Nota do autor

Quanto disso é verdade? Todo romancista quer responder a essa pergunta da mesma maneira: tudo — e nada.

Vou ser um pouco mais direto. Frequentemente fui inspirado por eventos do mundo real. Contudo, esta é uma obra da imaginação. Nenhum personagem representa alguém que já viveu. Isso porque, mesmo quando comecei com ocorrências reais, eu as alterei para obter maior efeito dramático ou para atender a objetivos mais amplos da história.

Por exemplo, a despeito da deplorável história de abuso do povo roma, inclusive durante a Guerra dos Bálcãs, nunca houve um campo de refugiados roma perto da verdadeira base Eagle. Não estou ciente do massacre, comprovado ou alegado, de centenas de roma na Bósnia do pós-guerra, muito menos um no qual os soldados americanos da OTAN fossem suspeitos. De fato, pelo que ouvi, a reputação dos soldados americanos que serviram na base Eagle era excepcional, embora não se possa dizer o mesmo de nossos terceirizados militares. (Ver, por exemplo, o relatório da Human Rights Watch, volume 14, n. 9, D, “Esperanças traídas: tráfico de mulheres e meninas para a Bósnia e Herzegovina pós-conflito, para prostituição”. Nova York, Human Rights Watch, 2002.)

Em contrapartida, o envio de centenas de milhares de armas da Bósnia para o Iraque, em agosto de 2004, incluindo o fato de que a disposição dessas armas jamais foi averiguada, está bem documentado por, entre outros, o Tribunal de Contas e a Anistia Internacional. (Ver Glenn Kessler, “Weapons Given to Iraq Are Missing” [“Armas enviadas ao Iraque desapareceram”], Washington Post, 6 de agosto de 2007; Anistia Internacional e TransArms, Dead on Time: Arms Transportation, Brokering and the Threat to Human Rights [Morte na hora: transporte e intermediação de armas e a ameaça aos direitos humanos], Londres, Anistia Internacional, maio de 2006. Ver também “Bosnian Arms Donated to Afghanistan Probably in Taliban’s Hands — Researcher” [“Armas bósnias doadas ao Afeganistão provavelmente nas mãos do Talibã — Investigação”], BBC Monitoring International Reports, 14 de agosto de 2007; e Stephen Braun, “Bad Guys Make Even Worse Allies” [“Caras maus são aliados ainda piores”], Los Angeles Times, 13 de agosto de 2007, disponível em http://www.latimes.com/la-oe-braun13aug13-story.html.)

Nesse mesmo sentido, reconheço que às vezes não fui muito rigoroso com a geografia da Bósnia. A descrição das maiores cidades pretendeu ser precisa. Entretanto, as pequenas cidades que menciono são geralmente fictícias, assim como o monastério em Madovic, embora ele tenha alguma semelhança com outros monastérios na Bósnia e Herzegovina.

Em vez de transformar esta nota num artigo de direito, com intermináveis citações catalogando as peças de realidade que foram meus pontos de partida, postei no meu site (www.scottturow.com) uma série de notas, página a página, descrevendo parte do que me inspirou. Também incluí uma bibliografia das muitas obras escritas que foram centrais na minha pesquisa. Tenho uma profunda dívida para com seus autores.

Os leitores não vão ficar surpresos ao ouvir que escrever este livro me levou à Europa várias vezes, incluindo viagens à Holanda e à Bósnia. Jamais vou ser capaz de agradecer adequadamente às muitas pessoas que partilharam seu tempo e suas impressões comigo. Todos falaram sem impor condições para o que eu iria escrever, e suspeito que, em muitos casos, vão discordar das opiniões que eu ou meus personagens expressamos. Nenhuma das pessoas mencionada a seguir é responsável pelas minhas visões ou pelos erros que indubitavelmente cometi, a despeito de seus esforços. (E, aos muitos que preferiram não ser mencionados, permaneço consciente de sua ajuda e profundamente agradecido por ela.)

Primeiro, o Tribunal Penal Internacional. Como qualquer instituição, o TPI tem suas forças e fraquezas. Mas partilho com Boom a crença de que, devido à persistente realidade das atrocidades de guerra, o TPI é indispensável para a construção de um mundo mais justo. Espero que, com o tempo, os Estados Unidos forneçam sua autoridade moral ao tribunal, ratificando o tratado que assinamos. Dados os fundamentos legais para o exercício da autoridade do tribunal, vejo os medos americanos, embora longe de serem imaginários, como equivocados e em conflito com seus interesses de longo prazo no apoio ao Estado de Direito em todo o mundo.

Fui recebido no tribunal por vários oficiais: o juiz-presidente Cuno Tarfusser, a promotora Fatou Bensouda e o secretário Herman von Hebel. Também falei com muitos membros antigos ou atuais do TPI. O professor Alex Whiting, da Faculdade de Direito de Harvard, foi extraordinariamente generoso com seu tempo e fez muitas apresentações; também conversei com Sam Lowery, Julian Nicholls e Claus Molitor, entre outros.

Marie O’Leary, Dan Ivetic e Vera Douwes Dekker me ajudaram a entender a vida dos advogados de defesa em Haia, tanto no Tribunal Penal Internacional quanto no Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia.

A maravilhosa autora Jean Kwok e seu marido, Erwin Kluwer, me apresentaram à cozinha indonésia em Haia e responderam a incontáveis perguntas, nos dois anos seguintes, sobre a vida em sua cidade natal. Ambos leram um esboço inicial deste livro e corrigiram erros grosseiros e pequenos, incluindo dois que teriam se provado extremamente cômicos.

Meu entendimento de Haia e do ambiente diplomático local foi grandemente aprimorado durante minhas conversas com meus amigos, nossa ex-embaixadora na Holanda, Fay Hartog-Levin, e seu marido, Dan Levin. O embaixador Tim Broas também foi adorável o bastante para me receber na embaixada. Muitas das conexões que fiz na comunidade diplomática ocorreram com a ajuda de meus queridos amigos Julie e David Jacobson, David sendo tanto meu ex-sócio num escritório de advocacia quanto nosso mais recente embaixador no Canadá. Também tenho uma dívida para com Andrew Wright e Thea Geerts-Kuijper, pela sua hospitalidade enquanto eu estava em Haia. Obrigado também ao juiz aposentado Thomas Buergenthal, da Corte Internacional de Justiça, que conversou informalmente comigo sobre questões legais de âmbito global. Por fim, ainda em relação à Holanda, um muito obrigado ao habitante de Haia William Rosato, que ofereceu intrépidas sugestões para o roteiro deste livro.

Minha compreensão da Bósnia foi ampliada por muitas pessoas. Meus colegas de ensino médio, nosso ex-embaixador lá (e na Grécia), Tom Miller, e sua esposa, Bonnie Stern Miller, forneceram insights inestimáveis. Scott Simon fez a gentileza de partilhar algumas de suas lembranças da Bósnia, obtidas no tempo que passou lá como repórter (e como autor de um magnífico romance, Pretty Birds [Belos pássaros], que também me informou de muitas maneiras). Conversei várias vezes com Christopher Bragdon, que dirige a BILD, uma ONG comprometida com a reconstrução e a reconciliação da Bósnia. Meu conterrâneo de Chicago, o renomado autor Aleksandar Hemon, ofereceu conselhos periódicos sobre sua terra natal enquanto eu escrevia e gentilmente corrigiu erros num esboço inicial deste livro. Preciso oferecer palavras não somente de gratidão mas também de desculpas a Husagić Mesnur e aos oficiais da Rudnik soli Tuzla (Mina de Sal de Tuzla), que me receberam calorosamente, sem fazer ideia do mal que pode ocorrer na imaginação de um autor. Todos os eventos que Boom descreve numa diferente — e inteiramente imaginária — mina de sal são completamente fictícios. Muito obrigado a Edin Selvic pelo dia que passou comigo, inclusive me levando ao local do campo Bedrock. Minha gratidão ao professor Eric Stover, da Faculdade de Direito de Berkeley, pelas nossas trocas de e-mails sobre questões de direitos humanos e antropologia forense, incluindo uma triste história que incluí no romance.

Na cidade de Poljice, Nazif Mujić, conhecido em todo o mundo pelo seu papel no premiado filme An Episode in the Life of an Iron Picker [Um episódio na vida de um catador de ferro], me recebeu em sua casa e, com a família e amigos, falou longamente sobre a vida dos roma na Bósnia. Obrigado também ao meu amigo Michael Bandler, que ajudou a expandir minha compreensão das questões internacionais relacionadas aos roma.

Ninguém foi mais útil em aprofundar meu entendimento da Bósnia que minha incomparável guia, Dajana Zildzic. Dajana me conduziu pelo país durante dias, falando honestamente sobre a Bósnia, e atuou como intérprete em várias entrevistas. Ela também revisou e corrigiu uma versão anterior deste livro. Finalmente, participou comigo de um pequeno projeto humanitário, com a assistência de Chris Bragdon.

Mudando de hemisfério, o estimado autor, defensor de autores e editor australiano Angelo Loukakis ajudou Goos a falar um inglês australiano melhor. Angelo também ofereceu comentários perspicazes sobre o manuscrito.

Mais perto de casa, recebi um valioso feedback sobre esboços iniciais do livro de Julian Solotorovsky e Dan Pastern; do meu agente na CAA, Bruce Vinokour; e das minhas filhas, Rachel Turow e Eve Turow Paul, assim como do meu genro Ben Schiffrin.

Gratidão eterna à melhor agente literária do mundo, Gail Hochman. Aplausos e gratidão a minha editora Deb Futter, que merece uma menção extraespecial por estar disposta a apostar num livro com um cenário amplamente estrangeiro, num sistema legal pouco familiar, assim como pelas suas incansáveis edições, que me desafiaram em vários esboços.

Por fim, amor e agradecimentos especiais à minha esposa, Adriane, que leu e comentou vários esboços. Mais especificamente, ela aguentou durante anos olhares subitamente distantes e frases interrompidas quando, no meio das nossas conversas, minha mente voava de volta a Boom.