesse dupla personalidade ou algo assim... — Em seguida, recompôs-se e cobriu o rosto com as mãos. — Ah, acho que estou abalada demais — disse ela, baixinho, ao olhar para Klein. — Sinto muito. O que o senhor estava dizendo?

Foi o neurologista quem respondeu.

— Sra. MacNeil — disse ele, com delicadeza —, não houve mais do que cem casos comprovados de dupla personalidade em toda a história da medicina. É um problema raríssimo. Sei que a psiquiatria parece muito tentadora neste momento, mas qualquer psiquiatra responsável excluiria as possibilidades somáticas em primeiro lugar. É o procedimento mais seguro.

— Bem, certo. O que virá em seguida?

— Faremos uma punção lombar — disse Coleman.

— Na espinha? — perguntou Chris, com um olhar de desespero.

Ele assentiu.

— O que não localizamos nos raios-X e no eletroencefalograma pode aparecer nesse exame. No mínimo, eliminaria outras possibilidades. Gostaria de realizá-lo agora, enquanto ela está dormindo. Darei uma anestesia local, claro, mas estou tentando evitar os movimentos.

— Como ela pôde pular na cama daquele jeito? — perguntou Chris, estreitando os olhos, sem conseguir compreender.

— Bem, acho que já falamos sobre isso — disse Klein. — Estados patológicos podem induzir à força anormal e ao desempenho motor acelerado.

— Mas o senhor disse que não sabe o motivo.

— Bem, parece ter algo a ver com motivação — respondeu Coleman. — Mas é só o que sabemos.

— Certo, e a punção? — perguntou Klein a Chris. — Podemos seguir em frente?

Retraindo-se, Chris olhou para o chão.

— Sim, podem. Façam o que tiverem que fazer. Qualquer coisa, desde que ela fique boa.

— Posso usar seu telefone? — perguntou Klein.

— Claro. Venha. Há um no escritório.

— Ah — disse Klein quando Chris se virou para guiá-los —, a roupa de cama precisa ser trocada.

Afastando-se depressa, Sharon disse:

— Farei isso agora mesmo.

— Aceitam um café? — perguntou Chris enquanto descia a escada com os médicos. — Dei a tarde de folga ao casal de empregados, por isso terá que ser instantâneo.

Eles recusaram.

— Vi que a senhora ainda não arrumou a janela — Klein comentou.

— Mas já telefonamos para o chaveiro — respondeu Chris. — Ele virá amanhã com novas fechaduras.

Eles entraram no escritório, onde Klein telefonou para seu consultório e instruiu a assistente a entregar os equipamentos e remédios necessários na casa.

— E prepare o laboratório para as análises — disse ele. — Eu mesmo as farei após o procedimento.

Quando terminou o telefonema, Klein perguntou a Chris o que havia acontecido desde que ele vira Regan pela última vez.

— Vamos ver, desde terça-feira — disse Chris, pensando —, não, na terça não aconteceu nada. Ela foi direto para a cama e dormiu até tarde na manhã seguinte e... Ah, não, espere. Não, não dormiu. Isso mesmo. Willie disse que ouviu Regan na cozinha muito cedo. Eu me lembro de ter ficado feliz por ela ter recuperado o apetite. Mas, depois, ela voltou para a cama, acho, porque passou o resto do dia lá.

— Ela estava dormindo? — perguntou Klein.

— Não, acho que ela estava lendo. Eu comecei a me sentir um pouco melhor em relação a tudo. Parecia que o Librium seria a solução. Ela parecia um pouco distante, e isso me incomodou, mas, ainda assim, era um grande progresso. E então, ontem à noite, nada novamente — Continuou. — E hoje de manhã, tudo começou. Nossa! E como começou!

Ela estava sentada na cozinha, relatou Chris, quando Regan desceu a escada correndo em sua direção, encolhendo-se defensivamente atrás da cadeira enquanto agarrava o braço de Chris e dizia com a voz estridente e assustada que o Capitão Howdy a estava perseguindo, que a estava beliscando, batendo, empurrando, dizendo obscenidades, ameaçando matá-la. “Ele está aqui!”, ela gritara, apontando para a porta da cozinha. E caiu no chão, com o corpo se sacodindo em espasmos; ela chorava e gritava, dizendo que Howdy a estava chutando. Então, de repente, Regan ficara de pé no meio da cozinha, com os braços esticados, e começara a girar depressa, “como um pião”, e manteve-se assim por quase um minuto até cair exausta no chão.

— E então, de repente — disse Chris, finalizando o relato —, vi que havia... ódio em seus olhos, um ódio enorme, e ela disse que eu... ela me chamou de... ah, Deus!

Chris começou a chorar.

Klein caminhou até a pia, encheu um copo d’água e caminhou de volta em direção a Chris. Os soluços já haviam cessado.

— Droga, preciso de um cigarro — disse ela, secando os olhos com os dedos.

Klein deu a ela a água e um pequeno comprimido verde.

— Experimente isto — disse ele.

— É um tranquilizante?

— Sim.

— Quero dois.

— Um basta.

Chris desviou o olhar e deu um sorriso amarelo.

— Eu não gosto de economizar.

Ela engoliu o comprimido e devolveu o copo vazio ao médico.

— Obrigada — disse ela baixinho, apoiou a testa nos dedos trêmulos e balançou a cabeça. — Sim, foi quando tudo começou. Todas as outras coisas. Ela parecia outra pessoa.

— Como o Capitão Howdy, talvez? — perguntou Coleman.

Chris olhou para ele, surpresa. Ele a observava com atenção.

— O que quer dizer com isso? — perguntou ela.

Ele deu de ombros.

— Não sei. Foi só uma pergunta.

Ela olhou de modo distraído para a lareira.

— Não sei. Parecia outra pessoa qualquer. Alguém diferente.

Fez-se um momento de silêncio. Coleman ficou de pé. Tinha outro compromisso, disse aos dois, e, após algumas frases vagamente confortadoras, despediu-se.

Klein o acompanhou até a porta.

— Você vai checar o açúcar? — perguntou Coleman.

— Não, sou um idiota inexperiente.

Coleman sorriu.

— Estou um pouco apreensivo com tudo isso — disse ele. Desviou o olhar, pensativo, passando os dedos nos lábios. — Um caso estranho — disse ele, baixinho. — Muito estranho. — Virou-se para Klein. — Diga-me o que descobrir.

— Você estará em casa?

— Sim, estarei. Ligue para mim, está bem?

— Sim.

Coleman acenou e partiu.

Quando o equipamento chegou, pouco tempo depois, Klein anestesiou a região da espinha de Regan com novocaína e, enquanto Chris e Sharon observavam, tirou o fluido da espinha enquanto observava um manômetro com atenção.

— A pressão está normal — Murmurou. Quando terminou, caminhou até a janela para ver se o líquido era claro ou escuro. Estava claro.

Guardou os tubos de fluido na maleta.

— Duvido que ela desperte — disse Klein —, mas, se despertar no meio da noite e causar algum problema, seria bom ter uma enfermeira pronta para aplicar um sedativo.

— Não posso fazer isso sozinha? — perguntou Chris.

— Por que não uma enfermeira?

Chris deu de ombros. Não quis mencionar a falta de confiança que tinha em médicos e enfermeiros.

— Só prefiro fazer isso eu mesma — disse.

— Bem, é complicado aplicar uma injeção — disse Klein. — Uma bolha de ar pode ser muito perigosa.

— Eu sei aplicar — disse Sharon. — Minha mãe tinha uma casa de repouso em Oregon.

— Ah, você aplicaria, Shar? — perguntou Chris. — Ficaria aqui esta noite?

— Bem, teria que ser mais do que só uma noite — disse Klein. — Pode ser que ela precise de alimentação intravenosa, dependendo de como ficar.

— Pode me ensinar a aplicar? — perguntou Chris a ele. Olhava para ele com muita ansiedade. — Preciso fazer isso.

Klein assentiu e disse:

— Claro. Creio que posso.

Ele fez uma prescrição para torazina e seringas descartáveis, e entregou a Chris.

— Compre isto agora mesmo.

Ela a entregou a Sharon.

— Sharon, cuide disto para mim, pode ser? Telefone e eles enviam. Quero acompanhar o doutor enquanto ele faz os exames. — disse Chris, virando-se para o médico. — O senhor se importa?

Klein notou a ansiedade em seus olhos, a impotência, a confusão.

— Claro que não, sei como se sente. Sinto a mesma coisa quando converso com o mecânico sobre meu carro.

Chris olhou para ele sem saber o que dizer.

Eles saíram de casa exatamente às 18h18.

No laboratório, no prédio Rosslyn, Klein realizou uma série de exames. Primeiro, analisou as proteínas.

Normal.

Em seguida, a contagem de células sanguíneas.

— Há muitos glóbulos vermelhos — Klein explicou —, o que significa hemorragia. Ter muitos brancos significaria infecção.

Ele estava à procura de uma infecção por fungos, que normalmente era a causa do comportamento bizarro e crônico. E, mais uma vez, tudo normal.

Por fim, Klein examinou o açúcar no fluido.

— Por quê? — perguntou Chris.

— Bem, o açúcar na espinha deve representar dois terços da quantidade de açúcar no sangue. Qualquer mudança para menos dessa proporção indicaria uma doença na qual a bactéria começa a comer o açúcar do fluido espinhal e, se for o caso, poderia explicar os sintomas de sua filha.

Mas não havia alteração.

Chris cruzou os braços e balançou a cabeça.

— E lá vamos nós, pessoal — Ela murmurou de forma sombria.

Durante um tempo, Klein pensou. Finalmente, virou-se e olhou para Chris.

— Você tem drogas em casa?

— Quê?

— Anfetaminas? LSD?

Chris balançou a cabeça e disse:

— Não. Olha, posso garantir. Não há nada do tipo.

Klein assentiu, olhou para os sapatos e voltou a olhar para Chris, dizendo:

— Acho que está na hora de procurarmos um psiquiatra.

Chris chegou em casa exatamente às 19h21. À porta, chamou:

— Sharon?

Não obteve resposta. Sharon não estava ali.

Chris subiu a escada para o quarto de Regan e a encontrou dormindo profundamente, sem qualquer mudança. Chris sentiu um cheiro de urina no quarto. Olhou da cama para a janela. Meu Deus, está escancarada! Ela pensou que Sharon devia ter aberto a janela para arejar o quarto. Mas onde estava ela? Aonde tinha ido? Chris se aproximou, fechou e trancou a janela, depois desceu de novo e viu Willie entrando na casa.

— Oi, Willie. Vocês se divertiram hoje?

— Fizemos compras, senhora. E fomos ao cinema.

— Onde está Karl, Willie?

Willie balançou a mão num gesto de frustração.

— Ele me deixou assistir aos Beatles dessa vez. Sozinha.

— Que bom!

— Sim, senhora.

Willie ergueu dois dedos, fazendo o “V” de vitória.

Eram 19h35.

Às 20h01, enquanto Chris estava no escritório, ao telefone com seu agente, ouviu a porta da frente sendo aberta e fechada, ouviu passos de salto se aproximando e viu Sharon entrar no escritório com diversos pacotes nos braços e colocá-los no chão. A secretária sentou-se numa poltrona estofada e esperou Chris terminar a conversa.

— Onde você estava? — perguntou Chris quando desligou.

— Ah, ele não disse?

Quem não me disse o quê?

— Burke. Ele não está aqui?

— Ele esteve aqui?

— Quer dizer que ele não estava quando você chegou em casa?

— Olha, comece do começo — disse Chris.

— Ai, aquele maluco — disse Sharon, balançando a cabeça. — Não consegui fazer com que a farmácia entregasse o pedido, então, quando Burke chegou, pensei que ele poderia ficar aqui com Regan enquanto eu saía para buscar a torazina. — Ela balançou a cabeça de novo. — Eu já devia saber.

— É, eu acho que devia. E então, o que você comprou?

— Bem, como pensei que teria tempo, comprei um lençol de borracha para colocar na cama de Regan.

— Você comeu?

— Não, pensei em preparar um sanduíche. Quer um?

— Boa ideia.

— O que houve com os exames? — perguntou Sharon enquanto caminhavam até a cozinha.

— Todos deram negativo — respondeu Chris. — Vou ter que procurar um psicólogo.

Depois dos sanduíches e do café, Sharon mostrou a Chris como aplicar uma injeção.

— As duas maiores preocupações ao aplicar uma injeção são cuidar para que não haja nenhuma bolha de ar e para não acertar uma veia. Veja, puxar um pouco, assim — disse, prosseguindo a demonstração —, e ver se há sangue na seringa.

Durante um tempo, Chris praticou o procedimento numa toranja, e pareceu conseguir. E então, às 21h28, a campainha tocou. Willie atendeu. Era Karl. Enquanto atravessava a cozinha, a caminho de seu quarto, ele disse boa-noite e comentou que havia esquecido sua chave.

— Não acredito — disse Chris a Sharon. — É a primeira vez que ele admite ter cometido em erro.

Elas passaram a noite assistindo televisão no escritório.

Às 23h46, Sharon atendeu o telefone e o passou a Chris, dizendo:

— É Chuck.

O jovem diretor da segunda unidade. Ele estava sério.

— Você soube o que aconteceu, Chris?

— Não. O quê?

— É uma notícia ruim.

— Ruim?

— Burke morreu.

Estava bêbado. Havia tropeçado. Havia caído da escadaria atrás da casa até o chão, onde um pedestre que passava na rua M o viu, caindo em direção à escuridão sem fim. Pescoço quebrado. Uma cena horrorosa.

Chris soltou o telefone chorando e levantou-se sem firmeza. Sharon correu até ela e a segurou, desligou o telefone e a levou ao sofá.

— Chris, o que foi? O que houve?

— Burke morreu!

— Meu Deus, Chris! Não! O que aconteceu?

Mas Chris balançou a cabeça. Não conseguia falar. E chorou.

Mais tarde, elas conversaram. Por horas. Chris bebeu. Lembrou-se de Dennings. Riu. E chorou.

— Ah, meu Deus — Ela não parava de sussurrar. — Coitado do maluco do Burke... Coitado do Burke...

A ideia da morte não se afastava.

Um pouco depois das cinco da manhã, Chris estava de pé atrás do bar, com os cotovelos sobre a superfície, a cabeça baixa e os olhos muito tristes enquanto esperava Sharon voltar da cozinha com um balde de gelo. Então, por fim, Sharon voltou e, ao entrar não escritório, disse:

— Ainda não acredito.

Chris olhou para a frente. Depois, para o lado. E ficou paralisada.

Caminhando como uma aranha, rapidamente, logo atrás de Sharon, com o corpo arqueado para trás e a cabeça quase tocando os pés, estava Regan, mexendo a língua sem parar enquanto sibilava e mexia a cabeça levemente para a frente e para trás, como uma cobra.

Com o olhar grudado na filha, Chris disse:

— Sharon?

Sharon parou. Regan também. Sharon virou-se e não viu nada. E então gritou e sobressaltou-se ao sentir a língua de Regan em seu tornozelo.

Chris levou a mão ao rosto pálido.

— Telefone para aquele médico e o tire da cama! Agora!

Aonde Sharon ia, Regan a seguia.