Capítulo 1

FONÉTICA E FONOLOGIA

A NOSSA LÍNGUA

E verdadeiramente que não tenho a nossa língua por grosseira, nem por bons os argumentos com que alguns querem provar que é essa; antes é branda para deleitar, grave para engrandecer, eficaz para mover, doce para pronunciar, breve para resolver, acomodada às matérias mais importantes da prática e escritura. Para falar é engraçada, com modo senhoril; para cantar é suave, com um certo sentimento que favorece a música; para pregar é substanciosa com uma gravidade que autoriza as razões e as sentenças; para escrever cartas nem tem infinita cópia que dane, nem brevidade estéril que a limite; para histórias nem é tão florida que se derrame, nem tão seca que busque o favor das alheias. A pronunciação não obriga a ferir o céu da boca com aspereza, nem arrancar as palavras com veemência do gargalo.

Escreve-se da maneira que se lê, e assim se fala. Tem de todas as línguas o melhor: a pronunciação da latina, a origem da grega, a familiaridade da castelhana, a brandura da francesa e a elegância da italiana.

Rodrigues Lobo

1.1 INTRODUÇÃO

A gramática normativa ou expositiva é o conjunto de normas e regras que nos ensinam a falar e escrever corretamente a nossa língua, ou, por outras palavras, é a sistematização dos fatos contemporâneos de uma língua. Por isso, a gramática normativa é a ciência da linguagem, a qual linguagem se entende como sendo o conjunto de sinais pelos quais o homem expressa os seus pensamentos, ou seja, comunica-se.

A comunicação, indispensável a todo homem social, manifesta-se por meio de uma mensagem, para a qual concorrem seis elementos, segundo o linguista Roman Jakobson:

Fig.1 – Processo de comunicação

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Essa capacidade comunicativa dá-se por meio de um sistema natural de palavras de que se servem os grupamentos humanos para comunicarem seus pensamentos entre si. Esse sistema de signos vocais distintos e significativos é denominado de língua. A utilização da língua pelo indivíduo denomina-se fala. Por fala entende-se a faculdade que tem o homem de se expressar, de se comunicar por meio de palavras. Já a palavra é um som oral ou uma combinação de sons orais, que exprime a ideia de alguma coisa. O conjunto de todas as palavras de uma língua forma o seu vocabulário ou léxico. As palavras, expressão das ideias, combinam-se para formar a frase, expressão do pensamento. Quando a frase expressa um sentido completo, forma-se, então, uma proposição. É justamente essa sistematização dos fatos da linguagem o objeto de estudo da gramática.

1.2 GRAMÁTICA

Na valorosa definição do mestre Eduardo Carlos Pereira, a Gramática “é a ciência das palavras e suas relações, ou a arte de usar as palavras com acerto na expressão do pensamento”.

Em sua divisão mais tradicional, temos:

a) fonética – estudo dos fonemas em geral;

b) morfologia – estudo das palavras quanto à estrutura e à formação, à classificação e à flexão – é o estudo das palavras tomadas isoladamente; e

c) sintaxe – estudo das palavras relacionadas umas com as outras em uma oração – é a teoria da frase.

Estudaremos a partir de agora a primeira grande divisão da gramática normativa: fonética. A NGB – Nomenclatura Gramatical Brasileira – preferiu a denominação de “fonética” à de “fonologia”. Embora alguns autores, como o mestre M. Said Ali, coloquem esses dois vocábulos praticamente como sinônimos, preferimos – na mesma esteira da NGB –, denominar de “fonética” a parte da gramática normativa que examina os sons e suas mudanças, atendendo à maneira de os pronunciar.

1.3 FONÉTICA

Como já vimos, a fonética é a parte da gramática que estuda a formação, a evolução e a classificação dos sons da língua, sons que tomam o nome especial de fonemas. Aos sentidos de quem fala, apresenta-se a palavra como um todo sonoro e significante. Por isso, os sons, produzidos por quem fala e recebidos por quem ouve, despertam as imagens por meio das quais se dá o entendimento.

A fonética pode ser: descritiva, histórica e sintática. A primeira trata da formação e descrição dos fonemas. A segunda estuda as modificações que sofreram e sofrem os fonemas em suas fases sucessivas, enquanto a terceira estuda as modificações que sofrem os fonemas de certas palavras quando, por influência de outras que a elas se associam, formam um só todo fonético.

Por seu turno, a fonologia é o estudo dos fonemas em suas variantes posicionais, combinações e condições prosódicas.

1.3.1 APARELHO FONADOR

Os seres humanos não dispõem de aparelho especial para falar. Utilizam-se, para tanto, do aparelho respiratório e da parte superior do aparelho digestivo. A este conjunto especial de órgãos que contribuem para a produção da fala denomina-se “aparelho fonador” ou simplesmente, como preferem alguns, “órgãos da fala”.

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A fala é produzida pela corrente de ar expiratória. Desde o momento em que o indivíduo se dispõe a falar, opera-se em todo o aparelho uma tensão geral: o sopro é emitido com mais vigor do que o sopro da respiração simples; a traqueia toma posições, estreitando e alargando os seus anéis; na laringe, as cordas vocais se preparam e o sopro as faz vibrar; da faringe, a vibração é dirigida, por meio da úvula, ou para a boca, se deve ser oral, ou para as fossas nasais, se deve ser nasalada. Nesta caixa de ressonância, que é a boca e seus pertences (língua, dentes, bochechas e lábios), a vibração se completa, transformando-se em som.

Os sons fundamentais da voz humana denominam-se de “fonemas”. Os fonemas, portanto, são as menores unidades sonoras da nossa fala e se classificam em: vogais, semivogais e consoantes.

1.4 ESTUDO DAS VOGAIS E DOS ENCONTROS VOCÁLICOS

São cinco as vogais na nossa língua: a, e, i, o, u. São sons musicais que saem livremente pelo tubo vocal. Constituem, em português, a base das sílabas.

Em certos casos, os fonemas “i, u”, representando os fonemas /y/ e /w/ respectivamente, são considerados semivogais sempre que soam juntamente com a vogal de uma sílaba.

1.5 CLASSIFICAÇÃO DAS VOGAIS

a) Quanto à zona de articulação: anteriores, médias e posteriores.

b) Quanto ao timbre: abertas, fechadas e reduzidas.

c) Quanto ao papel das cavidades bucal e nasal: orais e nasais.

d) Quanto à intensidade: átonas e tônicas.

1.5.1 QUANTO À ZONA DE ARTICULAÇÃO

A vogal “a” forma-se com a maior abertura da boca, ficando a língua em posição de quem respira em silêncio (posição média ou neutra). Por isso, a vogal “a” é chamada de “média, medial ou central”.

Se a língua se eleva gradualmente para a frente, formam-se as vogais anteriores ou palatais (é, ê, e, i); se se eleva para trás, formam-se as vogais posteriores ou velares (ó, ô, o, u). Observe figura abaixo.

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Observe nas figuras acima a distribuição triangular das vogais quanto à zona de articulação.

1.5.2 QUANTO AO TIMBRE

O timbre de uma vogal é dado pela maior ou menor proximidade da língua com o palato. Na vogal aberta, a língua se abaixa: é, ó. Na vogal fechada, a língua se eleva: ê, ô, i, u. Por isso, as vogais são classificadas quanto ao timbre em:

a) Abertas á, é, ó = pá, pé, pó.

b) Fechadas ê, ô: vê, avô.

c) Reduzidas a (bela), e (vale), o (pelo)

Observação:

As vogais reduzidas tomam esse nome por pertencerem a sílabas átonas, sendo, pois, pronunciadas fracamente.

1.5.3 QUANTO AO PAPEL DAS CAVIDADES BUCAL E NASAL

Quanto ao papel das cavidades bucal e nasal, as vogais classificam-se em:

a) Orais que se formam com o véu palatino levantado, saindo a coluna de ar somente pela boca: a, e, i, o, u.

b) Nasais que se formam com o abaixamento do véu palatino, distribuindo-se a coluna de ar pela boca e nariz: ã, ẽ, ĩ, õ, ũ.

1.5.4 QUANTO À INTENSIDADE

Quanto à intensidade, as vogais podem ser átonas ou tônicas. A vogal tônica é pronunciada com mais intensidade que as outras. Encontra-se na sílaba tônica da palavra. Excetuando-se as sílabas tônica e subtônica de uma palavra, as demais são chamadas de átonas. As vogais dessas sílabas átonas são também átonas. Observe:

acarajé

lâmpada

a – átona

c

a – átona

r

a – átona

j

é – tônica

l

â – tônica

m

p

a – átona

d

a – átona

1.6 ENCONTROS VOCÁLICOS

Encontro vocálico é a sucessão de vogais em um vocábulo – gaiola, Bahia, caule, Uruguai, averiguei. Classificam-se em: ditongo, hiato e tritongo.

1.6.1 DITONGOS

Ditongo (gr. di = duplo, phthonggos = som) é a sucessão de vogal e semivogal, ou vice-versa, na mesma sílaba. Dividem-se em: orais e nasais, crescentes e decrescentes.

São denominados de crescentes os ditongos em que a semivogal vem em primeiro lugar. Teremos, portanto, “semivogal + vogal”. Exemplos: glória, vácuo, espécie, oblíqua etc.

São denominados de decrescentes os ditongos em que a vogal vem em primeiro lugar. Teremos, portanto, “vogal + semivogal”. Exemplos: vai, lauda, rei, meu, boi etc.

a) São orais aqueles em que o ar sai tão somente pela cavidade bucal. Exemplos: meu, teu, pai, ouro, série.

b) São nasais aqueles em que o ar sai tanto pela cavidade bucal quanto pelas fossas nasais. Exemplos: pão, capitães, cantam, tem.

Observação:

É importante, neste momento, relembrar uma importante lição: não se deve confundir fonema (= som) com letra. Isto porque há vários ditongos que aparentemente não são ditongos, mas a pronúncia os denuncia – notadamente os ditongos nasais formados por uma vogal seguida da consoante nasal “m”. Observe por exemplo o vocábulo “bem”: aparentemente não temos ditongo, mas, quando o pronunciamos “beĩ”, percebemos que se trata do encontro da vogal “e” com a semivogal “ĩ”. Vejamos outros exemplos:

sem, amam, andam, escrevem, puseram, deviam, porém, nem.

Vejamos abaixo uma pequena lista dos principais ditongos em nossa língua:

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Nota: Quando a semivogal (também chamada de vogal assilábica) vem depois da vogal, é chamada de “subjuntiva”; quando vem antes, é chamada de “prepositiva”.

Observação:

Os encontros “IA, IE, IO, UA, UE, UO” em finais átonos, seguidos ou não de “S”, classificam-se quer como ditongos, quer como hiatos, uma vez que ambas as emissões existem na língua portuguesa. Entretanto, hoje a preferência é tratá-los como ditongos, por ser a pronúncia ditongal mais eufônica. Observe:

história his – tó – ria /ou/ his – tó – ri – a

série sé – rie /ou/ sé – ri – e

hóstia hós – tia /ou/ hós – ti – a

tênue tê – nue /ou/ tê – nu – e

vácuo vá – cuo /ou/ vá – cu – o

pátio pá – tio /ou/ pá – ti – o

1.6.2 HIATOS

Hiato (do latim, “hiatus” = abertura) é o encontro de duas vogais pronunciadas em duas emissões sonoras distintas, ou seja, é o encontro de duas vogais que se situam em sílabas distintas, por isso são pronunciadas separadamente. Vejamos alguns exemplos:

Israel, Misael, aorta, sde, ideal, reeleger, atsta, dsmo, teologia, sab, hiato, ariano, piedade, ciente, miolo, viola, espionar, cme, vva, lagoa, poeta, coentro, cooperar, álcool, tua, sua, pirueta, jesta, rna, casstica, ruim, constituinte.

1.6.3 TRITONGOS

Tritongo (gr. tri = três, phthonggos = som) é a combinação silábica em que, soando em conjunto com a vogal, existem duas semivogais. Teremos, então, “semivogal + vogal + semivogal” numa mesma sílaba. Vejamos alguns exemplos:

ORAIS iguais, Paraguai, Uruguai, minguou, apaziguou, quão

NASAIS saguões, enxáguem, dilinquem, mínguam

1.7 ESTUDO DAS CONSOANTES, DOS ENCONTROS CONSONANTAIS E DOS DÍGRAFOS

Buscando esteio nas preciosas palavras do ilustre gramático Gladstone Chaves de Melo, consoante “é um fonema em que predomina a articulação sobre a fonação, o fechamento sobre a abertura, o ruído sobre a musicalidade; fonema que, na língua portuguesa, não pode constituir sozinho uma sílaba, mas, pelo contrário, se agrega necessariamente a uma vogal; fonema, portanto, assilábico”.

Logo, as consoantes são os fonemas produzidos pela corrente expiratória que, ao atravessar a boca, é interceptada no todo ou em parte, isto é, fonemas formados pela corrente expiratória, que encontra obstáculo na aproximação ou contato dos órgãos bucais. São, portanto, sons laríngeos, ou seja, formados na laringe e caracterizados por maior aproximação das partes móveis da boca.

1.7.1 CLASSIFICAÇÃO DAS CONSOANTES

Classificam-se as consoantes:

1) Quanto ao modo de articulação;

2) Quanto ao ponto de articulação;

3) Quanto ao papel das cordas vocais.

1.7.1.1 Quanto ao modo de articulação

De duas maneiras se pode produzir uma consoante: ou fechando-se o canal bucal, ou estreitando-se o canal bucal. Por isso, quanto ao modo de articulação as consoantes podem ser:

1) oclusivas que se formam quando o canal da boca se fecha (oclusão) para em seguida se abrir subitamente, numa verdadeira explosão. Por causa disso, são também chamadas de “explosivas” ou “instantâneas”. Como exemplos, temos os fonemas surdos “pê, tê, quê” e os fonemas sonoros “bê, dê, guê”.

2) constritivas que se formam pelo estreitamento do canal bucal, saindo a corrente de ar apertada ou constrita. De acordo com a maneira de escoamento do ar, dividem-se em:

a) Fricativas ou sibilantes quando há um ruído na fricção: f, s, x [chê], v, z, g [jê].

b) Laterais quando a corrente de ar escapa pelas laterais da cavidade bucal: l, lh.

c) Vibrantes quando o ápice da língua provoca uma tremulação contra os alvéolos: r, rr.

1.7.1.2 Quanto ao ponto de articulação

Quanto ao ponto de articulação, isto é, o lugar onde se produz o fonema, classificam-se as consoantes em:

1. Bilabiais os lábios se tocam e se apertam levemente: p, b, m.

2. Labiodentais contato do lábio inferior com o bordo dos incisivos superiores: f, v.

3. Linguodentais contato da ponta da língua com a parte interna dos incisivos superiores: t, d.

4. Alveolares a língua toca no alvéolo dos dentes, isto é, na altura da raiz dos dentes superiores: s, z, r, rr, l, n.

5. Palatais contato da parte anterior da língua com o palato duro: x, g [chiante], lh, nh.

6. Velares contato da parte posterior da língua com o véu palatino: c [k], g [guê], q.

1.7.1.3 Quanto ao papel das cordas vocais

Quanto ao papel das cordas vocais, as consoantes se classificam em surdas e sonoras.

1. Surdas quando não há vibração das cordas vocais: p, t, q, f, s, x.

2. Sonoras quando há vibração das cordas vocais: b, d, g [jê], m, n, nh, l, lh, r, rr.

Observação:

Para verificarmos, na prática, se há vibração das cordas vocais, devemos tapar os ouvidos durante a articulação do fonema. Se percebermos um zumbido, é sinal de que as cordas vocais vibraram, e os fonemas assim produzidos são sonoros. Caso contrário, os fonemas são surdos, por ausência de vibração.

1.7.2 ENCONTROS CONSONANTAIS

Dá-se o nome de encontro consonantal à sequência de consoantes num vocábulo, ou seja, a contiguidade de duas ou três consoantes efetivamente pronunciadas. Observe:

blusa

fluvial

gnóstico

rítmico

pneu

regra

prato

glândula

bronco

planta

branco

psicanálise

vidro

francês

claro

mnemônico

atlântico

palavra

digno

ptialina

Observações:

a) Quando as duas consoantes se encontram em uma mesma sílaba, diz-se que o encontro consonantal é próprio ou perfeito. Quando as consoantes ficam em sílabas diferentes, diz-se que o é um encontro consonantal impróprio ou imperfeito. Observe os exemplos:

Encontros consonantais próprios ou perfeitos: blu-sa, bru-to, cri-vo, fla-ma, gló-ria, pra-to, tra-to, li-vre.

Encontros consonantais impróprios ou imperfeitos: af-ta, ic-tiólogo, rit-mo, ad-jetivo, ab-soluto.

b) Frise-se que o encontro consonantal é avaliado sempre como fonema. Por isso, é importante, mais uma vez, não confundir “fonema” com “letra”. Na palavra, “FIXO”, por exemplo, temos um encontro consonantal representado pela letra “x”, já que ela representa o fonema /cs/. É o que também ocorre nos vocábulos “táxi, reflexo, asfixia” entre outros, nos quais a letra “x” representa dois fonemas.

1.7.3 DÍGRAFOS

Chama-se dígrafo (ou digrama) o agrupamento de consoantes o qual representa apenas um som. Mais uma vez, é fundamental não confundir com encontro consonantal. Neste, temos consoantes que representam mais de um fonema; naquele, temos consoantes que representam um único fonema.

São dígrafos:

1. ch, lh, nh = chapéu, malha, palha, ninho, rainha, pilha, alho, trabalho, lhama, sonho, lenha.

2. rr, ss = carro, interromper, terremoto, cassado, massa, passado, ressurgir, prorrogar.

3. gu, qu (antes de “e” e “i”) = guerra, que, quatorze, equipagem, distinguir.

4. sc, sç, xc = fascinar, desça, piscina, excelência, excêntrico.

Observação:

Há também em nossa língua os chamados dígrafos vocálicos, isto é, os que são formados por “am, an, em, en, im, in, om, on, um, un (que representam vogais nasais)”. Na realidade, temos a formação de uma sílaba nasal pela junção de uma vogal inicial ou medial, seguida de “m” antes de “p” e “b”, e “n” antes de qualquer outra consoante. Portanto, as sílabas abaixo sublinhadas representam dígrafos vocálicos:

limpo

tumba

campo

longe

também

santo

mentira

1.7.4 CONTAGEM DE LETRAS E FONEMAS EM UM VOCÁBULO

Eis um dos pontos bastante cobrados nos concursos em geral. Por isso, fique atento!

Como já mencionamos, é importantíssimo não confundir letra com fonema (som) – são coisas bem diversas. Em princípio, as letras existem para exprimir os sons. É, como já dissemos, uma representação gráfica do som. Logo, é preciso ter cuidado ao se contar as letras e os fonemas (sons) de um vocábulo, pois é preciso ficar muito atento, notadamente com os dígrafos e com os encontros consonantais, para se evitarem erros.

1.7.5 SÍLABA

Recebe o nome de sílaba o fonema ou o conjunto de fonemas produzidos numa só emissão de voz na enunciação de um vocábulo. Veja: ca-dei-ra; a-ba-ca-xi; co-or-de-na-ção.

Toda sílaba possui um núcleo ou ápice de sonoridade, que, em português, é necessariamente uma vogal. Daí as sílabas serem classificadas em:

a) Simples quando apresentam uma só vogal. Ex.: dor, sol.

b) Compostas quando apresentam mais de uma vogal.
Ex.: caule, pau.

c) Complexas quando apresentam mais de uma consoante.
Ex.: triste, flor.

d) Incomplexas quando apresentam apenas uma consoante.
Ex.: vá, cá.

e) Abertas quando terminam por vogal. Ex.: ca-na-pé, me-ni-na.

f) Fechadas ou travadas quando terminam por consoante.
Ex.: tu-tor, al-mas.

1.7.5.1 Classificação dos vocábulos quanto ao número de sílabas

Em nossa língua, os vocábulos podem também ser classificados em relação à quantidade de sílabas que apresentam. Saliente-se que a quantidade de sílabas é o tempo da prolação de sua vogal.

Quanto ao número de sílabas que possuem, os vocábulos podem ser classificados em: monossílabos, dissílabos, trissílabos e polissílabos.

a) Monossílabos possuem uma só sílaba.
Ex.: nó, dó, só, lá, vem, não, sol.

b) Dissílabos possuem duas sílabas.
Ex.: vovó, café, chulé, amém, meio, aí.

c) Trissílabos possuem três sílabas.
Ex.: caneca, menina, moinho, cortejo, lâmpada.

d) Polissílabas possuem quatro ou mais sílabas.
Ex.: macaxeira, brotoeja, Itamaracá, Guaratinguetá.

Observação:

Alguns gramáticos de renome preferem a denominação “tetrassílabo”, para os vocábulos com quatro sílabas, e “polissílabo” para os vocábulos com mais de quatro sílabas.

1.7.5.2 Tonicidade

Em geral, uma das sílabas do vocábulo se pronuncia com mais força do que as outras – é a denominada sílaba tônica. Tonicidade ou acentuação tônica, portanto, é a pronunciação forte ou intensa de uma sílaba. As demais sílabas que não apresentam a força tônica são chamadas de “atônicas” ou “átonas”. Veja alguns exemplos:

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Por ser pronunciada mais fortemente do que as outras, diz-se que a sílaba tônica recebe o chamado “acento tônico”, denominado também de “acento prosódico”. Saliente-se, entretanto, que o acento tônico não consiste na altura ou duração da voz, mas na voz forte ou intensa, a qual salienta a sílaba sobre a qual ele recai.

Cuidado! Não confunda o acento tônico com os acentos gráficos ou sinais diacríticos, pois em várias situações a língua se vale de acentos gráficos para marcar a sílaba tônica a fim de se evitarem problemas de prosódia. Para aprofundar tal conhecimento, sugerimos consultar (e estudar) o assunto “acentuação gráfica”.

1.7.6 DIVISÃO SILÁBICA

A divisão de qualquer vocábulo, assinalada pelo hífen, em regra se faz pela soletração, isto é, a divisão leva em conta critérios fonéticos, e não etimológicos. Traduzindo: basta soletrar a palavra e dividi-la como se lê, independente de seus elementos constitutivos etimológicos.

Para que se faça uma correta divisão silábica, é essencial respeitar as seguintes regras:

1. Não se separam as vogais dos ditongos – crescentes e decrescentes – nem as dos tritongos. Observe:

aurora au – ro – ra

Paraguai Pa – ra – guai

cruéis cru – éis

meio mei – o

ódio ó – dio

guaiar guai – ar

animais a – ni – mais

Uruguai U – ru – guai

iguais i – guais

coisa coi – sa

enjeitar en – jei – tar

joias joi – as

Observação:

Embora os encontros “IA, IE, IO, UA, UE, UO” de finais átonos, seguidos ou não de “S”, possam ser analisados tanto como ditongos quanto como hiatos, a tendência hoje é considerá-los apenas como ditongos. Por isso, tais grupos vocálicos devem – preferencialmente – permanecer numa mesma sílaba.

enciclopédia en – ci – clo – pé – dia

barbárie bar – bá – rie

lírio lí – rio

2. No interior do vocábulo, sempre se conserva na sílaba anterior a consoante não seguida de vogal. Veja:

abdicar ab – di – car

étnico ét – ni – co

subjugar sub – ju – gar

occipital oc – ci – pi – tal

dracma drac – ma

subpor sub – por

opção op – ção

segmento seg – men – to

3. Não se separam os encontros consonantais iniciais de sílabas nem os dígrafos “ch, lh, nh”. Observe:

pechinchar pe – chin – char

manhã ma – nhã

apetrecho a – pe – tre – cho

folha fo – lha

blusão blu – são

brotoeja bro – to – e – ja

Observação:

Os encontros “bl” e “br” nem sempre formam grupos articulados perfeitos, isto é, nem sempre permanecem na mesma sílaba. Isto se dá porque em alguns casos o “l” e o “r” são pronunciados separadamente. Veja alguns exemplos:

sublingual sub – lin – gual

sub-rogar sub – ro – gar

sublocar sub – lo – car

sublinhar sub – li – nhar

sub-reptício sub – rep – tí – cio

sub-reitor sub – rei – tor

4. Não se separam os grupos “GU” e “QU” da vogal que os segue, quer esta esteja ou não acompanhada de consoante. Observe:

ambíguo am – bí – guo

quota quo – ta

ubíquo u – bí – quo

légua lé – gua

quebradeira que – bra – dei – ra

guerra guer – ra

queijo quei – jo

delinquente de – lin – quen – te

5. Não se separa a consoante inicial não seguida de vogal, ou seja, a consoante inicial não seguida de vogal permanece na sílaba em que se encontra. Observe:

pseudônimo pseu – dô – ni – mo

gnomo gno – mo

pterossauro pte – ros – sau – ro

cnêmide cnê – mi – de

gnosiologia gno – sio – lo – gi – a

pneumático pneu – má – ti – co

6. Separam-se os dígrafos “RR, SS, SC, SÇ, XS” no interior dos vocábulos, ficando uma consoante numa sílaba e a outra na sílaba imediata. Observe:

piscina pis – ci – na

cônscio côns – cio

prescindir pres – cin – dir

exceção ex – ce – ção

correição cor – rei – ção

excelente ex – ce – len – te

adolescente a – do – les – cen – te

convalescer con – va – les – cer

rescindível res – cin – dí – vel

ressurreição res – sur – rei – ção

prorrogação pror – ro – ga – ção

exsurgir ex – sur – gir

7. O “S” dos prefixos “bis-, cis-, des-, dis-, trans-” não se separa quando a sílaba seguinte começa por consoante. Caso a sílaba seguinte comece por vogal, o “S” se desprenderá do prefixo e formará sílaba com esta vogal. Observe:

transformar trans – for – mar

mas...

transatlântico tran – sa – tlân – ti – co

bisneto bis – ne – to

mas...

bisavô bi – sa – vô

descascar des – cas – car

mas...

desamor de – sa – mor

cisplatino cis – pla – ti – no

mas...

cisandino ci – san – di – no

discorrer dis – cor – rer

mas...

disenteria di – sen – te – ri – a

8. As vogais idênticas e as letras “CC, CÇ” separam-se, ficando uma numa sílaba e a outra na sílaba consequente. Veja os exemplos:

inteleão in – te – lec – ção

occipital oc – ci – pi – tal

álcool ál – co – ol

interseão in – ter – sec – ção

cooperador co – o – pe – ra – dor

caatinga ca – a – tin – ga

frssimo fri – ís – si – mo

veemente vê – e – men – te

9. Separam-se as vogais que formam hiatos. Veja:

saúde sa – ú – de

jesuíta je – su – í – ta

egoísmo e – go – ís – mo

carnaúba car – na – ú – ba

viúva vi – ú – va

canaãense ca – na – ã – en – se

Observação final:

Nas translineações – passagem de uma linha para outra nos textos escritos, quando o fenômeno da separação de um vocábulo ao final de uma linha fica mais evidente –, convém ficar atento às seguintes orientações:

a) Não se deve deixar vogal solta nem na linha antecedente, nem na linha consequente, isto é, não se isola sílaba de uma só vogal. Observe:

AMÁ – VEL (e não “A – MÁVEL”)

ITA – JAÍ (e não ITAJA – Í ou I – TAJAÍ)

b) Deve-se evitar a separação de vocábulos dissílabos do tipo “aí, caí, saí, lua, rua”, em que uma das sílabas é formada apenas por vogal.

c) Na translineação de uma palavra composta ou de uma combinação de palavras em que há um hífen, ou mais, se a partição coincide com o final de um dos elementos ou membros, deve, por clareza gráfica, repetir-se o hífen no início da linha imediata. Observe:

________________________terça-

-feira________________________

__________________________ex-

-diretor______________________

1.8 QUESTÕES DE CONCURSOS PÚBLICOS

1. (PUCRJ) Um mesmo fonema pode ser grafado de diferentes maneiras. Qual a lista de palavras que exemplifica essa afirmação?

a) paciente, centro, existência

b) existência, meses, batizaram

c) projeto, prejudicando, propõe

d) quem, quando, psiquiatra

e) coisa, incomoda, continuidade

2. (PUCSP) As palavras rapaziada, assustado, borracha apresentam, respectivamente:

a) 8 fonemas / 9 letras; 9 fonemas / 9 letras; 5 fonemas / 7 letras

b) 9 fonemas / 8 letras; 8 fonemas / 9 letras; 5 fonemas / 8 letras

c) 9 fonemas / 9 letras; 8 fonemas / 9 letras; 6 fonemas / 9 letras

d) 9 fonemas / 9 letras; 8 fonemas / 9 letras; 6 fonemas / 8 letras

e) 8 fonemas / 8 letras; 8 fonemas / 9 letras; 5 fonemas / 7 letras

3. (PUCSP) As palavras folheada, lânguido, antigos, vento apresentam o seguinte número de fonemas e letras, respectivamente:

a) 7- 8; 6- 8; 6- 7; 4- 5

b) 6- 7; 7- 8; 4- 5; 6- 7

c) 6- 7; 6- 7; 7- 8; 4- 5

d) 4- 5; 6- 7; 6- 8; 7- 8

e) 7- 8; 6- 7; 6- 8; 4- 5

4. (Unirio – RJ) Identifique a opção em que a palavra apresenta ao mesmo tempo um encontro consonantal, um dígrafo consonantal e um ditongo fonético:

a) ninguém

b) coalhou

c) iam

d) nenhum

e) murcham

5. (ACAFE – SC) Assinale, na sequência abaixo, a alternativa em que todas as palavras possuem dígrafos:

a) histórias, impossível, máscaras

b) senhor, disse, achado

c) passarinhos, ergueu, piedade

d) errante, abelhas, janela

e) homem, caverna, velhacos

6. (FFFCMPA) Considere as seguintes afirmações acerca da relação entre letras e fonemas em palavras do texto.

I – Os segmentos sublinhados em componente, acrescentariam e conhecedor representam um só fonema.

II – As letras sublinhadas em ciência, sociocultural e adolescentes representam o mesmo fonema.

III – As palavras holística, essencialmente e conquistas têm, cada uma delas, mais letras que fonemas.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas III.

d) Apenas I e III.

e) I, II e III.

7. (PUCSP) Nas palavras enquanto, queimar, folhas, hábil, grossa, constatamos a seguinte sequência de letras e fonemas:

a) 8- 7; 7- 6; 6- 5; 5- 4; 6- 5

b) 7- 6; 6- 5; 5- 5; 5- 5; 5- 5

c) 8- 5; 7- 5; 6- 4; 5- 4; 5- 4

d) 8- 6; 7- 6; 6- 5; 5- 4; 6- 5

e) 8- 5; 7- 6; 6- 5; 5- 5; 5- 5

8. (PUCSP) Assinale a sequência em que todas as palavras estão partidas corretamente.

a) trans-a-tlân-ti-co / fi-el / sub-ro-gar

b) bis-a-vô / du-e-lo / fo-ga-réu

c) sub-lin-gual / bis-ne-to / de-ses-pe-rar

d) des-li-gar / sub-ju-gar / sub-scre-ver

e) cis-an-di-no / es-pé-cie / a-teu

9. (ITA) Dadas as palavras:

1. des-a-len-to

2. sub-es-ti-mar

3. trans-tor-no,

constatamos que a separação silábica está correta:

a) apenas no número 1

b) apenas no número 2

c) apenas no número 3

d) em todas as palavras

e) n.d.a

10. (AMAN) Assinale a opção em que a divisão silábica não está corretamente feita:

a) a-bai-xa-do

b) si-me-tria

c) es-fi-a-pa-da

d) ba-i-nhas

e) ha-vi-a

GABARITO

1 – B

2 – D

3 – A

4 – E

5 – B

6 – D

7 – D

8 – C

9 – C

10 – B