Vitória-relâmpago
I
Em 1º de setembro de 1939, a primeira de um total de 60 divisões de tropas alemãs cruzou a fronteira do Terceiro Reich com a Polônia. Somando quase 1,5 milhão de homens, as tropas detiveram-se apenas para que o câmera do cinejornal do Ministério da Propaganda de Joseph Goebbels filmasse o levantamento cerimonial das barreiras alfandegárias por soldados de vanguarda com sorrisos escancarados. O avanço teve como ponta de lança os tanques das cinco divisões de blindados do Exército alemão, com cerca de 300 tanques cada uma, acompanhados por quatro divisões de infantaria totalmente motorizadas. Atrás deles marchou o grosso da infantaria, com a artilharia e os equipamentos puxados basicamente por cavalos – em torno de 5 mil para cada divisão, somando ao todo pelo menos 300 mil animais. Embora isso fosse impressionante, a tecnologia decisiva disposta pelos alemães não estava em terra, mas no ar. A proibição de aviões militares alemães imposta pelo Tratado de Versalhes fez que a construção de aeronaves fosse forçada a começar quase do zero quando Hitler repudiou as cláusulas relevantes do tratado, apenas quatro anos antes da eclosão da guerra. Os aviões alemães não eram modernos apenas na construção, mas também haviam sido testados na Guerra Civil Espanhola pela Legião Condor alemã, da qual vinham muitos dos veteranos que agora pilotavam os 897 bombardeiros, 426 caças e vários aviões de reconhecimento e transporte que se alçavam nos céus da Polônia1.
Essa força maciça confrontou os poloneses com vantagem avassaladora. Esperando que a invasão fosse detida pela intervenção anglo-francesa, e ansioso para não ofender a opinião pública ao parecer provocar os alemães, o governo polonês retardou a mobilização de suas Forças Armadas até o último minuto, de modo que elas não estavam preparadas para resistir à súbita e maciça invasão das tropas alemãs. Os poloneses conseguiram reunir 1,3 milhão de homens, mas possuíam poucos tanques e escasso equipamento moderno. As divisões blindadas e motorizadas alemãs superavam as polonesas pelo fator de 15 para 1 no conflito. A Força Aérea polonesa dispunha de apenas 154 bombardeiros e 159 caças contra os invasores alemães. A maior parte das aeronaves, especialmente os caças, era obsoleta, e as brigadas de cavalaria polonesa mal haviam começado a abandonar os cavalos em favor de máquinas. As histórias de esquadrões da cavalaria polonesa investindo de maneira quixotesca contra unidades alemãs de tanques muito provavelmente não são verdadeiras; contudo, a disparidade em recursos e equipamentos era inegável. Os alemães cercaram a Polônia por três lados, na sequência do desmembramento da Tchecoslováquia ocorrido naquele ano. Ao sul, o Estado-cliente da Eslováquia propiciou a porta de entrada mais importante da invasão e, de fato, o governo eslovaco enviou algumas unidades para combater na Polônia ao lado das tropas alemãs, seduzido pela promessa de um pequeno território extra depois que a Polônia fosse derrotada. Outras divisões alemãs entraram na Polônia através da fronteira norte, a partir da Prússia Oriental, enquanto outras marcharam do oeste, atravessando o Corredor Polonês criado pelo Acordo de Paz para dar à Polônia acesso ao Báltico. As forças polonesas estenderam-se e ficaram tênues demais para defender todas essas fronteiras de forma eficaz. Enquanto caças de mergulho atacavam do alto as tropas polonesas enfileiradas ao longo da fronteira, tanques e artilharia alemãs moviam-se por suas defesas, separavam-nas e interrompiam a comunicação. Em poucos dias, a Força Aérea polonesa foi desalojada dos ares e bombardeiros alemães destruíram fábricas polonesas de armamentos, investindo de rijo sobre as tropas em retirada e aterrorizando o povo de Varsóvia, Lódź e outras cidades2.
Só no dia 16 de setembro de 1939, 820 aeronaves alemãs jogaram um total de 328 mil quilos de bombas sobre os poloneses indefesos, que possuíam um total de apenas 100 armas antiaéreas para o país inteiro. Os ataques aéreos foram tão desmoralizantes que, em algumas regiões, as tropas polonesas baixaram as armas e os comandantes alemães em terra pediram o cessar do bombardeio. Uma ação típica foi testemunhada pelo correspondente americano William L. Shirer, que conseguiu permissão para acompanhar forças alemãs no ataque ao porto báltico polonês de Gdynia:
Os alemães usavam todos os tipos de armamento: armas grandes, armas pequenas, tanques e aviões. Os poloneses não tinham nada além de metralhadoras, rifles e duas peças antiaéreas que tentavam desesperadamente usar como artilharia contra postos de metralhadora e tanques alemães. Os poloneses [...] haviam transformado dois prédios grandes, o de uma escola de oficiais e o da estação de rádio de Gdynia, em fortalezas e disparavam com metralhadoras de várias janelas. Depois de meia hora, uma bomba alemã atingiu o telhado da escola e a pôs em chamas. Então a infantaria alemã, apoiada – ou, vendo de binóculos, parecendo ser guiada – por tanques, arremeteu colina acima e cercou o prédio [...] Um hidroavião alemão pairou sobre o cume, localizando a artilharia. Mais tarde, um avião bombardeiro juntou-se a ele, e voaram rasante, metralhando as linhas polonesas. Por fim, chegou um esquadrão de bombardeiros nazistas. Era uma posição sem chances para os poloneses3.
Ações semelhantes repetiram-se por todo o país enquanto as forças alemãs avançavam. Após uma semana, as forças polonesas estavam em completo desalinho, e sua estrutura de comando estava espatifada. Em 17 de setembro, o governo polonês fugiu para a Romênia, onde seus desafortunados ministros foram imediatamente confinados pelas autoridades. O país agora estava completamente destituído de liderança. Um governo no exílio, instituído em 30 de setembro de 1939 por iniciativa de diplomatas poloneses em Paris e Londres, não foi capaz de fazer nada. Um único e feroz contra-ataque polonês, na Batalha de Kutno, em 9 de setembro, conseguiu apenas retardar o cerco de Varsóvia por uns poucos dias4.
Em Varsóvia, as condições deterioraram-se depressa. Chaim Kaplan, um mestre-escola judeu, anotou em 28 de setembro de 1939:
Há um sem-fim de corpos de cavalos. Ficam caídos no meio da rua e não há ninguém para removê-los e limpar as vias. Estão apodrecendo há três dias e nauseando os transeuntes. Entretanto, devido à fome que grassa na cidade, há muita gente que come a carne dos cavalos. Cortam nacos e os comem para aplacar a fome5.
Um dos retratos mais vívidos das cenas caóticas que se seguiram à invasão alemã foi pintado por um médico polonês, Zygmunt Klukowski. Nascido em 1885, por ocasião da eclosão da guerra ele era superintendente do hospital do condado de Zamość, no município de Szczebrzeszyn. Klukowski manteve um diário, que escondeu em recantos improváveis do hospital, como um ato de desafio e recordação. No fim da segunda semana de setembro, ele reparou nas levas de refugiados escapulindo das tropas invasoras alemãs no meio da noite, uma cena que se repetiria muitas vezes, em muitas partes da Europa, nos anos seguintes:
A estrada inteira ficou apinhada de comboios militares, todos os tipos de veículos motorizados, carroças puxadas por cavalos e milhares de pessoas a pé. Todo mundo se deslocava em uma só direção: leste. Ao raiar do dia, uma massa de pessoas a pé e de bicicleta somou-se à confusão. Era muito esquisito. Toda essa massa de gente, tomada de pânico, seguia em frente, sem saber para onde ou por quê, e sem nenhum conhecimento sobre onde o êxodo acabaria. Grande quantidade de carros de passageiro, várias limusines oficiais, todos imundos e cobertos de lama, tentavam ultrapassar os comboios de caminhões e carroças. A maioria dos veículos tinha placa de Varsóvia. Era triste ver tantos oficiais de alta patente, como coronéis e generais, fugindo com sua família. Muita gente ia agarrada nas capotas e para-lamas de carros e caminhões. Muitos veículos tinham para-brisas e janelas quebradas, capotas ou portas estragadas. De deslocamento muito mais vagaroso eram os ônibus de todos os tipos, ônibus metropolitanos novos de Varsóvia, Cracóvia e Lódź, todos cheios de passageiros. Depois vinham carroças de todas as espécies puxadas por cavalos, carregadas de mulheres e crianças, todas muito cansadas, famintas e sujas. Andando de bicicleta havia basicamente rapazes; apenas ocasionalmente podia se ver uma moça. Andando a pé havia muitos tipos de pessoas. Algumas haviam deixado suas casas a pé; outras eram forçadas a abandonar seus veículos6.
Ele calculou que mais de 30 mil pessoas estivessem fugindo da ofensiva alemã daquela forma7.
O pior estava por vir. Em 17 de setembro de 1939, Klukowski ouviu um alto-falante alemão na praça do mercado de Zamość anunciar que o Exército Vermelho, com a concordância alemã, havia cruzado a fronteira oriental polonesa8. Pouco antes da invasão, Hitler havia garantido a não intervenção do ditador russo Josef Stálin, assinando cláusulas secretas de um Pacto Alemão-Soviético em 24 de agosto de 1939 que acertou a repartição da Polônia entre os dois Estados ao longo de uma linha de demarcação combinada9. Nas primeiras duas semanas após a invasão alemã, Stálin se contivera enquanto desembaraçava suas forças de um bem-sucedido conflito com o Japão na Manchúria, concluído apenas no fim de agosto. Mas, quando ficou claro que a resistência polonesa fora rompida, a liderança soviética autorizou o Exército Vermelho a se deslocar para dentro do país a partir do leste. Stálin estava ávido para agarrar a oportunidade de reaver o território que pertencera à Rússia antes da Revolução de 1917. Aquilo havia sido objeto de uma guerra violenta entre a Rússia e o recém-criado Estado polonês imediatamente após a Primeira Guerra Mundial. Agora Stálin podia reconquistá-lo. Encarando uma guerra em duas frentes, as Forças Armadas polonesas, que não haviam feito planos para uma eventualidade dessas, travaram uma encarniçada mas totalmente inútil ação de retaguarda para tentar adiar o inevitável. Que não tardou a chegar. Espremidos entre dois exércitos imensamente superiores, os poloneses não tiveram chance. Em 28 de setembro de 1939, um novo tratado delineou a fronteira final. A essa altura, a investida alemã sobre Varsóvia estava encerrada. Enormes quantidades de bombas incendiárias e outras haviam sido jogadas por 1,2 mil aviões sobre a capital polonesa, levantando uma enorme nuvem de fumaça que impossibilitava a exatidão dos ataques; em consequência disso, muitos civis foram mortos. Em vista da situação irremediável, os comandantes poloneses na cidade negociaram um cessar-fogo em 27 de setembro de 1939. Os 120 mil soldados poloneses da guarnição da cidade renderam-se, depois de receberem a garantia de que poderiam ir para casa após um breve cativeiro formal como prisioneiros de guerra. As últimas unidades militares polonesas renderam-se em 6 de outubro de 193910.
Esse foi o primeiro exemplo da ainda longe de perfeita “guerra-relâmpago” de Hitler, a Blitzkrieg, uma guerra de movimentação rápida, liderada por tanques e divisões motorizadas com bombardeiros que aterrorizavam as tropas inimigas e imobilizavam sua força aérea, sobrepujando um oponente de mentalidade mais convencional com a velocidade e a força absolutas de um golpe nocauteador através das linhas adversárias. Pode-se notar o sucesso da guerra-relâmpago por meio das estatísticas comparativas sobre as perdas dos dois lados. No total, cerca de 70 mil soldados poloneses foram mortos em ação contra os invasores alemães e outros 50 mil contra os russos, com no mínimo 133 mil feridos no conflito com os alemães e um número desconhecido de vítimas na ação contra o Exército Vermelho. Os alemães fizeram quase 700 mil prisioneiros poloneses, e os russos, outros 300 mil; 150 mil soldados e aviadores poloneses fugiram para o exterior, especialmente para a Grã-Bretanha, onde muitos juntaram-se às forças aliadas. Já entre os alemães, foram 11 mil soldados mortos e 30 mil feridos, com mais 3,4 mil desaparecidos em ação; os russos perderam meros 700 homens, com outros 1,9 mil feridos. Esses números ilustram vividamente a natureza desigual do conflito; ao mesmo tempo, entretanto, as perdas alemãs ficaram longe de ser ínfimas, não só em termos de soldados, mas também, mais espantosamente, de equipamento. Nada menos que 300 veículos blindados, 370 armas e outros 5 mil veículos foram destruídos, junto com um número considerável de aeronaves, e essas perdas foram compensadas apenas em parte pela captura ou rendição de equivalentes poloneses (no geral, muito inferiores). Esses foram presságios modestos, mas ainda assim ameaçadores11.
Naquele momento, tais preocupações não perturbaram Hitler. Ele havia acompanhado a campanha de seu quartel-general móvel em um trem blindado estacionado primeiro na Pomerânia, depois na Alta Silésia, fazendo incursões ocasionais de carro para ver a ação de uma distância segura. Em 19 de setembro, ele entrou em Danzig, cidade anteriormente alemã colocada sob administração da Liga das Nações pelo Acordo de Paz, para ser saudado por multidões extasiadas de alemães étnicos rejubilantes com o que viam como sua libertação de um controle estrangeiro. Depois de dois voos rápidos para inspecionar as cenas de destruição produzidas por seus exércitos e aviões em Varsóvia, Hitler voltou para Berlim12. Não houve desfiles nem discursos de celebração na capital, mas a vitória foi recebida com satisfação geral. “Ainda estou para encontrar um alemão, mesmo entre os que não gostam do regime, que veja algo de errado na destruição da Polônia pela Alemanha”, escreveu Shirer em seu diário13.” Agentes social-democratas relataram que a grande massa do povo apoiou a guerra sobretudo porque pensou que o fracasso das potências ocidentais em ajudar os poloneses significava que a Grã-Bretanha e a França logo estariam apelando para a paz, uma impressão reforçada pela muito alardeada “oferta de paz” de Hitler a franceses e britânicos no início de outubro. Embora esta tenha sido rapidamente rejeitada, a inércia contínua de britânicos e franceses manteve vivas as esperanças de que eles pudessem ser persuadidos a sair da guerra14. Rumores de um tratado de paz com as potências ocidentais grassavam nessa época, e levaram até mesmo a manifestações comemorativas espontâneas nas ruas de Berlim15.
Enquanto isso, a máquina de propaganda de Goebbels havia entrado em ação para persuadir os alemães de que a invasão fora inevitável em razão da ameaça polonesa de genocídio contra os alemães étnicos que viviam na Polônia. O regime militar nacionalista daquele país de fato havia discriminado intensamente a minoria alemã étnica nos anos entreguerras. No princípio da invasão alemã em setembro de 1939, tomado por temores de sabotagem por trás das linhas, o governo polonês havia detido entre 10 mil e 15 mil alemães étnicos e fez que marchassem para a região leste do país, espancando os retardatários e atirando em muitos dos que desistiam por exaustão. Também houve ataques disseminados a membros da minoria alemã étnica, cuja maior parte não disfarçou o desejo de voltar para o Reich alemão desde sua incorporação forçada à Polônia no fim da Primeira Guerra Mundial16. No total, cerca de 2 mil alemães étnicos foram mortos em fuzilamentos em massa ou morreram por exaustão nas marchas. Uns 300 foram mortos em Bromberg (Bydgoszcz), onde alemães étnicos locais protagonizaram um levante armado contra a guarnição da cidade na crença de que a guerra estava praticamente encerrada e foram liquidados por poloneses enraivecidos. Tais acontecimentos foram cinicamente explorados pelo Ministério da Propaganda de Goebbels para conquistar na Alemanha o máximo de apoio à invasão. Muitos alemães ficaram convencidos. Melita Maschmann, uma jovem ativista da Liga das Moças Alemãs, a ala feminina da Juventude Hitlerista, foi persuadida de que a guerra era moralmente justificável não só à luz das injustiças de Versalhes, que havia concedido regiões de idioma alemão para o novo Estado polonês, mas também por reportagens na imprensa e nos cinejornais sobre a violência polonesa contra a minoria de língua alemã. Ela acreditava que 60 mil alemães étnicos haviam sido brutalmente assassinados pelos poloneses no “Domingo Sangrento” de Bromberg. “Como a Alemanha poderia ser culpada por agir para fazer cessar esse ódio, essas atrocidades?”, ela se perguntava17. De início, Goebbels havia estimado o número total de alemães étnicos mortos em 5,8 mil. Só em fevereiro de 1940, provavelmente por instruções pessoais de Hitler, a estimativa foi aumentada de forma arbitrária para 58 mil, mais adiante relembrada em um número arredondado por Melita Maschmann18. O número não só convenceu a maioria dos alemães de que a invasão fora justificada, como também alimentou o ódio e o ressentimento sentidos pela minoria alemã étnica na Polônia contra seus antigos senhores19. Sob ordens de Hitler, esse rancor logo foi colocado a serviço de uma campanha de limpeza étnica e assassinato em massa que superou de longe qualquer coisa ocorrida depois da ocupação alemã da Áustria e da Tchecoslováquia em 193820.
II
A invasão da Polônia foi de fato a terceira anexação bem-sucedida de território estrangeiro pelo Terceiro Reich. Em 1938, a Alemanha havia anexado a república independente da Áustria. Em seguida, naquele mesmo ano, marchou sem oposição para dentro das regiões fronteiriças de língua alemã da Tchecoslováquia. Ambos os movimentos foram sancionados por acordos internacionais e, no geral, bem recebidos pelos habitantes das áreas envolvidas. Poderiam ser retratados como revisões justificáveis do Tratado de Versalhes, que havia proclamado a autodeterminação como um princípio geral, mas a havia negado a grupos de língua alemã que viviam nessas partes da Europa do Centro-Leste. Em março de 1939, porém, Hitler violou claramente os acordos internacionais do ano anterior ao marchar para o Estado remanescente da Tchecoslováquia, desmembrando-o e criando o Protetorado do Reich da Boêmia e Morávia a partir da parte tcheca. Pela primeira vez o Terceiro Reich havia tomado conta de uma área substancial da Europa centro-oriental que não era habitada basicamente por povo de idioma alemão. Esse foi, na verdade, o primeiro passo para a realização de um programa nazista há muito cultivado: estabelecer um novo “espaço vital” (Lebensraum) para os alemães na Europa centro-oriental e oriental, onde os habitantes eslavos seriam reduzidos à condição de trabalhadores escravos e provedores de alimento para seus senhores alemães. Os tchecos eram tratados como cidadãos de segunda classe no novo protetorado, e aqueles recrutados para os campos e as fábricas alemães para fornecer a muito necessária mão de obra eram colocados sob um regime legal e policial especialmente severo, mais draconiano até do que o que os alemães estavam experimentando com Hitler21.
Mapa 1. Polônia e Europa centro-oriental sob o Pacto Alemão-Soviético, 1939-41
Ao mesmo tempo, os tchecos, junto com os recém (nominalmente) independentes eslovacos, tinham direito a sua própria administração civil, tribunais e outras instituições. Alguns alemães, ao menos, tinham certo grau de respeito pela cultura tcheca, e a economia tcheca era inegavelmente avançada. Os alemães viam a Polônia e os poloneses de modo bem mais negativo. A Polônia independente fora repartida entre Áustria, Prússia e Rússia no século XVIII e só voltara a existir de novo como Estado soberano no fim da Primeira Guerra Mundial. Ao longo de todo aquele período, a maioria dos nacionalistas alemães acreditou que os poloneses eram por temperamento incapazes de se governar. “Trapalhada polonesa” (Polenwirtschaft) era uma expressão corriqueira para caos e ineficiência, e os livros escolares em geral retratavam a Polônia como atrasada em termos econômicos e atolada em superstição católica. A invasão da Polônia teve pouco a ver com a situação da minoria de idioma alemão de lá, que somava apenas 3% da população, em contraste com a República Tchecoslovaca, onde os alemães étnicos constituíam quase 25% dos habitantes. Ajudados por uma longa tradição de escrever e ensinar sobre o assunto, os alemães ficaram convencidos de que haviam assumido o fardo de uma “missão civilizatória” na Polônia ao longo dos séculos e que estava na hora de fazê-lo de novo22.
Hitler teve pouco a dizer sobre a Polônia e os poloneses antes da guerra, e sua atitude pessoal em relação a eles pareceu de certa forma pouco clara, em contraste com o desagrado de longa data quanto aos tchecos, alimentado já na Viena pré-1914. O que dominava sua mente e a fez se voltar agudamente contra os poloneses foi a recusa do governo militar de Varsóvia em fazer quaisquer concessões a suas exigências territoriais, em contraste com os tchecos, que haviam se submetido obsequiosamente sob a pressão internacional em 1938, demonstrando disposição em cooperar com o Terceiro Reich no desmembramento e eventual supressão de seu Estado. A coisa piorou com a recusa da Grã-Bretanha e da França em forçar a Polônia a aceitar exigências como a volta de Danzig para a Alemanha. Em 1934, quando Hitler concluiu um pacto de dez anos de não agressão com os poloneses, pareceu possível que a Polônia se tornaria um Estado-satélite numa futura ordem europeia dominada pela Alemanha. Mas, em 1939, a Polônia tornara-se um sério obstáculo à expansão do Terceiro Reich para o leste. Portanto, devia ser varrida do mapa e implacavelmente explorada para financiar os preparativos para a guerra vindoura a oeste23.
A decisão sobre o que se deveria fazer ainda não fora tomada quando, em 22 de agosto de 1939, à medida que se faziam os preparativos finais para a invasão, Hitler disse a seus generais da liderança como imaginava a guerra futura com a Polônia:
Nossa força reside em nossa rapidez e brutalidade. Gêngis Khan conscientemente caçou milhões de mulheres e crianças até a morte com um coração jubiloso. A história vê nele apenas o fundador de um grande Estado [...] Dei uma ordem – e mandarei fuzilar qualquer um que exprima uma única palavra de crítica – de que a meta de nossa guerra resida não em alcançar linhas particulares, mas na aniquilação física do inimigo. Assim, por enquanto apenas no leste, coloquei minhas formações de Caveira de prontidão com a ordem de mandar para a morte homens, mulheres e crianças de descendência e linguagem polonesas, sem piedade e sem remorso [...] A Polônia será despovoada e colonizada por alemães24.
Os poloneses, disse ele a Goebbels, eram “mais animais do que homens, totalmente obtusos e amorfos [...] A sujeira dos poloneses é inimaginável25”. A Polônia tinha de ser subjugada de modo completamente implacável. “Os poloneses”, disse ele ao ideólogo do Partido Alfred Rosenberg em 27 de setembro de 1939, consistiam de “uma fina camada germânica; por baixo, um material horroroso [...] As cidades grossas de sujeira [...] Se a Polônia continuasse governando as velhas zonas alemãs por mais algumas décadas, ficaria tudo tomado de piolhos e arruinado. O que se fazia necessário agora era uma mão decidida e autoritária para governar26”. A autoconfiança de Hitler cresceu à medida que dias, depois semanas, passaram-se em setembro de 1939 sem nenhum sinal de intervenção efetiva de britânicos e franceses para ajudar os poloneses. O sucesso dos exércitos alemães só aumentou sua sensação de invulnerabilidade. Na criação do Protetorado do Reich da Boêmia e Morávia, considerações estratégicas e econômicas haviam desempenhado o papel principal. Com a tomada da Polônia, entretanto, Hitler e os nazistas, pela primeira vez, estavam prontos para deslanchar sua ideologia racial com força plena. A Polônia ocupada viria a se tornar o campo de prova para a criação da nova ordem racial na Europa centro-oriental, um modelo do que Hitler pretendia que acontecesse no resto da região – Bielorrússia, Rússia, Estados bálticos e Ucrânia. Iria mostrar o que o conceito nazista de um novo “espaço vital” para os alemães a leste realmente significaria na prática27.
No início de outubro de 1939, Hitler havia abandonado a ideia inicial de permitir que os poloneses se governassem em um Estado remanescente. Grandes áreas do território polonês foram anexadas ao Reich para formar os novos distritos de Danzig-Prússia Ocidental, sob Albert Forster, líder regional do Partido Nazista de Danzig, e Posen (logo renomeado de Wartheland), sob Arthur Greiser, ex-presidente do Senado de Danzig. Outros pedaços da Polônia foram somados aos distritos existentes da Prússia Oriental e da Silésia. Essas medidas estenderam as fronteiras do Terceiro Reich em cerca de 150 a 200 quilômetros a leste. No total, 90 mil quilômetros quadrados de território foram incorporados ao Reich, junto com cerca de 10 milhões de pessoas, 80% delas polonesas. O resto da Polônia, conhecido como Governo Geral, foi colocado sob o domínio autocrático de Hans Frank, o especialista em direito do Partido Nazista, que fez nome defendendo nazistas em casos criminais na década de 1920 e dali progrediu para se tornar comissário de Justiça do Reich e chefe da Liga dos Advogados Nazistas. A despeito da lealdade incondicional a Hitler, Frank havia colidido repetidas vezes com Heinrich Himmler e a SS, que ligavam bem menos que ele para formalidades legais, e removê-lo para a Polônia foi um jeito conveniente de deixá-lo de lado. Além disso, sua experiência jurídica parecia ajustá-lo bem à tarefa de criar uma nova estrutura administrativa do zero. Mais de 11 milhões de pessoas viviam no Governo Geral, que incluía o distrito de Lublin e partes das províncias de Varsóvia e Cracóvia. Não era um “protetorado” como Boêmia e Morávia, mas uma colônia, fora do Reich e além de sua lei, com os habitantes poloneses efetivamente sem Estado e sem direitos. Na posição de poder quase ilimitado de que desfrutaria como governador-geral, o pendor de Frank para a retórica brutal e violenta depressa se traduziria na realidade da ação brutal e violenta. Com Forster, Greiser e Frank ocupando as posições administrativas de liderança, o conjunto da área ocupada da Polônia estava agora nas mãos de empedernidos “velhos combatentes” do movimento nazista, pressagiando a imposição desenfreada da ideologia nazista extrema que viria a ser o princípio orientador da ocupação28.
Hitler anunciou suas intenções em 17 de outubro de 1939 para um pequeno grupo de oficiais seniores. O Governo Geral, Hitler disse a eles, seria autônomo do Reich. Era para ser local de uma “dura luta racial que não permitirá nenhuma restrição legal. Os métodos não serão compatíveis com nossos princípios normais”. Não deveria haver uma tentativa de governo eficiente ou ordeiro. “Deve-se permitir que a ‘trapalhada polonesa’ floresça.” Transportes e comunicações tinham de ser mantidos porque a Polônia seria “um posto avançado” para a invasão da União Soviética em algum momento futuro. Quanto ao resto, “qualquer tendência para estabilizar a situação na Polônia deve ser suprimida”. Não era tarefa da administração “colocar o país em uma base econômica e financeira sólida”. Não deveria haver oportunidade para os poloneses se reafirmarem. “Os intelectuais poloneses devem ser impedidos de se organizar como uma classe governante. O padrão de vida no país deve permanecer baixo; sua utilidade para nós é apenas de reservatório de mão de obra29.”
Essas políticas drásticas foram implementadas por uma mistura de grupos paramilitares locais e forças-tarefa da SS. No começo da guerra, Hitler determinou o estabelecimento de uma milícia de autoproteção alemã étnica na Polônia, que pouco depois ficou sob a égide da SS. A milícia foi organizada e depois liderada na Prússia Ocidental por Ludolf von Alvensleben, assistente de Heinrich Himmler. Ele disse a seus homens, em 16 de outubro de 1939: “Vocês agora são a raça que manda aqui [...] Não sejam moles, sejam inclementes e limpem tudo o que não seja alemão e possa nos atrapalhar no trabalho de construção30”. A milícia deu início a fuzilamentos organizados de civis poloneses em massa, sem nenhuma autorização das autoridades militares ou civis, em atos disseminados de vingança por supostas atrocidades polonesas contra os alemães étnicos. Já em 7 de outubro de 1939, Alvensleben relatou que 4.247 poloneses haviam sido submetidos às “mais pungentes medidas”. Somente no período entre 12 de outubro e 11 de novembro de 1939, cerca de 2 mil homens, mulheres e crianças foram fuzilados pela milícia em Klammer (distrito de Kulm). Nada menos que 10 mil poloneses e judeus foram levados por milicianos para Mniszek, na paróquia de Dragass, trazidos das áreas vizinhas, alinhados na beira de minas de cascalho e fuzilados. As milícias, auxiliadas por soldados alemães, haviam fuzilado outros 8 mil em um bosque perto de Karlshof, no distrito de Zempelburg, até 15 de novembro de 1939. Quando essas atividades cessaram, no início de 1940, muitos milhares mais de poloneses haviam caído vítimas da fúria dos milicianos. Na cidade de Konitz, na Prússia Ocidental, por exemplo, a milícia protestante local, inflamada pelo ódio e desprezo por poloneses, católicos, judeus e qualquer um que não se enquadrasse nos ideais raciais nazistas, começou fuzilando 40 poloneses e judeus em 26 de setembro sem nem sequer um simulacro de julgamento. Sua contagem de vítimas judias e polonesas chegou a 900 no janeiro seguinte. Dos 65 mil poloneses e judeus assassinados no último trimestre de 1939, cerca de metade foi morta pelas milícias, às vezes em circunstâncias bestiais; esses foram os primeiros fuzilamentos de civis em massa da guerra31.
III
No decorrer de 1939, Himmler, Heydrich e outras lideranças da SS estiveram envolvidos em um quente debate sobre a melhor forma de organizar os vários organismos que haviam passado a seu controle desde o começo do Terceiro Reich, incluindo o Serviço de Segurança, a Gestapo, a polícia criminal e um grande número de gabinetes especializados. As discussões adquiriram urgência com a perspectiva da invasão da Polônia em futuro próximo, e ficou claro que as linhas de responsabilidade e a demarcação entre a polícia e o Serviço de Segurança precisariam ser retraçadas caso quisessem afirmar-se de modo efetivo contra o poderio do Exército alemão. Em 27 de setembro de 1939, Himmler e Heydrich criaram o Escritório Central de Segurança do Reich (Reichssicherheitshauptamt) para juntar todas as várias partes da polícia e da SS sob uma diretoria única e centralizada. Aprimorado ao longo dos meses seguintes, o escritório veio a consistir de sete departamentos. Dois deles (I e II) gerenciavam a administração em suas várias atividades, das condições de contratação aos arquivos de pessoal. O diretor inicial, Werner Best, foi por fim posto de lado pelo rival Heydrich em junho de 1940, e suas responsabilidades foram divididas entre figuras menos ambiciosas. O Serviço de Segurança de Heydrich em si ocupou os departamentos III e VI, cobrindo assuntos domésticos e externos, respectivamente. O Departamento IV consistia da Gestapo, com seções dedicadas a tratar de oponentes políticos (IVA), igrejas e judeus (IVB), “custódia preventiva” (IVC), territórios ocupados (IVD) e contraespionagem (IVE). A polícia criminal foi colocada no Departamento V, e o Departamento VII foi criado para investigar ideologias de oposição. Toda a vasta estrutura estava em um estado de fluxo constante, fendida por rivalidades internas e minada por mudanças periódicas de pessoal. Entretanto, um grupo de indivíduos-chave garantiu um grau de coerência e continuidade – notadamente Reinhard Heydrich, o chefe-geral; Heinrich Müller, o chefe da Gestapo; Otto Ohlendorf, que dirigia o Departamento III; Franz Six (Departamento VII); e Arthur Nebe (Departamento V). Tratava-se, para todos os efeitos, de um organismo independente, com legitimidade derivada da prerrogativa pessoal de Hitler, provido não de funcionários públicos tradicionais, legalmente treinados, mas de nazistas ideologicamente comprometidos. Uma parte essencial de seus fundamentos era politizar a polícia, cujos oficiais graduados, inclusive Müller, eram policiais de carreira e não nazistas fanáticos. Desagregado das estruturas administrativas tradicionais, o Escritório Central da Segurança do Reich intervinha em todo setor em que Heydrich sentisse ser necessária uma presença ativa e radical, antes de mais nada na reordenação racial da Polônia ocupada32.
Isso agora avançava em passo acelerado. Já em 8 de setembro de 1939, Heydrich teria dito: “Queremos proteger a gente comum, mas os aristocratas, os poloneses e os judeus devem ser mortos”, e expressou impaciência, assim como o próprio Hitler, com a baixa taxa de execuções ordenadas pelas cortes militares formais – meras 200 por dia naquela época33. Franz Halder, chefe do Estado-Maior Geral do Exército, acreditava que “a meta do Líder e de Göring é aniquilar e exterminar o povo polonês34”. Em 19 de setembro de 1939, Halder registrou que, segundo informara Heydrich, haveria uma “faxina: judeus, intelectuais, clero, aristocracia”. Os nomes de 60 mil profissionais e intelectuais poloneses tinham sido compilados antes da guerra; todos eles deveriam ser mortos. Um encontro entre Brauchitsch e Hitler em 18 de outubro confirmou que a polícia deveria “impedir os intelectuais poloneses de se firmar como uma nova classe de liderança. O baixo padrão de vida será mantido. Escravos baratos. Toda a ralé deve ser varrida do território alemão. Criação de uma desorganização completa35”. Heydrich disse a seus comandantes subordinados que Hitler havia ordenado a deportação dos judeus poloneses para o Governo Geral, junto com os poloneses cultos e profissionais de carreira, exceto os líderes políticos, que deveriam ser colocados em campos de concentração36.
Baseando-se na experiência da ocupação da Áustria e da Tchecoslováquia e agindo sob ordens explícitas de Hitler, Heydrich organizou cinco forças-tarefa (Einsatzgruppen), mais tarde aumentadas para sete, para seguir o Exército na Polônia e executar as políticas ideológicas do Terceiro Reich37. Seus líderes foram nomeados por uma unidade administrativa especial criada por Heydrich e postos sob o comando de Werner Best38. Os homens que ele designou para liderar as forças-tarefa e suas várias subunidades (Einsatzkommandos) eram oficiais graduados do Serviço de Segurança e da Polícia de Segurança, na maioria homens bem-educados de classe média na faixa de 35-40 anos, que tinham se voltado para a extrema direita durante a República de Weimar. Muitos dos comandantes mais velhos e decanos haviam servido nas violentas unidades paramilitares das Brigadas Livres no começo da década de 1920; seus subordinados mais jovens com frequência tinham entrado para a política da extrema direita ultranacionalista e antissemita nos tempos de universidade, no começo da década de 1930. Um bom número deles, ainda que não todos, imbuíram-se de violentos sentimentos antipoloneses como membros das unidades paramilitares nos conflitos de 1919-1921 na Alta Silésia, como nativos de regiões cedidas à força para a Polônia no Acordo de Paz ou como oficiais de polícia ao longo da fronteira germano-polonesa. Best esperava que seus oficiais fossem não apenas administradores seniores, experientes e eficientes, como também tivessem algum tipo de experiência militar39.
Um desses homens, típico na maioria dos aspectos, era Bruno Streckenbach, um líder de brigada da SS nascido em Hamburgo em 1902, filho de um funcionário da alfândega. Jovem demais para lutar na Primeira Guerra Mundial, Streckenbach juntou-se a uma unidade das Brigadas Livres em 1919 e envolveu-se no combate a revolucionários de esquerda em Hamburgo antes de tomar parte no golpe de Kapp em março de 1920. Depois de trabalhar em vários empregos administrativos na década de 1920, Streckenbach entrou para o Partido Nazista em 1930 e para a SS em 1931; em novembro de 1933, tornou-se oficial do Serviço de Segurança da SS, ascendendo firmemente por seus escalões e se tornando chefe da Polícia Estatal de Hamburgo em 1936, conquistando uma reputação pela impiedade ao longo desse processo. Isso serviu-lhe de recomendação para Best, que o nomeou chefe da Força-Tarefa I na Polônia em 1939. Streckenbach era incomum sobretudo pela relativa falta de realizações no campo da educação; vários de seus oficiais subordinados tinham doutorado. Como eles, entretanto, tinha uma história de forte comprometimento com a extrema direita40.
Streckenbach e as forças-tarefa, somando cerca de 2,7 mil homens no total, foram encarregados de estabelecer a segurança política e econômica da ocupação alemã no rastro na invasão. Isso incluía não apenas matar “a camada de liderança da população da Polônia”, mas também “combater na retaguarda das tropas todos os elementos em território inimigo que sejam hostis ao Reich e aos alemães41”. Na prática isso garantia considerável margem de manobra às forças-tarefa. As forças-tarefa foram colocadas sob o comando formal do Exército, que recebeu ordem para ajudá-las tanto quanto a situação tática permitisse. Isso fazia sentido, uma vez que as forças-tarefa deveriam lidar com espionagem, resistência, grupos guerrilheiros e coisa parecida, mas na prática elas ficaram muito por conta própria, enquanto a SS deslanchava sua campanha maciça de detenções, deportações e assassinatos42. As forças-tarefa foram munidas com listas de poloneses que haviam lutado de algum jeito contra o domínio alemão na Silésia durante os distúrbios que acompanharam os plebiscitos da Liga das Nações depois do término da Primeira Guerra Mundial. Políticos poloneses, lideranças católicas e defensores da identidade nacional polonesa foram selecionados para detenção. Em 9 de setembro de 1939, o jurista nazista Roland Freisler, secretário de Estado no Ministério de Justiça do Reich, chegou em Bromberg para montar uma série de julgamentos espetaculosos diante de um tribunal especial que condenou cem homens à morte no fim do ano43.
O doutor Zygmunt Klukowski, diretor de hospital, começou a registrar em seu diário execuções em massa de poloneses pelos alemães em seu distrito, realizadas sob os mais ínfimos pretextos – 17 pessoas no início de janeiro de 1940, por exemplo44. Como intelectual e profissional liberal, o perigo para ele era particularmente intenso. Klukowski vivia com o medo constante de ser detido e de fato, em junho de 1940, ele foi levado pela polícia alemã de seu hospital para um campo de internamento, onde os poloneses eram submetidos a exercícios físicos punitivos, surrados “com porretes, chicotes ou punhos” e mantidos em condições imundas e sem saneamento. No interrogatório, ele disse aos alemães que havia tifo no hospital e que precisava voltar para impedir que se espalhasse pela cidade e possivelmente os infectasse. (“Em minha cabeça eu dizia: ‘louvado seja o piolho’”, escreveu ele depois no diário.) Klukowski foi imediatamente solto para voltar ao que ele retratou como um hospital completamente infestado. O médico refletiu que teve muita sorte; escapara de ser espancado ou de ter de correr em volta do campo de treinamento da prisão, e saíra de lá depressa. A experiência, ele escreveu, “ultrapassou todos os boatos. Antes eu não tinha condições de entender o desprezo metódico pela dignidade pessoal, como seres humanos podiam ser tratados muito pior que animais, enquanto os abusos físicos eram cometidos com um prazer sádico claramente exposto nos rostos da Gestapo alemã. Mas”, ele prosseguiu, “o comportamento dos prisioneiros era magnífico. Ninguém suplicava misericórdia; ninguém mostrava sequer um traço de covardia [...] Todos os insultos, maus-tratos e abusos eram recebidos calmamente com o conhecimento de que trazem vergonha e desgraça ao povo alemão45”.
As represálias até mesmo para as ofensas mais triviais eram selvagens. Em um incidente na aldeia de Wawer, um médico de Varsóvia registrou:
Um camponês polonês bêbado meteu-se num bate-boca com um soldado alemão e na briga resultante feriu-o com uma faca. Os alemães aproveitaram a oportunidade para levar a cabo uma verdadeira orgia de assassinato indiscriminado, alegando represália pelo ultraje. No total, 122 pessoas foram mortas. Entretanto, como os habitantes da aldeia, por um motivo ou outro, aparentemente não estavam à altura da cota predeterminada de vítimas, os alemães pararam um trem para Varsóvia na estação férrea local (normalmente o trem não fazia escala ali), arrastaram para fora vários passageiros, os quais ignoravam completamente o que havia acontecido, e os executaram na hora, sem nenhuma formalidade. Três deles foram deixados pendurados de cabeça para baixo por quatro dias na estação ferroviária. Um enorme cartaz colocado próximo à cena hedionda contava a história das vítimas e lançava a ameaça de que um destino semelhante estava reservado a toda localidade onde um alemão fosse morto ou ferido46.
Quando um líder camisa-parda de 30 anos de idade e um funcionário local chegaram bêbados na prisão de Hohensalza, arrancaram os prisioneiros poloneses de suas celas e fizeram 55 deles ser fuzilados na mesma hora, matando alguns pessoalmente; o único efeito dos protestos de outros funcionários locais foi persuadir o líder regional Greiser a extrair do camisa-parda uma promessa de não tocar em álcool pelos dez anos seguintes47. Em outro incidente, em Obluze, perto de Gdynia, o fato de a vidraça da delegacia de polícia local ter sido quebrada resultou na detenção de 50 ginasianos poloneses. Quando eles se recusaram a revelar o culpado, seus pais receberam ordem para surrá-los defronte à igreja local. Os pais recusaram-se, e então os homens da SS bateram nos meninos com a coronha dos rifles e fuzilaram dez deles, deixando os corpos tombados diante da igreja um dia inteiro48.
Tais incidentes ocorreram quase diariamente ao longo do inverno de 1939-40 e envolveram uma mistura de tropas alemãs regulares, milícias alemãs étnicas e unidades das forças-tarefa e da Polícia da Ordem. Embora o Exército não tivesse recebido ordens para matar a intelectualidade polonesa, a visão que a maioria dos soldados e oficiais de baixa patente tinha dos poloneses como sub-humanos perigosos e traiçoeiros bastou para que incluíssem um grande número de intelectuais e profissionais poloneses como parte do que consideravam medidas preventivas ou de represália49. Dada a feroz, ainda que ineficaz, resistência dos poloneses, os comandantes do Exército alemão ficaram extremamente preocupados diante da perspectiva de uma guerrilha contra suas tropas e tomaram medidas de retaliação das mais draconianas onde suspeitaram que isso estivesse surgindo50. “Se houver um tiroteio em uma aldeia atrás da linha de frente”, ordenou o coronel-general Von Bock em 10 de setembro de 1939, “e caso se revele impossível identificar a casa de onde vieram os disparos, toda a aldeia deve ser reduzida a cinzas51.” Até a administração militar da Polônia ocupada chegar ao fim em 26 de outubro, 531 cidades e vilas haviam sido reduzidas a cinzas, e 16.376 poloneses haviam sido executados52. Soldados alemães de baixa patente eram inflamados por medo, desprezo e fúria ao deparar com resistência polonesa. Em muitas unidades, os oficiais fizeram palestras de incentivo antes da invasão, enfatizando o barbarismo, a bestialidade e a sub-humanidade dos poloneses. Em um relatório, o cabo Franz Ortner, um fuzileiro, vituperou contra o que chamou de poloneses “brutalizados”, que, pensava ele, passavam a baioneta em alemães feridos no campo de batalha. Um soldado raso, em carta para casa, descreveu as ações polonesas contra alemães étnicos como “animalescas”. Os poloneses eram “insidiosos”, “traiçoeiros”, “vis”; eram mentalmente anormais, covardes, fanáticos; viviam em “buracos fedorentos” em vez de casas; e estavam sob a “maléfica influência da judiaria”. Os soldados indignavam-se com as condições em que os poloneses viviam: “Palha, umidade, panelas e flanelas fétidas por toda parte”, escreveu um deles a respeito da casa polonesa em que entrou, confirmando tudo o que ele tinha ouvido sobre o atraso dos poloneses53.
Exemplos típicos do comportamento dos soldados podem ser encontrados no diário de Gerhard M., um camisa-parda nascido em Flensburg em 1914 e convocado pelo Exército pouco antes da guerra. Em 7 de setembro de 1939, sua unidade encontrou resistência de “atiradores covardes” em uma aldeia polonesa. Gerhard M. fora bombeiro antes da guerra. Mas, na ocasião, ele e os homens de sua unidade queimaram a aldeia até as cinzas.
Casas em chamas, mulheres chorando, crianças gritando. O quadro da desgraça. Mas o povo polonês não queria nada melhor. Em uma das casas camponesas primitivas até surpreendemos uma mulher operando uma metralhadora. A casa foi revirada e incendiada. Pouco depois, a mulher foi cercada pelas chamas e tentou sair. Mas a impedimos, por mais difícil que fosse. Soldados não podem ser tratados de modo diferente só porque usam saias. Os gritos dela continuavam soando em meus ouvidos muito tempo depois. A vila inteira ardeu. Tivemos de caminhar exatamente pelo meio da rua, porque o calor das casas que ardiam dos dois lados era forte demais54.
Tais cenas repetiram-se enquanto as tropas alemãs avançavam. Poucos dias depois, em 10 de setembro de 1939, a unidade de Gerhard M. foi alvejada de outra aldeia polonesa e ateou fogo às casas.
Em breve as casas incendiadas alinhavam-se em nosso trajeto, e vindos das chamas soavam os gritos das pessoas que haviam se escondido dentro delas e não tinham mais como se salvar. Os animais urravam no pavor da morte, um cão uivou até ser consumido pelo fogo, mas o pior de tudo eram os gritos das pessoas. Foi medonho. Eles ainda hoje soam em meus ouvidos. Mas atiraram em nós e por isso mereceram morrer55.
Desse modo, as forças-tarefa da SS, as unidades da polícia, os paramilitares alemães étnicos e os soldados regulares alemães mataram civis por toda a Polônia ocupada pela Alemanha, de setembro de 1939 em diante. Assim como observava ações desse tipo, o doutor Klukowsky começou a reparar também em um número cada vez maior de rapazes poloneses indo trabalhar na Alemanha nos primeiros meses de 1940. De fato, no começo do ano, o Ministério da Alimentação do Reich, junto com o Ministério do Trabalho e o Gabinete do Plano de Quatro Anos, exigira um milhão de trabalhadores poloneses para a economia do Reich. Desses, 75% iriam trabalhar na agricultura, onde havia uma grave escassez de mão de obra. Conforme Göring decretou em 25 de janeiro de 1940, eles deveriam vir do Governo Geral. Se não fossem voluntários, deveriam ser convocados. Dadas as condições miseráveis na Polônia ocupada, a perspectiva de viver na Alemanha não era desprovida de atrativos, e mais de 80 mil operários poloneses, um terço deles mulheres, foram voluntariamente transportados para a Alemanha em 154 trens especiais em fevereiro, sobretudo do Governo Geral. Uma vez na Alemanha, porém, foram submetidos a severas leis discriminatórias e medidas repressivas56. As notícias sobre o tratamento na Alemanha levaram rapidamente a uma queda aguda no número de voluntários, de modo que, em abril de 1940, Frank introduziu a obrigatoriedade na tentativa de preencher a cota. Cada vez mais jovens poloneses fugiam para as florestas a fim de evitar o alistamento para trabalhar na Alemanha; os primórdios do movimento de resistência clandestina polonesa datam dessa época57. Em janeiro, a resistência tentou assassinar o chefe de polícia do Governo Geral, e nas semanas seguintes ouve levantes e assassinatos de alemães étnicos em várias aldeias. Em 30 de maio de 1940, Frank deu início a uma “ação de pacificação” na qual 4 mil combatentes da resistência e intelectuais, metade dos quais já estavam sob custódia, foram mortos, junto com 3 mil poloneses condenados por delitos criminais58. Isso causou pouco efeito. Em fevereiro de 1940, ainda havia apenas 295 mil poloneses, a maioria prisioneiros de guerra, trabalhando como operários no Terceiro Reich. Isso não melhorou em nada a escassez de mão de obra ocasionada pelo recrutamento em massa de homens alemães para as Forças Armadas. No verão de 1940, havia 700 mil poloneses trabalhando como voluntários ou à força no Velho Reich; outros 300 mil foram para o Reich no ano seguinte. A essa altura, Frank estava distribuindo cotas para as administrações locais preencherem. Com frequência, a polícia cercava aldeias e detia todos os rapazes. Os que tentavam fugir eram fuzilados. Nas cidades, jovens poloneses simplesmente eram arrebanhados pela polícia e pela SS nos cinemas ou em outros lugares públicos, ou na rua, e embarcados para a Alemanha sem maior cerimônia. Como resultado desses métodos, em setembro de 1941, havia mais de um milhão de operários poloneses no Velho Reich. De acordo com uma estimativa, apenas 15% deles tinham ido para lá por vontade própria59.
A deportação em massa de jovens poloneses para o Reich como trabalhadores forçados ocorreu paralelamente a uma campanha de pilhagem indiscriminada deflagrada pelas forças de ocupação alemãs. Quando soldados alemães tentaram roubar seu hospital, Klukowski conseguiu livrar-se deles dizendo mais uma vez que vários pacientes tinham tifo60. Outros não eram tão espertos ou bem situados. A exigência de que as tropas vivessem da terra não foi acompanhada de nenhum tipo de regra detalhada de requisição. Da apreensão de galinhas para a requisição de material de cozinha e dali para o furto de dinheiro e joias foi um pequeno passo61. A experiência de Gerhard M., cuja unidade chegou a uma cidade polonesa e ficou na rua aguardando ordens, foi típica:
Um camarada astuto descobriu uma loja de chocolates com as vitrines cobertas com tábuas. Infelizmente, o proprietário não estava lá. Então limpamos a loja a crédito. Nossos veículos ficaram abarrotados de chocolate até não haver mais espaço. Todos os soldados andavam por lá de boca cheia, ruminando. Ficamos muito satisfeitos com o preço baixo da compra. Descobri uma loja com maçãs realmente lindas. Todas para dentro do veículo. Uma lata de limões e biscoitos de chocolate na traseira de minha bicicleta, e lá fomos nós embora de novo62.
Liderando o caminho da espoliação da Polônia ocupada estava o governador-geral em pessoa. Frank não se esforçou para esconder a ganância. Chegou até a referir-se a si mesmo como um barão ladrão. Confiscou a casa de campo da família Potocki para usar como retiro rural e passeava por seu feudo com uma limusine tão grande que atraiu comentários negativos até de colegas como o governador da Galícia. Macaqueando Hitler, construiu uma imitação do Berghof nas colinas perto de Zakopane. Os banquetes suntuosos que organizou fizeram sua cintura alargar-se tão depressa que consultou um dietista, pois já mal conseguia caber dentro do uniforme63.
Pilhagem e requisição em breve situavam-se em uma base formal, quase legal, nos territórios incorporados ao Reich. Em 27 de setembro de 1939, o governo militar alemão na Polônia declarou um confisco coletivo da propriedade polonesa, confirmando a ordem de novo em 5 de outubro de 1939. Em 19 de outubro de 1939, Göring anunciou que o Gabinete do Plano de Quatro Anos estava apoderando-se de toda propriedade polonesa e judaica nos territórios incorporados. A prática foi formalizada por um decreto de 17 de setembro de 1940, que estabeleceu uma agência, o Escritório Central de Curadores do Leste (Haupttreuhanstelle Ost), para administrar os empreendimentos confiscados. Em fevereiro de 1941, estes já incluíam mais de 205 mil negócios, variando em tamanho, de pequenas oficinas a grandes empreendimentos industriais. Em junho de 1941, 50% das empresas e um terço das maiores propriedades agrárias dos territórios anexados haviam sido tomadas sem compensação pelos curadores. Além disso, o Exército requisitou um número substancial de fazendas para garantir o abastecimento de comida para as tropas64. O confisco incluiu até a retirada de equipamento científico de laboratórios universitários para uso na Alemanha. Mesmo a coleção de animais empalhados do zoológico de Varsóvia foi levada embora65. Os metais eram o artigo mais valorizado. Ao longo das margens do rio Vístula, contou um paraquedista alemão não muito depois da invasão, havia grandes caixotes “cheios de lingotes de cobre, chumbo, zinco, em enormes quantidades. Tudo, absolutamente tudo, foi carregado e levado para o Reich66”. Como acontecera no próprio Reich durante um tempo, objetos de ferro e metal, como cercas de parques e portões de jardins, e até mesmo candelabros e caçarolas, foram recolhidos para ser derretidos e usados na produção de armamentos e veículos na Alemanha67. Quando o rigor do inverno realmente começou a se fazer sentir, em janeiro de 1940, o doutor Klukowitz anotou: “A polícia alemã pegou todos os casacos de pele de ovelha dos aldeões que passavam e deixou-os apenas de paletó68”. Não muito depois, as forças de ocupação começaram a atacar as aldeias e confiscar todas as notas bancárias que encontravam69.
IV
Nem todos os comandantes do Exército alemão – particularmente nas altas patentes, onde a influência do nazismo era bem menor do que mais abaixo na hierarquia – aceitaram essa situação com imparcialidade. Alguns, de fato, logo reclamavam de fuzilamentos não autorizados de civis poloneses por ordem de oficiais subalternos e da pilhagem e extorsão feita por tropas alemãs, e alegavam que “alguns prisioneiros eram brutalmente espancados”. “Perto de Pultusk”, relatou um oficial do Estado-Maior Geral, “80 judeus foram trucidados de forma bestial. Foi estabelecida uma corte marcial, também contra duas pessoas que vinham saqueando, assassinando e estuprando em Bromberg.” Tais ações começaram a despertar preocupação na liderança do Exército. Já em 10 de setembro de 1939, o chefe do Estado-Maior Geral do Exército, Franz Halder, notava “atos sórdidos por trás da linha de frente70”. Em meados de outubro, as queixas de comandantes do Exército levaram à concordância de que as “milícias de autoproteção” tinham de ser dissolvidas, embora em algumas regiões levasse vários meses para isso ser efetivado71. Porém, essa medida não deu fim às preocupações dos oficiais. Em 25 de outubro de 1939, Walther von Brauchitsch, comandante-chefe do Exército, repreendeu seus oficiais com rispidez por causa da conduta na Polônia:
Um número perturbador de casos de, por exemplo, expulsão ilegal, confisco proibido, autoenriquecimento, apropriação indébita e furto, maus-tratos ou ameaça de subordinados em parte por excitação excessiva e em parte por insensatez de bebedeira, desobediência com as mais sérias consequências para a unidade da tropa sob comando, estupro de mulheres casadas etc. produzem uma imagem de soldados com hábitos de mercenários piratas (Landsknechtsmanieren) que não se pode condenar com veemência suficiente72.
Vários outros oficiais de alta patente, inclusive aqueles que acreditavam em Hitler e no nacional-socialismo compartilhavam dessa opinião73.
Em muitos casos, os líderes do Exército, preocupados com que pudessem arcar com a responsabilidade pelos crimes em massa em andamento, ficavam muito satisfeitos apenas em transferi-la para os líderes da força-tarefa do Serviço de Segurança da SS, concedendo-lhes autoridade irrestrita74. Contudo, começaram a se multiplicar os casos de oficiais seniores do Exército que tomavam atitude contra unidades da SS que eles consideravam estar quebrando as leis e as convenções de guerra e causando distúrbios na linha de frente que eram uma ameaça geral à ordem. O general Von Küchler, comandante do III Exército Alemão, ordenou a detenção e o desarmamento de uma unidade de polícia da Força-Tarefa V após esta ter fuzilado alguns judeus e ateado fogo à casa deles em Mlawa. Ele levou à corte marcial membros de um regimento de artilharia da SS que conduziram 50 judeus para uma sinagoga perto de Rozan depois de trabalharem no reforço de uma ponte e então os fuzilaram “sem motivo”. Outros oficiais tomaram medidas semelhantes, e acabaram detendo até mesmo um membro da SS da escolta de Hitler. Brauchitsch havia se reunido com Hitler em 20 de setembro e com Heydrich em 21 de setembro para tentar ajeitar a situação. O único resultado foi uma anistia emitida pessoalmente por Hitler em 4 de outubro para crimes cometidos “devido ao rancor contra as atrocidades cometidas pelos poloneses”. Todavia, a disciplina militar estava sendo ameaçada, e vários oficiais seniores ficaram muito preocupados. Os rumores espalharam-se rapidamente entre o corpo de oficiais. Em sua base em Colônia, no começo de dezembro de 1939, o capitão Hans Meier-Welcker, um ponderado oficial do Estado-Maior em seus 30 e poucos anos, ouviu falar das atrocidades e indagou-se: “Como uma coisa dessas será vingada?75”.
A crítica mais franca à política de ocupação veio no fim de outubro de 1939 do coronel-general Johannes Blaskowitz, que desempenhou papel importante na invasão e foi nomeado comandante-chefe do Leste, encarregado da administração militar dos territórios conquistados. O governo militar chegou ao fim formalmente em 26 de outubro de 1939, e a autoridade passou à administração civil. Todavia, ele continuou responsável pela defesa militar. Poucas semanas depois de sua nomeação, Blaskowitz mandou um longo memorando para Hitler detalhando os crimes e as atrocidades cometidos por unidades da SS e da polícia na região sob seu comando. Ele repetiu as alegações com mais minúcias em um memorando preparado para uma visita oficial do comandante-chefe do Exército a seu quartel-general em 15 de fevereiro de 1940. Blaskowitz condenou a matança de dezenas de milhares de judeus e poloneses, considerando-a contraprodutiva. Escreveu que aquilo causaria dano à reputação da Alemanha no exterior. Os assassinatos apenas fortaleceriam o sentimento nacional polonês e impeliriam mais poloneses e judeus para a resistência. Aquilo era danoso à reputação do Exército entre a população. Ele advertiu para “a brutalização sem limites e a depravação moral que se espalharão através do valioso material humano alemão como uma epidemia no mais curto período” caso se permitisse a continuidade da situação. Blaskowitz exemplificou uma série de casos de assassinato e pilhagem por unidades da SS e da polícia. “Todo soldado”, escreveu ele, “sente nojo e repulsa por esses crimes que estão sendo cometidos na Polônia por membros do Reich e representantes de sua autoridade76.”
O ódio e o rancor que essas ações incitavam na população estavam unindo poloneses e judeus em uma causa comum contra o invasor e pondo em risco desnecessário a segurança militar e a vida econômica, disse ele ao líder nazista77. Hitler menosprezou tais escrúpulos como “infantis”. Não dava para se travar uma guerra com os métodos do Exército da Salvação. De qualquer modo, ele nunca havia gostado de Blaskowitz ou confiado nele, disse Hitler a seu ajudante Gerhard Engel. Ele devia ser exonerado. O chefe do Exército, Walther von Brauchitsch, colocou de lado os incidentes detalhados pelo subordinado e considerou-os “erros de julgamento lamentáveis” ou “boatos” infundados. Em todo caso, ele apoiava plenamente o que chamou de “medidas duras, incomuns, tomadas contra a população polonesa no território ocupado”, medidas essas que, em sua opinião, eram necessárias para “assegurar o espaço vital alemão” ordenado por Hitler. Sem contar com o apoio de seu superior, Blaskowitz foi substituído do comando em maio de 1940. Embora tenha servido subsequentemente em outros teatros de guerra, Blaskowitz jamais obteve o bastão de marechal de campo, ao contrário de outros generais de seu nível78.
Os generais, agora mais preocupados com os acontecimentos no oeste, cederam79. O general Georg von Küchler emitiu uma ordem em 22 de julho de 1940 proibindo seus oficiais de se entregar a “qualquer crítica a respeito da luta travada com a população no Governo Geral, no que diz respeito ao tratamento das minorias polonesas, dos judeus e assuntos da Igreja. A obtenção de uma solução final para essa luta étnica”, ele acrescentou, “que grassa há séculos ao longo de nossa fronteira oriental requer medidas particularmente duras80”. Muitos oficiais de alta patente do Exército concordavam com essa opinião. Sua preocupação principal era a indisciplina. Dada a atitude predominante das tropas e dos oficiais de baixo e médio escalão em relação aos poloneses, não era de surpreender que os incidentes nos quais os oficiais intervinham para evitar atrocidades fossem relativamente poucos. A hierarquia do Exército não pretendia, por exemplo, quebrar a Convenção de Genebra de 1929 em relação aos quase 700 mil prisioneiros de guerra feitos na campanha polonesa, mas houve numerosos casos de guardas militares que abateram prisioneiros poloneses que não conseguiram aguentar uma marcha forçada, que mataram prisioneiros fracos ou doentes demais para ficar em pé e que enjaularam prisioneiros em acampamentos ao ar livre com comida e mantimentos inadequados. Em 9 de setembro de 1939, quando um regimento de infantaria motorizada alemão fez 300 prisioneiros poloneses após meia hora de troca de tiros perto de Ciepielów, o coronel no comando, irado pela perda de 14 homens no confronto, alinhou todos os prisioneiros e os metralhou em uma vala na beira da estrada. Uma investigação polonesa posterior identificou mais 63 incidentes desse tipo, e muitos outros devem ter ficado sem registro81. Apenas nas execuções militares formais, pelo menos 16 mil poloneses foram fuzilados; uma estimativa faz esse número chegar a 27 mil82.
1 Informações básicas de Paul Latawski, “Polish Campaign”, em Ian C. B. Dear (ed.), The Oxford Companion to World War II (Oxford, 2005 [1995]), p. 705-8; e Ian C. B. Dear, “Animals”, em ibid., p. 28-9; relato detalhado em Horst Rohde, “Hitler’s First Blitzkrieg and Its Consequences for North-eastern Europe”, em Militärgeschichtliches Forschungsamt (ed.), Germany and the Second World War (10 vols., Oxford, 1990-; daqui em diante GSWW), II, p. 67-150 (tabela das disposições de tropas alemãs na p. 92). Para as ordens de Hitler, ver Walther Hubatsch (ed.), Hitlers Weisungen für die Kriegführung 1939-
-1945. Dokumente des Oberkommandos der Wehrmacht (Frankfurt am Main, 1962), p. 17-1.
2 Latawski, “Polish Campaign”; Rohde, “Hitler’s First Blitzkrieg”, p. 101-18; relato vigoroso em Gerhard L. Weinberg, A World at Arms: A Global History of World War II (Cambridge, 2005 [1994]), p. 48-64; também Józef Garlinski, Poland in the Second World War (Londres, 1985), p. 11-24; Wolfgang Jacobmeyer, “Der Überfall auf Polen und der neue Charakter des Krieges”, em Christoph Klessmann (ed.), September 1939: Krieg, Besatzung, Widerstand in Polen: Acht Beiträge (Göttingen, 1989), p. 16-37, nas p. 19-20; para as supostas investidas da cavalaria polonesa, ver Patrick Wright, Tank: The Progress of a Monstrous War Machine (Londres, 2000), p. 231-7.
3 William L. Shirer, Berlin Diary (Londres, 1970 [1941]), p. 167-8.
4 Detalhes contemporâneos em Alcuin (pseud.), I Saw Poland Suffer, by a Polish Doctor Who Held an Official Position in Warsaw under German Occupation (Londres, 1941), p. 15; relatos de testemunhos oculares em Dieter Bach e Wieslaw Lesiuk, Ich sah in das Gesicht eines Menschen: Deutsch-polnische Begegnungen vor und nach 1945 (Wuppertal, 1995), p. 81-104.
5 Chaim A. Kaplan, Scroll of Agony: The Warsaw Diary of Chaim A. Kaplan (Londres, 1966), p. 20 (28 de setembro de 1939); as mesmas cenas também foram registradas por Adam Czerniakow, The Warsaw Diary of Adam Czerniakow: Prelude to Doom (Nova York, 1979 [1968]), p. 77 (28 de setembro de 1939).
6 Zygmunt Klukowski, Diary from the Years of Occupation 1939-44 (Urbana, Ill., 1993 [1958]), p. vii-x, 16-7 (sem a marcação de parágrafos).
7 Ibid., p. 17.
8 Ibid., p. 22.
9 Richard J. Evans, The Third Reich in Power 1933-1939 (Londres, 2005), p. 689-95.
10 Rohde, “Hitler’s First Blitzkrieg”, p. 118-26; Weinberg, A World at Arms, p. 60-3, detalha os ajustes de fronteira e as negociações que os precederam.
11 Rohde, “Hitler’s First Blitzkrieg”, p. 122-6; Garlinski, Poland, p. 25.
12 Ian Kershaw, Hitler, II: 1936-1945: Nemesis (Londres, 2000), p. 235-9.
13 Shirer, Berlin Diary, p. 173.
14 Klaus Behnken (ed.), Deutschland-Berichte der Sozialdemokratischen Partei Deutschlands (Sopade) 1934-1940 (7 vols., Frankfurt am Main, 1980), VI: 1939, p. 980-2.
15 Heinz Boberach (ed.), Meldungen aus dem Reich: Die geheimen Lageberichte des Sicherheitsdienstes der SS 1938-1945 (17 vols., Herrsching, 1984), II, p. 339 (Bericht zur innenpolitischen Lage (Nr. 2), 11 de outubro de 1939); Shirer, Berlin Diary, p. 182-4.
16 Martin Broszat, Nationalsozialistische Polenpolitik (Frankfurt am Main, 1965), p. 46-8.
17 Melita Maschmann, Account Rendered: A Dossier on my Former Self (Londres, 1964), p. 58-60.
18 Helmut Krausnick, Hitlers Einsatzgruppen: Die Truppen des Weltanschauungskrieges 1938--1942 (Frankfurt am Main, 1985 [1981]), p. 267, nota 140; Broszat, Nationalsozialistische Polenpolitik, p. 51.
19 Kershaw, Hitler, II, p. 241-3; Wlodzimierz Jastrzebski, Der Bromberger Blutsonntag: Legende und Wirklichkeit (Pozna, 1990); Günter Schubert, Das Unternehmen “Bromberger Blutsonntag”: Tod einer Legende (Colônia, 1989). A publicação oficial do Ministério de Relações Exteriores alemão sobre as supostas atrocidades polonesas forneceu um total de 5.437 assassinatos de alemães pelos poloneses: Auswärtiges Amt (ed.), Die polnischen Greueltaten an den Volksdeutschen in Polen (Berlim, 1940), p. 5.
20 Ver o material compilado por dois promotores poloneses de crimes de guerra, Tadeusz Cyprian e Jerzy Sawicki, Nazi Rule in Poland 1939-1945 (Varsóvia, 1961), p. 11-70.
21 Evans, The Third Reich in Power, p. 614-5, 652-3, 678-88.
22 Günter Berndt e Reinhard Strecker (eds.), Polen – ein Schauermärchen oder Gehirnwäsche für Generationen: Geschichtsschreibung und Schulbücher: Beiträge zum Polenbild der Deutschen (Reinbek, 1971); Jacobmeyer, “Der Überfall”, p. 18. Ver também Antony Polonsky, “The German Occupation of Poland during the First and Second World Wars”, em Roy A. Prete e A. Hamish Ion (eds.), Armies of Occupation (Waterloo, Ontário, 1984), p. 97-142.
23 Broszat, Nationalsozialistische Polenpolitik, p. 9-13; Evans, The Third Reich in Power, p. 619, 689-92; Christoph Klessmann, Die Selbstbehauptung einer Nation: Nationalsozialistische Kulturpolitik und polnische Widerstandsbewegung im Generalgouvernement 1939-1945 (Düsseldorf, 1971), p. 27-32.
24 Citado em Jacobmeyer, “Der Überfall”, p. 16-7; ver também Winfried Baumgart, “Zur Ansprache Hitlers vor den Führern der Wehrmacht am 22. August 1939”, Vierteljahrshefte für Zeitgeschichte (daqui em diante VfZ) 16 (1968), p. 120-49, e idem e Hermann Boehm, “Zur Ansprache Hitlers vor den Führern der Wehrmacht am 22. August 1939”, VfZ 19 (1971), p. 294-304.
25 Elke Fröhlich (ed.), Die Tagebücher von Joseph Goebbels I: Aufzeichnungen 1923-1941 (9 vols.); II: Diktate 1941-1945 (15 vols.) (Munique, 1993-2000), I/VII, p. 147 (10 de outubro de 1939).
26 Hans-Günter Seraphim (ed.), Das Politische Tagebuch Alfred Rosenbergs aus den Jahren 1934/35 und 1939/40 (Munique, 1964), p. 98-100; ver, mais genericamente, Tomasz Szarota, “Poland and Poles in German Eyes during World War II”, Polish Western Affairs, 19 (1978), p. 229-54, e Alexander B. Rossino, Hitler Strikes Poland: Blitzkrieg, Ideology, and Atrocity (Lawrence, Kans., 2003), p. 1-28.
27 Helmut Krausnick, “Hitler und die Morde in Polen: Ein Beitrag zum Konflikt zwischen Heer und SS um die Verwaltung der besetzten Gebiete (Dokumentation)”, VfZ 11 (1963), p. 196-209.
28 Broszat, Nationalsozialistische Polenpolitik, p. 13-37; para a administração dessas áreas, ver ibid., p. 49-60; para o status do Governo Geral e a natureza de sua administração, ibid., p. 68-74; mais detalhes em Czeslaw Madajczyk, Die Okkupationspolitik Nazideutschlands in Polen 1939-1945 (Colônia, 1988 [1970]), p. 18-29, 30-44; para Frank, ver Richard J. Evans, The Coming of the Third Reich (Londres, 2003), p. 179; Christoph Klessmann, “Der Generalgouverneur Hans Frank”, VfZ 19 (1971), p. 245--60; e Martyn Housden, Hans Frank: Lebensraum and the Holocaust (Londres, 2003), p. 1-76 (prejudicado pela moralização gratuita); para Forster, ver Dieter Schenk, Hitlers Mann in Danzig: Gauleiter Forster und die NS-Verbrechen in Danzig-Westpreussen (Bonn, 2000). Para um bom relato recente, ver Mark Mazower, Hitler’s Empire: Nazi Rule in Occupied Europe (Londres, 2008), p. 63-77.
29 Jan T. Gross, Polish Society under German Occupation: The Generalgouvernement 1939-
-1944 (Princeton, N. J., 1979), p. 45-53; Frank retransmitiu essas ideias em 21 de outubro de 1939: ver Werner Präg e Wolfgang Jacobmeyer (eds.), Das Diensttagebuch des deutschen Generalgouverneurs in Polen 1939-1945 (Stuttgart, 1975), p. 52-3; ver também o relatório em Franz Halder, Kriegstagebuch (ed. Hans-Adolf Jacobsen, 3 vols., Stuttgart, 1962-4), I, p. 107.
30 Christian Jansen e Arno Weckbecker, “Eine Miliz im ‘Weltanschauungskrieg’: Der ‘Volksdeutsche Selbstschutz’ in Polen 1939/40”, em Wolfgang Michalka (ed.), Der Zweite Weltkrieg: Analysen – Grundzüge – Forschungsbilanz (Munique, 1989), p. 482-500, na p. 490, citado em Kershaw, Hitler, II, p. 242-3.
31 Jansen e Weckbecker, “Eine Miliz”; mais detalhes pelos mesmos autores em Der “Volks-
deutsche Selbstschutz” in Polen 1939/40 (Munique, 1992); Broszat, Nationalsozialistische Polenpolitik, p. 60-2; e Hans Umbreit, Deutsche Militärverwaltungen 1938/39: Die militärische Besetzung der Tschechoslowakei und Polens (Stuttgart, 1977), p. 176-8.
32 Michael Wildt, Generation des Unbedingten: Das Führungskorps des Reichssicher- heitshauptamtes (Hamburgo, 2002), p. 209-415; Saul Friedländer, The Years of Extermination: The Third Reich and the Jews 1939-1945 (Nova York, 2007), p. 679-81 nota 23.
33 Helmut Groscurth, Tagebücher eines Abwehroffiziers 1938-1940 (ed. Helmut Krausnick e Harold C. Deutsch, Stuttgart, 1970), p. 201 (8 de setembro de 1939).
34 Kershaw, Hitler, II, p. 243; Groscurth, Tagebücher, p. 202 (9 de setembro de 1939).
35 Halder, Kriegstagebuch, I, p. 79 (19 de setembro de 1939), p. 81 (20 de setembro de 1939), p. 107 (18 de outubro de 1939); Rossino, Hitler Strikes Poland, p. 14-6; ver também referência posterior de Heydrich à ordem de Hitler para exterminar os intelectuais poloneses em Krausnick, “Hitler und die Morde in Polen”.
36 Broszat, Nationalsozialistische Polenpolitik, p. 221-2.
37 Krausnick, Hitlers Einsatzgruppen, p. 13-25; Wildt, Generation des Unbedingten, p. 420-8; Evans, The Third Reich in Power, p. 656-61, 678-9, 685 para Áustria e Tchecoslováquia.
38 Evans, The Coming of the Third Reich, p. 274; idem, The Third Reich in Power, p. 44, 52, 116; Rossino, Hitler Strikes Poland, p. 10-6.
39 Ibid., p. 29-57; ver também Jens Banach, Heydrichs Elite: Das Führerkorps der Sicherheitspolizei und des SD, 1936-1945 (Paderborn, 1998).
40 Rossino, Hitler Strikes Poland, p. 29-57; para von Woyrsch, ver Evans, The Third Reich in Power, p. 36.
41 Citado em Krausnick, Hitlers Einsatzgruppen, p. 29; também Kurt Pätzold (ed.), Verfolgung, Vertreibung, Vernichtung: Dokumente des faschistischen Antisemitismus 1933 bis 1942 (Frankfurt am Main, 1984), p. 234.
42 Krausnick, Hitlers Einsatzgruppen, p. 31-4; Umbreit, Deutsche Militärverwaltungen, p. 162-73.
43 Krausnick, Hitlers Einsatzgruppen, p. 35-51; Rossino, Hitler Strikes Poland, p. 59-74; Jastrzebski, Der Bromberger Blutsonntag.
44 Klukowski, Diary, p. 68.
45 Ibid., p. 90-9 (21 de junho de 1940).
46 Alcuin (pseud.), I Saw Poland Suffer, p. 73.
47 Broszat, Nationalsozialistische Polenpolitik, p. 44.
48 Jon Evans, The Nazi New Order in Poland (Londres, 1941), p. 51; o mesmo incidente também em Francis Aldor, Germany’s “Death Space”: The Polish Tragedy (Londres, 1940), p. 187-92, baseado em relatos de exilados poloneses em Paris.
49 Rossino, Hitler Strikes Poland, p. 87.
50 A obsessão com franco-atiradores é um tema central em Jochen Böhler, Auftakt zum Vernichtungskrieg: Die Wehrmacht in Polen 1939 (Frankfurt am Main, 2006), p. 54-168. Para o terror em termos mais gerais, ver Madajczyk, Die Okkupationspolitik, p. 186-215.
51 Citado em Krausnick, Hitlers Einsatzgruppen, p. 271, nota 177.
52 Keith Sword, “Poland”, em Dear (ed.), The Oxford Companion to World War II, p. 696; ver Szymon Datner, “Crimes Committed by the Wehrmacht during the September Campaign and the Period of Military Government (1 Sept. 1939-25 Oct. 1939)”, Polish Western Affairs, 3 (1962), p. 294-328; e Umbreit, Deutsche Militärverwaltungen, p. 197-9.
53 Karl Malthes, em IR 309 marchiert an den Feind: Erlebnisberichte aus dem Polenfeldzuge 1939 (ed. Oberst Dr. Hoffmann, Berlim, 1940), p. 158.
54 Heinrich Breloer (ed.), Geheime Welten: Deutsche Tagebücher aus den Jahren 1939 bis 1947 (Colônia, 1999 [1984]), p. 27.
55 Ibid., p. 30.
56 Klukowski, Diary, p. 75, 77, 80-2; Evans, The Nazi New Order, p. 66-82; Broszat, Nationalsozialistische Polenpolitik, p. 102-10; Adam Tooze, The Wages of Destruction: The Making and Breaking of the Nazi Economy (Londres, 2006), p. 361-2.
57 Klukowski, Diary, p. 86-7 (19 de maio de 1940); Wolfgang Jacobmeyer, Heimat und Exil: Die Anfänge der polnischen Untergrundbewegung im Zweiten Weltkrieg (September 1939 bis Mitte 1941) (Hamburgo, 1973).
58 Housden, Hans Frank, p. 120-1; Gross, Polish Society, p. 87.
59 Ulrich Herbert, Hitler’s Foreign Workers: Enforced Foreign Labor in Germany under the Third Reich (Cambridge, 1997 [1985]), p. 79-94; Broszat, Nationalsozialistische Polenpolitik, p. 102-17; Gross, Polish Society, p. 78-81; Madajczyk, Die Okkupationspolitik, p. 216-32.
60 Klukowski, Diary, p. 31.
61 Böhler, Auftakt, p. 181-5.
62 Breloer (ed.), Geheime Welten, p. 27.
63 Housden, Hans Frank, p. 84-6; Madajczyk, Die Okkupationspolitik, p. 334-8.
64 Robert L. Koehl, RKFDV: German Resettlement and Population Policy 1939-1945: A History of the Reich Commission for the Strengthening of Germandom (Cambridge, Mass., 1957), p. 58; (Anon.), The German New Order in Poland (Londres, 1942), p. 262; Aldor, Germany’s “Death Space”, p. 147; Umbreit, Deutsche Militärverwaltungen, p. 222-72; Werner Röhr, “Zur Wirtschaftspolitik der deutschen Okkupanten in Polen 1939-1945”, em Dietrich Eichholtz (ed.), Krieg und Wirtschaft: Studien zur deutschen Wirtschaftsgeschichte 1939-1945 (Berlim, 1999); Ryszard Kaczmarek, “Die deutsche wirtschaftliche Penetration in Polen (Oberschlesien)”, em Richard Overy et al. (eds.), Die “Neuordnung” Europas: NS-Wirtschaftspolitik in den besetzten Gebieten (Berlim, 1997), p. 257-72.
65 Evans, The Nazi New Order, p. 83-96; Klukowski, Diary, p. 85; Alder, Germany’s ‘Death Space’, p. 147.
66 Martin Pöppel, Heaven and Hell: The War Diary of a German Paratrooper (Staplehurst, 1988), p. 21.
67 Alcuin (pseud.), I Saw Poland Suffer, p. 52-6.
68 Ibid., p. 69.
69 Ibid., p. 72-3; estudo geral em Madajczyk, Die Okkupationspolitik, p. 548-63. A questão a respeito de a conduta alemã em relação aos poloneses poder ser chamada de genocida é tratada com sensibilidade em Gerhard Eitel, “Genozid auch an Polen? Kein Thema für einen ‘Historikerstreit’”, Zeitgeschichte, 18 (1990), p. 22-39.
70 Halder, Kriegstagebuch, I, p. 68 (10 de setembro de 1939).
71 Jansen e Weckbecker, Der “Volksdeutsche Selbstschutz”, p. 175-80.
72 Citado em Krausnick, Hitlers Einsatzgruppen, p. 63.
73 Ibid., p. 63-4.
74 Ibid., p. 55-6.
75 Ibid., p. 56-67; Rossino, Hitler Strikes Poland, p. 88-120, 174-85; Hans Meier-Welcker, Aufzeichnungen eines Generalstabsoffiziers 1939-1942 (Freiburg im Breisgau, 1982), p. 39 (Colônia, 10 de dezembro de 1939).
76 Hans-Adolf Jacobsen (ed.), Misstrauische Nachbarn: Deutsche Ostpolitik 1919/1970 (Düsseldorf, 1970), p. 137-41.
77 Ibid., p. 138.
78 Krausnick, Hitlers Einsatzgruppen, p. 78-88; Kershaw, Hitler, II, p. 247-8; Broszat, Nationalsozialistische Polenpolitik, p. 40-1.
79 Para a colaboração do Exército com a SS e os paramilitares alemães étnicos, ver Böhler, Auftakt, p. 201-40.
80 Leon Poliakov e Josef Wulf (eds.), Das Dritte Reich und seine Diener (Frankfurt am Main, 1959), p. 385-6; Christopher Browning, The Origins of the Final Solution: The Evolution of Nazi Jewish Policy, September 1939-March 1942 (Lincoln, Nebr., 2004), p. 16-24, 72-80.
81 Rossino, Hitler Strikes Poland, p. 174-85; Szymon Datner, Crimes Committed by the Wehrmacht during the September Campaign and the Period of Military Government (Posen, 1962); Janusz Gumkowski e Kazimierz Leszczynski, Poland under Nazi Occupation (Varsóvia, 1961), p. 53-5.
82 Rossino, Hitler Strikes Poland, p. 263, nota 129; Böhler, Auftakt, p. 169-80. Ver também Mazower, Hitler’s Empire, p. 78-96.