Capítulo 9

CONJUNÇÃO

9.1 DEFINIÇÃO

É a classe de palavra invariável que liga duas orações entre si, estabelecendo um vínculo de coordenação ou de subordinação.

Observe:

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Observação:

Em alguns casos, a conjunção pode funcionar como um nexo entre duas palavras de mesma função sintática. É, por exemplo, o que frequentemente ocorre com a conjunção aditiva “E”. Observe abaixo:

a) Chegou cedo e foi para a cidade a fim de comprar pão. (A conjunção aditiva “e” liga duas orações)

b) João e Maria foram ao centro da cidade. (A conjunção aditiva “e” liga duas palavras)

9.2 CLASSIFICAÇÃO

Pode-se inicialmente classificar as conjunções quanto à forma. Serão “simples” quando formadas por um único vocábulo (se, e, mas, quando, enquanto etc.). Serão “locucionais” (locuções conjuntivas) quando formadas por mais de um vocábulo (uma vez que, à medida que, para que etc.).

A principal classificação das conjunções, entretanto, leva em conta o significado da conjunção e a possibilidade de ela estabelecer “coordenação” ou “subordinação”. Por este critério, as conjunções são classificadas em:

9.2.1 COORDENATIVAS

As conjunções coordenativas são aquelas que ligam orações que apresentam a mesma função na frase. De acordo com a relação que expressam, as conjunções coordenativas são classificadas em:

1. ADITIVAS Chamadas também de “copulativas” ou “aproximativas”, as conjunções aditivas ligam duas orações, aproximando-as numa relação de soma, de adição.

E, NEM, TAMBÉM, BEM ASSIM, BEM COMO, NÃO SÓ... MAS (TAMBÉM), NÃO SÓ... BEM COMO, QUE (= E).

“– Pois sim, será; que disso nada sei, nem sou lida e sabida como tu...” (A. Garrett)

“... porque ela se acha mencionada em muitos documentos, não só de outras províncias de Espanha, mas também de diversos países, como se pode ver em Ducange, à palavra Arapennis.” (A. Herculano)

“Agora que o trem de ferro

Acorda o tigre no cerro

E espanta os caboclos nus,

Fazei desse ‘rei dos ventos’

– Ginete dos pensamentos,

– Arauto da grande luz!...” (Castro Alves)

Observações sobre as conjunções aditivas:

a) A conjunção “e”, quando une palavras, funciona no mais das vezes como “aproximativa”, isto é, indica mera relação de nexo. Por isso, é comumente suprimida, sem ofensa do sentido, em uma série coordenada e só se expressa entre o penúltimo e o último termo.

Pedro, João e Paulo partiram para o interior de São Paulo em busca de emprego.

b) A conjunção “e” pode ligar duas orações de valores opostos. Neste caso, a conjunção “e” equivalerá a “mas”, uma vez que a 2.ª oração estabelece uma oposição em relação à 1.ª oração.

“Miguel, Miguel, não tens abelhas, e (= mas) vendes mel”. (provérbio)

“Não era cristão Platão, e (= mas) mandava na sua República que nenhum oficial pudesse aprender duas artes.” (Pe. A. Vieira apud A. Epiphanio da Silva Dias)

c) A conjunção “e” pode assumir diversos valores em uma estrutura oracional. Observe:

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d) A conjunção “nem” pode ser tanto aditiva (aproximativa) quanto alternativa (disjuntiva). Quando aditiva, equivale a “e nem” e liga frases negativas. Quando alternativa, ela se repete em cada uma das orações.

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Observação:

Nem toda repetição da conjunção “nem” irá caracterizar uma alternância, conforme se observa no exemplo abaixo:

“Sem ele, talvez o Brasil não tivesse derrotado nem o complexo de inferioridade de sua sociedade em geral nem o racismo velado que se manifestava até no futebol.” (Clóvis Rossi, Folha S. Paulo, 07.04.2002)

No exemplo acima, o par “nem... nem...” expressa adição negativa. O segundo “nem” equivale a “e nem”.

e) Na linguagem coloquial, é comum o emprego de “mais” em lugar da conjunção aditiva “e”. Saliente-se que este emprego é desabonado pelo padrão mais formal da linguagem.

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f) Algumas conjunções aditivas são frequentemente empregadas em construções paralelas, introduzidas geralmente por “não só...”. Tais conjunções encerram verdadeiras construções correlatas.

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Não só a cobiça e o desenfreamento da soldadesca multiplicavam aí as cenas de rapina, de violência e de sangue, mas também a política dos capitães árabes procurava aumentar a terribilidade desses dramas repetidos para quebrar os ânimos dos godos e persuadi-los à submissão.” (A. Herculano)

“... sabem que Isaura não só era dotada de espírito superior, como também recebera a mais fina e esmerada educação, não lhe estranharam a distinção das maneiras, a elegância e elevação da linguagem...” (Bernardo Guimarães)

2. ADVERSATIVAS São as conjunções que unem pensamentos ou ideias contrárias, opostas. A principal conjunção adversativa na língua portuguesa é o “MAS”. Apresentam também força adversativa os seguintes conectores:

PORÉM, CONTUDO, TODAVIA, ENTRETANTO, NO ENTANTO, SENÃO, QUE (= MAS), AINDA ASSIM

“É uma lira, mas sem cordas; uma primavera, mas sem flores; uma coroa de folhas, mas sem viço.” (Álvares de Azevedo)

“– Pois o que vais tu ser, homem, senão um sujeito às ordens do S. Fulgêncio, do horrendo careca?” (Eça de Queiroz)

“Bem sei que te rasguei o coração, porque tu me amavas deveras, mas já tenho expiado de sobra o mal que te fiz.” (Casimiro de Abreu)

“O firmamento límpido arqueia-se alumiado ainda por um Sol obscurecido, de eclipse. A pressão, entretanto, decai vagarosamente, numa descensão contínua, afogando a vida.” (Euclides da Cunha)

Observações sobre as conjunções adversativas:

a) A despeito de serem adversativas, a conjunção “porém” distingue-se de “mas” por indicar oposição mais forte que esta. Ademais, a conjunção “porém” poder ser pospositiva, isto é, pode ser posta depois do termo coordenado, ao passo que “mas” é sempre prepositiva, pois sempre vem antes do termo coordenado.

“A Bruzundanga era um sarcófago de mármore, ouro e pedrarias, em cujo seio, porém, o cadáver mal embalsamado do povo apodrecia e fermentava.” (Lima Barreto)

“Itaquê curvara a cabeça. Ele ouviu brandir a arma; não era, porém, aquele o zunido da corda do arco, quando o vergava sua mão possante.” (José de Alencar)

b) A conjunção adversativa “senão” pode apresentar os seguintes sentidos (valores): a não ser, do contrário, caso contrário, mas sim.

“O braço de Itaquê defendeu sempre a nação tocantim; quer ela ser defendida agora pela palavra daquele, que não tem mais para dar-lhe senão (= a não ser) a experiência de sua velhice?” (José de Alencar)

“Não obteve aplausos nem respeito, senão (= mas sim) escárnio e menoscabo.” (A. Houaiss)

Transmita imediatamente esta mensagem, senão (= do contrário, caso contrário) será despedido.

“A definição do pregador é a vida e o exemplo. Por isso Cristo no Evangelho não o comparou ao semeador, senão (= mas sim) ao que semeia.” (Pe. Antônio Vieira)

c) A conjunção “senão” pode juntar-se ao advérbio “quando”, formando a locução adverbial “senão quando”, com o sentido de “de repente, inesperadamente, quando menos se esperava”.

Senão quando, morre-lhe o padrinho ao Gouveia, e em testamento deixou ao afilhado três contos de réis.” (Machado de Assis)

d) As conjunções “entretanto, no entanto” podem ser empregadas como advérbios de tempo, com o sentido de “nesse tempo, nesse meio termo, nesse ínterim, entrementes”.

“E sentia-se esvaecer e, pouco a pouco, adormecia e, dali a pouco, roncava. Entretanto, no castelo tinham dado pela sua falta. Esperaram-no até à noite; esperaram-no uma semana, um mês, um ano, e não o viam voltar.” (A. Herculano)

3. ALTERNATIVAS OU DISJUNTIVAS São conjunções que ligam ideias e pensamentos que se alternam ou que se excluem.

OU, OU... OU, SEJA... SEJA, QUER... QUER, NEM... NEM, ORA... ORA, SEJA... SEJA.

Ou ele vai para a reunião, ou eu vou representá-lo.

Ora diz que não foi ele, ora diz que participou do crime.

Quer o governo queira, quer o governo não queira, todos farão greve.

Nem um nem outro participarão do evento.

“Pois olhe, quer me creia, quer não, tenho-lhe conhecido mais de uma dúzia de chichisbéus, não falando do padre capelão, que esse ainda agora lhe fornece a garrafeira, à nossa custa, entende-se.” (Camilo C. Branco)

Observações sobre as conjunções alternativas:

a) A alternância (disjunção) efetuada com a conjunção “ou” pode ser “inclusiva”, quando os elementos se somam, ou “exclusiva”, quando os elementos se excluem. Veja:

Maçã ou mamão fazem bem ao intestino. (alternativa includente)

João ou Pedro ganhará o prêmio de literatura este ano. (alternativa excludente)

b) A alternância efetuada pelo par “ou... ou...” sempre será “excludente”.

Ou você fica conosco, ou partirá para a casa de sua avó.

Ou o governo aumenta o quantitativo de policiais, ou a violência dominará as ruas das grandes cidades.

4. CONCLUSIVAS OU ILATIVAS São as conjunções que introduzem orações, em um período coordenado, as quais expressam uma conclusão, uma ilação em relação à primeira oração.

LOGO, PORTANTO, POR ISSO, POIS (posposto ao verbo), ENTÃO, ASSIM, POR CONSEQUÊNCIA, CONSEQUENTEMENTE, CONSEGUINTEMENTE.

Ele estudou todo o assunto, deve então saber o sentido da expressão.

A vida é breve; por isso devemos aproveitá-la bastante.

“Dela depende inteiramente a higiene dos povos e o saneamento dos governos. É, pois, a garantia conservadora por excelência, contanto que seja plena e ampla.” (Rui Barbosa)

5. EXPLICATIVAS São conjunções que explanam na segunda oração o sentido da primeira oração ou uma explicação para a primeira.

QUE, PORQUE, POIS (anteposto ao verbo), PORQUANTO.

Não faça caso, que aqui estamos para ouvi-lo.

Isso não é razão para a sua angústia, porque, afinal de contas, os negócios têm corrido bem.

As estrelas giram em torno da Terra, pois a Terra tem um movimento de rotação em torno de seu eixo.

9.2.2 SUBORDINATIVAS

As conjunções subordinativas (também chamadas de “circunstanciais”) ligam orações que exercem uma função sintática em relação a outra oração denominada de “principal ou subordinante”. São dez as conjunções subordinativas:

1. CAUSAIS São conjunções que subordinam ideias em que se exprime a causa, o motivo, a razão de ser da ideia principal.

QUE, PORQUE, PORQUANTO, COMO (no início da oração = JÁ QUE), SE (= JÁ QUE), DESDE QUE, POIS QUE, VISTO QUE, VISTO COMO, UMA VEZ QUE, COMO QUER QUE, DE MODO QUE

O cavaleiro não se deteve, que lhe pareceu haver gente emboscada.

Velho que era, evitava lugares altos e grandes emoções.

Não ficaremos neste local, porquanto nos pretendem roubar.

Já que assim o quis, mandei-o embora.

Como não liberaram o dinheiro, teve de tirar um empréstimo.

Se ela gosta de você, por que não vai procurá-la?

Observações sobre as conjunções causais:

a) Para que a conjunção “como” seja classificada como “causal”, ela precisa vir no início do período e equivaler a “porque, já que”.

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b) Nem sempre é fácil a distinção entre uma conjunção causal e uma conjunção explicativa. Para observar tal distinção, sugerimos estudar as orações subordinadas adverbiais causais, em sintaxe do período composto.

2. CONCESSIVAS São conjunções que subordinam ideias em que se exprime uma ação contrária, oposta à ideia principal.

QUE, EMBORA, CONQUANTO, AINDA QUE, POSTO QUE, BEM QUE, SE BEM QUE, QUANDO MESMO, POR MAIS QUE, POR MENOS QUE, POR POUCO QUE, MESMO QUE, EM QUE PESE, APESAR DE QUE.

Embora ele estivesse conosco, não poderia ter feito nada para salvar a vida do amigo.

Não conseguirás tirar toda a sujeira, quando mesmo uses água sanitária.

Tuas palavras, que fossem muitas, não atenuariam a dor daquele momento.

Por mais que ele se explicasse, não convenceria o delegado da inocência dele.

Ficarei na casa, ainda que haja opiniões contrárias.

Observações sobre as conjunções concessivas:

a) Perceba que as conjunções concessivas, ao lado das coordenativas adversativas, promovem as relações de oposição ou de contraste. Por isso, geralmente é possível se trocarem umas pelas outras. É preciso, porém, ficar atento à flexão verbal, já que as orações concessivas desenvolvidas exigem o verbo no modo subjuntivo.

Resolveu continuar estudando, mas sabia que já não mais realizaria o seu sonho.

Resolveu continuar estudando, embora soubesse que já não mais realizaria o seu sonho.

Conquanto ela deixasse a desejar em suas atitudes morais, Marta jamais abandonou o filho e os seus familiares.

Marta jamais abandonou o filho e os seus familiares, entretanto ela deixava a desejar em suas atitudes morais.

b) Não confunda a conjunção “conquanto” com a conjunção “porquanto”. Esta pode ser causal ou explicativa, enquanto aquela é estritamente concessiva.

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c) Há outros articuladores na língua portuguesa que também expressam oposição concessiva. São eles “a despeito de, malgrado, não obstante”.

Comprou aquele carro usado, malgrado os conselhos em contrário que recebeu.

A despeito da vigilância ativa da polícia militar, houve diversos assaltos no último final de semana.

d) Lembre-se de que, no português do Brasil, a conjunção “posto que” só é usada como concessiva, equivalendo a “embora, apesar de que, mesmo que, ainda que”. Portanto, é erro crasso usar “posto que” no lugar de “já que, visto que, uma vez que” e vice-versa.

“Pode crer-se que a intenção do Mateus era ser admirado e invejado, posto que ele não a confessasse a nenhuma pessoa.” (Machado de Assis)

“A mulher, posto que lhe apontassem já os cabelos brancos, rejubilou com isso.” (Aluísio Azevedo)

3. CONFORMATIVAS São conjunções que subordinam ideias em que se exprime a conformidade de um pensamento com o da ideia principal.

COMO, CONFORME, CONSOANTE, SEGUNDO.

Tudo se anunciou conforme previra o astrólogo.

Os advogados procederam segundo ordenava a lei.

Eles fizeram tudo consoante lhes haviam determinado.

4. CONSECUTIVAS São conjunções que subordinam ideias em que se exprime o efeito, a consequência, o resultado do pensamento expresso na ideia principal.

QUE (precedido de “TÃO, TAL, TANTO, TAMANHO”), SEM QUE, DE MODO QUE, DE SORTE QUE, DE FORMA QUE, DE MANEIRA QUE.

Falou tanto que ficou rouco.

Não discute religião sem que não se exalte.

“Deus, oh! Deus, onde estás que não respondes?” (Castro Alves)

Ficou profundamente magoada com a atitude da criança, de sorte que não queria mais lecionar naquela turma.

Viveu a vida sem restrições, de modo que o futuro lhe trouxe grandes dissabores.

Observações sobre as conjunções consecutivas:

a) Em muitas estruturas, os termos de reforço “tão, tal, tanto, tamanho” não aparecem – são elipsados da estrutura.

Chove que é um horror! Aqui temos a estrutura “Chove TANTO que é um horror!”.

Ele fala que incomoda. Aqui temos a estrutura “Ele fala TANTO que incomoda”.

5. CONDICIONAIS São conjunções que subordinam ideias que exprimem a condição, a hipótese, a probabilidade para a ideia principal do período.

SE, CASO, CONTANTO QUE, SEM QUE, A NÃO SER QUE, SALVO SE, EXCETO SE, A MENOS QUE.

Participaremos do evento, salvo se houver algum empecilho de última hora.

Irei, a não ser que seja impedido por alguém.

Elaborarei o projeto, contanto que ninguém dê palpite.

Não começaremos a reunião sem que ele esteja presente.

6. COMPARATIVAS São conjunções que estabelecem uma relação de comparação, de analogia com a ideia principal do período.

COMO, ASSIM COMO, TAL E QUAL, TAL QUAL, MAIS QUE OU DO QUE, MENOS QUE OU DO QUE, TANTO QUANTO, FEITO (= COMO).

Ele é tão sábio quanto o irmão.

O herói foi tão valente quão magnânimo.

O Brasil foi colônia portuguesa, assim como a Argentina foi colônia espanhola.

“Se mandasse fazer em postas e salgar o Sr. Quintino Bocaiúva, tal qual procedeu para com Ratcliff o fundador do império, não faltariam almas para lançar flores ao sangue dessas crueldades infames.” (Rui Barbosa)

Parecia mais calmo que de costume.

7. FINAIS São conjunções que estabelecem uma relação de fim (finalidade) com a ideia principal do período.

QUE (= PARA QUE), PORQUE (= PARA QUE), PARA QUE, A FIM DE QUE.

Fizemos tudo para que ele fosse aprovado em um concurso.

“Tu que as gentes da terra tudo enfreias, que não passem o termo limitado.” (Camilo C. Branco)

Estudai porque sejais logo aprovado em um concurso.

Observações sobre as conjunções finais:

a) A conjunção “porque” expressando finalidade está em franco desuso na língua portuguesa contemporânea.

b) “A fim de” é uma locução prepositiva. “A fim de que” é uma locução conjuntiva. Ambas indicam finalidade. A primeira emprega-se seguida de um infinitivo, pois se emprega com orações reduzidas. A segunda emprega-se com orações desenvolvidas.

A fim de sair cedo, dormi pouco.

A fim de que saísse cedo, dormiu pouco.

8. PROPORCIONAIS São as conjunções que estabelecem uma relação de proporcionalidade em relação ao fato contido na oração subordinante.

À MEDIDA QUE, À PROPORÇÃO QUE, AO PASSO QUE, QUANTO MAIS... MAIS, QUANTO MAIS... MENOS, QUANTO MENOS... MAIS, QUANTO MENOS... MENOS.

À medida que ele estuda, mais aprende.

Quanto mais trabalha, mais acumula dinheiro.

Os alunos se levantavam, ao passo que iam sendo chamados.

Observações sobre as conjunções proporcionais:

a) Não se esqueça de que “à medida em que” e “na medida que” são expressões que não existem em nossa língua. Surgiram como corruptela da conjunção proporcional “à medida que”.

b) É essencial não confundir “à medida que” com “na medida em que”. Esta introduz orações causais e equivale a “visto que, já que”, enquanto aquela é essencialmente proporcional e equivale a “à proporção que”.

9. TEMPORAIS São conjunções que estabelecem o momento, o tempo da realização do fato contido na oração subordinante (principal).

ENQUANTO, DESDE QUE, LOGO QUE, ASSIM QUE, MAL (= LOGO QUE), ANTES QUE, DEPOIS QUE, ATÉ QUE, AGORA QUE, QUANDO, SEMPRE QUE, TODA VEZ QUE.

“Não olhes para o vinho quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente.” (Provérbios 23:31)

“Minha família, depois que lhe falei a seu respeito, está impaciente para conhecê-lo e desde já fica à sua espera.” (Aluísio Azevedo)

“É a grande resolução que se toma nas grandes dificuldades da vida, sempre que é possível espaçá-las.” (Almeida Garret)

Logo que acabem de comer – continuou ele dirigindo-se ao feitor –, leve-as para a colheita do café.” (Bernardo Guimarães)

10. INTEGRANTES São as conjunções que introduzem as orações substantivas, isto é, as orações que exercem para a oração principal uma das seguintes funções: sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, aposto e predicativo.

QUE, SE

“O certo é que um complexo de circunstâncias lhes tem dificultado regime contínuo.” (Euclides da Cunha)

“Meneses não sabia se tinha ou deixava de ter dinheiro.” (Lima Barreto)

“Pádua obedeceu; confessou que acharia forças para cumprir a vontade de minha mãe.” (Machado de Assis)

Observação sobre as conjunções subordinativas:

Embora não seja reconhecida pela NGB (Nomenclatura Gramatical Brasileira), existe ainda uma conjunção (SEM QUE), que introduz orações que expressam circunstância de modo. Essa conjunção, por isso, é denominada de modal. Vejamos alguns exemplos:

“Os meninos entraram sem que alguém reparasse neles, e foram colocar-se junto do oratório.” (Manuel A. de Almeida)

“Agora, pensava em como entregar a carta sem que ninguém visse, sem escândalo.” (Adolfo Caminha)

9.3 UBIQUIDADE DAS CONJUNÇÕES

Como se sabe, em português, temos praticamente uma só (e importante) conjunção – QUE. As demais são, na maioria dos casos, advérbios que exercem a função conjuntiva ou locuções conjuntivas formadas a partir de verbos, substantivos e advérbios, associados à conjunção “QUE”.

Por isso, muitas conjunções – notadamente a conjunção QUE – podem estabelecer mais de uma relação (mais de um papel) dentro de um período. Quando isso ocorre, diz-se que a conjunção é “ubíqua”, isto é, que a conjunção tem a capacidade de expressar mais de uma relação, mais de um sentido.

Observe abaixo um rol sucinto de algumas conjunções ubíquas.

1 – SE

Pedro só será aprovado se estudar. (conjunção condicional)

Não sabemos se Pedro será aprovado. (conjunção integrante)

Por que me enviaste para a missão se sabias que eu era fraco? (conjunção causal)

2 – QUE

Rezava que rezava, mas não espantava os maus pensamentos. (conjunção aditiva)

“De outras ovelhas cuidarei, que não de vós.” (A. Garrett) (conjunção adversativa)

Todos desejam que tu venhas logo. (conjunção integrante)

Velho que era, evitava lugares altos. (conjunção causal)

Nunca fui à casa do João, que não o achasse estudando. (conjunção consecutiva)

Não discute sobre futebol que não se exalte. (conjunção consecutiva)

Com o constrangimento, fez-se vermelha que nem romã. (conjunção comparativa)

“Porém cinco sóis já eram passados, que dali nós partimos.” (Camões) (conjunção temporal)

Chegados que fomos, todos iniciaram a reunião. (conjunção temporal)

Agora trata de fazer as coisas, que não lhe seja uma manhã inútil. (conjunção final)

3 – COMO

Ninguém sabe como ele aqui chegou. (conjunção integrante)

Como estivesse doente, faltei à aula. (conjunção causal)

O rosto de Maria é branco como a neve. (conjunção comparativa)

Falou como lhe convinha. (conjunção modal)

Como nos orientava o manual, elaboramos o projeto. (conjunção conformativa)

Falou que estaria com ele na riqueza como na pobreza. (conjunção aditiva)

4 – DESDE QUE

Desde que chegue cedo, poderá sair com os amigos. (conjunção condicional)

Desde que chegou, não parou de falar. (conjunção temporal)

5 – QUANDO

Quando falou, todos ficaram emocionados. (conjunção temporal)

Quando a criança chorava, ela cantava e cantava mais alto. (conjunção proporcional)

Gastaram dez dias a pé, quando gastariam cinco se fossem pelo mar. (conjunção adversativa)

6 – E

Chegou cedo a casa e pôs-se a escrever sobre o livro que lera. (conjunção aditiva)

Estudou bastante para o concurso, e não conseguiu nem sequer ficar entre os classificados. (conjunção adversativa)

Observação final:

Entender o valor que a conjunção está expressando depende exclusivamente do contexto em que ela se encontra. Portanto, vale um conselho: não tente decorar os valores das conjunções. Seu esforço será inócuo. Tente, sim, entender o valor que ela está exprimindo na situação em que foi empregada.

9.4 QUESTÕES DE CONCURSOS PÚBLICOS

1. (Fuvest-SP) Nas frases abaixo, cada espaço pontilhado corresponde a uma conjunção retirada.

1. “Porém já inço sóis eram passados ... dali nos partíramos.”

2. ... estivesse doente faltei à escola.

3. ... haja maus nem por isso devemos descrer doas bons.

4. Pedro será aprovado ... estude.

5. ... chova sairei de casa.

As conjunções retiradas são, respectivamente:

a) quando, ainda que, sempre que, desde que, como.

b) que, como, embora, desde que, ainda que.

c) como, que, porque, ainda que, desde que.

d) que, ainda que, embora, como, logo que.

e) que, quando, embora, desde que, já que.

2. (UEL-PR) Não gostava muito de novelas policiais; admirava, porém, a técnica de seus autores.

Comece com: Admirava a técnica...

a) visto como

b) enquanto

c) conquanto

d) porquanto

e) à medida que

3. (UEL-PR) A serem considerados os resultados, o trabalho foi eficiente.

Comece com: O trabalho foi eficiente...

a) desde que

b) ainda que

c) a menos que

d) embora

e) por isso

4. (PUC-SP) Assinale a alternativa que possa substituir, pela ordem, as partículas de transição dos períodos abaixo, sem alterar o significado delas.

“Em primeiro lugar, observemos o avô. Igualmente, lancemos um olhar para a avó. Também o pai deve ser observado. Todos são altos e morenos. Consequentemente, a filha também será morena e alta.”

a) primeiramente, ademais, além disso, em suma

b) acima de tudo, também, analogamente, finalmente

c) primordialmente, similarmente, segundo, portanto

d) antes de mais nada, da mesma forma, por outro lado, por conseguinte

e) sem dúvida, intencionalmente, pelo contrário, com efeito

5. (Cesgranrio-RJ) Assinale o período em que ocorre a mesma relação significativa indicada pelos termos destacados em “A atividade científica é tão natural quanto qualquer outra atividade econômica”.

a) Ele era tão aplicado, que em pouco tempo foi promovido.

b) Quanto mais estuda, menos aprende.

c) Tenho tudo quanto quero.

d) Sabia a lição tão bem como eu.

e) Todos estavam exaustos, tanto que se recolheram logo.

6. (Fuvest-SP) “Podem acusar-me: estou com a consciência tranquila.” Os dois pontos (:) do período acima poderiam ser substituídos por vírgula, explicitando-se o nexo entre as duas orações pela conjunção:

a) portanto

b) e

c) como

d) pois

e) embora

7. (PUC-SP) Em:

“... ouviram-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas...”

A partícula como expressa uma ideia de:

a) causa

b) explicação

c) conclusão

d) proporção

e) comparação

8. (Fuvest-SP) “Que não pedes um diálogo de amor, é claro, desde que impões a cláusula da meia-idade.”

O segmento destacado poderia ser substituído, sem alteração do sentido da frase, por:

a) desde que imponhas

b) se bem que impões

c) contanto que imponhas

d) conquanto imponhas

e) porquanto impões

9. (PUCC-SP) Assinale a alternativa correspondente à frase em que ocorre uso incorreto de conjunção.

a) O homem criou a máquina para facilitar sua vida, e contudo ela correspondeu a essa expectativa.

b) Diga-lhe que abra logo a porta, que eu estou com pressa.

c) Ele tinha todas as condições para representar bem os colegas; nem todos lhe reconheciam os méritos, porém.

d) O problema é que ainda não se sabe se ele agiu conforme as normas da empresa.

e) Ao perceber o que tinha feito com seus livros, gritou que parecia um louco.

10. (PUC-SP) Nos trechos:

“Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como se dançassem inda”

e

“... e a prima-dona com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como um cometa”,

as palavras destacadas expressam respectivamente ideias de:

a) comparação, objeto

b) modo, origem

c) modo, comparação

d) comparação, instrumento

e) consequência, consequência

GABARITO

1 – B

2 – C

3 – A

4 – D

5 – D

6 – D

7 – E

8 – E

9 – A

10 – C

Acesse o portal de material complementar do GEN – o GEN-io – para ter acesso a diversas questões de concurso público sobre este assunto:
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