Nova contribuição para o conhecimento do ciclo evolutivo das holostomídeas ou strigeidas*

Comunicação preliminar

Em 1921 fiz, no Centralblatt fuer Bakteriologie etc., parte I, v.86, p.124, uma comunicação preliminar em que mostrei que o gênero Holostomum ou Strigea tinha cercárias de cauda bífida que não se enquistavam logo ao penetrar em um segundo hospedeiro, porém viviam bastante tempo livres nos tecidos em formas que chamei de pré-císticas, porque acabavam formando Tetracotyles enquistados, depois de passar por uma fase opaca e mostrando pouca estrutura. Uma delas, que se parecia muito com a conhecida Tetracotyle typica, transformava-se no intestino de patinhos em Strigea pequena, parecida com a S. cornuta Rud., confirmando uma observação de Ercolani. A grande Tetracotyle das sanguessugas transformou-se, em pintinhos, numa pequena Strigea, parecida com uma observada espontaneamente em Gallinula galeata e num pequeno socó. A T. gyrinipeta foi acompanhada até certo ponto de evolução, faltando os últimos estados, o que se explica por observações posteriores.

Contra a minha expectativa, a minha nova orientação, embora bastante revolucionária, não encontrou contraditores, sendo hoje geralmente aceita.

Continuando as minhas observações, encontrei, nos primeiros anos, mais de vinte espécies de cercárias de cauda bífida que, com poucas exceções, deviam pertencer aos holostomídeos. Algumas destas se distinguiam facilmente, outras, do tipo de C. gracillis La Valette, tinham a estrutura tão pouco diferenciada que eram mais caracterizadas pelos dois primeiros hospedeiros ou pela dificuldade de encontrar o segundo hospedeiro. Por isso pesquisei também, nas mesmas regiões, holostomidas adultos e Tetracotyle que serviam para experiências de infecção.

Em moluscos de água doce, as Tetracotyle eram freqüentes, mas aparentemente eram todas da mesma espécie já mencionada. Nas sanguessugas encontrei uma segunda espécie, microcística, reconhecida apenas pelo exame microscópico. Não obstante um material abundante, não consegui determinar o hospedeiro definitivo. Os girinos se deixavam infectar por várias espécies que não chegaram à formação de Tetracotyle. O mesmo se deu com peixinhos, embora mostrassem alguma atração. Cobras não se infectavam pela pele, nem pela boca. Com injeção retal de uma dicranocercária, que não procurava os outros animais experimentados, obtive apenas um princípio de infecção parenquimatosa. Quanto a mamíferos e aves, nenhuma das cercárias experimentadas procurava penetrar por sua pele.

Entretanto, observava Tetracotyle legítimas em tamboatás (Callichthys), raras vezes em rãs, mas freqüentemente em cobras aquáticas, várias vezes em pássaros aquáticos e três vezes em mamíferos carnívoros: duas em raposas (Canis azarae) e uma em Grison vittatus, erroneamente conhecido pelo nome vulgar furão. Todas estas espécies, menos a das rãs, foram usadas para experiências em urubus, gaviões e corujas, não se notando diferenças nos resultados, obtidos sempre com facilidade. Com trinta réis (Sterna) obtive num urubu grande número de Strigeas adultas, a que dei o nome provisório de Strigea ornithocystis, talvez idêntica com Strigea falconis var. brasiliana Szidat. As outras espécies, que designei como ichthyocystis, ophiocystis e theriocystis, todas correspondem ao tipo de Holostomum vaginatum Brandes, que provavelmente compreende mais de uma espécie. Ichthyocystis é a menor; das outras talvez theriocystis seja um pouco maior, podendo alcançar quase um centímetro, em preparação de bálsamo, com o cone genital completamente saído. As experiências repetidas excluem qualquer confusão e a procedência deve separar as três espécies, não obstante a sua grande semelhança. A Strigea, encontrada por Szidat entre as espécies colecionadas por Natterer e tendo como hospedador Dicholophus cristatus, deve ser a minha Strigea ophiocystys, porque a seriema é grande comedora de cobras.