14.
Registros — 16 a 23 de abril
A vida havia me ensinado uma dura verdade: sonhos antigos, quando testados pela realidade, raramente correspondem às expectativas. Mas não foi assim com Esma.
A despeito dos sites de pornografia e das postagens na internet que documentam vividamente os atos externos, ninguém jamais vai conhecer a experiência interna de outros seres humanos nesses momentos. Mas os extremos de prazer físico que experimentei com Esma eram novos para mim. Quer se tratasse de magia cigana ou do fato de que eu tinha me libertado de todas as inibições ao cruzar o limite profissional que ainda deveria ter observado, em alguns momentos eu me sentia como se tivesse chegado ao âmago da vida, um lugar onde as sensações eram tão intensas que o restante do mundo parecia remoto e viver era pura excitação.
Cada experiência era uma novidade, a começar pela primeira, com ela apoiada numa das belas poltronas de couro do meu quarto. Nunca houve barreiras ou fronteiras, apenas desejo e inspiração. Normalmente, ela fazia uma narração constante e detalhada, nos termos mais profanos e excitantes: “Que pau enorme! Que delícia! Eu vou segurar. Você gosta disso? Sim, eu sei que você gosta! Você sabe que gosta! É tão gostoso...” Vez ou outra, essa descrição cedia lugar a instruções sussurradas sobre como satisfazê-la. “Aí, bem aí. Devagarinho, assim... Ah, sim, vem, vem.” “Belisca.” “Com força.” “Com mais força.”
Mas, melhor que as manobras de balé, ela oferecia um exemplo de como se entregar ao desejo e à sua satisfação. Ela era bastante livre em suas exclamações e na vocalização do terremoto de prazer que assaltava seu corpo com surpreendente frequência. Esma transformou a cama numa bagunça deliciosa e molhada, e sempre queria mais, lembrando-me de outra verdade única sobre o sexo: você pode ver o Grand Canyon, exultar com sua majestade e retirá-lo de sua lista de coisas a fazer. Mas todo mundo quer ter mais um orgasmo.
Nua, Esma era uma inspiração, ainda que suas proporções rubenescas não fossem favorecidas pela nossa era. Quando despimos um ao outro pela primeira vez, ela subitamente pegou o vestido de seda que estava sobre a cama e se enrolou nele, no momento em que o sutiã começava a escorregar.
— Você gosta de seios grandes, Bill?
— Adoro.
— Então se prepare para o paraíso.
A visão dela se aproximando langorosamente era sempre excitante e rapidamente me levava para além do que eu acreditava serem as limitações físicas da meia-idade. Mas seu apelo era muito mais que corpóreo. Anos antes, eu havia representado uma stripper que trabalhava sob o nome de Lotta Lust e não pagava o imposto de renda havia mais de vinte anos. Não havia nada extraordinário na aparência de Stella — seu nome verdadeiro —, mas ela havia sido altamente solicitada no palco por duas décadas. Segundo ela, era uma questão de autoconfiança: “Uma garota que acredita que cada cara que conhece está morrendo de vontade de comê-la quase sempre está certa.” Esma fazia com que eu sentisse, todas as vezes, que estava me dando um presente tão precioso quanto um segredo alquímico.
Como Goos iria de Tuzla para a Bélgica, eu e ela ficamos mais duas noites no Blue Lamp, partindo apenas na manhã de domingo. Durante as primeiras quarenta e oito horas, não usei uma peça de roupa sequer, aproveitando essa liberdade. Na sexta-feira, Esma sentiu fome antes de mim e foi até o lugar que vendia cevapi do outro lado da rua comprar sanduíches para nós dois. Esperei por ela deitado, desfrutando da solidão momentânea e recarregando as energias. Meu corpo inteiro parecia um campo de energia no qual o centro voltaico era o meu pau, e eu sentia uma sede intensa, que parecia ser o resultado de gozar com tanta frequência. Mas não queria me mexer. Em vez disso, exultei por ter escapado tão completamente das minhas amarras, mesmo enquanto os fantasmas dos bósnios assassinados, os estupros, as torturas e a selvageria irrestrita pareciam dançar sombriamente em algum lugar da minha alegria.
Cheguei a Haia no fim da tarde de domingo. Quando entrei no apartamento, havia uma mala bem no meio da sala com o nome de Lew Logan na etiqueta. Lembrei que a senhoria dissera que minha viagem seria conveniente, porque ela e o marido teriam a casa para si. Abri a geladeira para pegar um pouco de água e ouvi pancadas ritmadas no andar de cima. Levei um instante até perceber que era a cabeceira da cama batendo na parede. Depois de alguns segundos, achei que tinha ouvido os gemidos baixos de Narawanda Logan. Fiquei ali mais um pouco, sorrindo deles e de mim mesmo. Eu pretendia sair para um demorado jantar, a fim de lhes dar privacidade, mas Esma me exaurira. Deitei para tirar um cochilo e só acordei às cinco da manhã de segunda-feira.
Meus encontros com a senhoria haviam sido tão esparsos quanto ela prometera, devido, em parte, à disposição do apartamento. O andar de baixo continha uma pequena cozinha e uma sala de estar e jantar de bom tamanho. Três degraus levavam ao único banheiro com chuveiro. Havia duas escadas em frente ao banheiro, cada uma levando a um dos quartos.
Às terças e quintas, quando acordava para as conversas das seis horas com os meus filhos, eu descia para a cozinha a fim de fazer café e sempre encontrava a Sra. Logan na sala, contorcida em alguma posição de ioga. Ela vestia calça de lycra e um top folgado, ambos pretos, e era magra, mas proporcional e inesperadamente graciosa. Nos fins de semana ou quando voltava mais cedo do trabalho, ela corria. Chegava suada e sem fôlego, em outro traje todo preto, com a adição de touca e luvas. Com frequência eu estava lendo na sala, mas ela passava por mim com apenas um oi rápido. Uma vez, mencionei que também costumava correr, até que uma canelite tinha me feito parar meses antes, mas não recebi mais que um aceno cortês enquanto ela se dirigia à escada. De um modo geral, suas atitudes me deixavam ligeiramente confuso, o que era mais ou menos o que Goos me dissera para esperar.
Quando cheguei à cozinha naquela manhã, após voltar da Bósnia, a Sra. Logan estava em seu uniforme de ioga, esperando a chaleira elétrica ferver para que ela pudesse tomar chá antes da rotina matinal. A mala do marido havia desaparecido.
Eu esperava que a senhoria estivesse com o mesmo humor animado em que eu acordara, mas ela parecia distraída. Seu cumprimento foi educado — “Bem-vindo de volta. A viagem foi boa?” —, mas ela estava passando por um daqueles desânimos matinais com que algumas pessoas começam o dia e se retirou em silêncio para começar os exercícios.
Fui para o escritório mais cedo, preparado para encarar uma montanha de papelada. À tarde, eu e Goos nos sentamos em torno da minha mesa para planejar a solicitação de documentos à OTAN. Concluímos que sermos específicos seria a melhor forma de enfrentar a disposição natural do tribunal de evitar controvérsias.
O tempo que Goos passara no Tribunal Iugoslavo lhe dera uma boa ideia do que poderia estar disponível, e ele havia feito sua própria lista.
— Os exércitos não existem para lutar — comentou ele. — Eles existem para preencher formulários. Tudo deve ser documentado.
O primeiro item de sua lista eram empoeiradas escalas de serviço e os registros relacionados a elas, como relatórios dos refeitórios. Eu compreendia sua lógica — muitos soldados de licença ao mesmo tempo poderiam ser os nossos “chetniks”, brincando de se disfarçar no tempo livre. Mas eu não achava que isso fosse nos levar muito longe, considerando-se o obstáculo mais básico.
— Pela lei americana, não podemos interrogar esses caras, Goos, presumindo que estejam em casa agora.
— Eu sei, eu sei, mas a gente pode checar suas contas de Facebook, YouTube e Twitter. Tenho lido os posts sobre a base Eagle há algum tempo. Tem bastante material, mas não muito que possa nos interessar. Mas, com os nomes, podemos procurar esses soldados nas redes sociais e conseguir algumas respostas. Não existe nenhuma lei contra isso, e você não acreditaria no que esses garotos revelam na internet, informações que jamais obteríamos pessoalmente.
Só então entendi por que ele estivera grudado no computador no dia em que eu o havia conhecido.
A segunda solicitação era relativa aos registros dos caminhões e relatórios do depósito de combustível. Queríamos ver se algum veículo pesado tinha deixado a base no meio da noite, mas não entendi por que ele também incluíra os relatórios dos mecânicos e os formulários de requisição de peças.
— Andando à noite naquela mina de carvão, no escuro, seria fácil um caminhão quebrar um eixo ou danificar um pneu.
Em seguida, Goos queria os diários das enfermarias dos campos.
— Eles não conseguiriam forçar quatrocentas pessoas a entrar nos caminhões sem que um dos caras desse um soco num soldado ou uma mulher enfiasse as unhas em seu rosto. Talvez alguns tenham sido atingidos por estilhaços de rocha durante a explosão.
Concordei. Ferko dissera que um dos soldados havia sido atingido pela coronha de um rifle enquanto tentava subjugar o irmão de Boldo.
O quarto item jamais teria me ocorrido, dado meu limitado conhecimento da rotina militar: registros de vigilância aérea.
— A OTAN tinha aviões por toda parte, Boom, além de satélites-espiões, tentando se assegurar de que não havia movimentação de tropas em nenhum dos lados. É assustador o nível de detalhes que eles conseguem obter do espaço.
Goos tinha várias outras ideias, todas excelentes. Com o uniforme de combate, as tropas americanas aparentemente usavam transmissores azuis de GPS projetados para emitir um sinal e, desse modo, evitar incidentes com fogo amigo. Decidimos pedir todos os registros de GPS que poderiam mostrar soldados americanos em Barupra ou nas proximidades em 27 de abril de 2004. A inteligência da OTAN provavelmente também registrara todas as ligações de celular e os endereços de IP daquela área.
Em uma linha separada, Goos havia escrito “Fotos”.
— Fotos? — perguntei.
— Fotos cotidianas. De marchas. Formações. Vamos poder ver quem está faltando, talvez ferido. Isso foi perto do fim da presença americana. As câmeras provavelmente estavam trabalhando o tempo todo para registrar os bons e velhos tempos.
Assenti lentamente, fascinado. Goos era realmente extraordinário.
Sua última sugestão foi todo o arquivo da OTAN relacionado aos esforços para capturar Kajevic em Doboj, das informações da inteligência do Exército americano aos planos operacionais e relatórios de investigações: resultados de balística, relatórios dos investigadores e até mesmo necropsias. Esse era um item sobre o qual havíamos inicialmente discordado. Se a inteligência do Exército fosse sequer remotamente parecida com as unidades de inteligência com as quais eu lidara no FBI e em outras agências de investigação, ela se negaria peremptoriamente a partilhar qualquer informação, com medo de que, mesmo uma década depois, isso pudesse comprometer suas técnicas ou fontes. Em contrapartida, solicitar esses itens nos daria algo do que abrir mão durante as negociações. Tudo que realmente queríamos eram os registros mostrando como os Estados Unidos souberam da localização de Kajevic e se, mais tarde, suspeitaram de uma armação, além de todas as informações sobre os caminhões que os roma haviam roubado de Attila.
Quando estávamos terminando, ouvi o som de notificação do meu celular. Era uma mensagem de texto de Esma.
Reunião em Londres. Acabo de sentir sua última gotinha pegajosa escorrendo pela minha perna.
Fiquei visivelmente corado, algo que não me acontecia desde o início da adolescência.
Eu soubera, desde o momento em que Merriwell havia sugerido solicitar os registros da OTAN, que meus chefes — Badu e Akemi — poderiam ser um obstáculo maior que o Exército americano. A cautela era a regra do tribunal. Sua burocracia férrea, tão diferente da atmosfera independente da procuradoria na qual eu havia trabalhado antes, oferecia um único consolo: era essencial. Sem uma base eleitoral permanente, a única proteção que o tribunal dispunha contra as inevitáveis controvérsias era manter uma regularidade procedimental bastante rígida, mesmo que isso me desse a sensação de que estava perseguindo os malfeitores com tanta afetação quanto um desfile equestre. No restante da semana, meu tempo foi consumido em reuniões sobre a solicitação de documentos com os chefes das três divisões da procuradoria — investigação, acusação e complementaridade. Ninguém questionou minha análise legal. O documento dos bósnios, com seu lacre de cera e suas fitas azuis e amarelas, dava ao tribunal o direito de solicitar qualquer registro a que o governo da Bósnia e Herzegovina pudesse ter acesso. Mas meus colegas permaneciam relutantes, principalmente porque a manobra era uma clara tentativa de passar por cima das leis americanas. O pessoal da complementaridade — basicamente composto por diplomatas — ficou particularmente aborrecido. Eles eram apegados ao formalismo e às vezes me parecia que ficariam completamente felizes se o tribunal nunca mais acusasse alguém, desde que isso evitasse qualquer agitação.
A última reunião com os coordenadores e chefes de divisão ocorreu no escritório de Badu. Mantive os olhos no velho o tempo todo. Ele deu risadinhas, assentiu e suspirou de seu jeito gracioso, sem revelar nada que indicasse que havia entendido o que fora dito. Eu começava a perceber que sua atitude aparentemente aérea o isolava de todos que, dentro e fora do tribunal, tentavam influenciá-lo. Perto do fim da reunião, ele disse, com seu sotaque agradável:
— Meu velho colega lorde Gowen é o embaixador inglês na OTAN. Estou pensando em ligar para ele.
Minha reação inicial foi de pânico, temendo que Badu pudesse estragar tudo de forma irrecuperável, mas, após um momento, percebi que a ligação poderia ser um movimento hábil. Se as principais nações da OTAN — Inglaterra, França e Alemanha, que também eram membros do tribunal — reconhecessem antecipadamente a legalidade da nossa solicitação, os americanos teriam mais dificuldades para recusar.
No dia seguinte, o embaixador Gowen encorajou Badu a prosseguir. O supremo comandante da OTAN no momento era outro inglês que, pelos padrões dos outros soldados, apoiava o tribunal e deixara claro que não se oporia ao pedido. Badu teve o cuidado de obter o apoio de todo o comitê executivo do TPI antes que eu enviasse a solicitação formal à OTAN. Todos nós sabíamos que essa solicitação provavelmente provocaria uma resposta americana explosiva.
Ao voltar da Bósnia, comecei a estabelecer uma rotina. Nas manhãs em que não ligava para Will ou Pete, eu acordava uma hora mais tarde e tomava café lendo o New York Times on-line. Depois disso, frequentemente ligava para minha irmã, Marla, para alguns minutos da conversa amena que havíamos partilhado durante toda a vida. Em Boston, eram quase duas da manhã quando eu ligava, e ela estava sempre sentada na cama, respondendo aos e-mails, recortando artigos de jornais para enviar aos filhos ou lendo o último romance do clube do livro. As luzes estavam acesas, e seu marido ortopedista, Jer, dormia profundamente ao seu lado.
Eu chegava ao escritório por volta das oito e meia e saía às cinco e meia. Jantava num dos cafés perto do apartamento e atacava a pilha de livros que havia trazido para Haia. Atualmente, estava relendo O mago, de John Fowles.
No dia em que nossa solicitação de documentos foi finalmente enviada à OTAN, na Bélgica, eu saí do escritório um pouco mais cedo. Era o primeiro dia de tempo bom que eu via em Haia. O solene céu de inverno dera lugar ao azul, e o vento sul aquecia o ar. Havia quase uma semana, a nova vitalidade que eu adquirira no Blue Lamp estimulava meu desejo por exercícios, algo que eu quase não tinha feito nos últimos meses. Minha senhoria me oferecera a velha bicicleta do marido, que fazia parte da horda no corredor de entrada, e eu estava pensando em aceitar, mas, como eu ainda não conhecia a cidade e com meu péssimo senso de direção, temia me perder em algum lugar sem sinal de celular.
Quando voltei para casa, descobri que Narawanda também tinha saído mais cedo, provavelmente inspirada pelo clima. Ela estava na sala, alongando-se antes da corrida, com o pé apoiado no sofá. Era a primeira vez que eu a via de short e, dada a discrição com que vivíamos, senti como se tivesse entrado no apartamento num momento inapropriado.
Corri para as escadas, mas criei coragem e me virei.
— Você se importaria se eu a seguisse por algum tempo? — perguntei. — Eu só gostaria de conhecer a sua rota. Prometo que não vou atrasá-la. Mas adoraria voltar a correr.
Ela pensou a respeito, quase como se eu tivesse proposto reduzir meu aluguel pela metade, mas finalmente me ofereceu um levíssimo sorriso e concordou.
Meu plano era correr com ela enquanto conseguisse e então caminhar de volta para casa. Nosso ritmo inicial foi vacilante, correndo pelas ruazinhas lotadas perto do apartamento. Mas Narawanda logo me levou a uma rota mais rápida, passando pela arborizada esplanada da Lange Voorhout e pela monolítica embaixada americana, que parecia um abrigo antibombas, até o grande parque de Haia, o Haagse Bos.
Baseado na minha experiência até então, eu não esperava que ela fosse loquaz, mas perguntei educadamente sobre a visita do marido.
— Foi boa — respondeu ela, o que parecia pouco, dado o vigor das pancadas na parede. — Lewis falou o tempo todo sobre quanto adora Nova York e quanto é bom estar lá de novo. — Seu inglês era correto, embora ocasionalmente forçado, pronunciado com sotaque holandês, com o “r” rolado, o “o” longo e o “g” gutural, e temperado com um leve toque dos agudos de Java.
— E você? — perguntei. — Você gosta de Nova York?
— Para visitar, é divertido. Para viver, muito difícil. Não é para mim. Estou acostumada a Haia.
Senti como se tivéssemos chegado a um impasse, mas, após um momento, ela fez várias perguntas sobre a minha viagem. Seu ritmo estava muito mais rápido, e cada palavra era um esforço, mas dei respostas longas, esperando finalmente ter alguma interação genuína com ela. Falei sobre meus filhos e sobre a Bósnia, fornecendo um breve roteiro, mas sem entrar nos detalhes da investigação.
A Bósnia fora minha primeira visita a um país majoritariamente muçulmano, e eu tinha ficado impressionado com a versão descontraída do islã praticada em Tuzla. A chamada para as orações era emitida dos minaretes cinco vezes ao dia, mas a maioria das mulheres dispensava o hijab e havia álcool no cardápio de todos os restaurantes. Aparentemente, a religião era um assunto particular.
— Foi com esse islã que eu cresci — disse Narawanda. — Modernista. Minha mãe cobria a cabeça na mesquita e a frequentava todas as semanas quando eu era pequena, mas sempre me lembrava do verso do Corão que dizia que o próprio Alá planejou a existência de muitas fés.
Eu havia feito as observações sobre o islã na Bósnia sem pensar que Narawanda pudesse ser muçulmana. Ela percebeu meu constrangimento, mas dispensou as desculpas.
— Eu sou uma muçulmana relapsa. Não vou à mesquita nem voltei a praticar jejum desde que me casei com Lewis.
— Vocês combinaram isso?
— Não, não. Aconteceu. Na verdade, naquela época, Lewis e eu tínhamos decidido que, se tivéssemos filhos, eles seriam educados na tradição muçulmana.
— E isso mudou?
Ela refletiu sobre a pergunta por várias passadas.
— Realmente não sei. Por enquanto, não temos condições de ter filhos. Nós sequer vivemos na mesma cidade.
Dado seu estranho temperamento, eu não sabia se ela estava aborrecida ou apenas sendo prática, mas senti meus pulmões chegando ao limite. Fiz sinal para que ela prosseguisse sem mim, prometendo me sair melhor se corrêssemos juntos novamente.