Capítulo 4

ARTIGO

4.1 DEFINIÇÃO

É a classe de palavra variável que, anteposta ao substantivo, determina-o ou indetermina-o.

O artigo, portanto, interfere na extensão semântica do substantivo.

Ademais, pode-se dizer que o artigo serve para destacar de uma classe um ou mais indivíduos. Observe:

Por favor, pegue um livro para estudar. (Isto é, pegue-se qualquer livro para estudar)

Por favor, pegue o livro para estudar. (Isto é, deve-se pegar um “determinado” livro para estudar)

Ele gosta de fruta. (Isto é, ele gosta de qualquer tipo de fruta)

Ele gosta da fruta. (Isto é, ele gosta daquela fruta, de uma fruta determinada)

4.2 CLASSIFICAÇÃO

Na língua portuguesa os artigos podem ser “definidos” e “indefinidos”. São os seguintes os artigos em nossa língua:

MASCULINOS

FEMININOS

SINGULAR

PLURAL

SINGULAR

PLURAL

ARTIGOS DEFINIDOS

o

os

a

as

ARTIGOS INDEFINIDOS

um

uns

uma

umas

Em muitos casos, os artigos aparecem ora contraídos a preposições, ora combinados com elas. Algumas dessas combinações e contrações já se arcaizaram e não são mais empregadas em nossa língua, como é o exemplo da contração “por + o” e suas variantes. Observe uma pequena tabela que demonstra esse fenômeno.

PREPOSIÇÕES

ARTIGO DEFINIDO

ARTIGO INDEFINIDO

o

a

os

as

um

uma

uns

umas

a

ao

à

aos

às

de

do

da

dos

das

dum

duma

duns

dumas

em

no

na

nos

nas

num

numa

nuns

numas

per

pelo

pela

pelos

pelas

por

polo

pola

polos

polas

4.3 EMPREGO DOS ARTIGOS DEFINIDOS

Regra principal:

Em geral, usa-se o artigo definido com os substantivos tomados em sentido determinado, isto é, que tenham qualquer caracterização clara ou implícita.

As ruas daquela cidade estavam repletas de panfletos do candidato adversário.

“João Romão foi, dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro que enriqueceu entre as quatro paredes de uma suja e obscura taverna nos refolhos do bairro do Botafogo.” (Aluísio Azevedo)

A casa apresentava a frente às colinas.” (Bernardo Guimarães)

O planalto central do Brasil desce, nos litorais do Sul, em escarpas inteiriças, altas e abruptas.” (Euclides da Cunha)

4.3.1 EMPREGOS PARTICULARES DO ARTIGO DEFINIDO

1. Emprega-se o artigo definido antes de nomes próprios de países, regiões, continentes, mares, ilhas, desertos, montes, vulcões, rios, oceanos, lagos, arquipélagos.

o Paquistão

os Alpes

o Atacama (deserto)

o Saara (deserto)

os Andes

o Brasil

o Atlântico (oceano)

o Kilauea (vulcão)

o Himalaia (monte)

o Mediterrâneo

o Ártico

as Malvinas (ilhas)

o Pacífico (oceano)

os Açores

o Ganges

Observação:

Há países que rejeitam o artigo. Outros o facultam.

em França / na França

Visitamos Roma, na Itália.

Chegamos a Curitiba.

em África / na África

Estivemos em Portugal.

2. Emprega-se o artigo definido antes de nomes indicadores de ideias abstratas, como “virtudes e vícios, faculdades e operações da alma, das ciências e das artes”.

Ele sempre amou a justiça.

Ele sempre buscou a arquitetura.

A prosperidade é mais perigosa para a alma que a adversidade para o corpo.

3. Emprega-se o artigo definido antes de nomes de idiomas.

Ele fala muito bem o inglês.

Ainda não domino o alemão.

4. Emprega-se o artigo definido antes de nomes de designam, no singular ou no plural, espécies e gêneros.

O homem é o único ser racional do planeta.

As orquídeas valem muito no mercado externo.

Dos animais, o cão é o mais doméstico.

Os equinos sempre ajudaram o homem.

5. Emprega-se o artigo definido antes de nomes de pessoas quando são usados no trato familiar para indicar afetividade, quando significam membros da mesma família ou quando tais nomes vêm precedidos de qualificativos.

O Marcos arrebentou na prova de Química.

Ainda não falamos com o Antônio sobre o problema.

Foi o soberbo Afonso que provocou a tragédia.

Os Augustos formam uma fantástica família.

6. Emprega-se o artigo definido antes dos nomes dos pontos cardeais e colaterais, tanto no sentido próprio, como designando regiões.

Viajaram em direção ao Oeste.

A casa tinha a frente para o nascente e os fundos para o poente.

Passaremos rapidamente pelo norte do país.

O sul do Brasil sofrerá com as chuvas de inverno.

7. Emprega-se o artigo definido antes dos nomes designativos de festas religiosas e profanas.

o carnaval

a Quaresma

a Páscoa

o São João

o Natal

8. Emprega-se o artigo definido após o pronome indefinido “todo” e suas flexões para reforçar o caráter de totalidade, de inteireza.

Foram para a festa todos os alunos.

Todas as pessoas se retiram abruptamente.

9. É facultativo o emprego do artigo definido antes de pronomes possessivos adjetivos.

seu livro / o seu livro

nossas considerações / as nossas considerações

tuas escolhas / as tuas escolhas

vosso apartamento / o vosso apartamento

Observação:

Quando o possessivo se refere a substantivo oculto, o emprego do artigo definido se faz obrigatório.

Se tu não gostas da / de minha comida, como queres que eu goste da tua?

10. Emprega-se o artigo definido antes de nomes de sentidos opostos (antíteses):

Sr. João ficou entre a vida e a morte.

Tudo que nasce na terra o sol e a chuva criam.

A verdade e a mentira muitas vezes andam juntas.

11. Emprega-se geralmente o artigo definido antes de obras artísticas e literárias.

Os Lusíadas

o Fausto

a Eneida

a Ilíada

4.3.2 NÃO SE EMPREGA O ARTIGO DEFINIDO

1. Antes de vocativos:

Vós, poderoso rei, bem sabeis a importância de vossas decisões.

Quem o chamou aqui, menino?

2. Em provérbios, máximas, adágios e definições:

Palavra de rei não volta atrás.

Galinha de olho torto procura poleiro cedo.

Epizeuxe ou reduplicação é a figura que repete seguidamente a mesma palavra.

Sempre afeição e amor são maiores que as coisas amadas.

3. Entre o pronome relativo “cujo” e suas flexões e o substantivo posposto.

Adquirimos dois livros cujas capas são de madeira.

4. Antes da palavra “casa” quando não acompanhada de determinante:

Vim de casa.

Chegarei a casa por volta das 23h.

Passei em casa na parte da manhã.

Voltarei para casa às 22h.

Entrou em casa e nada falou a respeito do problema.

5. Antes dos nomes designativos dos meses do ano:

“Quando fevereiro chegar, saudade já não mata a gente.” (Geraldo Azevedo)

Chegará em setembro uma remessa de livros didáticos.

6. Antes de substantivos empregados em sentido geral ou indeterminado:

Ela nunca foi a teatro.

Jamais pisarei em estádio de futebol.

Cerveja sempre é bom para um dia quente de verão.

Ele gosta de tortas.

7. Antes de formas de tratamento:

Enfim cheguei ao palácio, onde Sua Majestade me recebeu com graças.

Quer dizer que Vossa Alteza faz poemas?

8. Antes dos pronomes demonstrativos “este, esse, aquele” e suas variações:

Este carro é muito veloz.

Aquela camisa fica muito bem em você.

9. Antes de locuções nas quais figurem nomes de partes do corpo, de faculdades do espírito, dos sentidos, em geral precedidas das preposições “a” e “de”:

de mão beijada

de mãos dadas

de braços abertos

de orelha murcha

de perna aberta

de ouvido

de braço dado

em segunda mão

de braços cruzados

a peito descoberto

de memória

de olhos fechados

a olhos vistos

de cabeça baixa

de rosto alegre

de cor

10. Nos superlativos relativos, também chamados de superlativos exclusivos:

“A mãe falava muito em mim louvando-me extraordinariamente, como o homem mais puro do mundo.” (Drummond)

E não “... como o homem o mais puro do mundo.”

De todos de nossa sala, o Salathiel era o aluno mais humilde.

E não “... era o aluno o mais humilde.”

11. Em termos coordenados sinônimos ou que designem o mesmo indivíduo:

A ira, cólera ou furor, é uma moléstia do espírito.

O imperador da Alemanha e rei da Prússia...

4.4 EMPREGO DOS ARTIGOS INDEFINIDOS

Regra principal:

Em geral, usa-se o artigo indefinido antes dos nomes tomados em sentido vago e indeterminado.

“Levou Deus um dia em espírito ao Profeta Ezequiel a Jerusalém, e o que viu o Profeta foi uma parede ou fachada em que estava um ídolo do zelo.” (Pe. Antônio Vieira – Sermões)

“O presbítero Eurico era o pastor da pobre paróquia de Carteia. Descendente de uma antiga família bárbara.” (A. Herculano)

Despontam o dia com uns largos tragos de aguardente, a teimosa. E rompem estridulamente os sapateados vivos.” (Euclides da Cunha)

“Com a morte dele a flauta voltou a ocupar um lugar secundário como instrumento musical, a que os doutores em música, quer executantes, quer os críticos eruditos, não dão nenhuma importância.” (Lima Barreto)

Observação:

O emprego do artigo indefinido não deve sobrecarregar a frase. Deve ser omitido sempre que a clareza ou a ênfase não o reclamarem.

4.4.1 OUTRAS ORIENTAÇÕES PARA O USO DOS ARTIGOS INDEFINIDOS

1. Não se deve empregar artigo indefinido antes do adjetivo “outro”:

Deve haver outro governo melhor do que este. (E não “Deve haver um outro governo...”)

Ele sempre lança mão de outros livros para as suas pesquisas. (E não “... mão de uns outros livros...”)

2. Por questão de estilo, deve-se evitar o emprego do artigo indefinido antes de apostos explicativos:

Carlos Drummond de Andrade, poeta brasileiro, foi representante do Modernismo. (E não “..., um poeta brasileiro...”)

“Recife, cidade de Pernambuco, é considerada a ‘Veneza brasileira’”. (E não “..., uma cidade de Pernambuco...”)

3. Pode-se antepor o artigo indefinido a um numeral cardinal para indicar aproximação numérica:

Faz uns três anos que ela não dá notícias.

Havia umas dez mil pessoas no show de Roberto Carlos.

4. É importante não confundir os artigos indefinidos “um, uma” com os numerais “um, uma”. A primeira distinção se dá pela noção de quantidade fixa e exata que estes transmitem, ao passo que aqueles transmitem uma ideia vaga, incerta, indefinida. Em segundo lugar, o artigo indefinido possui plural (uns, umas), enquanto o numeral não o tem – em tese, o plural de “um, uma” (numerais) seria “dois, duas”. Observe os exemplos:

19940.png

Observação:

Em muitas situações, porém, a distinção não é muito fácil de ser feita. Neste caso, é preciso ficar muito atento ao contexto para se perceber qual o real sentido (indefinição ou quantidade exata) que se deseja dar ao vocábulo.

4.5 QUESTÕES DE CONCURSOS PÚBLICOS

1. (ESAN-SP) Em qual dos casos o artigo denota familiaridade?

a) O Amazonas é um rio imenso

b) D. Manuel, o Venturoso, era bastante esperto.

c) O Antônio comunicou-se com o João.

d) O professor João Ribeiro está doente.

e) Os Lusíadas são um poema épico.

2. (UFUB-MG) Em uma das frases, o artigo definido está empregado erradamente. Em qual?

a) A velha Roma está sendo modernizada.

b) A “Paraíba” é uma bela fragata.

c) Não reconheço agora a Lisboa do meu tempo.

d) O gato escaldado tem medo de água fria

e) O Havre é um porto de muito movimento.

3. (FMU-SP) Observe as frases seguintes e depois escolha a única alternativa incorreta.

I. Com a Ana ele vai brigar

II. Com Fred ele não vai discutir.

a) A frase I contém um artigo definido, no feminino e no singular, que semanticamente torna Ana mais próxima do emissor.

b) A frase I contém um artigo definido, no feminino e no singular, pois antecede um nome próprio de mesmas características morfológicas.

c) No confronto entre a frase I e a frase II pode-se notar a importância do uso estilístico do artigo.

d) A frase II, dispensando o artigo diante do nome próprio, marca o distanciamento entre o referente e o emissor.

e) A frase II, não contendo artigo definido diante do nome próprio, está errada.

4. (ITA-SP) Determine o caso em que o artigo tem valor de qualificativo.

a) Estes são os candidatos de que lhe falei.

b) Procure-o, ele é o médico! Ninguém o supera.

c) Certeza e exatidão, estas qualidades não as tenho

d) Os problemas que o afligem não me deixam descuidado.

e) Muita é a procura; pouca a oferta.

5. (FATEC-SP) Indique o erro quanto ao emprego do artigo.

a) Em certos momentos, as pessoas as mais corajosas se acovardavam.

b) Em certos momentos, as pessoas mais corajosas se acovardavam.

c) Em certos momentos, pessoas as mais corajosas se acovardam.

d) Em certos momentos, pessoas mais corajosas se acovardam.

6. (UM-SP) Assinale a alternativa em que há erro.

a) Li a notícia no Estado de S. Paulo.

b) Li a notícia em O Estado de S. Paulo.

c) Essa notícia, eu a vi em A Gazeta.

d) Vi essa notícia em A Gazeta.

e) É em O Estado de S. Paulo que li a notícia.

7. (ESAN-SP) Assinale a alternativa correta.

a) Mostraram-me cinco livros. Comprei todos cinco.

b) Mostraram-me cinco livros. Comprei todos cinco livros.

c) Mostraram-me cinco livros. Comprei todos os cinco.

d) Mostraram-me cinco livros. Comprei a todos cinco livros

e) n.d.a

8. (UM-SP) Em qual das alternativas colocaríamos o artigo definido feminino para todos os substantivos?

a) sósia - doente - lança-perfume

b) dó - telefonema - diabetes

c) clã - eclipse - pijama

d) cal - elipse - dinamite

e) champanha - criança - estudante

GABARITO

1 – C

2 – D

3 – E

4 – B

5 – A

6 – A

7 – C

8 – D