7.

Jantar

O general morava no vasto complexo Watergate e me recebeu à porta do apartamento no sexto andar. Havia tirado o paletó, mas ainda estava de camisa branca e gravata, com uma dose de uísque pela metade na mão esquerda.

Enquanto ele pendurava meu paletó, ouvi o barulho de talheres na cozinha. Meu primeiro pensamento foi de que ele morava com alguém, mas então me lembrei de seu comentário sobre jantar sozinho. Um criado apareceu logo em seguida, um homem asiático pequeno usando avental branco, e me ofereceu uma bebida. O general o apresentou como Paul e explicou que seu irmão mais velho, que era oficial da Marinha, o trouxera de Saigon quando ele ainda era criança.

— Ele tem quatro filhos agora — disse Merriwell. — O mais jovem acabou de se formar na Faculdade de Direito de Easton. Foi onde o senhor conheceu Roger, não foi? — Ele ainda mantinha uma mão calorosa no ombro de Paul. — Temos um grande país, Sr. ten Boom.

Eu tinha uma suspeita natural do jingoísmo americano, mas um mês e meio fora dos Estados Unidos havia aumentado meu orgulho pelo nosso país, e experimentei uma onda de emoção ao ouvir o comentário do general. Nossa nação fazia muitas coisas grandiosas melhor que outros lugares.

Paul voltou com uma bebida para mim e outra para o general, e Merriwell me mostrou o apartamento. A decoração era esparsa. As atrações estavam do lado de fora das grandes janelas. Ele tinha uma bela vista do Potomac e dos monumentos. Mas o tesouro real era seu escritório. O cômodo era tão ordenado que achei intimidador, pois não conseguia manter sequer minha maleta assim tão organizada. Ele tinha uma coleção de relíquias do Exército — a insígnia das unidades em que servira e as patentes que ocupara — e uma parede com fotos assinadas que fazia aquela da qual eu certa vez havia me orgulhado, no meu escritório no DeWitt Royster, parecer tola em comparação. Layton Merriwell havia conhecido praticamente todo mundo que detinha algum poder em Washington em sua época. Ele havia sido fotografado ao lado de cada presidente desde Reagan, frequentemente acompanhado pelo secretário da Defesa correspondente e pelos líderes dos comitês da Força Aérea na Câmara e no Senado. Colin Powell estava em várias delas. Todas reveladas em vinte por vinte e cinco, as fotos estavam equidistantes, do piso ao teto, à exceção de um espaço em branco no canto inferior direito.

— Quem fica ali? — perguntei, apontando.

Ele abriu a gaveta de cima e retirou uma foto autografada de si mesmo trocando um aperto de mão com Alex Rodriguez, a estrela dos Yankees que estava retornando de um ano de suspensão por ter usado várias substâncias químicas para melhorar o desempenho.

— Eu acabei de conseguir isso de volta, Bill. Posso chamar você de Bill, agora que estamos fora do expediente?

— Eu respondo mais rápido a “Boom”.

— Merry — disse ele, tocando a camisa na altura do peito. Suspeitei que o apelido lhe fora dado no mesmo espírito de ironia adolescente que o meu. Mas talvez o general tivesse sido muito mais jovial no passado. — Foram necessários dezoito meses de negociação entre os advogados para que eu pudesse pegar algumas coisas do meu escritório em casa. Roger me disse que você já passou por isso.

Compreendi imediatamente o real motivo do convite. O divórcio depois de um longo casamento não é um fenômeno isolado, mas você se une a uma minoria que recebe limitada simpatia.

— De qualquer modo, Paul acabou de reorganizar as fotos, e vamos pendurar o Sr. Rodriguez amanhã.

Eu ri do mal-entendido.

— Eu achei que o senhor tinha acabado de retirá-lo da parede.

— De modo algum. Quem tem telhado de vidro... — disse o general. — Não consigo imaginar quantas fotos minhas foram retiradas das paredes nessa cidade, Boom.

O general se forçou a dar um leve sorriso e recolocou a foto na gaveta aberta, mas, quando se virou, seu olhar estava distante, e ele permaneceu em silêncio por alguns segundos, encarando um ponto vazio na parede. Inesperadamente, percebi a magnitude de sua vergonha, de maneira muito mais pungente que até então. Layton Merriwell havia sido figurativamente obrigado a caminhar nu pela Pennsylvania Avenue diante de uma multidão que escarnecia dele. Os principais jornais foram decorosos demais para publicar seus e-mails mais piegas para a ex-amante, mas os sites sensacionalistas, que adoram esse tipo de coisa, reproduziram cada linha: palavras furiosas, atormentadas, suplicantes e, com muita frequência, pornográficas. Merry havia tido que suportar todo o turbilhão de questões internas que a maioria de nós jamais partilha exibido para o mundo inteiro, sabendo que isso sempre estaria associado ao seu nome.

Fui poupado da tentativa de fazer um comentário reconfortante quando Paul anunciou o jantar. Uma tigela de sopa de caranguejo fumegava sobre a velha mesa de mogno.

O general se provou um grande contador de histórias. Como havia prometido, falamos de beisebol. Merry tinha muitas histórias dos bastidores por causa do seu relacionamento com vários donos e administradores de times. Eram histórias engraçadas ou, com mais frequência, inspiradoras sobre atletas que reagiram ao enorme sucesso com incomum humildade ou generosidade. Merry também tinha uma memória admirável para estatísticas. Ele nutria grandes esperanças para os Yankees naquele ano. Por ser do condado de Kindle e torcedor dos Trappers, eu não tinha nenhuma.

Quando Paul retirou os pratos, o general acenou para que eu o acompanhasse pelo corredor de volta ao seu escritório, onde me pediu para segurar seu uísque — o quarto, pelas minhas contas —, enquanto ele usava um banquinho de mogno para alcançar o alto de um armário fechado. Desceu do banquinho segurando duas grandes caixas de couro com fechos prateados. E as abriu sobre a mesa para revelar uma notável coleção de bolas de beisebol autografadas. Em cada compartimento quadrado e forrado de veludo, as bolas foram dispostas com precisão para revelar as assinaturas de grandes nomes do esporte, a começar por Napoleon Lajoie, que fora um astro perto do fim do século XIX. Ele tinha bolas assinadas de Honus Wagner, cujas estatísticas eu conhecia desde criança, assim como de rebatedores recordistas como Ty Cobb e Rogers Hornsby. A segunda caixa era dedicada exclusivamente aos astros dos Yankees no último século: Ruth, Gehrig, DiMaggio, Mantle, Dickey, Reggie Jackson, Dave Winfield, Jeter e A-Rod.

Eu as admirei por um tempo, enquanto o general retirava um par de luvas brancas de algodão de uma gaveta. Ele calçou uma e pegou a bola de Gehrig. Então me ofereceu a outra e, em seguida, a bola. Sofrendo de esclerose lateral amiotrófica, Lou Gehrig havia se declarado “o homem mais sortudo do mundo” no dia em que se aposentara. Claramente era o tipo de sujeito que um soldado admiraria.

— Estive pelo mundo inteiro em alojamentos temporários — disse Merriwell —, nos quais eu não tinha nada além dos meus uniformes. Por isso, fiquei surpreso com a falta que senti dessas coisas. Embora ainda não tenha aquelas que mais desejo.

— Quais são elas?

— As fotos das minhas filhas, que ficavam no meu escritório. Florence diz que são dela.

Merry balançou a cabeça, pasmo com a onda de amargura que engolfara sua vida.

Expliquei que eu e Ellen havíamos nos divorciado em relativa paz.

— Mas eu passei por coisas o suficiente — continuei — para saber que cinco anos de divórcio são piores que tortura.

Minha compaixão era sincera, embora não fosse muito difícil defender o caso da Sra. Merriwell. Ela havia cuidado da casa e da família por quarenta anos, enquanto Merry estava fora, realizando grandes feitos, e provavelmente acreditara ter um casamento relativamente feliz, apesar de todas as difíceis concessões e da aceitação relutante que muitos casais enfrentavam. Um dia, abriu o jornal matutino e descobriu não somente que o marido obtivera um clímax de satisfação até então desconhecido com outra mulher, que a mulher em questão era mais jovem que uma das suas filhas e, ainda pior, que ele tinha implorado pela chance de abandonar a Sra. Merriwell, a quem se referia repetidas vezes em termos pouco refinados. Talvez a revelação mais dolorosa de todas tenha sido que, após o caso, ele visse seu tempo com a esposa como o purgatório árido ao qual estava confinado, em uma espécie de punição poética pelo êxtase que havia experimentado por pouquíssimo tempo.

— Nenhuma conclusão à vista? — indaguei.

— Eu quis negociar. Nenhum de nós, minha esposa, minhas filhas ou eu mesmo, precisa oferecer ainda mais material para a imprensa, apelando aos tribunais. Mas estou perdendo as esperanças. Estou ganhando bem pela primeira vez na vida e, enquanto não assinar o divórcio, Florence fica com metade. — Ele me olhou e ofereceu o sorriso espirituoso que começara a emergir perto do fim da nossa reunião. — Existe um motivo para as pessoas odiarem advogados, Boom. E, é claro — acrescentou —, embora nada esteja resolvido, minhas filhas parecem se sentir na obrigação de ficar do lado da mãe. Eu tive uma neta no ano passado que ainda não conheci. — Ele havia bebido demais para permanecer completamente impassível depois desse comentário e baixou os olhos cinzentos por um momento. — Mas recebi aquela foto no Natal, então ainda há esperança.

Admirei a foto de um belo embrulhinho loiro, emoldurado no centro exato de sua mesa.

— E como vai a sua vida amorosa agora? — perguntei.

— Ah — respondeu Merriwell. — Não teve nada. Meu advogado acha que seria jogar lenha na fogueira, já que inevitavelmente seria um evento público. E, de qualquer modo, não sei se estou pronto para isso.

— Depois de cinco anos, Merry, você provavelmente está tão pronto quanto jamais vai estar.

— Dez, na verdade. — Demorei um pouco para compreender, então percebi que ele se referia à major St. John. — E qualquer relacionamento vai envolver compromissos que não quero assumir.

Uma onda incapacitante de emoção, alimentada pelo álcool, paralisou suas feições por um momento, e o general se recusou a olhar para mim enquanto eu analisava o fato de que ele ainda não havia superado o passado. Merry voltou o olhar para a bebida.

— Eu tive uma vida disciplinada — comentou ele. — E então chegou uma hora em que eu já não conseguia mais ser assim. Gostaria de poder dizer que, em retrospecto, jamais repetiria o que fiz. Eu me sinto devastado pela dor que causei a todo mundo. Mas, agora, tenho uma noção muito melhor de quem eu sou. E não gostaria de ter passado pela vida sem saber isso. — Merry finalmente olhou para mim. — Isso é muito estranho?

— É claro que não — respondi, embora não tivesse tanta certeza. — Só estou tentando entender, Merry.

— E a que conclusão chegou?

— Duvido que as minhas impressões valham alguma coisa.

— Sem desculpas. Você parece ter ficado intrigado com alguma coisa.

Pensei a respeito por algum tempo.

— Isso não é da minha conta e provavelmente estou errado — falei —, mas você parece estar dando permissão a todo mundo para puni-lo, a começar por você mesmo, como se isso pudesse compensar o valor que dá àquela experiência. Acho que está na hora de seguir em frente e tirar vantagem do que aprendeu. Não faço a menor ideia de para onde estou indo, mas me sinto muito melhor agora que estou em movimento do que nos anos em que parecia estar imobilizado.

Era bem provável que eu fosse a milésima pessoa a dizer algo assim a Layton Merriwell. Mas isso não significava que as outras novecentas e noventa e nove foram ouvidas. Ele me encarou como se minhas palavras fossem a Anunciação.

— Obrigado — disse por fim.

Passava um pouco das nove. Chamei um táxi e tirei meu paletó do closet. Ficamos parados à porta.

— Foi um prazer conhecê-lo, Boom. Espero que nos vejamos novamente.

— Eu também, Merry.

A vida, é claro, está cheia de pessoas das quais você gosta muito e depois nunca mais vê. É uma das muitas pequenas tragédias de se viver apenas uma vez. Ambos parecemos contemplar esse fato por um momento.

— Desejo sorte na sua investigação, Boom. De verdade. Não sei o que você vai descobrir, mas sei o que não vai. — O general abriu a porta e estendeu a mão, que apertei. Para minha surpresa, ele a segurou por um momento. — Eu pensei no que você disse sobre os registros do Exército absolverem a todos nós. E existe um aspecto que você pode não ter levado em consideração. O controle dos documentos que você gostaria de ver é mais complicado do que imagina, Boom. Nossos soldados operavam sob o comando da OTAN. Assim, alguns documentos pertencem à OTAN e outros são cópias de documentos dessa mesma organização. Se eu fosse você, leria cuidadosamente o estatuto das Forças e prestaria atenção nas provisões sobre assistência na investigação de crimes.

Assim que Merry disse isso, eu soube que era uma revelação que jamais teria sozinho. Com exceção dos Estados Unidos, todos os países da OTAN eram signatários do tratado do TPI, o que significava que seriam obrigados a cooperar com uma requisição de documentos do tribunal.

Eu o encarei por um minuto inteiro antes de agradecer.