Capítulo 6

PRONOME

Observe o exemplo abaixo:

Quem poderia comprar todos estes meus livros que eu adquiri numa promoção em São Paulo?

Perceba que todos os elementos grifados acima ou estão no lugar do substantivo ou estão acompanhando um substantivo.

1. O “quem” exerce a função de sujeito da primeira oração; função típica e própria do substantivo.

2. Os elementos “todos”, “estes” e “meus” se referem ao substantivo “livros”, trazendo, respectivamente, as noções de “cada um”, de “localização espacial” e de “posse”.

3. O elemento “que” retoma e substitui, ao mesmo tempo, o substantivo “livros”.

4. Por fim, o elemento “eu” representa o sujeito do verbo “adquirir”. Exerce, portanto, função própria do substantivo.

6.1 DEFINIÇÃO

A partir do exemplo dado, podemos dizer que a classe de palavra variável que substitui ou acompanha o substantivo é denominada de pronome.

Como o adjetivo, o numeral e o artigo também são classes morfológicas que acompanham o substantivo, podemos afirmar que a grande distinção entre estes e o pronome se dá pelo fato deste último situar o substantivo numa pessoa do discurso.

As pessoas do discurso são:

a) o ser que fala – 1.ª pessoa (eu e nós)

b) o ser com quem se fala – 2.ª pessoa (tu e vós)

c) o ser (ou coisa) de que se fala – 3.ª pessoa (ele e eles)

Logo, é possível também se definir “pronome” como a classe morfológica que substitui e acompanha o substantivo, situando-o numa pessoa do discurso.

6.2 PRONOMES ADJETIVOS E PRONOMES SUBSTANTIVOS

De acordo com as afirmações iniciais, podemos classificar de antemão os pronomes em: substantivos e adjetivos.

Pronome substantivo, como o próprio nome já o diz, é aquele que se põe no lugar do substantivo e passa a exercer uma função típica deste.

Pronome adjetivo, por outro lado, é aquele que acompanha o substantivo, atribuindo-lhe informações acessórias.

Observe:

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6.3 CLASSIFICAÇÃO DOS PRONOMES

Os pronomes se classificam de acordo com suas funções em:

I. Pronomes pessoais

II. Pronomes demonstrativos

III. Pronomes indefinidos

IV. Pronomes possessivos

V. Pronomes relativos

VI. Pronomes interrogativos

6.3.1 PRONOMES PESSOAIS

São assim denominados os pronomes que indicam diretamente as pessoas gramaticais: o falante (1.ª pessoa), o ouvinte (2.ª pessoa) e o que não toma parte na conversa (3.ª pessoa). São classificados em retos, oblíquos e de tratamento.

PRONOMES PESSOAIS

RETOS

OBLÍQUOS

Átonos

Tônicos

EU

ME

MIM, COMIGO

TU

TE

TI, CONTIGO

ELE

O, A, LHE, SE

SI, CONSIGO, ELE, ELA

NÓS

NOS

CONOSCO, NÓS

VÓS

VOS

CONVOSCO, VÓS

ELES

OS, AS, LHES, SE

SI, CONSIGO, ELES, ELAS

6.3.1.1 Emprego dos pronomes pessoais do caso reto (principais regras)

1. A princípio, convém dizer que os pronomes são denominados de “retos” porque exercem função subjetiva, ou seja, funcionam como sujeito de um verbo. Por outro lado, são denominados de oblíquos os pronomes que exercem função complementar.

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2. Importante também perceber que a força de tonicidade do pronome interfere no seu emprego. Os pronomes tônicos, por exemplo, são sempre usados precedidos de uma preposição, fato que não se dá com os átonos, os quais repelem a presença de uma preposição essencial que os reja.

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Observação:

No último exemplo, a preposição “para” que antecede o pronome “eu” rege toda a oração de finalidade. Não está regendo, portanto, o pronome, que é átono.

3. Os pronomes do caso reto “eu” e “tu” só aparecem como sujeito, salvo raras exceções. Por isso, os tais pronomes nunca ocorrerão regidos por preposição. Veja:

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Corrija-se para Não há problemas entre mim e ti, Mário.

Onde está o papel para mim imprimir o trabalho? (construção errada)

Corrija-se para Onde está o papel para eu imprimir o trabalho? (“eu” é o sujeito do verbo “imprimir”)

A notícia chegou até eu. (construção errada)

Corrija-se para A notícia chegou até mim.

Por favor, não saiam sem mim. (A presença da preposição exige que seja usado um pronome tônico)

Eles saíram sem eu dar o dinheiro para o cinema. (O “eu” é o sujeito do verbo “dar”. A preposição “sem” rege a oração)

Observação:

Os pronomes “eu” e “tu” podem, excepcionalmente, aparecer nas funções de “predicativo” e “vocativo”, respectivamente.

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4. No português falado no Brasil, o pronome “tu” foi praticamente substituído pelo pronome de tratamento “você”. Importante destacar, ademais, que o “você” se refere à 2.ª pessoa do discurso, mas exige o verbo da concordância sempre na 3.ª pessoa do singular.

João, você vai conosco ao show?

Você sabe o segredo dos animais?

Observação:

Em algumas regiões do Brasil, o falar coloquial emprega o “tu” com o verbo flexionado na terceira pessoa do singular: “Tu foi...”, “Tu vai...”, “Tu sabe...”. Tais construções são, como já se disse, típicas da linguagem coloquial e jamais devem ser empregadas em processos comunicativos que exigem o padrão culto da língua.

5. Na linguagem oral, é bastante comum a substituição do pronome de primeira pessoa do singular “eu” pelo pronome de primeira pessoa do plural “nós”. Essa troca visa dar à mensagem um tom menos arrogante, menos presunçoso. É o que se denomina de “plural de modéstia”.

Em vez de: “Eu concedo a medalha de honra ao mérito ao escoteiro João da Silva.”

Emprega-se: “Nós concedemos a medalha de honra ao mérito ao escoteiro João da Silva.”

6. É bastante comum na linguagem coloquial a substituição do pronome do caso reto “nós” pela forma “a gente” (separado). Tal substituição, repita-se, é típica da linguagem coloquial.

6.3.1.2 Emprego dos pronomes pessoais do caso oblíquo (principais regras)

1. Os pronomes “ele, ela, nós, vós, eles e elas”, por possuírem força tônica, podem também aparecer em função oblíqua. Neste caso, eles virão obrigatoriamente regidos por uma preposição. Observe a diferença:

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Observações:

a) É construção tipicamente coloquial o emprego dos pronomes “ele, ela, eles, elas” em função complementar desprovidos de preposição.

Eu vi eleconstrução coloquial no shopping ontem.

Vão levar elaconstrução coloquial para o médico agora.

b) Os pronomes “ele, ela, eles, elas”, quando funcionam como complemento, podem se contrair com as preposições “de” e “em”.

Todos acreditam nele.

A família depende dele para sobreviver.

c) Percebemos, portanto, que, quando há a presença de uma preposição essencial, deve-se – obrigatoriamente – usar os pronomes pessoais tônicos, já que os pronomes átonos são insuscetíveis de virem regidos por preposição. Observe:

Após mim, veio o cortejo.

Desde ti até mim, nunca houve mudança significativa na Universidade.

Pedro fez tudo por mim e por ti.

Durante a turbulência, várias malas caíram sobre mim.

Todos se coligaram contra mim.

Diante de mim, todos se calaram.

2. Os pronomes “si” e “consigo” são oblíquos tônicos reflexivos e só devem ser usados com referência ao sujeito da oração. Considera-se erro, portanto, construções em que os pronomes “si” e “consigo” não se refiram ao sujeito.

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Corrija-se para Paulo e Marcos, o diretor de recursos humanos quer falar com vocês. (ou “convosco”)

3. Os pronomes “comigo, contigo, consigo, conosco, convosco” já trazem em si mesmos a preposição “com”, pois são o resultado da combinação desta preposição com a formas oblíquas da primeira, da segunda e da terceira pessoa do singular e do plural.

A minha filha sempre vai comigo às pescarias.

Ao saíres, avisa-nos, pois iremos contigo.

João e Maria irão conosco.

Ela traz consigo boas experiências.

Observação:

Os pronomes “conosco” e “convosco” devem ser substituídos pelas suas formas analíticas “com nós” e “com vós”, respectivamente, quando há a presença de um reforço do pronome por meio de adjunto adnominal. Geralmente, esse reforço se dá com os vocábulos “mesmo” e “próprio”. Observe:

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4. Os pronomes oblíquos átonos “me, te, se, nos, vos” são empregados como complementos tanto de verbos transitivos diretos quanto de verbos transitivos indiretos. Podem, portanto, funcionar como objeto direto (caso acusativo em latim) ou objeto indireto (caso dativo em latim), a depender da regência verbal.

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5. Já os oblíquos “o, a, os, as” são usados como complementos para verbos transitivos diretos e verbos transitivos diretos e indiretos em sua parte direta. Funcionam, pois, como objetos diretos. São, por isso, denominados de pronomes acusativos, já que em latim a função acusativa diz respeito ao objeto direto. Tais pronomes equivalem aos oblíquos tônicos preposicionados “a ele, a ela, a eles, a elas”.

Os jornalistas o fotografaram quando descia a serra. (= fotografaram a ele)

Todos as aplaudiam com entusiasmo. (= aplaudiam a elas)

Observação:

Os pronomes “o, a, os, as”, quando estão enclíticos a verbos terminados em “-r, -s, -z”, assumem as formas “lo, la, los, las” e a forma verbal perde aquelas consoantes. Quando enclíticos a verbos terminados em ditongo nasal, assumem as formas “no, na, nos, nas”. Veja:

Encontraram o homem deitado. = Encontraram-no deitado.

Pegou dinheiro para comprar dois livros. = Pegou dinheiro para comprá-los.

6. Os pronomes oblíquos “lhe, lhes” substituem termos que exigem preposição. Quando completam verbos, funcionam como objetos indiretos de verbos transitivos indiretos e de verbos transitivos diretos e indiretos em sua parte indireta. Referem-se, portanto, ao caso dativo do latim. Estes pronomes também equivalem aos oblíquos tônicos preposicionados “a ele, a ela, a eles, a elas”.

Todos lhe fizeram grandes elogios. (= fizeram grandes elogios a ela / a ele.)

Pediram-lhes que se mantivessem calados. (= pediram a eles / a elas que se...).

7. Os pronomes “me, te, lhe, nos, vos” podem fazer a vez de legítimos pronomes possessivos. Equivalem, respectivamente, a “meu / minha, teu / tua, seu / sua, dele / dela, nosso / nossa, vosso / vossa e plurais”. Observe:

Ao ver o sumo pontífice, beijou-lhe uma das mãos. Isto é: ... beijou uma de suas mãos.

A velocidade do vento despenteava-nos os cabelos. Isto é: ... despenteava os nossos cabelos.

6.3.2 PRONOMES DE TRATAMENTO

Uma divisão interessante dos pronomes pessoais é a dos pronomes de tratamento. São assim denominados porque se usam tais pronomes em referência a certas pessoas consideradas autoridades ou em certos contextos comunicativos quando a formalidade os exige.

Principais pronomes de tratamento e seus respectivos empregos:

Pronome de
tratamento

Abreviatura

Emprego

você, vocês

v.

tratamento familiar, informal

senhor, senhores

Sr. Sr.es ­­

tratamento respeitoso

senhorita, senhoritas

Sr.ta, Sr.tas

para mulheres solteiras

senhora, senhoras

Sr.a, Sr.as

tratamento respeitoso

Vossa Senhoria, Vossas Senhorias

V.S.a, V. S.as

para pessoas que exercem cargos importantes

Vossa Excelência, Vossas Excelências

V. Ex.a, V. Ex.as

para autoridades superiores (presidentes, juízes, deputados, senadores, governadores etc.)

Vossa Eminência, Vossas Eminências

V. Em.a, V. Em.as

para cardeais

Vossa Alteza, Vossas Altezas

V.A., VV.AA.

para príncipes, princesas e duques

Vossa Majestade, Vossas Majestades

V.M., VV.MM.

para reis e rainhas

Vossa Meritíssima

Por extenso

juízes

Vossa Magnificência, Vossas Magnificências

V. Mag.a,
V. Mag.as

reitores

Vossa Reverendíssima, Vossas Reverendíssimas

V.Rev.ma,
V. Rev.mas

sacerdotes religiosos, bispos, padres, pastores

Vossa Santidade

V.S.

papa

Observações sobre os pronomes de tratamento:

a) Os pronomes de tratamento são pronomes que se referem à 2.ª pessoa do discurso. Entretanto, exigem a concordância verbal na 3.ª pessoa. Ademais, devem também ficar na 3.ª pessoa todos os elementos que a tais pronomes se refiram.

Suas Excelências ainda não deixaram os seus despachos.

Vossa Senhoria deseja um pouco de água?

Vossas Majestades ainda não inspecionaram os seus cavalos este mês?

b) Tais fórmulas de tratamento só são consideradas pronomes de tratamento quando vêm antecedidas de “Sua” ou “Vossa”. Desprovidas de tais partículas, tornam-se, no mais das vezes, meros “substantivos femininos” ou “adjetivos”.

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c) Emprega-se “Sua” quando nos referimos à pessoa. Por outro lado, empregamos “Vossa” quando nos dirigimos à pessoa.

Quando Sua Excelência chegar, avise-lhe, por favor, sobre o problema.

Vossa Alteza, quer que eu lhe traga o almoço agora?

6.3.3 PRONOMES DEMONSTRATIVOS

Outra categoria bastante usual na língua portuguesa é a dos pronomes demonstrativos. São denominados demonstrativos porque situam as pessoas ou coisas no tempo ou no espaço, postas em relação às pessoas do discurso. Os pronomes demonstrativos apresentam formas variáveis e invariáveis.

Pronomes demonstrativos

Variáveis

Invariáveis

Masculinos

Femininos

1.ª pessoa

este, estes

esta, estas

isto

2.ª pessoa

esse, esses

essa, essas

isso

3.ª pessoa

aquele, aqueles

aquela, aquelas

aquilo

Além dos pronomes acima, são igualmente demonstrativos os seguintes pronomes: “mesmo(s), mesma(s), próprio(s), própria(s), tal, tais, semelhante(s)”.

6.3.3.1 Emprego dos pronomes demonstrativos

O emprego dos pronomes demonstrativos representa um dos pontos mais discutidos pelos estudiosos da língua, já que em muitos escritores encontram­-se empregos controvertidos dos tais pronomes. Para facilitar o entendimento, dividimos o emprego dos demonstrativos em relação a três aspectos: localização espacial do referente, localização temporal do referente e localização textual do referente.

I) Quanto à localização espacial do referente temos as seguintes orientações:

a) Empregam-se “este, esta, isto e variações” quando o referente se encontra com o ser que fala.

Esta camisa aqui custou-me quarenta reais.

Este livro contém preciosas lições.

b) Emprega-se “esse, essa, isso e variações” quando o referente se encontra próximo, perto de quem fala.

Quanto custou essa camisa que você está usando?

Meu primo trouxe-me uma caneta dessas aí quando foi aos Estados Unidos.

c) Empregam-se “aquele, aquela, aquilo e variações” quando o referente se encontra distante do ser que fala.

Aquele menino acolá passou em um concurso para juiz federal.

Daquela ponte para este ponto aqui, são mais ou menos dois quilômetros.

II) Quanto à localização temporal do referente, temos as seguintes orientações:

a) Empregam-se “este, esta, isto e variações” quando se faz referências a um tempo presente em relação à pessoa que fala.

Ainda este ano irei à Europa.

Nesta tarde resolverei todo o problema com o síndico.

b) Empregam-se “esse, essa, isso e variações” quando se faz referências a um tempo passado ou futuro em relação à pessoa que fala.

O ano passado marcou minha vida. Nesse ano nasceu meu filho.

Espero que em 2100 o homem tenha encontrado a solução para muitos problemas. Nesse ano, esperamos não haver mais miséria, violência, abandono.

c) Empregam-se “aquele, aquela, aquilo e variações” quando se faz referências a passado distante em relação ao ser que fala.

Em 1980, a inflação era galopante. Naquele ano, viviam-se os últimos anos do milagre econômico brasileiro.

Os anos de 1939 a 1945 marcaram a humanidade. Durante aqueles anos, desenvolveu-se um dos maiores massacres perpetrados contra a humanidade: o extermínio dos judeus.

III) Quanto à localização textual do referente, temos as seguintes orientações:

a) Empregam-se “esse, essa, isso e variações” para retomar termos e informações já mencionados. Tais pronomes funcionarão como “elementos de coesão referencial anafórica”.

A violência assola o país de norte a sul. Esse problema inviabiliza muitos negócios comerciais no Brasil.

Ao coração cabe toda a função de bombeamento sanguíneo. Esse órgão bate, quando regular, cerca de 80 vezes por minuto.

b) Empregam-se “este, esta, isto e variações” para antecipar termos e informações que ainda vão ser mencionados. Tais pronomes funcionarão, portanto, como “elementos de coesão referencial catafórica”.

O Brasil precisa disto: educação igualitária – de qualidade – para todos.

Esta indagação jamais será respondida satisfatoriamente: “Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?”.

c) Empregam-se “este, esta, isto e variações” para retomar, dentro de um período, o termo mais próximo, ou seja, o enunciado em segundo lugar, a fim de se evitar uma possível ambiguidade que os demonstrativos “esse, essa, isso e variações” poderiam gerar. Por outro lado, empregam­-se “aquele, aquela, aquilo e variações” para retomar, dentro do período, o termo mais distante, ou seja, o enunciado em primeiro lugar.

Brasil e Argentina travaram novos acordos comerciais. Este exportará carnes nobres e importará frutas tropicais daquele. este = Argentina / daquele = Brasil.

Os otimistas não julgam os pessimistas, nem estes àqueles, pois ambos convergem para alguma forma de idealismo. estes = pessimistas / aqueles = otimistas.

d) Empregam-se – indistintamente – os pronomes “esse, essa, isso, este, esta, isto e variações” para retomar termos e ideias anteriormente expressos, mormente quando o elemento retomado se encontra imediatamente atrás de tais pronomes.

“– Se eu fosse rica, você fugia, metia-se no paquete e ia para a Europa. Dito isto, espreitou-me os olhos...” (Assis, Machado. Dom Casmurro)

Outras observações acerca dos pronomes demonstrativos:

a) A contração “nisto” (em vez de “nisso”) é frequentemente empregada em função circunstancial com o sentido de “nesse momento”, “então”, “em tal momento”.

A bomba estourou precisamente às 17h. Nisto, soaram todos os alarmes da cidade, e as forças armadas entraram em alerta.

b) Os demonstrativos “aquele/aquilo, aquela, aqueles e aquelas” podem aparecer em forma reduzida “o, a, os e as”, respectivamente. Estes são usados em função substantiva e são seguidos de preposição ou de uma oração adjetiva encabeçada pelo relativo “que”. Eles também aparecem em construções com o verbo “ser”.

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Observação:

O artigo definido, ausente o substantivo, converte-se em pronome demonstrativo, com o sentido de “aquele, aquela, aquilo, isso”. Isto ocorre quando o “o” vem seguido de preposição, do pronome relativo “que” ou construído com o verbo “ser”.

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c) Os pronomes “mesmo” e “próprio” serão demonstrativos quando possuírem sentido de “exato”, “idêntico”, “em pessoa”.

De fato, foi João mesmo quem resolveu o problema.

Éramos nós mesmos os responsáveis pela abertura e fechamento da empresa.

Amanhã tu deverás ir à mesma rua em que estiveste na semana passada para falar com o comendador.

d) “Tal” será pronome demonstrativo quando equivaler aos demonstrativos “este, esse, aquele e flexões”.

Temos verdadeiro repúdio a tal sujeito.

Tal foi o filme a que assistimos na semana passada.

e) A tradição e o uso consagraram a expressão “isto é” (e nunca “isso é”) equivalente a “quer dizer”, “significa”, quando se vai esclarecer um pensamento, uma ideia.

A vida é uma incógnita, isto é, nunca se sabe a que lugar ela chegará.

f) Como conjunção conclusiva, usa-se, hoje, mais frequentemente “por isso” em vez de “por isto”, a despeito de esta última forma não estar errada.

Sempre estudou com afinco, por isso (ou “por isto”) obteve um bom desconto na mensalidade da escola.

g) “Semelhante” será pronome demonstrativo quando equivaler a “tal”.

Tenha mais cuidado para não cair em semelhante erro.

h) É condenável o emprego dos demonstrativos “mesmo(s), mesma(s)” em função substantiva. Tal fato se dá, porque não são próprias de tais pronomes funções como “sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal etc.”. Observe abaixo:

O bandido se evadiu, mas a polícia prendeu o mesmo poucas horas depois. (Prefira: “... mas a polícia o prendeu...”)

Encontramos o Ricardo em sua casa de praia. O mesmo nos disse que estava descansando um pouco. (Prefira: “... Ele nos disse que...”)

Na casa da Lurdinha há um bravo Pitbull. Joana disse que tinha muito medo do mesmo. (Prefira: “... tinha muito medo dele ou do cão.”)

6.3.4 PRONOMES INDEFINIDOS

São denominados indefinidos os pronomes que se referem à 3.ª pessoa do discurso quando esta tem sentido vago e indeterminado.

Apresentam-se na língua portuguesa em um bom número – alguns são invariáveis e outros tantos variáveis.

INDEFINIDOS INVARIÁVEIS

INDEFINIDOS VARIÁVEIS

– alguém, ninguém;

– tudo, nada;

– algo;

– cada;

– outrem;

– mais, menos, demais.

– algum, alguns, alguma, algumas;

– nenhum, nenhuns, nenhuma, nenhumas;

– todo, toda, todos, todas;

– muito, muitos, muita, muitas;

– pouco, pouca, poucos, poucas;

– certo, certa, certos, certas;

– vário, vários, vária, várias;

– tanto, tantos, tanta, tantas;

– quanto, quantos, quanta, quantas;

– um, uns, uma, umas;

– bastante, bastantes;

– qualquer, quaisquer.

Além dos indefinidos acima, existem as chamadas “locuções pronominais indefinidas”, que nada mais são do que a junção de mais de um vocábulo com função de um pronome indefinido. São exemplos dessas locuções: cada um, cada qual, qualquer outro, quem quer que seja, fosse quem fosse, outro qualquer, todo aquele que, tudo o mais, seja qual for, um ou outro, todo o mundo etc.

6.3.4.1 Considerações gerais sobre os pronomes indefinidos

1. Os pronomes e as locuções indefinidos exigem, quando estão no singular, que o verbo da concordância fique também no singular.

Cada um dos trabalhadores conseguiu aumento este mês.

Algum dos participantes se entreteve bastante com o novo invento.

2. Os pronomes indefinidos podem acompanhar o substantivo – pronomes indefinidos adjetivos – ou substituir o próprio substantivo – pronomes indefinidos substantivos.

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6.3.4.2 Emprego dos pronomes indefinidos

QUALQUER

QUALQUER” só será pronome indefinido quando vier anteposto ao substantivo – neste caso, equivalerá a “algum(ns) / alguma(s)”. Refere-se, portanto, a um indivíduo ou indivíduos tomados indistintamente dentre outros da mesma espécie. Quando posposto, exercerá a função morfológica de adjetivo e apresentará geralmente sentido depreciativo.

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“Desculpe-me esta franqueza; mas eu prefiro ser franco com você a sê-lo com qualquer outra pessoa.” (Machado de Assis)

“Antes de se entregar às fadigas da guerra,

Dizem que um dia viu qualquer cousa do céu:

E achou tudo vazio...” (Olavo Bilac)

TODO

TODO” é um indefinido, chamado por alguns gramáticos de “coletivo universal”. Possui as flexões “toda, todos, todas”. É empregado de acordo com as seguintes orientações:

a) É hodierna e frequentemente empregado no singular, sem a presença de artigo definido, com a significação de “qualquer”.

Todo homem pode cometer um crime impensadamente.

“...e ficamos tão felizes que todo receio de perigo desapareceu.” (Machado de Assis)

“Era homem de uma honestidade a toda prova e de uma primitiva simplicidade no seu modo de viver.” (Aluísio Azevedo)

Observação:

Há gramáticos – notadamente os mais antigos – que não aceitam essa acepção do pronome indefinido “todo”, pois só admitem o emprego do pronome indefinido “todo” com o sentido de “totalidade”.

b) Embora haja posicionamentos contrários, pode também ser empregado no singular e anteposto a substantivo precedido ou não de artigo, significando “totalidade ou cada”.

Todo homem é mortal, mas o homem todo não é mortal”. (Carlos Drummond de Andrade)

“Em todo o distrito de Oliveira, note bem, em todo ele! não há ninguém, absolutamente ninguém, que de longe, muito de longe, se compare ao Cavaleiro em inteligência, caráter, maneiras, saber, e finura política!” (Eça de Queiroz)

“Por toda a parte andava acesa a guerra.” (Camões)

“No soveral havia todo o gênero de caça, e Argimiro o Negro (assim se chamava o rico-homem) gostava.” (A. Herculano)

Observação:

Há gramáticos que, nesta acepção, só defendem o sentido do pronome “todo” como “cada”. Não encontramos, entretanto, apoio nos maiores conhecedores de nossa língua. Para eles, dentre os quais podemos destacar os mestres Manuel Said Ali e Mário Barreto, o pronome “todo”, anteposto a um substantivo, pode ou não aparecer com o artigo.

c) Emprega-se no singular e posposto a um substantivo para indicar a totalidade das partes.

Assim que chegamos, ele nos mostrou a casa toda. (= a casa em sua totalidade)

Algumas alergias afetam o corpo todo. (= o corpo em sua totalidade)

d) Emprega-se no plural, anteposto ou posposto, para indicar a totalidade numérica.

Usou todas as forças para impedir o avanço da doença.

“Dita a palavra, apertou-me as mãos com as forças todas de um vasto agradecimento, despediu-se e saiu.” (Machado de Assis)

e) Emprega-se, acompanhando adjetivo atributivo, com o significado de “em todas as suas partes”, “completamente”, “muito”. Nesta acepção, a palavra “todo” exerce função de advérbio e admite flexão.

“...na sua dificílima Torre, negra entre os limoeiros e o azul, toda envolta no piar e esvoaçar das andorinhas.” (Eça de Queiroz)

Toda assustada, quis saber o que é que me doía.” (Machado de Assis)

“O Bento, velho de face rapada e morena, com um lindo cabelo branco todo encarapinhado, muito limpo, muito fresco na sua jaqueta de ganga,...” (Eça de Queiroz)

Portanto, fique atento, pois podemos dizer corretamente (saliente-se que a forma flexionada, a qual concorda por atração com o substantivo, é mais comum na linguagem atual):

A porta está todo / toda aberta.

Ela está todo / toda cheia de alegria.

Vimos uma casa todo / toda branca.

A torta está todo / toda estragada.

Vejamos outros exemplos em notáveis escritores:

“D. Felicidade acudiu, toda bondosa: — Deixe falar, Sr. Ledesma.” (Eça de Queiroz)

“E um dia assim! de um sol assim! E assim a esfera

Toda azul, no esplendor do fim da primavera!” (Olavo Bilac)

“A capela, completamente cheia, palpitava de curiosidade. Paris elegante estava todo ali.” (Aluízio Azevedo)

TUDO

3. O pronome “TUDO” representa a forma neutra do pronome “TODO”. Pode aparecer tanto como pronome substantivo quanto como pronome adjetivo. Como pronome adjetivo aparece em combinações do tipo “tudo isso, tudo aquilo, tudo o que, tudo o mais etc.”. Geralmente se refere a coisas.

“Sofrerei tudo por amor de ti.” (Camilo Castelo Branco)

“Vi tudo isto, e fiquei satisfeito.” (Camilo Castelo Branco)

“Gostava que em sua casa houvesse um pouco de tudo.” (Aluísio Azevedo)

ALGUM

4. O pronome indefinido “ALGUM” emprega-se de acordo com as seguintes orientações:

a) Anteposto ao substantivo assume frequentemente valor positivo de “qualquer, um”.

“Deste modo, viverei o que vivi, e assentarei a mão para alguma obra de maior tomo.” (Machado de Assis)

“Folgamos de ver que os ingleses já servem para alguma coisa entre tão eminentes estadistas.” (Rui Barbosa)

b) Anteposto ao substantivo, assume também o valor de “certo, um pouco de”.

Por algum tempo esperou a projetada expedição de D. Pedro da Cunha, que pretendeu transportar ao Brasil a coroa portuguesa.” (José de Alencar)

“Daqui a algum tempo, quando os entrelinhistas tiverem de celebrar as glórias do ministério 10 de março.” (Rui Barbosa)

c) Com valor negativo, equivale a “nenhum”, quando posposto ao substantivo.

“Mas não o leva à feira anual, nem o aplica em trabalho algum; deixa-o morrer de velho. Não lhe pertence.” (Euclides da Cunha)

“Esse biltre sem senso moral algum.” (Lima Barreto)

CERTO

5. Este vocábulo só será pronome indefinido quando vier anteposto a um substantivo. Posposto ao substantivo, assume valor adjetivo, equivalendo a “verdadeiro, infalível, exato, fiel, que não falta, constante”.

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Observação:

O vocábulo “CERTO” apresenta também função circunstancial (adverbial). Neste caso, equivalerá a “certamente”.

“Ora, direis, ouvir estrelas. Certo perdeste o senso.” (Olavo Bilac)

OUTRO

6. É um pronome, cuja indefinição se encontra fora do âmbito do falante e do ouvinte. Tal indefinição o faz equivaler a “alguém, algo”. Geralmente aparece em expressões indefinidas “um ao outro, um do outro, um para o outro”.

“Um ou outro branco, levado pela necessidade de sair, atravessava a rua.” (Aluísio Azevedo)

“Ele, Alencar, na primeira noite em que a vira, exclamara, mostrando-a a ela e às outras, a assinatura.” (Eça de Queiroz)

O vocábulo “outro” também pode ser empregado com valor adjetivo. Neste caso, apresentará o significado de “novo”, “diferente”, “mudado”, “semelhante”, “igual”.

“Os brasileiros de outras latitudes mal o compreendem, mesmo através das lúcidas observações de Bates.” (Euclides da Cunha)

CADA

7. É um pronome indefinido invariável. Designa os seres ou grupos de seres considerados um por um. Geralmente, aparece em expressões indefinidas “cada um, cada qual”.

Cada um deles trazia à cinta dois pistoletes, um punhal na ilharga do calção, e o arcabuz passado a tiracolo pelo ombro esquerdo.” (José de Alencar)

Cada qual terá a sua recompensa.

Perdeu muito dinheiro em cada aposta que fez.

“José Roberto e Sebastião Campos serviam às senhoras acompanhando com uma pilhéria cada prato que lhes ofereciam.” (Aluísio Azevedo)

6.3.5 PRONOMES POSSESSIVOS

São denominados possessivos os pronomes que estabelecem uma noção de posse em referência às pessoas do discurso (1.ª, 2.ª e 3.ª), isto é, designam a pessoa gramatical a quem pertence o ser.

Pronomes possessivos

Singular

1.ª pessoa

meu, minha, meus, minhas

2.ª pessoa

teu, tua, teus, tuas

3.ª pessoa

seu, sua, seus, suas

Plural

1.ª pessoa

nosso, nossa, nossos, nossas

2.ª pessoa

vosso, vossa, vossos, vossas

3.ª pessoa

seu, sua, seus, suas

6.3.5.1 Emprego dos pronomes possessivos

1. Em geral, os pronomes possessivos adjetivos facultam a anteposição de um artigo (determinante).

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2. Quando o pronome possessivo é empregado substantivamente, a presença do artigo ou de outro determinante que o substitua é indispensável.

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Este carro aqui não é mais caro que o seu.

3. Na língua portuguesa, os pronomes possessivos concordam com a coisa possuída e não com o possuidor.

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4. Geralmente não se emprega o pronome possessivo antes de nomes que indicam “partes do corpo” ou “faculdades do espírito”.

Ontem eu machuquei o joelho. (e não “o meu joelho”)

João perdeu o senso. (e não “o seu senso”)

Parece que ele perdeu a vergonha. (e não “perdeu a sua vergonha”)

5. Os pronomes “me, te, lhe, nos, vos, lhes” podem fazer as vezes de possessivos. Neste caso, eles equivalerão aos pronomes possessivos “meu, minha, teu, tua, seu, sua, nosso, vosso, dele, dela etc.”.

Naquele momento, ferveu-me o sangue. (Isto é = ...ferveu o meu sangue.)

O vento assanhava-nos os cabelos. (Isto é = O vento assanhava os nossos cabelos.)

Cabelos cacheados moldam-lhe o rosto. (Isto é = ...moldam o rosto dela / ...moldam o seu rosto.)

Observação:

Esta substituição é bastante elegante do ponto de vista estilístico.

6. Os pronomes possessivos são usados, em muitos casos, para indicar afetividade, respeito, consideração.

Sente-se, por favor, minha senhora.

Meu ilustríssimo professor, é um grande prazer revê-lo.

7. Os possessivos “seu, sua, seus, suas” podem gerar ambiguidade quando há na estrutura oracional mais de uma terceira pessoa. Neste caso, convém substituí-los por “dele, dela, deles, delas”.

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Observação:

Para evitar esse processo de ambiguidade, muitos escritores usavam os possessivos “dele, dela, deles, delas” a fim de esclarecer a relação possessória.

“A sua honra dele não dependia dos impulsos falsos ou torpes que tivera o coração dela.” (Eça de Queiroz)

“Ele respondia-me, a princípio com animação, depois mais frouxo, torcia a rédea da conversa para o seu assunto dele, abria um livro, perguntava-me se tinha algum trabalho novo.” (Machado de Assis)

8. Em alguns casos, a mudança de posição do pronome possessivo implicará alteração de sentido do enunciado.

O meu livro (= posse)

O livro meu (= minha autoria)

suas notícias (= notícias dadas por você)

notícias suas (= notícias sobre você)

sua fotografia (= fotografia tirada por você)

fotografia sua (= fotografia que tiraram de você)

9. Empregam-se alguns possessivos no plural com o sentido de “parentes”, “família”.

Como vão os seus? Os meus continuam no interior, trabalhando nas lavouras de café.

6.3.6 OS PRONOMES RELATIVOS

São denominados de relativos os pronomes que representam um ser já expresso (antecedente). Entretanto, só isso não basta para caracterizá-los, uma vez que outros pronomes também o fazem. A principal característica do pronome relativo é servir de vínculo gramatical entre duas orações, estabelecendo uma relação de subordinação. Daí serem também chamados tais pronomes de “relativos-conjuntivos”.

Os principais pronomes relativos são:

PRONOMES RELATIVOS

INVARIÁVEIS

VARIÁVEIS

que

o qual, a qual, os quais, as quais

quem

cujo, cuja, cujos, cujas

onde

quanto, quanta, quantos, quantas

Observação:

Funcionam também como pronomes relativos os vocábulos “como” e “quando”, quando retomam termos anteriormente mencionados.

6.3.6.1 Emprego dos pronomes relativos

QUE

É denominado de “relativo universal”, porque se refere tanto a coisas quanto a pessoas. Seus equivalentes variáveis são “a qual, o qual, as quais, os quais”. O relativo “que” só deve ser substituído por outro relativo em casos específicos.

“Os soldados que tinham seguido a bandeira de Teodomiro tinham-se abalado para o combate.” (A. Herculano)

“Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito / ...“ (Camões)

QUEM

No português moderno, este pronome só se refere a pessoas ou a cousas personificadas, daí ser chamado de “relativo personativo”. Com antecedente expresso, vem sempre regido por uma preposição.

“Prezava com fanatismo o Marquês de Pombal, de quem sabia muitas anedotas.” (Aluísio Azevedo)

“Isso não lhe fica bem; há por aí tanta moça bonita, a quem o senhor pode fazer a corte...” (Bernardo Guimarães)

Observação:

Em algumas orações o pronome relativo “quem” pode aparecer sem antecedente expresso. Neste caso, ele equivalerá a “aquele que”. Por equivaler – ao mesmo tempo – a um pronome demonstrativo e a um pronome relativo, o relativo “quem” é denominado de “relativo condensado”.

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ONDE

É denominado de “relativo locativo”, pois só é utilizado para retomar e substituir termos que contenham a noção de “lugar”. Equivale a “em que” e variações (na qual, no qual, nas quais, nos quais). O seu antecedente, portanto, deve indicar “lugar”.

“Mas os livros dos enciclopedistas, as fontes onde a geração seguinte bebera a peçonha que saiu no sangue de noventa e três, não eram de todo ignorados.” (Camilo Castelo Branco)

“Pádua enxugou os olhos e foi para casa, onde viveu prostrado alguns dias, mudo, fechado na alcova.” (Machado de Assis)

O QUAL, A QUAL, OS QUAIS, AS QUAIS

São os relativos que possuem as variações em gênero e número correspondentes ao pronome relativo “que”. Esses relativos devem obrigatoriamente substituir o “que” quando este provocar ambiguidade, for precedido por uma preposição com mais de uma sílaba ou for eufonicamente melhor.

“Fortalecem esta tradição as opiniões dos filósofos de todas as idades e nações, os quais nunca puderam compreender o homem moral sem pressupor uma primitiva perfeição.” (Camilo Castelo Branco)

“... os frecheiros lhe disparavam alguns tiros, que vinham bater-lhe na armadura, debaixo da qual já manava o sangue de algumas feridas.” (A. Herculano)

“Seguiu-se um alto silêncio, durante o qual estive a pique de entrar na sala, mas outra força maior, outra emoção...” (Machado de Assis)

CUJO, CUJA, CUJOS, CUJAS

São relativos utilizados para substituir termos que expressam noção de posse ou de pertinência. Equivalem a “do qual, da qual, dos quais, das quais, seu, sua, seus suas, dele, dela, deles, delas”. Eles retomam um termo antecedente, mas concordam em gênero e número com o substantivo consequente (ou posposto). Não admitem a posposição de artigo e sempre exercem a função sintática de adjunto adnominal. O relativo “cujo” e suas flexões trazem implícita a preposição “de”.

Comprei um livro cujas páginas são verdes.

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“Dê um destino qualquer a essa escrava, a cujos pés o senhor costuma vilmente prostrar-se: liberte-a, venda-a, faça o que quiser.” (Bernardo Guimarães)

“O Freitas, em cuja casa Ana Rosa tivera o seu último histérico, também se achava presente, com a filha, a sua querida Lindoca.” (Aluísio Azevedo)

QUANTO, QUANTA, QUANTOS, QUANTAS

Estas palavras só serão consideradas pronomes relativos quando vierem antecedidas por um dos seguintes pronomes indefinidos “tudo, todo(a), todos(as)”. Transmitem ideia acessória de quantidade, de intensidade ou de número.

“Que os fiéis abandonassem todos os haveres, tudo quanto os maculasse com um leve traço da vaidade.” (Euclides da Cunha)

“É perfeitíssima oração sobre todas quantas foram feitas ou se puderem fazer a Deus.” (Bartolomeu dos Mártires, apud Cláudio Brandão)

“Tudo quanto eu pedira e ambicionara,

Tudo meus dedos e meus olhos calmos

Gozavam satisfeitos nos seis palmos

De tua carne saborosa e clara.” (Olavo Bilac)

COMO

É denominado de pronome relativo “modal”, pois sempre apresenta como antecedente um nome denotador de “modo, maneira, forma”. É facilmente substituível por “segundo o qual” ou “pelo qual”, “segundo a qual” ou “pela qual”.

Desconfiamos bastante da maneira como ele age.

“E acharás a maneira como emendes a vida.” (Gil Vicente apud Cláudio Brandão)

QUANDO

Será pronome relativo quando possuir como antecedente um substantivo que exprima tempo ou divisões da duração, e nessa hipótese equivalerá a “em que”.

“Era no tempo alegre quando entrava / No roubador de Europa / a luz febeia.” (Camões)

Isso ocorreu após a década de 1970, quando o movimento ambientalista passou a ter um discurso mais sólido.

Observações gerais sobre os pronomes relativos:

a) Os pronomes relativos promovem a chamada “coesão referencial anafórica”, pois retomam termos anteriormente mencionados.

b) Para um maior aprofundamento deste tema, sugerimos correlacionar este estudo com o estudo do “pronome relativo preposicionado”, que é abordado no capítulo “regência verbal e nominal”.

6.3.7 PRONOMES INTERROGATIVOS

São assim denominados os pronomes “que, quem, qual e quanto”, quando empregados em orações interrogativas diretas e indiretas. Tais pronomes se referem a pessoa ou a coisa desconhecida.

Qual, de entre tantos Orfeus que a gente por aí vê e ouve, foi o que obrou a maravilha?” (A. Garrett)

Quantos pobres galileus não fez ele matar sem licença do tetrarca?” (Eça de Queiroz)

Quem nos derrama a bela claridade?

Quem tantas trevas sobre o mundo chove?” (Durão apud Sousa da Silveira)

“Quis saber quem eram os meus pais?” (Machado de Assis)

Observações sobre os pronomes interrogativos:

a) O pronome interrogativo “qual” é usado para distinguir uma pessoa, uma coisa ou uma qualidade dentre várias existentes.

“Dizei-me: qual é mais poderosa, a graça ou a natureza?” (Vieira, apud Sousa da Silveira)

b) Embora seja condenado por renomados estudiosos da língua portuguesa, o emprego da forma interrogativa “o que” é largamente usado em nossa língua.

“O que está naquela arca?” (A. Herculano)

“Reis da terra, o que sois?” (Gonçalves Dias)

6.4 QUESTÕES DE CONCURSOS PÚBLICOS

1. (TER-RO) Observe as frases:

I. A língua portuguesa foi a que chegou até _____ através de gerações.

II. Não basta _____ querer que a grafia coincida com a pronúncia; é preciso a reforma.

III. Torna-se muito complicado para _____ acompanhar essa mudança.

IV. Para _____, unificar a grafia é impossível.

V. Deixaram alguns pontos para _____ estudar.

A opção que completa corretamente as frases é:

a) eu – eu – eu – mim – mim

b) eu – eu – mim – eu – mim

c) mim – eu – eu – mim – eu

d) mim – eu – mim – mim – eu

e) mim – a mim – mim – eu – mim

2. (TELERJ) Assinale a opção em que o emprego dos pronomes pessoais está de acordo com a norma culta da língua:

a) Entre o chefe e eu há confiança mútua.

b) Para eu, vencer na empresa é fundamental.

c) Vim falar consigo sobre o debate de amanhã.

d) Já lhe avisei do ocorrido na empresa.

e) esta linha telefônica vai de mim a ti.

3. (TRE-MT) A alternativa em que o emprego do pronome pessoal não obedece à norma culta portuguesa é:

a) Fizeram tudo pra eu ir lá.

b) Ninguém lhe ouvia as queixas.

c) O vento traz consigo a tempestade.

d) Trouxemos um presente para si.

e) Não vá sem mim.

4. (TER-MT) A substituição do termo destacado por um pronome pessoal está correta em todas as alternativas, exceto em:

a) O governo deu ênfase às questões econômicas.

O governo deu ênfase a elas.

b) Os ministros defenderam o plano de estabilização.

Os ministros defenderam-no.

c) A companhia recebeu os avisos.

A companhia recebeu-os.

d) Ele diz as frases em tom bem baixo.

Ele diz-las em tom bem baixo.

e) Ele se recusa a dar maiores explicações.

Ele se recusou a dá-las.

5. (TER-MT) A lacuna da frase “A situação _____ aspiro começou a se delinear” é preenchida, de acordo com a norma culta, por:

a) onde

b) cujo

c) a que

d) que

e) a qual

6. (TRT-SP) As mulheres _____ olhos brilham, não são dignas de confiança.

O lugar _____ moro é muito arejado.

É um cidadão _____ honestidade se pode confiar.

a) cujos os – que – em que

b) cujos – em que – em cuja

c) cujos – em que – cuja

d) cujos os – em que – cuja a

e) cujos – que – em cuja

7. (TRT-SP) Assinale a alternativa incorreta quanto ao emprego do pronome pessoal si:

a) Madalena queria a mãe junto de si.

b) Quando voltou a si, não se lembrava de nada.

c) Meu filho será confiante em si mesmo.

d) Ofereço esse presente para si.

e) Vivem brigando entre si.

8. (TRT-SP) Assinale a alternativa em que o pronome lhe tem valor possessivo:

a) Caiu-lhe nas mãos um belo romance de José de Alencar.

b) Dei-lhe indicações completamente seguras.

c) Basta-lhe uma palavra apenas.

d) Seus amigos escreveram-lhe um singelo poema.

e) Informaram-lhe o resultado da prova realizada ontem.

9. (MPE-SP) Assinale a alternativa em que a junção das duas orações abaixo está correta quanto ao emprego do pronome relativo e à regência do verbo:

I. “Central do Brasil” é o filme.

II. Eu me referi ao diretor do filme “Central do Brasil”.

a) “Central do Brasil” é o filme a cujo diretor eu me referi.

b) “Central do Brasil” é o filme que o diretor eu me referi.

c) “Central do Brasil” é o filme sobre cujo diretor eu me referi.

d) “Central do Brasil” é o filme de cujo diretor eu me referi.

e) “Central do Brasil” é o filme de qual diretor eu me referi.

10. (MPU) “Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas _____ sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.”

a) cujo

b) de cujo

c) a cujo

d) sem cujo

e) por cujo

GABARITO

1 – D

2 – E

3 – D

4 – D

5 – C

6 – B

7 – D

8 – A

9 – A

10 – A

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