ÀS DEZ DA manhã da segunda-feira, 9 de outubro de 1893, o dia que Frank Millet designara Dia de Chicago, os vendedores de ingressos no portão da rua 63 fizeram uma contagem informal das vendas até o momento e descobriram que só aquele portão tinha registrado sessenta mil pagantes.1 Os homens sabiam, por experiência, que num dia comum as vendas naquele portão correspondiam a cerca de um quinto do público da feira em qualquer momento e a partir disso calcularam que cerca de trezentos mil visitantes já tinham entrado no Jackson Park — mais do que o total de qualquer outro dia e perto do recorde mundial de 397 mil alcançado pela exposição de Paris. E a manhã mal tinha começado. Os bilheteiros perceberam que alguma coisa extraordinária estava acontecendo. O ritmo de admissões parecia multiplicar-se a cada hora. Em algumas bilheterias, o volume cresceu tanto e tão rapidamente que moedas de prata começaram a acumular-se no chão e cobrir os sapatos dos vendedores.
Millet e outros funcionários da feira esperavam um grande público. Chicago orgulhava-se da feira, e todos sabiam que só faltavam três semanas para que ela fechasse de vez. Para garantir o maior público possível, o prefeito Harrison tinha assinado um decreto recomendando ao comércio que não funcionasse naquele dia. Os tribunais fecharam, assim como a Junta Comercial. O clima também ajudou. A segunda-feira foi um dia cristalino, com temperaturas nunca acima de dezessete graus, debaixo de um céu brilhantemente azul. Todos os hotéis estavam lotados, alguns até superlotados, e gerentes se viam obrigados a providenciar a instalação de beliches em saguões e corredores. A Wellington Catering Company, que operava oito restaurantes e quarenta lanchonetes no Jackson Park, tinha se preparado mandando buscar dois vagões de trem cheios de batatas, quatro mil barris de cerveja, quinze mil galões de sorvete e dezoito mil quilos de carne. Os cozinheiros prepararam duzentos mil sanduíches de presunto e quatrocentas mil xícaras de café.
Ninguém, entretanto, esperava a imensa multidão de visitantes que apareceu. Ao meio-dia, o supervisor de ingressos, Horace Tucker, telegrafou uma mensagem para a sede: “O recorde parisiense foi reduzido a pedaços, e as pessoas não param de chegar.”2 Um único vendedor de bilhetes, L. E. Decker, sobrinho de Buffalo Bill que tinha vendido bilhetes para o Buffalo Bill’s Wild West durante oito anos, vendeu 17.843 durante o seu turno, o máximo que qualquer um conseguiu, e ganhou o prêmio Horace Tucker de uma caixa de charutos. Crianças perdidas lotavam todas as cadeiras do quartel-general da guarda colombiana; dezenove passaram a noite lá e foram buscados pelos pais no dia seguinte. Cinco pessoas morreram dentro ou perto da feira, incluindo um operário mutilado quando ajudava a preparar o espetáculo de fogos de artifício e um visitante que tinha saltado de um bonde nos trilhos de outro. Uma mulher perdeu o pé quando uma multidão a derrubou de uma plataforma ferroviária. George Ferris, dando uma volta em sua roda naquele dia, olhou para baixo e comentou, a respiração entrecortada: “Deve ter um milhão de pessoas lá embaixo.”3
Os fogos começaram às oito em ponto.4 Millet planejara uma elaborada série de “cenas preparadas” com fogos de artifício presos a grandes estruturas de metal representando retratos e quadros vivos. O primeiro representava o Grande Incêndio de 1871, sem faltar uma imagem da vaca da sra. O’Leary derrubando uma lanterna com um coice. A noite retumbava e sibilava. Para o encerramento, os pirotécnicos lançaram cinco mil foguetes ao mesmo tempo no céu escuro sobre o lago.
Contudo, o verdadeiro clímax ocorreu depois que a área foi fechada. No silêncio, com o ar ainda impregnado do cheiro de pólvora, coletores escoltados por guardas armados passaram de bilheteria em bilheteria recolhendo a prata acumulada, num total de três toneladas. Contaram o dinheiro, sob estrita vigilância. À 1h45 da manhã, tinham o total exato.
Ferris quase acertara. Naquele único dia, 713.646 pessoas tinham pagado para entrar no Jackson Park.5 (Apenas 31.059 — 4% — eram crianças.) Outros 37.380 visitantes entraram com passes, o que elevava o público total para 751.026, mais do que o de qualquer outro evento pacífico da história num único dia. O Tribune sugeriu que a única aglomeração maior tinha sido a concentração do exército de Xerxes, de mais de cinco milhões de almas, no século V a. C.6 O recorde parisiense, de 397 mil, de fato fora quebrado.
Quando a notícia chegou ao barracão de Burnham, houve gritos de viva e champanhe e histórias contadas durante a noite inteira. Mas a melhor notícia chegou no dia seguinte, quando funcionários da companhia da Exposição Colombiana Mundial, cujos alardes tinham sido ridicularizados em toda parte, entregaram um cheque de 1,5 milhão de dólares à Illinois Trust and Savings Company, liquidando a última dívida da exposição.7
A Cidade Ventosa levara a melhor.
Burnham e Millet dedicaram-se aos últimos preparativos para o dia de glória do próprio Burnham, a grandiosa cerimônia de encerramento, em 30 de outubro, que reconheceria, de uma vez por todas, que ele de fato conseguira e sua obra estava completa — dessa vez não faltava fazer mais nada. Àquela altura, acreditava Burnham, nada poderia macular o triunfo da feira ou seu próprio lugar na história da arquitetura.