(UMA NOTA)
EM CHICAGO, NO fim do século XIX, em meio à fumaça das indústrias e ao chacoalhar dos trens, viveram dois homens, ambos bonitos, de olhos azuis e com um apego incomum às atividades que escolheram. Cada um personificava um elemento da grande dinâmica que caracterizava o avanço dos Estados Unidos rumo ao século XX. Um era arquiteto, construtor de muitos dos mais importantes edifícios dos Estados Unidos, entre eles o Flatiron Building, em Nova York, e a Union Station, em Washington, D. C.; o outro era um assassino, um dos mais prolíficos da história, e arauto de um dos maiores arquétipos americanos: o serial killer urbano. Embora nunca tenham se conhecido — não formalmente, pelo menos —, seus destinos foram interligados por um evento único e mágico, em grande parte esquecido pela memória moderna, mas que, na época, era considerado um marco dotado de um poder transformador quase semelhante ao da Guerra de Secessão.
Nas páginas a seguir, conto a história desses homens e desse evento, porém devo fazer aqui um aviso: por mais estranhos ou macabros que alguns incidentes pareçam, esta não é uma obra de ficção. Tudo o que estiver entre aspas foi retirado de cartas, relatos pessoais ou outros documentos escritos. A maior parte da trama transcorre em Chicago, mas peço aos leitores que me perdoem por trespassar ocasionalmente as divisas estaduais, como no momento em que o leal e amargurado detetive Geyer entra naquele terrível último porão. Peço paciência também para as viagens secundárias que a história de vez em quando exige, incluindo digressões sobre a aquisição de cadáveres para fins médicos e o uso correto de gerânios Black Prince numa paisagem olmstediana.
Debaixo do sangue coagulado, da fumaça e da greda, este livro trata da brevidade da vida e das razões que levam alguns homens a preencher o breve pedaço de tempo que lhes é alocado correndo atrás do impossível, e outros, produzindo tristeza. No fim, é uma história sobre o inevitável conflito entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas, entre a Cidade Branca e a Negra.
ERIK LARSON
SEATTLE