[...] isso significa que a literatura – exceto a extrema-esquerda surrealista que simplesmente badernava o jogo – tendia a estabelecer uma espécie de relativismo moral. Os cristãos não acreditavam mais no Inferno; o pecado era o vazio de Deus, o amor carnal era o amor de Deus extraviado. Como a democracia tolerava todas as opiniões, mesmo as que visavam expressamente a destruí-la, o humanismo republicano, que se ensinava nas escolas, fazia da tolerância a primeira de suas virtudes: tolerava-se tudo, até a intolerância; nas ideias mais tolas, nos sentimentos mais vis, era preciso reconhecer verdades escondidas.
(Extrato da obra.)
O que faz a literatura? Ela cumpre um papel social?
Qual a condição do escritor?
O que significa “engajar-se” no âmbito literário?
O que é interpretar e expressar por meio da escrita as urgências da coletividade e as inquietações e necessidades sociais?
A quem cabe pensar – e com que ferramentas se pode fazê-lo? – a relação entre literatura e cidadania?
Em Que é a literatura? Jean-Paul Sartre se propõe a refletir e fornecer elementos de resposta às críticas dirigidas por escritores contra o princípio do engajamento proposto na apresentação da revista Tempos Modernos.
Autor estimado por seus ensaios literários e filosóficos, Sartre nunca deixou de ser um escritor engajado politicamente e sempre entendeu a literatura como estreitamente relacionada, cúmplice, testemunha ou crítica da condição humana em sociedade.
O autor
Jean-Paul Sartre nasceu no dia 21 de junho de 1905 em Paris. Desde muito jovem criticou os valores e as tradições de sua classe social, a burguesia. Lecionou durante algum tempo no Liceu de Havre, seguindo depois sua formação filosófica no Institut Français de Berlim. Desde seus primeiros textos filosóficos aparece a originalidade de um pensamento existencialista. Sartre sempre foi muito preocupado em abordar os problemas de sua época, e manteve até o fim de sua vida uma intensa atividade política. Ele morreu em Paris no dia 15 de abril de 1980.