Acréscimo ao histórico do Distoma hepaticum*

Embora impedido, por circunstâncias externas, de concluir minha pesquisa sobre Distoma hepaticum da forma desejada, consegui fazer mais algumas observações antes de minha partida de Honolulu. A seguir, darei um resumo dos resultados obtidos.

Sobre o destino das cercárias encistadas de dístomo hepático logo após a alimentação, só pude descobrir pouca coisa, porque algumas experiências relativas a isto não deram o resultado esperado, em virtude da lenta digestão e da refeição volumosa de algumas cobaias. (No caso do porquinho-da-índia, encontrei o estômago repleto, mesmo após um jejum de 17 horas.) Contudo os resultados indicaram que, enquanto os cistos exteriores logo se desagregam no estômago, a eclosão do interior só ocorre no intestino. Além disso, cheguei à conclusão de que os dístomos jovens não alcançam o fígado através dos colédocos, como se supõe comumente, uma vez que ali nunca são encontrados, mas que a passagem se faz pelas raízes da veia porta - e, em parte, apenas a partir de porções do intestino situadas mais embaixo. (O que explicaria até mesmo um dos meus insucessos anteriores, uma vez que examinei apenas as partes situadas acima da boca do ductus choledochus do canal intestinal, bem como os colédocos; desde então, realizei experiências bem sucedidas com uma cabra.)

Num porquinho-da-índia jovem, examinado quatro dias após a alimentação com cercárias encistadas de dístomo hepático, foram encontrados os dístomos jovens, de cerca de V2 mm de comprimento, já na superfície do fígado, onde haviam aberto túneis parecidos com os dos Sarcoptes na pele. Túneis semelhantes, porém relativamente mais grossos, também foram encontrados num coelho de tamanho médio, dez dias após a infecção, e também num bode semi-adulto, no qual foram encontrados inúmeros dístomos de 21, 33 e 41 dias. No preparado fresco, esses túneis não possuem lúmen nítido, como o encontrado nos tubos de parede rígida dos fígados bovinos, mas são caracterizados pela infiltração purulenta fibrinosa das paredes. Seu percurso irregular, sinuoso, faz parecer fora de cogitação que estejamos aqui diante de uma dilatação das cavidades naturais apenas.

Muitos desses túneis percorrem a superfície do fígado, e são nitidamente reconhecíveis também no preparado alcoólico; uma parte deles já foi abandonada pelos parasitas.

Os citados dístomos de quatro dias foram os exemplares mais jovens que examinei; ainda apresentavam totalmente a forma oval regular, adotada pela cercária em repouso. A ventosa, que ainda mal se salienta, situa-se um pouco antes da linha mediana transversal. A guarnição de espinhos e os músculos são tênues, porém nítidos. O intestino encompridou-se significativamente e só decorre em linha reta se o corpo estiver fortemente esticado; quando em repouso, e mais ainda no encurtamento do eixo longitudinal do corpo, ele se põe em dobras que podem ser enganosamente semelhantes ao início de uma ramificação dendrítica; no entanto, por ora não há qualquer indício desta última. Também o sistema excretor, que ainda contém alguns pequenos grãos, mas nenhuma concreção grossa, ainda apresenta a formação bifurcada simples; no estado relaxado, ambas as ramificações e o tronco parecem sacos largos. O poro é nitidamente visível; porém, ainda não há indício dos órgãos genitais. Ao examinar o intestino, não só se vê cada epitélio fortemente granulado, mas também seu núcleo. Em geral, o lúmen do intestino está repleto de massas marrons que contrastam fortemente com o corpo, de resto quase hialino. Por sua disposição característica, elas tornam o animalzinho facilmente reconhecível, o que também ocorre graças a seus movimentos. Estes são quase contínuos e muito intensos, comumente debatendo-se e revolvendo-se, ao passo que raramente ocorre a forma extrema dos movimentos semelhantes aos das sanguessugas; eles continuam por muito tempo mesmo com o esfriamento paulatino. Uma vez esvaziado o intestino e morto o próprio animal, ele só será identificado com dificuldade através de sua forma e da descoberta das ventosas.

No 5° dia após a alimentação, as condições anatômicas ainda são as mesmas.

No 10° dia, a bifurcação do vaso excretor se deslocou para frente e as ramificações não formam mais sacos frouxos; além disso, formou-se um sistema de finas ramificações repletas de grãozinhos e gotinhas. No intestino, a parede externa desenvolveu-se mais, e, na parte convexa, suas dobras evidenciam abundantes depressões secundárias, as quais parecem inícios de ramificações, mas que, de modo algum são fixas; ao contrário, são levadas a desaparecer completamente em virtude de fortes movimentos de estiramento. No 12° dia, tais condições estão um pouco mais desenvolvidas, porém as áreas laterais continuam completamente livres. No 22° dia, ao contrário, indubitavelmente já são encontradas, adentrando aquelas, nítidas ramificações, embora ainda bem simples. Estas continuam a desenvolver-se rapidamente, e no 30° dia já são bastante complicadas; no 42° dia a diferenciação está praticamente concluída.

O corpo inteiro adquiriu, já no 20° dia, uma forma mais lanceolada, pois a extremidade posterior apresenta-se nitidamente mais estreita e delgada, e a anterior, ao contrário, mais maciça; além disso, a ventosa do ventre forma um cone saliente. Entre as duas ramificações do intestino sobrou uma área livre, em cuja extremidade posterior aparece um pequeno aglomerado arredondado de células, como um esboço de ootipo. Antes da ventosa da barriga, distinguem-se os esboços bem maiores de cirros e bolsas de cirros. Essas condições já são perceptíveis macroscopicamente, não raro mais nítidas do que na imagem microscópica. (Um exemplar desta idade também apresentava claramente sangue fresco como conteúdo do canal intestinal.) No 30° dia, tais formações eram ainda mais nítidas; percebe-se o cirro espinhoso e o canal deferente; antes do ootipo, aparece o útero, como um tubo sinuoso, o qual, no entanto, somente mais tarde (no 42° dia) forma laços deitados transversalmente. Não acompanhei o desenvolvimento ulterior dos dístomos; creio, porém, que o tempo até o amadurecimento completo não dure menos de 10 a 12 semanas.

Das minhas experiências bem-sucedidas (com cinco porquinhos-da-índia, um coelho, uma ratazana e uma cabra doméstica) depreende-se que a transmissão dos cistos de dístomo hepático faz-se com facilidade. (Tudo indica que os poucos fracassos foram apenas aparentes.) À exceção do rato, cujos dístomos ainda eram muito pequenos, sempre se encontravam na superfície do fígado das cobaias nítidas transformações macroscópicas, correspondentes às descrições anteriores; chamava atenção o fato de que sempre as partes do fígado situadas à esquerda é que estavam mais alteradas e também acusavam mais parasitas. Os canais biliares e a vesícula biliar sempre estavam isentos; neste último, nunca encontrei exemplares imaturos, mesmo no gado bovino.

Gostaria de acrescentar uma curta observação sobre a determinação do diagnóstico em animais vivos. O exame simples das amostras de fezes através do microscópio pode dar resultados negativos até mesmo em bois fortemente infectados. Isto se explica pelo fato de que as fezes dos herbívoros são bastante volumosas e contêm grandes quantidades de partes vegetais não digeridas e muito opacas, as quais, porém, podem ser facilmente retiradas lavando-se os excrementos sobre um filtro de gaze, o qual retém todas as partículas mais grossas. O líquido do filtrado será então cuidadosamente vertido dos sedimentos e lavado por meio de novo acréscimo de água, de sedimentação e decantação, até que toda a coloração biliar tenha quase desaparecido. No resíduo, que ainda contém pequenas partículas de plantas e areia, os ovos são facilmente comprováveis, uma vez que o seu tamanho relativamente grande permite o uso de lentes fracas, em virtude do que, naturalmente, o campo de visão adquire amplitude e profundidade. Preparados em culturas, todos os ovos contidos no resíduo desenvolvem-se de modo uniforme.

Ainda tenho algo a comunicar sobre os hospedeiros intermediários do dístomo hepático. Estudos seguidos mostraram-me que, além do hospedeiro intermediário já descrito, existe outro, facultativo, nas ilhas do Havaí, e que, além desse, ainda há formas pequenas de limneídeos que possivelmente desempenham o mesmo papel. Embora a espécie primeiramente observada seja em Oahu a única importante na prática, isso talvez seja diferente em outras ilhas, que poderiam até mesmo possuir espécies totalmente diversas. Assim acontece com os moluscos terrestres, entre os quais, das muitas espécies do gênero Achatinella, nenhuma parece pertencer a mais de uma ilha. Estas são, no entanto, restritas às florestas de montanhas e, por isso, não podem ser facilmente transferidas pela mão do homem ou pelas aves aquáticas bastante numerosas e, em parte, migratórias. Na realidade, os moluscos de água doce também parecem estar distribuídos mais uniformemente, contudo, não me foi possível solucionar a questão, tanto mais que, salvo algumas exceções, o apoio das respectivas comarcas me foi completamente negado.

Com o propósito de estudar os limneídeos havaianos, contatei o conquiliólogo havaiano Sr. D. D. Baldwin, em Haiku (Maui), de quem recebi espécimes de cinco espécies diferentes, além de alguns da L. humilis Say da América do Norte. Também tive a oportunidade de comparar exemplares de L. pereger de sua coleção. Disse-me ele que não havia dispensado atenção especial à classificação desses moluscos. Infelizmente, não me foi possível descobrir qualquer literatura sobre os limneídeos havaianos, à exceção de um artigo de Pease que apenas complica a questão em virtude de inexatidões evidentes. Por isso, decidi descrever as espécies de que disponho,1 a fim de possibilitar a identificação por um zoólogo competente. As medidas foram tomadas de exemplares particularmente imponentes, os quais, no entanto, só raramente são encontrados, e em circunstâncias especialmente propícias; a reprodução desses caramujos sem dúvida já principia antes de alcançado o tamanho completo.

As espécies das quais tenho conhecimento são as seguintes:

1) Uma Physa (já citada anteriormente), determinada por BÖttcher como Physa sandwichensis Gould, de concha córnea (no animal vivo), transparente, amarelo-acinzentada, espiralada para a esquerda, com cinco espiras convexas. A abertura da concha é ovalada longitudinalmente, terminando, para cima, em ponta, 7½ : 4½ mm, o lábio interno dobrado para fora de modo bastante largo; a dobra não ultrapassa a linha mediana e cobre um canal curto e achatado, onfalóide (nítido apenas no animal adulto). Comprimento da concha, 13½ mm; largura, 7½ mm. A relação não é totalmente constante, uma vez que o grau das espiras varia. O animal é negro, com longas antenas filiformes e pé pontiagudo. Na rádula há dentes em forma de garras, com um denteado secundário na base.

Esta espécie é disseminada em Oahu, e é encontrada com freqüência nas mesmas águas com a espécie seguinte. Não se deixa infectar com Distomum hepaticum, mas contém um dístomo encapsulado em cistos hialinos, com uma coroa de espinhos no término da cabeça, o qual parece aparentado ao D. echinatum. Recebi belos exemplares de Baldwin, sob o nome de Lymnaea compacta Pease, também proveniente de Oahu.

2) Um Lymnaeus espiralado para a direita, determinado por BÖttcher como L. oahuensis Souleyet. A concha tem espiras convexas, amarelo-acinzentadas transparentes, comprimento 12 mm, largura 6½ mm. (O grau de cobertura recíprocadas espiras sofre muitas oscilações.) A abertura da concha é ovalada longitudinalmente, terminando, para cima, em ponta, altura 8 mm, largura 4 mm. O lábio interno é dobrado para fora de modo bastante largo, cobrindo, para baixo, um canal nítido, porém achatado, onfalóide; a dobra não ultrapassa perceptivelmente a linha mediana. O animal é cinzento transparente, com pé arredondado e antenas curtas, com três arestas. As lâminas quadradas dos dentes da rádula ostentam pontas toscas, semelhantes à galhadura das renas.

Essa espécie é largamente disseminada em Oahu, sendo o hospedeiro comum do Distoma hepaticum. (Contudo, a infecção só pode ocorrer em exemplares mais jovens.) Os exemplares de Oahu, de Baldwin, eram qualificados como L. turgidula Pease. Posteriormente recebi dele limneídeos vivos de Maui, os quais também quero acrescentar aqui; estes continham numerosas cercárias de Monostomum providos de olhos e espinho na cabeça, mas nenhuma forma de dístomo. O parasita, já mencionado na Physa, também se encontra nos exemplares coletados em Oahu.

3) Além disso, recebi algumas conchas de um pequeno limneídeo espiralado para a direita, de Baldwin, as quais se caracterizam por uma forma sui generis, sobretudo por larga abertura da concha. Ele se aproxima da espécie anterior por possuir um canal sob a dobra da abertura da concha; talvez esta forma seja apenas uma variedade, apesar da aparente diferença. Ela foi descoberta por Baldwin em Maui e denominada L. aulacospira por Annecy. É provável que também se torne ocasionalmente o hospedeiro intermediário do Distoma hepaticum; no entanto, por ser aparentemente rara, esta questão carece de significado prático.

4) Um limneídeo espiralado para a esquerda, com as seguintes características: concha espiralada para a esquerda, com cinco espiras fortemente convexas, decorrendo verticalmente, cor de chifre transparente, mas um pouco mais opaca, como nas espécies citadas, e ligeiramente avermelhada. Comprimento 13 mm, largura 6% mm, abertura da concha 7 : 5 mm, ovalada longitudinalmente, terminando em ponta para cima, fortemente abaulada para baixo e para dentro, ultrapassando a linha mediana; dobra da concha estreita, justa. O animal é mais escuro do que o de n° 2, as antenas são mais compridas, mais filiformes, porém nitidamente mais grossos na base e com três arestas. Dentes da rádula como no n° 2. Encontrei a espécie em três locais diferentes, em regatos de montanhas e próximo a eles; em um local era bastante abundante e não estava misturada a outras espécies. Um exemplar adulto encontrado em região suspeita continha inúmeras rédias e cercárias maduras de Distoma hepaticum. Recebi bons exemplares de Baldwin, oriundos de um quarto local (provavelmente também de água corrente), e que eram denominados L. oahuensis Soul.

5) Um limneídeo, semelhante ao anterior, mas espiralado para a direita. Concha córnea transparente, porém mais opaca e mais avermelhada que a espécie anterior. Comprimento 13 mm, largura 7 mm. Cinco espiras, bastante alcantiladas, fortemente convexas. Abertura da concha ovalada no sentido longitudinal, 7 ½ : 4 ½ mm, terminando em ponta para cima, fortemente abaulada para dentro e para baixo, ultrapassando a linha mediana. Dobra interna da concha estreita, justa, sem canal onfalóide. O animal não foi comparado.

Só conheço um local de procedência desta espécie; é uma antiga cratera, situada a cerca de mil pés acima do mar, no vale do Palolo. Os exemplares eram pouco numerosos; além disso, esta forma não foi mais encontrada por ocasião de uma segunda excursão. Recebi do Sr. Baldwin os exemplares tomados por base para a descrição, os quais foram por ele encontrados em Kauai, sob o nome de L. rubella Lea.

Darei ainda, para fins de comparação, uma descrição de L. humilis Say, dos quais possuo exemplares provenientes de vários locais norte-americanos:

6) L. humilis Say, América do Norte. Concha córnea, muito transparente, amarelada. Comprimento 8½ : 5 mm, cinco espiras fortemente convexas. Abertura da concha ovalada longitudinalmente, 5 : 3 mm, em cima terminando em ponta, embaixo amplamente abaulada, mas não além da linha mediana. A dobra da concha é larga e não aderida, ao contrário, cobre um canal onfalóide.

Além desta, existem ainda outras formas menores na América do Norte, que podem ser levadas em consideração como hospedeiros intermediários eventuais do Distoma hepaticum.

Como podemos ver, 1 e 2 possuem conchas muito semelhantes apesar da diferença genérica e das diversas orientações das espiras; 1, 3 e 6 pertencem a um mesmo grupo, mas têm conchas nitidamente distintas; 4 e 5 estão extremamente próximas quanto à forma da concha, apesar de suas espirais decorrerem em direções diferentes. Embora haja outras pequenas diferenças, a possibilidade de se tratar apenas de uma variedade local não me parece descartável. (Conchas espiraladas para a esquerda também são abundantes e típicas para várias espécies do gênero de caracóis terrestres Achatinella, o qual é próprio deste arquipélago; em outras, os exemplares dextrogiros e sinistrogiros estão misturados em proporções diversas e, em outras ainda - no subgênero Auriculella - separadas por localidades.) 5 provavelmente pode ser considerado, para Kauai, como hospedeiro do Distoma hepaticum, enquanto 4 foi encontrado por Baldwin em Kallihi, onde 1 não era encontrado no seu tempo, embora ali se observe a distomíase. Por conseguinte, certa importância na disseminação da epidemia pode muito bem ser atribuída também a essa espécie.

Ao todo achei caramujos infectados (forma 2) em quatro vales, a saber, Nuuanu, Mauna, Lua e Halawa (um regato em cada vale), além de Manoa, onde foram encontrados em duas regiões de nascentes independentes, enquanto uma terceira constituía o lugar de descoberta do exemplar infectado da forma 4. O relatório oficial do inspetor de carnes em Honolulu dá como resultado uma ampla propagação da doença em Oahu, onde os bezerros (em geral, é claro, não muito jovens) adoeceram na proporção de 298 : 304; os bois, contudo, na proporção de 1.313: 873, de modo que o número total dos animais enfermos em relação aos saudáveis está na proporção aproximada de 4 : 3. Até o presente a doença ainda não foi comprovada no Havaí. Em Lanai, apenas 1 de 39 bois estava doente, sendo provável que tenha trazido os parasitas da Califórnia; parece que em Maui a doença, até agora, está restrita a um distrito (Waihee). De Molokai vieram 18 bois doentes e 62 aparentemente saudáveis, enquanto Kauai exportou 57 saudáveis e 185 doentes para Honolulu, donde se conclui que há uma epidemia intensa nos respectivos distritos. Ao todo, havia adoecido comprovadamente de distomíase apenas a oitava ou nona parte de bezerros e bois, que foram importados de outras ilhas como gado de abate. Em todo caso, a distribuição variada depende principalmente da propagação dos hospedeiros intermediários, que encontram excelentes condições de vida nas ilhas de Oahu e Kaui, ricas em água, o que, em outras regiões, de modo geral, não é o caso. Por isso, as ovelhas que vieram das outras ilhas e que, em geral, eram provenientes de localidades de água escassa, pouco sofreram; de 3.702 apenas 29, que vieram todas de um só lugar em Molokal, estavam doentes.

Anexo

Seguindo-se às minhas pesquisas sobre o dístomo hepático, ainda realizei algumas observações que aqui desejo relatar sucintamente. Além dos limneídeos, ainda existem vários moluscos nativos de água doce no arquipélago havaiano, os quais pertencem às espécies Melania, Melampus e Neritina. Quanto às duas últimas, eu só dispunha de pouco material de pesquisa, e os resultados foram todos negativos; o exame de inúmeras melanias, ao contrário, deu alguns resultados bastante interessantes. Esta espécie possui, de longe, o maior número de indivíduos, e todas as águas doces, mas também as salobras, as quais estão sempre livres de limneídeos, mantêm quantidades incríveis desses caramujos. Na água doce, as conchas passam regularmente por um processo de corrosão, em virtude do qual perdem a ponta, assim como a nitidez de suas esculturas; ali também nunca alcançam o tamanho total; raramente se encontram mais do que exemplares meio adultos, enquanto há quantidades enormes de pequenos e menores. Por isso, também estive inclinado a reconhecer várias espécies, seguindo a hipótese de terceiros; contudo, uma observação mais demorada levou-me à convicção de que, na realidade, só existem duas espécies, uma lisa com leves riscas longitudinais2 e uma com ripas longitudinais que, na parte superior das espiras, diluem-se em um sistema de protuberâncias em forma de pontos e traços. Encontrei exemplares com conchas excepcionalmente grandes apenas em um lago salobro de peixes que nunca secava, onde podiam alcançar com tranqüilidade uma idade, sem dúvida, (relativamente) bem avançada. Apenas poucas conchas apresentam tais dimensões; mas isso também nem é necessário, já que existe, nesses caramujos, um mecanismo muito curioso. A reprodução mostra-se aqui tão pouco ligada à obtenção do tamanho total, que não se pode examinar nenhum exemplar da segunda forma, tão logo alcançaram ou ultrapassaram a quarta parte de seu tamanho definitivo, sem encontrar em seu útero pelo menos alguns filhotes maduros; aí está a chave do número impressionante de indivíduos para uma espécie vivípara. Na espécie lisa, menos freqüente, não acompanhei as relações com tanta precisão, porém, aqui também, o início da reprodução é anormalmente prematuro.

Recebi de Baldwin exemplares do tipo liso sob o nome de M. kauaiensis e mauiensis Lea, bem como do tipo listrado sob o nome de M. baldwini Annecy (forma de água doce) e M. newcombii Lea. Utilizarei respectivamente os últimos nomes.

Nestas melanias só encontrei dois tipos de cercárias. A primeira, um Monostomum com estigmas, inerme e caracterizado por uma cauda largamente alada, não parece encistar-se ao ar livre. Só foi encontrada no L. mauiensis, e assim mesmo apenas em exemplares jovens, onde eram encontradas abundantemente nos rins e no fígado. Os caramujos provinham do citado lago salobro, que servia para a criação de peixes e patos e era visitado por alguns pássaros aquáticos.

Em ambas as melanias da mesma localidade, mas apenas nos exemplares grandes, existiam os estágios prévios de um dístomo, os quais, por suas características singulares, merecem breve descrição.

As rédias, encontradas às centenas nos rins, mas também no fígado e nas partes mais moles do corpo dos caramujos, são quase tão grandes quanto as do Distoma hepaticum, porém um pouco mais comprimidas e não tão transparentes. A cápsula bucal e as proporções do canal intestinal são parecidas, mas os pés ventrais são muito curtos e pouco assinalados em exemplares grandes; o corpo atrás destes, obliquamente aparado, curto e afilado. Numerosas cercárias desenvolvem-se continuamente; elas são grandes, de forma muito delgada, com duas grandes ventosas bastante afastadas, intestino forcado e nítida vesícula de excreção. Numerosas células contendo grãos formam um órgão lobado, semelhante ao do Distoma hepaticum, porém menos compacto; células de bastonetes inexistem. A cauda é truncada e, até próximo ao final, formada por um tecido vesiculoso singular, análogo ao encontrado entre os órgãos do dístomo hepático adulto, o que a torna extraordinariamente contráctil, uma vez que as vesículas redondas se tornam ovais longitudinalmente na extensão e transversalmente na contração. A parte final da cauda contém, no seu interior, a ponta invaginada. A cauda em si é fina, roliça, e aproximadamente tão comprida quanto o corpo; é descartada com freqüência, e continua então a se contrair e estender durante muito tempo. A cercária deslocase intermitente e arrebatadamente através da água e, após a perda da cauda, efetua, habilmente, movimentos de rastejo, num tipo de tensão. Logo se enquista ao ar livre, formando uma cápsula de parede dupla, cuja camada externa é hialina, e a interna, finamente granulada.3 Ela é aberta para cima e tem a forma de um largo cântaro; a larva do dístomo não preenche totalmente o espaço interior. Já com uma leve pressão, uma parte do corpo do verme vaza pelo colo. Toda essa organização, que lembra as pupas de certas espécies de Saturnia, com certeza serve para a eclosão espontânea.

Não foi possível descobrir com segurança o hospedeiro do dístomo adulto, apesar do reiterado empenho. No entanto, as condições de um segundo local de origem deixam supor que se trata de um pequeno peixe de água doce; contudo, é ainda mais provável que tal hospedeiro não exista, e que o dístomo adulto viva livremente, o que explicaria a formação cística singular.

Pós-escrito da Redação

Segundo uma comunicação que chegou às nossas mãos posteriormente, o senhor autor, durante sua estadia em São Francisco, contatou o senhor L. H. Streng em Grand Rapid, Michigan, Estados Unidos (335 U. Prospect Str.), cujos estudos tinham por objeto principal os limneídeos americanos, e apresentou-lhe as formas que coletara no Havaí, para fins de exame. Este senhor acredita poder sinonimizar Lymnaea oahensis Böttch. (= L. turgitula Baldw.) a L. umbilicalis Mögh., enquanto considera a L. oahuensis Baldw. uma variedade invertida da L. rubella Lea, e identifica a L. rubella com a L. sanewichensis Phil. Tot capita, tot sensus!4