A nova ordem racial

 

 

I

 

 

 

 

Hitler havia anunciado antes da guerra que pretendia varrer os poloneses da Polônia e levar colonos alemães para o lugar deles. Com efeito, a Polônia teria a mesma utilidade para a Alemanha que a Austrália teve para a Grã-Bretanha ou o Oeste americano para os Estados Unidos: seria uma colônia de povoamento, na qual os habitantes nativos, considerados racialmente inferiores, seriam removidos de um jeito ou de outro para dar espaço à raça dominante invasora. A ideia de mudar o mapa étnico da Europa por meio do deslocamento à força de grupos étnicos de uma região para outra tampouco era nova: um precedente já fora estabelecido imediatamente após a Primeira Guerra Mundial com uma troca em larga escala de populações minoritárias entre Turquia e Grécia. Em 1938, Hitler também havia brincado com a ideia de incluir no acordo de Munique uma cláusula estabelecendo a “repatriação” de alemães étnicos do que restara da Tchecoslováquia para os Sudetos. E na primavera seguinte, com a anexação do Estado remanescente, ele considerou brevemente uma ideia ainda mais drástica de deportar 6 milhões de tchecos para o leste. Mas essas ideias não deram em nada. Mas a Polônia era um assunto diferente. À medida que se avizinhava a perspectiva de invasão, o Escritório Central de Raça e Povoamento do Partido Nazista, originalmente montado por Richard Walther Darré para encorajar o deslocamento de cidadãos urbanos para novas fazendas dentro da própria Alemanha, começou a voltar sua atenção para a Europa oriental. Sob o lema “Um Povo, Um Reich, Um Líder”, ideólogos nazistas começaram a pensar em trazer alemães étnicos de seus povoamentos distantes da Europa oriental de volta para o Reich, estendido a partir do outono de 1939 com a inclusão de grandes áreas habitadas por poloneses1.

Em 7 de outubro de 1939, Hitler nomeou Heinrich Himmler como comissário do Reich para o Fortalecimento da Raça Alemã. No dia anterior, em um longo discurso proferido no Reichstag para celebrar a vitória sobre a Polônia, Hitler havia declarado que era chegada a hora de “uma nova ordenação das relações etnográficas, o que significa um reassentamento das nacionalidades, de modo que, após a conclusão desse feito, se tenham linhas de demarcação melhores que as de hoje em dia2”. No decreto de 7 de outubro de 1939, Hitler ordenou ao chefe da SS:

 

(1) trazer de volta os cidadãos alemães e alemães étnicos do exterior que estejam qualificados para o retorno permanente ao Reich; (2) eliminar a influência nociva de partes alienígenas da população que constituem um perigo para o Reich e para a comunidade alemã; (3) criar novas colônias alemãs por reassentamento e especialmente assentamento de cidadãos alemães e alemães étnicos vindos do exterior3.

 

Ao longo dos meses do inverno de 1939-40, Himmler montou uma elaborada burocracia para gerenciar esse processo, recorrendo ao trabalho preparatório do Escritório Político-Racial do Partido Nazista e do Escritório Central de Raça e Povoamento da SS. Duas enormes transferências forçadas de população começaram quase de imediato: a remoção de poloneses dos territórios incorporados e a identificação e “repatriação” de alemães étnicos de outras partes da Europa oriental para substituí-los4.

A germanização dos territórios incorporados começou quando 88 mil poloneses e judeus foram detidos em Posen na primeira metade de dezembro de 1939, levados de trem para o Governo Geral e lá despejados ao chegar. Homens aptos e robustos foram separados e levados para a Alemanha como trabalhadores forçados. Nenhum deles recebeu compensação pela perda de sua casa, propriedades, empresas e bens. As condições de deportação, no meio do inverno, com roupas e mantimentos inadequados, em vagões de carga sem aquecimento, eram mortíferas. Quando um comboio chegou à Cracóvia em meados de dezembro de 1939, os funcionários da recepção retiraram o corpo de 40 crianças que haviam morrido congeladas na jornada5. O doutor Klukowski tratou alguns evacuados de Posen em seu hospital em Szczebrzeszyn na segunda semana de dezembro de 1939: 160 deles, “operários, fazendeiros, professores, escrivãos, bancários e comerciantes”, tinham sido avisados com 20 minutos de antecedência e em seguida “foram forçados a embarcar em vagões ferroviários sem aquecimento [...] Os soldados alemães foram extremamente brutos. Um dos doentes que recebi no hospital, um guarda-livros, foi espancado com tamanha severidade que vai precisar de uma longa internação6”. Outro grupo de 1.070 deportados que chegou em 28 de maio de 1940 estava, ele registrou, em uma “condição terrível, resignados com sua sina, completamente arrasados, em especial aqueles cujos filhos haviam sido levados para os campos de trabalho7”. As deportações continuaram, com Klukowski e outros como ele tentando desesperadamente organizar a alimentação, o atendimento médico e a acomodação para as vítimas em sua chegada. Quando o processo chegou ao fim, no início de 1941, um total de 365 mil pessoas haviam sido deportadas de Posen. A mesma ação ocorreu em outras partes da antiga República Polonesa. No total, mais de um milhão de pessoas foram envolvidas, um terço delas judeus. Todos perderam suas propriedades, bens e posses. “Centenas de fazendeiros”, escreveu Klukowski, “tornaram-se mendigos de uma hora para a outra8.”

Um dos que observaram a chegada de deportados poloneses no Governo Geral foi Wilm Hosenfeld, um oficial do Exército cuja saúde relativamente precária impediu-o de uma participação direta no combate. Nascido em 1895, em Hesse, Hosenfeld passara a maior parte da vida até ali não como militar, mas como mestre-escola. Seu envolvimento com o movimento jovem alemão levara-o a entrar para os camisas-pardas em 1933, e ele também tornou-se membro da Liga de Professores Nacional-Socialistas e, em 1935, do Partido Nazista. Mas, já em meados da década de 1930, a firme crença católica de Hosenfeld estava começando a superar seu comprometimento com o nazismo. Sua franca oposição aos ataques de Alfred Rosenberg ao cristianismo causaram-lhe problemas no Partido e, após ser convocado em 26 de agosto de 1939 e mandado para a Polônia um mês depois para construir um campo para prisioneiros de guerra, a profunda fé religiosa dos reclusos poloneses começou a despertar sua simpatia. Quando Hosenfeld deparou com um comboio de poloneses deportados em meados de dezembro, deu um jeito de falar com alguns deles e ficou chocado com a história que tinham para contar. Às escondidas, deu comida aos deportados e entregou um saco de balas para algumas crianças. Em 14 de dezembro de 1939, anotou em seu diário o efeito perturbador que aquele encontro teve sobre ele:

 

Quero confortar todas essas pessoas infelizes e pedir perdão pelo fato de os alemães tratarem-nas do jeito que tratam, de forma tão terrivelmente impiedosa, tão cruelmente desumana. Por que essas pessoas estão sendo arrancadas de sua residência quando não se sabe onde mais elas poderão ser acomodadas? Elas ficam um dia inteiro paradas no frio, sentadas sobre suas trouxas, seus parcos pertences, não recebem nada para comer. Existe um sistema nisso, a intenção é deixar essas pessoas doentes, pobres, impotentes, é para que elas pereçam9.

 

Poucos alemães pensavam assim. Hosenfeld registrou inúmeras detenções de poloneses e atrocidades contra eles. Um colega oficial contou-lhe que fizera uma pergunta retórica a um funcionário da Gestapo: “Você acha
que pode atrair esses homens para a reconstrução com esses métodos? Quando voltarem do campo de concentração eles serão os piores inimigos dos alemães!!”. “Sim”, respondeu o policial, “mas você acha que algum deles vai voltar? Todos serão abatidos ao tentar fugir10.”

Apesar das objeções de Göring, o qual temia que o programa de reasentamento atrapalhasse a economia de guerra, Himmler também deportou mais de 260 mil poloneses de Wartheland ao longo de 1940, bem como milhares mais de outras regiões, em particular da Alta Silésia e de Danzig-Prússia Ocidental. Deixando de lado a visão burocrática do Ministério do Interior, de que só era preciso arrolar os poloneses restantes em uma categoria inferior de nacionalidade germânica, a liderança da SS em Wartheland persuadiu o líder regional Greiser a elaborar uma Lista Alemã Étnica. Poloneses considerados adequados para a germanização seriam classificados sob uma variedade de tópicos, como alemães étnicos pró-nazismo, alemães que haviam ficado sob influência polonesa, e assim por diante, recebecendo diferentes níveis de privilégio conforme essa divisão; em 4 de março de 1941, esse sistema foi estendido para todos os territórios ocupados11.

Logo brotou toda uma burocracia a fim de avaliar essas pessoas para a germanização em termos étnicos, linguísticos, religiosos e outros. A SS viu um problema no fato de que, segundo seu julgamento, poloneses que lideravam a resistência provavelmente tivessem “uma proporção significativa de sangue nórdico, o que, em contraste com as estirpes eslavas fatalistas, os havia capacitado a tomar a iniciativa”. A solução que se apresentou foi remover as crianças dessas famílias para ajudá-las a escapar da má influência de seus pais poloneses nacionalistas. Além disso, todos os orfanatos poloneses dos territórios incorporados foram fechados na primavera de 1941, e as crianças, levadas para o Velho Reich. Conforme Himmler observou em um memorando escrito em 15 de maio de 1940 e aprovado por Hitler, isso removeria “o perigo de que esse povo sub-humano do leste tenha um líder de classe oriundo dessas pessoas de sangue bom, o que seria perigoso para nós, pois seria igual a nós12”. Milhares de crianças polonesas consideradas adequadas para a germanização foram enviadas para campos especiais no Reich. Lá receberam nome e documentos de identidade alemães (inclusive certidões de nascimento forjadas) e foram colocadas em um curso de seis meses de ensino da língua alemã e de infusão dos rudimentos da ideologia nazista. Muitas das crianças eram efetivamente órfãs cujos pais haviam sido fuzilados ou deportados como trabalhadores forçados; várias simplesmente foram encontradas nas ruas por patrulhas da polícia alemã ou da SS, ou por mulheres voluntárias da organização de Previdência do Povo Nazista, que lidava com a minoria dessas crianças, entre 6 e 12 anos de idade (a maioria, com menos de 6 anos de idade, caía sob a égide dos lares “Fonte da Vida” da SS). Por fim elas eram designadas para famílias adotivas alemãs ideologicamente aprovadas. Tudo isso levou a uma espécie de mercado negro de bebês e criancinhas, oficialmente sancionado, no qual casais alemães sem filhos adquiriam os pequenos poloneses e os criavam como alemães. Oitenta por cento das crianças deportadas jamais retornaram para sua família na Polônia13.

Ciente de que tanto Hitler como Himmler queriam germanizar os territórios incorporados o mais rapidamente possível, o líder regional Forster, de Danzig-Prússia Ocidental, arrolou aldeias e cidades inteiras de forma indiscriminada na Lista Alemã Étnica oficial. Um funcionário do reassentamento recordou depois da guerra que, quando um prefeito local ou um líder do diretório do Partido Nazista rejeitavam uma ordem de Forster para arrolar 80% das pessoas de seus distritos como alemães, com base em que 80% deles na verdade eram poloneses, o próprio Forster ia ao local para aplicar a classificação pessoalmente. Ao receber seus documentos, a vasta maioria daqueles listados dessa forma enviava rejeições por escrito ao prefeito. Eles eram arrolados assim mesmo. No fim de 1942, como resultado dessas ações, haviam sido recebidos 600 mil novos pedidos de germanização em Danzig-Prússia Ocidental14. Arthur Greiser, líder regional de Wartheland, desaprovou tais manobras de seu vizinho e rival, dizendo a Himmler: “Minha política étnica está [...] sendo posta em perigo por aquela que é executada no Distrito do Reich de Danzig-Prússia Ocidental15”. Mas a germanização arbitrária prosseguiu, não só nos territórios incorporados, mas cada vez mais também no Governo Geral. No início de 1943, confrontado, como muitos outros poloneses de sua cidade, com a exigência de preencher um formulário intitulado Petição para a Emissão de uma Carteira de Identidade para Pessoas de Descendência Alemã, Zygmunt Klukowski riscou o cabeçalho com tinta vermelha e grafou “nacionalidade polonesa16”.

O governador-geral Frank ficou cada vez mais irritado pelo fato de sua província estar sendo usada como campo de despejo de poloneses indesejados. Já no fim de outubro de 1939, projetava-se que, em fevereiro seguinte, a população do Governo Geral teria aumentado de 10 milhões para 13 milhões17. A partir de maio de 1940, em acerto com Hitler, Frank abandonou a política inicial de considerar o Governo Geral a base para um Estado polonês remanescente e começou os preparativos para sua incorporação ao Reich a médio e longo prazo. De acordo com a nova proposta, Frank começou a pensar em sua província como uma colônia alemã governada por povoadores com mão de obra barata e sacrificável proporcionada por poloneses incultos. “Estamos pensando aqui no maior estilo imperial de todos os tempos”, declarou ele em novembro de 194018. A despeito de todo o seu ressentimento contra o poder independente da SS, Frank certificou-se de que os poloneses fossem explicitamente excluídos da proteção da lei. “O polonês”, disse ele em dezembro de 1940, “deve sentir que não estamos construindo um Estado legal para ele, já que para ele existe apenas um dever, ou seja, trabalhar e se comportar.” Dispositivos legais especiais foram introduzidos de forma gradativa para os poloneses também nos territórios incorporados, embora sem nunca substituir por completo o terror arbitrário dos primeiros meses de ocupação alemã. Os poloneses ficaram submetidos a uma ordem legal draconiana que prescrevia punições mais severas (campo de trabalho, castigo físico ou pena de morte) para delitos que ocasionariam apenas a prisão de cidadãos alemães. A apelação foi abolida, e ofensas como fazer comentários hostis sobre alemães tornaram-se puníveis com a morte em alguns casos. Introduzidas em dezembro de 1941, essas medidas codificaram o que de fato fora executado na prática de maneira muito mais arbitrária e igualaram-se às severas medidas legais já introduzidas no Reich para lidar com poloneses e com outros trabalhadores estrangeiros. Os poloneses eram cidadãos de segunda classe, cuja posição inferior era sublinhada por uma variedade de regulamentações policiais locais, que lhes mandavam afastar-se e tirar o chapéu quando alemães passassem por eles na rua, ou atender alemães primeiro em lojas e mercados19.

O programa de germanização teve início em Wartheland, sob o argumento de que a região fora parte da Prússia antes de 1918, embora apenas 7% da população consistisse de alemães étnicos em 1939. Já sob Bismarck no século XIX, fizera-se um esforço vigoroso para fomentar a cultura alemã na Polônia prussiana e suprimir os sentimentos de identidade nacional dos poloneses. Mas aquilo não chegou nem perto das políticas implementadas de 1939 em diante. Escolas, teatros, museus, bibliotecas, livrarias, jornais e todas as demais instituições culturais e linguísticas polonesas foram fechados e o uso do idioma polonês foi proibido. Os poloneses foram proibidos de ter gramofones e câmeras, e qualquer polonês encontrado tentando frequentar um teatro alemão estava sujeito a detenção e prisão. O nome dos distritos administrativos, cidades e aldeias foi germanizado, às vezes traduzido diretamente do polonês, às vezes com o uso de nomes de alemães locais proeminentes, mas, sempre que possível, nas áreas outrora governadas pela Prússia, voltando-se aos velhos nomes alemães usados antes de 1919. Nomes de ruas e editais foram germanizados de modo similar. O líder regional Greiser deflagrou um ataque radical à Igreja Católica – instituição que, mais do que qualquer outra, sustentara a identidade nacional polonesa ao longo dos séculos – confiscando suas propriedades e fundos e fechando suas organizações leigas. Inúmeros clérigos, monges, administradores diocesanos e funcionários da Igreja foram detidos, deportados para o Governo Geral, levados para um campo de concentração do Reich ou simplesmente fuzilados. No total, cerca de 1,7 mil padres poloneses acabaram em Dachau: metade deles não sobreviveu ao aprisionamento. Greiser foi encorajado nessas políticas não só por Heydrich e Bormann, mas também pelo chefe de sua equipe administrativa, August Jäger, que fizera seu nome em 1934 como funcionário encarregado de nazificar a Igreja Evangélica da Prússia. No fim de 1941, a Igreja Católica polonesa estava efetivamente proscrita em Wartheland. Ela foi mais ou menos germanizada em outros territórios ocupados, a despeito de uma encíclica emitida pelo papa já em 27 de outubro de 1939 protestando contra a perseguição20.

A cultura polonesa também foi atacada no Governo Geral. Em 27 de outubro de 1939, o prefeito de Varsóvia foi detido (mais tarde, fuzilado), e, em 6 de novembro, 182 membros do corpo acadêmico da universidade e de outras instituições de ensino superior na Cracóvia foram detidos e levados para o campo de concentração de Sachsenhausen21. Universidades, escolas, bibliotecas, editoras, arquivos, museus e outros centros de cultura polonesa foram fechados22. “Os poloneses”, disse Frank, “não precisam de universidades ou escolas secundárias: a terra polonesa deve virar um deserto intelectual”. “Para os poloneses”, ele declarou em 31 de outubro de 1939, “as únicas oportunidades educacionais disponíveis devem ser aquelas que demonstrem a desesperança de seu destino étnico23.”Frank só permitia entretenimentos baratos e despretensiosos aos poloneses, como shows de sexo, ópera ligeira e bebida24.A música de compositores poloneses (inclusive Chopin) foi banida, e monumentos nacionais poloneses foram explodidos ou derrubados25.O ataque alemão aos sistemas educacionais poloneses teve início ao mesmo tempo que a tentativa de suprimir a cultura polonesa. Em Szczebrzeszyn, seguindo um padrão mais amplo, as autoridades militares alemãs fecharam as duas escolas secundárias locais em 20 de novembro de 1939. Elas não reabriram. Pouco depois, a administração alemã começou a atacar o sistema de educação nas escolas elementares locais. Em 25 de janeiro de 1940, o doutor Klukowski anotou: “Hoje os alemães mandaram todos os diretores de escola retirar dos alunos os manuais de língua polonesa, bem como textos de geografia e história. Em cada escola de Szczebrzeszyn, em cada sala de aula, as crianças devolveram os livros [...] Estou chocado e profundamente deprimido26”.O pior estava por vir, pois, em 17 de abril de 1941, ele relatou: “Os alemães retiraram do sótão dos prédios das escolas ginasiais todos os livros e materiais de ensino. Amontoaram-nos no pátio e os queimaram”. Intelectuais e professores poloneses fizeram o máximo para organizar aulas avançadas de modo informal e em segredo, mas, dado o assassinato em massa de tantos deles pelos ocupadores alemães, tais esforços obtiveram sucesso apenas limitado, ainda que a importância simbólica fosse considerável27.Dia após dia, Zygmunt Klukowski registrou em seu diário o assassinato de escritores, cientistas, artistas, músicos e intelectuais poloneses, muitos deles seus amigos. “Muitos foram mortos”, ele anotou em 23 de novembro de 1940, “muitos ainda estão morrendo nos campos alemães28”.

 

 

II

 

Não só poloneses supostamente adequados foram reclassificados como alemães, mas também um grande número de alemães étnicos começou a ser rapidamente deslocado para assumir as fazendas e os negócios dos quais os poloneses haviam sido brutalmente expulsos. Já no fim de setembro de 1939, Hitler solicitara especificamente a “repatriação” de alemães étnicos da Letônia e da Estônia, bem como da parte oriental da Polônia controlada pelos soviéticos. Ao longo dos meses seguintes, Himmler tomou medidas para cumprir seus desejos. Vários milhares de alemães étnicos foram deslocados para as regiões incorporadas do Governo Geral, mas a maioria foi transportada para lá de áreas controladas pela União Soviética sob uma série de acordos internacionais negociados por Himmler. Chegaram tantos povoadores alemães ao Governo Geral e aos territórios incorporados no começo da década de 1940 que, a fim de fornecer acomodação para esses colonos, outros 400 mil poloneses foram despejados de casa de março de 1941 em diante, sem na verdade serem deportados. Ao longo dos meses e anos seguintes, 136 mil alemães étnicos vieram do leste da Polônia, 150 mil dos estados bálticos, 30 mil do Governo Geral e 200 mil da Romênia. Foram persuadidos a partir mediante a promessa de melhores condições e de uma vida mais próspera e pela ameaça de repressão do comunismo soviético ou do nacionalismo romeno. Em maio de 1943, 408 mil haviam sido reassentados em Wartheland e nas outras partes incorporadas da Polônia, e outros 74 mil no Velho Reich29.

A fim de se qualificar para o reassentamento, todo o meio milhão de imigrantes, com exceção de 50 mil felizardos, foi colocado em campos de trânsito, dos quais havia mais de 1,5 mil no auge da transferência, e submetido a um crivo racial e político, um processo aprovado por Hitler em pessoa em 28 de maio de 1940. As condições nos campos, que com frequência eram fábricas, mosteiros ou prédios públicos tomados dos poloneses e convertidos, eram menos que ideais, embora se fizesse um esforço para manter as famílias unidas e fosse paga uma indenização em bônus ou em propriedades pelos bens que elas haviam sido forçadas a deixar para trás. Assessores do Escritório Central de Raça e Assentamento, cuja base era o centro da polícia de imigração em Lódź, invadiram os campos e começaram seu trabalho. Com apenas quatro semanas de treinamento nos princípios básicos da verificação racial-biológica, esses funcionários foram munidos de um conjunto de diretrizes, incluindo 21 critérios físicos (15 deles fisionômicos) que não podiam ser nada além de extremamente toscos. Os imigrantes passavam por raio x, exame médico, eram fotografados e questionados sobre opiniões políticas, família, emprego e interesses. A classificação resultante variava de “muito adequado” na ponta de cima, em que os imigrantes eram “nórdicos puros, phalians puros ou phalian-nórdicos”, sem “defeitos perceptíveis de intelecto, de caráter ou de natureza hereditária”, até “étnica ou biologicamente inadequados” na ponta de baixo, em que eram considerados de sangue não europeu, ou dotados de psique malformada, ou provenientes de “famílias socialmente fracas ou incompetentes30”.Isso fez, inevitavelmente, que o programa de reassentamento avançasse apenas de forma muito lenta. No total, em dezembro de 1942, 20% dos negócios dos territórios anexados haviam passado ao controle dos colonos, 8% para alemães do Reich, 51% para alemães locais e outros 21% de curadores atuando em nome dos veteranos militares que chegariam no futuro. Das 928 mil fazendas nesses distritos, 47 mil foram assumidas por colonos; 1,9 milhão de um total de 9,2 milhões de hectares de terra foi tirado de poloneses e dado para alemães. Todavia, do contigente de 1,25 milhão de colonos, apenas 500 mil haviam sido reassentados até ali; a vasta maioria estava em campos de um tipo ou de outro, e milhares deles estavam lá havia bem mais de um ano. Três milhões de pessoas registraram-se como alemãs nos territórios incorporados, mas ainda havia 10 milhões de habitantes poloneses no Grande Reich Alemão. Claro que o programa de germanização estava longe do término ao entrar em seu quarto ano31.

O programa continuou ao longo de 1943, à medida que mais aldeias polonesas eram evacuadas à força. Himmler começou a usar o esquema como meio de lidar com grupos supostamente não confiáveis nas fronteiras do Velho Reich, como em Luxemburgo. Famílias nas quais o homem havia desertado do Exército foram arrebanhadas em Lorena e embarcadas para a Polônia como colonos. Em 1941, 54 mil eslovenos foram levados das regiões fronteiriças da Áustria para campos na Polônia, onde 38 mil deles foram considerados racialmente valiosos e tratados como colonos32.Viajando pelas aldeias evacuadas de Wieloncza e Zawada em maio de 1943, Zygmunt Klukowki notou: “Os colonos alemães estão se mudando para lá. Por toda parte dá para ver garotos alemães em uniformes da Juventude Hitlerista33”.Ele continuou a listar aldeias de sua região evacuadas à força, com os habitantes poloneses levados para um campo nas proximidades até julho de 1943. Ao visitar o campo em agosto de 1943, Klukowki notou que os reclusos atrás da cerca de arame farpado estavam desnutridos e doentes, “mal se mexendo, com uma aparência terrível”. No hospital do campo havia 40 crianças com menos de 5 anos de idade sofrendo de disenteria e sarampo, deitadas em duplas nas camas, parecendo “esqueletos”. Sua proposta de levar algumas delas para seu hospital foi rejeitada com rispidez pelos oficiais alemães. Em Szczebrzeszyn, sua cidade, os poloneses também eram cada vez mais arrancados de casa para dar lugar aos colonos alemães que chegavam34.

A germanização da região de Zamość, levada a cabo por Himmler a despeito da oposição de Frank, de fato foi pensada como a primeira parte de um programa abrangente que, no devido tempo, afetaria todo o Governo Geral, embora nunca tenha chegado tão longe. Mesmo assim, cerca de 110 mil poloneses foram expropriados à força e expulsos da região de Lublin no processo, somando 31% da população, e, entre novembro de 1942 e março de 1943, 47 aldeias da zona de Zamość foram esvaziadas para dar lugar aos alemães que chegavam. Muitos dos habitantes poloneses fugiram para as florestas, levando tudo o que podiam com eles, para se juntar à resistência clandestina35. Em meados de julho de 1943, Szczebrzeszyn, cidade natal de Klukowski, fora oficialmente declarada um povoado alemão e rebaixada à condição de aldeia36. “Nas ruas da cidade”, anotou Klukowski, que se recusou a aceitar o insulto à terra natal, “podem-se ver muitos alemães em trajes civis, na maioria mulheres e crianças, todos novos moradores.” Foram inauguradas novas instalações para eles, inclusive um jardim de infância. Em breve, Klukowski estava anotando: “As lojas são administradas por alemães; temos barbeiros, alfaiates, sapateiros, padeiros, açougueiros e mecânicos alemães. Foi inaugurado um novo restaurante com o nome de Neue Heimat (Novo Lar)”. Os poloneses que não haviam assinado o registro de alemães étnicos eram cidadãos de segunda classe, usados para trabalhos forçados e tratados como se sua vida não valesse nada. Em 27 de agosto de 1943, Klukowski registrou o caso de um menino polonês de 8 anos de idade encontrado “caído em um pomar com ferimentos à bala. Foi levado para o hospital, onde morreu. Ficamos sabendo que o garoto fora lá em busca de maçãs. O novo proprietário, um serralheiro alemão, atirou nele e o deixou para morrer, sem falar para ninguém37”.

Os alemães que se mudaram para Wartheland tinham poucas reservas quanto à expulsão dos poloneses da região para dar lugar a eles. “Realmente gosto da cidade de Posen”, escreveu Hermann Voss, anatomista indicado para uma cadeira na Faculdade de Medicina na nova Universidade do Reich de Posen – uma fundação situada no ápice do sistema educacional alemão nos territórios ocupados –, em abril de 1941, “isso aqui seria realmente adorável se não houvesse absolutamente nenhum polonês”. Em maio de 1941, ele anotou em seu diário que o crematório de seu departamento na universidade fora assumido pela SS. Não fez objeções, ao contrário: “Há um crematório para a queima de corpos no porão do prédio do instituto. É de uso exclusivo da Gestapo. Os poloneses que eles fuzilam são trazidos para cá à noite e cremados. Se ao menos alguém pudesse transformar toda a sociedade polonesa em cinzas!38”. Somados aos imigrantes do leste, cerca de 200 mil alemães mudaram-se para os territórios incorporados vindos do Velho Reich. Muitos deles eram crianças e adolescentes evacuados das cidades da Alemanha para evitar os perigos do bombardeio aéreo: milhares foram colocados em campos de modelo militar, onde eram submetidos a disciplina rígida, intimidação e um estilo tosco, decididamente não acadêmico, de educação39.

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Mapa 2. Transferências de populações de alemães étnicos, 1939-43

Mas muitos adultos foram voluntariamente para os territórios incorporados, vendo-os como um lugar ideal para povoamento colonial. Com frequência consideravam-se pioneiros. Um desses foi Melita Maschmann, enviada como adida de imprensa da Juventude Hitlerista para Wartheland em novembro de 1939. Notando a ausência de pessoas educadas entre a população polonesa, ela concluiu que os poloneses eram um povo miserável, subdesenvolvido e afligido pela pobreza, incapaz de formar um Estado viável por conta própria. Sua alta taxa de natalidade tornava-o uma séria ameaça ao futuro alemão, conforme ela havia aprendido nas aulas de “ciência racial” na escola. Solidarizou-se com a pobreza e com a desgraça de muitas crianças polonesas que viu esmolando nas ruas ou roubando carvão dos depósitos, mas, sob a influência da propaganda nazista, mais tarde escreveu:

 

Eu disse a mim mesma que, se os poloneses estavam usando todos os meios na luta para não perder aquela disputada província a leste que a nação alemã exigia como Lebensraum, então permaneciam nossos inimigos, e considerei meu dever reprimir meus sentimentos pessoais caso fossem conflitantes com a necessidade política [...] Um grupo que se acredita chamado e escolhido para liderar, como nós, não tem inibições na hora de tomar território de “elementos inferiores”.

 

Embora se distanciasse dos alemães que não tinham dúvida de que eles próprios eram uma “raça dominante” e de que os poloneses destinavam-se a ser escravos, ainda assim, mais adiante, ela escreveu: “Meus colegas e eu sentimos que era uma honra ter permissão para ajudar a ‘conquistar’ essa região para nossa nação e para a cultura alemã. Tínhamos o entusiasmo arrogante do ‘missionário cultural’”.

Maschmann e seus colegas foram encarregados de esvaziar e limpar fazendas polonesas nos preparativos para receber os novos habitantes alemães e tomaram parte nas expulsões lideradas pela SS sem perguntar para onde iriam os poloneses expulsos40. Ela participou descaradamente do saque extensivo de propriedades polonesas nesse processo, quando os poloneses que partiam foram obrigados a deixar mobília e equipamento para trás para os colonos alemães. Armada com uma requisição forjada e uma pistola (que não sabia como usar), Maschmann roubou até camas, objetos de cutelaria e outros artigos de fazendeiros poloneses, em áreas onde o reassentamento não havia começado, para dá-los aos alemães étnicos que chegavam. Ela considerou tudo isso plenamente justificável; a experiência de todo o trabalho foi inteiramente positiva41. Esses sentimentos foram compartilhados por muitas outras alemãs que se dirigiram aos territórios incorporados como voluntárias ou lá foram colocadas como professoras recém-qualificadas, funcionárias subalternas em organizações de mulheres nazistas ou aspirantes ao serviço público. Todas elas, na época e, em muitos casos, décadas depois, quando entrevistadas sobre o trabalho, viam a atividade na Polônia ocupada como parte de uma missão civilizadora e registraram horror diante da pobreza e da sujeira encontradas entre a população polonesa. Ao mesmo tempo, desfrutaram a beleza da zona rural e a sensação de estar em uma missão excitante longe de casa. Como mulheres de classe média, obtiveram evidente satisfação por limpar fazendas deixadas pelos poloneses deportados, decorando-as e criando um clima doméstico para receber os colonos. Para quase todas elas, o sofrimento dos poloneses e dos judeus era ou invisível, ou aceitável, ou até mesmo justificável42.

 

 

III

 

A visão cor-de-rosa de Melita Maschmann, de uma nova civilização de domínio alemão surgindo na Europa Oriental, era desmentida pela realidade local. Assassinato, roubo, pilhagem e deportação eram apenas uma parte da paisagem. Propina e corrupção também grassaram sob a administração alemã do Governo Geral. Na Varsóvia de 1940, dizia-se que o suborno de um oficial para se obter isenção do trabalho compulsório custava a um judeu 125 zlotys, ao passo que 500 zlotys compravam a dispensa do uso da estrela amarela, 1,2 mil pagavam um certificado de descendência ariana, 10 mil liberavam da prisão e 150 mil compravam uma emigração totalmente organizada para a Itália (esse último arranjo teve um fim abrupto quando a Itália entrou na guerra ao lado da Alemanha em junho de 1940)43. Essa corrupção tornou-se possível em parte devido ao caos institucional em que o Governo Geral descambou rapidamente após sua criação em 1939. O governador-geral Hans Frank emitia proclamações grandiloquentes de seu suntuosamente mobiliado quartel-general no antigo palácio real da Cracóvia, mas sua autoridade era constantemente minada pelo rival Friedrich Willhelm Krüger, chefe da SS e da polícia no leste. Krüger era ativamente encorajado não só por Himmler e Heydrich, mas também pelo próprio Hitler, que nisso, como em tudo o mais, preferia que seus subordinados lutassem uns contra os outros pela supremacia em vez de criar uma hierarquia de comando vertical eficiente e uniforme.

A área de competência de Krüger incluía não só o policiamento, mas também a implementação do programa de transferência de população de Himmler. A aterrorização da população polonesa do Governo Geral por Krüger foi levada a cabo mais ou menos ignorando Frank, que ficou preocupado com o ódio e a agitação que aquilo estava despertando nos poloneses. Em 1942, o ambicioso Krüger pareceu até a ponto de remover Frank de vez. Quando o ex-governador civil de Radom foi detido sob acusações de corrupção depois que um veículo oficial dirigido por seu pai foi encontrado transportando tapetes, sedas, bebidas e outras mercadorias do Governo Geral para o Reich, uma investigação colocada em andamento por Himmler rapidamente revelou que aquilo era a ponta de um iceberg. Muitos oficiais, senão a maioria deles, envolveram-se em práticas do tipo. O tom era dado pelo governador-geral. A investigação de Himmler confirmou que Frank vinha enriquecendo membros de sua família com fundos estatais e propriedades saqueadas. Foram descobertos dois grandes armazéns cheios de mercadorias, como peles, chocolate, café e bebidas, tudo para uso de Frank e sua família. Só em novembro de 1940, Frank havia enviado para suas casas no Velho Reich 72 quilos de carne de vaca, 20 gansos, 50 galinhas, 12 quilos de queijo e muito mais. O governador-geral foi convocado a Berlim para uma descompostura de Hans-Heinrich Lammers, ministro do Reich na Chancelaria do Reich e, portanto, o chefe efetivo da administração civil da Alemanha. Enquanto a polícia revelava mais casos de corrupção, Frank tentou revidar com uma série de discursos em universidades alemãs condenando o crescente poder da polícia (chefiada, é claro, por seu inimigo e maior crítico, Himmler), mas em seguida foi proibido de falar em público e destituído de todos os cargos no Partido por um Hitler furioso. Todavia, Frank sobreviveu e, em maio de 1943, com o apoio do gabinete do Plano de Quatro Anos de Göring, persuadiu Hitler, um pouco tarde demais, de que a violência implacável da polícia no Governo Geral estava causando tanto ressentimento entre os poloneses que eles recusavam-se a trabalhar de modo adequado, deixando de entregar as cotas de artigos alimentícios e atrapalhando a economia por meio de sabotagem. Em 9 de novembro de 1943, Krüger foi substituído por um chefe de polícia mais brando. A corrupção continuou44.

Mais abaixo na escala social, um enorme mercado negro havia surgido como resultado das circunstâncias cada vez mais medonhas em que os poloneses viviam. De acordo com uma estimativa, mais de 80% das necessidades cotidianas da população polonesa eram supridas pelo mercado negro. Empregadores poloneses burlavam as regulamentações salariais impostas pelos alemães pagando os trabalhadores em espécie ou tolerando ausências em massa, estimadas no total em 30% em 1943. Em todo caso, os trabalhadores não podiam dar-se ao luxo de comparecer ao serviço mais que duas ou três vezes por semana, porque o mercado negro exigia-lhes o restante do tempo. Uma piada polonesa popular na época retratava o encontro de dois amigos depois de muito tempo: “O que você está fazendo?” “Estou trabalhando na prefeitura.” “E sua esposa, como vai?” “Trabalhando em uma papelaria.” “E sua filha?” “Trabalhando em uma fábrica.” “Como diabos vocês vivem?” “Graças a Deus, meu filho está desempregado!45 Os comerciantes do mercado negro não estavam no negócio apenas para sobreviver. Uns poucos conseguiam ter lucros enormes em poucas semanas. Os perigos de ser pego eram grandes. Mas a maioria arriscava-se porque não tinha alternativa. Além disso, não estavam fazendo muito mais do que seguir o exemplo de seus senhores alemães, para quem propina, corrupção e enriquecimento ilícito eram aspectos normais da vida cotidiana46.

O mercado negro foi especialmente exuberante no setor de gêneros alimentícios. A escassez de alimentos começou a ocorrer quase imediatamente após a invasão, exacerbada pela queima de lavouras pelas unidades do Exército polonês em retirada. As condições eram particularmente severas no Governo Geral, que continha as áreas agrícolas mais pobres da Polônia. Em 1940, as tropas alemãs de ocupação do distrito de Klukowski começaram a registrar porcos e outras criações de animais das fazendas locais e ordenaram que só poderiam ser abatidos para o Exército alemão, não para os habitantes locais47. As filas do lado de fora dos armazéns tornaram-se corriqueiras48. Os alemães começaram a impor aos fazendeiros cotas de produção de gêneros alimentícios para eles, punindo quem fracassasse em cumpri-las49. No total, de 1940 a 1944, 60% da produção polonesa de carne, 10% da produção de grãos e muito mais foram levados para alimentar os alemães do Reich50. A situação do abastecimento de comida era tão ruim que até Frank ficou alarmado. Ele conseguiu assegurar o fornecimento de grãos vindos do Reich nos primeiros meses de 1940, mas também nesse caso o grosso do suprimento foi para alimentar os ocupadores alemães, em seguida, em ordem de importância para poloneses que trabalhavam em setores essenciais, como as ferrovias, depois, para ucranianos e poloneses comuns, e para judeus no fim da lista. A ração distribuída aos poloneses em Varsóvia ficava abaixo de 669 calorias por dia em 1941, em comparação às 2.613 dos alemães (e meras 184 dos judeus)51. Ninguém conseguia sobreviver com essa quantidade. A saúde deteriorou-se rapidamente, doenças associadas à desnutrição espalharam-se, a taxa de mortalidade disparou. A maioria dos poloneses fazia de tudo para garantir a maior parte de sua ingestão de alimentos por outros meios, e isso significava de novo o mercado negro52.

O doutor Klukowski notou em desespero a rápida desintegração da sociedade polonesa sob o impacto de horrorosos níveis de violência, destruição e privação. Bandos de ladrões vagavam pelo interior, invadindo casas, aterrorizando os habitantes, saqueando seus pertences e estuprando as mulheres. Os poloneses denunciavam-se uns aos outros, sobretudo por posse de armas escondidas. Muitos apresentavam-se como voluntários para trabalhar na Alemanha, e o colaboracionismo abundava. Moças polonesas associavam-se a soldados alemães, e a prostituição disseminava-se; em novembro de 1940, Klukowski estava tratando 32 mulheres com doenças venéreas em seu hospital, e anotou que “algumas também eram mocinhas, jovens de até 16 anos, que primeiro foram estupradas e depois começaram na prostituição como único jeito de se sustentar”. “A bebedeira está aumentando”, ele registrou em janeiro de 1941, “e naturalmente há mais brigas de bêbados, mas parece que os alemães ficam bastante satisfeitos com isso”. Os poloneses juntavam-se aos saques de lojas judaicas, e oficiais da polícia polonesa do pré-guerra agora trabalhavam para os alemães. “Jamais esperei que o moral da população polonesa afundasse tanto”, ele escreveu em 19 de fevereiro de 1941, “com uma tão completa falta de orgulho nacional.53” “Falta-nos uma atitude uniforme contra os alemães”, reclamou ele dois meses depois: “Todos os rumores, intrigas e denúncias estão aumentando54”.

 

 

IV

 

Os infortúnios da Polônia não foram menos medonhos na área ocupada a partir de 17 de setembro de 1939 pelo Exército Vermelho em consequência do Pacto Nazi-Soviético55. Os soviéticos ocuparam 201 mil quilômetros quadrados de território polonês, com uma população de 13 milhões. Uma parcela dos 200 mil prisioneiros de guerra poloneses nas mãos do Exército Vermelho foi liberada para voltar para casa, em especial se vivia na parte alemã do país, ou transferida para campos de trabalho no sudeste da Polônia para trabalhar em projetos de construção. Os oficiais, entretanto, foram deportados para campos na União Soviética, onde juntaram-se a funcionários alfandegários, policiais, guardas de presídio e policiais militares poloneses até somarem um total de 15 mil. Durante abril e início de maio de 1940, por ordem de Moscou, 4.443 desses homens foram levados em lotes pela polícia secreta soviética, a NKVD, para a Floresta Katyń, perto de Smolensk, onde foram abatidos individualmente com um tiro na nuca e enterrados em covas coletivas. O resto dos oficiais poloneses também foi morto. Apenas uns 450 dos 15 mil, que eram comunistas ou se considerou que poderiam ser convertidos ao comunismo, foram poupados. Os outros foram fuzilados em locais variados ou mortos nos campos, junto com cerca de 11 mil supostos contrarrevolucionários. Algumas estimativas calculam o total de mortos em cerca de 20 mil; o número exato talvez jamais seja conhecido. A maioria desses homens eram oficiais da reserva, profissionais liberais, médicos, donos de terra, funcionários públicos ou algo assim56.

Esse extermínio fez parte de uma campanha muito mais ampla dos soviéticos para erradicar a cultura nacional polonesa. Foi acompanhado de uma violência maciça dentro das comunidades, na qual muitos milhares de poloneses foram chacinados por paramilitares das minorias nacionais ucranianas e bielorrussas no leste polonês, encorajados pelos ocupantes soviéticos. Após um plebiscito fraudulento, os territórios ocupados foram anexados pela União Soviética e o sistema econômico e social foi ajustado ao modelo soviético, com negócios e propriedades expropriados e assumidos pelo Estado, e ucranianos e bielorrussos trazidos para administrá-los. Monumentos e sinais de trânsito poloneses foram destruídos, livrarias e instituições culturais foram fechadas. Meio milhão de poloneses foi aprisionado na Polônia ocupada pelos soviéticos. Muitos deles foram submetidos a tortura, surras, chacina e execução. Teve início uma campanha de deportação em massa. Os escolhidos incluíam membros de partidos políticos, exilados russos e de outras nacionalidades, agentes de polícia e guardas de presídio, oficiais e voluntários do Exército polonês, membros leigos ativos da Igreja Católica, aristocratas, donos de terra, banqueiros, industriais, donos de hotéis e restaurantes, refugiados, “pessoas que haviam viajado para o exterior” e até mesmo “pessoas que fossem esperantistas ou filatelistas”. Quase todos os profissionais liberais poloneses da região ocupada também foram detidos e deportados. Em muitos casos, as famílias foram junto. Estima-se o número total de deportados em 1,5 milhão de pessoas. Na primeira metade de 1940, eles foram apinhados em vagões de gado, com espaço apenas para ficar em pé, e levados em imensos comboios de trem para fazendas coletivas no Cazaquistão e outros locais distantes. Dezenas de milhares de poloneses que serviram no governo anterior ou se mostraram relutantes em se ajustar à ideologia marxista-leninista dos ocupantes foram detidos, julgados por acusações fabricadas e mandados para campos de trabalho na Sibéria. Talvez um terço dos deportados tenha morrido antes de os sobreviventes serem soltos após o ataque alemão à União Soviética em junho de 1941. A essa altura, a política soviética na Polônia ocupada havia ficado ligeiramente mais leniente, à medida que a crescente preocupação de Moscou quanto ao perigo do apoio ucraniano à possível invasão alemã levou a um encorajamento limitado da identidade nacional polonesa, que tinha um sentimento antialemão indelével. Todavia, o resultado da ocupação soviética dificilmente foi menos desastroso para os poloneses que o da ocupação alemã57.

Para o 1,2 milhão de judeus que viviam na parte da Polônia controlada pelos soviéticos e para os cerca de 350 mil refugiados judeus que haviam escapado da investida alemã, a tomada soviética do território de início proporcionou algum alívio. Eles pensaram que estariam protegidos, não só do racismo exterminador alemão, mas também do antissemitismo nativo dos poloneses. Até os judeus conservadores e religiosos saudaram a tomada soviética. Um número substancial, ainda que subsequentemente controverso, de judeus assumiu cargos administrativos no aparato do governo comunista soviético; fosse qual fosse esse número, isso bastou para convencer muitos nacionalistas poloneses e ucranianos de que toda a comunidade judaica estava trabalhando para os odiados comunistas soviéticos. De fato, a detenção e a deportação de judeus ricos e outros, em particular intelectuais e profissionais liberais, que, como patriotas poloneses, recusaram-se a se candidatar à cidadania soviética, logo dispersaram as ilusões da população judaica sobre a verdadeira natureza do domínio soviético. Um em cada três cidadãos poloneses deportados para a Sibéria e outras regiões remotas da União Soviética era judeu; estima-se que 100 mil tenham morrido no processo. Ainda assim, o estrago estava feito: aqueles que ficaram pagariam caríssimo pelo entusiasmo inicial com a invasão soviética quando o Exército Vermelho enfim foi expulso pelos alemães. Nesse ínterim, as condições deterioraram-se tão depressa que os judeus que haviam escapado da Polônia ocupada pelos alemães começaram a voltar para lá58.

Entretanto, houve diferenças cruciais entre as duas ocupações. Ao contrário da parte ocidental da Polônia, anexada pelos nazistas, a parte oriental continha uma maioria de não poloneses. Eram ucranianos e bielorrussos – basicamente camponeses que o poder ocupador incitou a se erguer contra a classe supostamente fascista dos donos de terra poloneses –, e judeus. Em busca de uma revolução social, a administração soviética expropriou propriedade polonesa, nacionalizou bancos e dividiu grandes fazendas entre pequenos camponeses. Os direitos civis formais foram estendidos a todos, e os judeus mais jovens, em especial, saudaram sua liberação da discriminação antissemita praticada pelo regime dos coronéis poloneses. Quando esses judeus entraram para o Partido Comunista em seu entusiasmo com o novo regime, abandonaram no processo a identidade judaica. As elites polonesas foram vistas como líderes do nacionalismo polonês por ambos os poderes de ocupação, e deveriam ser esmagadas e eliminadas; mas a maior preocupação dos soviéticos foi destruí-las politicamente, e por isso elas foram deportadas não da União Soviética, mas para seu interior remoto. Do ponto de vista de Stálin, o que estava sendo executado na Polônia ocupada era uma revolução social em benefício da maioria; do ponto de vista de Hitler, o que estava sendo executado na Polônia ocupada era uma revolução étnica em benefício de uma pequena minoria, a dos alemães étnicos; capitalismo, propriedade e iniciativa privada foram deixados no lugar, mas poloneses e judeus não tomariam parte neles59.

 


 

1 Koehl, RKFDV, p. 14-52; para os planos de Darré, ver Evans, The Third Reich in Power, p. 421-5. Essas políticas foram colocadas no contexto da política do pós-guerra polonesa por Michael G. Esch, “Gesunde Verhältnisse”: Die deutsche und polnische Bevölkerungspolitik in Ostmitteleuropa 1939-1950 (Marburg, 1998); a obra fundamental aqui permanece sendo Koehl, RKFDV, que primeiro deixa claras a natureza e as dimensões dos planos nazistas para a reordenação étnica da Europa centro-oriental. Mais recentemente, ver Czeslaw Madajczyk et al. (eds.), Vom Generalplan Ost zum Generalsiedlungsplan: Dokumente (Munique, 1994); Götz Aly, “Final Solution”: Nazi Population Policy and the Murder of the European Jews I (Londres, 1999 [1995]); e Isabel Heinemann, “Rasse, Siedlung, deutsches Blut”: DasRasse-und Siedlungshauptamt der SS und die rassenpolitische Neuordnung Europas (Göttingen, 2003).

2 Discurso de Hitler em Max Domarus (ed.), Hitler: Speeches and Proclamations 1932-1945: The Chronicle of a Dictatorship (4 vols., Londres, 1990- [1962-63]), III: The Years 1939 to 1940, p. 1836.

3 Koehl, RKFDV, p. 49-58, 247-9.

4 Ibid., p. 49-65; Broszat, Nationalsozialistische Polenpolitik, p. 62-5; Götz Aly e Susanne Heim, Architects of Annihilation: Auschwitz and the Logic of Destruction (Princeton, N. J., 2002), p. 73-114 (reducionista em termos econômicos); ver também Michael G. Esch, ‘‘‘Ohne Rücksicht auf historisch Gewordenes’: Raumplanung und Raumordnung im besetzten Polen 1939-1944”, em Götz Aly et al. (eds.), Modelle für ein deutsches Europa: Ökonomie und Herrschaft im Grosswirtschaftsraum (Berlim, 1992), p. 77-123; Philip T. Rutherford, Prelude to the Final Solution: The Nazi Program for Deporting Ethnic Poles, 1939-1941 (Lawrence, Kans., 2007).

5 Broszat, Nationalsozialistische Polenpolitik, p. 43.

6 Klukowski, Diary, p. 60 (11 de dezembro de 1939); Broszat, Nationalsozialistische Polenpolitik, p. 42-3.

7 Klukowski, Diary, p. 88; também p. 120-1 (14 de outubro de 1940).

8 Jacobmeyer, “Der Überfall”, p. 23-9; Klukowski, Diary, p. 104 (26 de julho de 1940); Koehl, RKFDV, p. 126-60; panorama geral e cronologia em Aly, “Final Solution”, p. 14-
-52, e em Madajczyk, Die Okkupationspolitik, p. 233-58.

9 Wilm Hosenfeld, “Ich versuche jeden zu retten”: Das Leben eines deutschen Offiziers in Briefen und Tagebüchern (ed. Thomas Vogel, Munique, 2004), p. 3, 302 (notas, 14 de dezembro de 1939).

10 Ibid., p. 303 (nota de 15 de dezembro de 1939).

11 Koehl, RKFDV, p. 49-70; Broszat, Nationalsozialistische Polenpolitik, p. 118-37. Para a documentação da política racial alemã, ver Georg Hansen (ed.), Schulpolitik als Volkstumspolitik: Quellen zur Schulpolitik der Besatzer in Polen 1939-1945 (Münster, 1994), p. 23-80.

12 Wolfgang Michalka (ed.), Das Dritte Reich (2 vols., Munique, 1985), II: Weltmachtanspruch und nationaler Zusammenbruch 1939-1945, p. 163-6.

13 Clarissa Henry e Marc Hillel, Children of the SS (Londres, 1976 [1975]), p. 182-90; Koehl, RKFDV, p. 143-5, p. 219-21; Cyprian e Sawicki, Nazi Rule, p. 83-91. Para o esquema da “Fonte da Vida”, ver Evans, The Third Reich in Power, p. 521.

14 Koehl, RKFDV, p. 140-2.

15 Citado em Broszat, Nationalsozialistische Polenpolitik, p. 129-30 (notas de rodapé).

16 Klukowski, Diary, p. 240 (29 de janeiro de 1943).

17 Präg e Jacobmeyer (eds.), Das Diensttagebuch, p. 53; ver, em termos mais gerais, Madajczyk, Die Okkupationspolitik, p. 42-146.

18 Koehl, RKFDV, p. 70-88, 125-40; Präg e Jacobmeyer (eds.), Das Diensttagebuch, p. 209-
-10, 251, 296-7, 303-4.

19 Broszat, Nationalsozialistische Polenpolitik, p. 137-57; (Anon.), The German New Order, p. 410-1; Aly e Heim, Architects, p. 130-59; Cyprian e Sawicki, Nazi Rule, p. 92-105; Boguslaw Drewniak, “Die deutsche Verwaltung und die rechtliche Stellung der Polen in den besetzten polnischen Gebieten 1939-1945”, Deutsch-Polnisches Jahrbuch 1979-80, p. 151-70.

20 Georg Hansen, ‘‘‘Damit wurde der Warthegau zum Exerzierplatz des praktischen Nationalsozialismus’: Eine Fallstudie zur Politik der Einverleibung”, em Klessmann (ed.), September 1939, p. 55-72; Klessmann, Die Selbstbehauptung, p. 19-26; Broszat, Nationalsozialistische Polenpolitik, p. 157-76; Georg Hansen, Ethnische Schulpolitik im besetzten Polen: Der Mustergau Wartheland (Münster, 1995). Documentação sobre a política para o idioma em Georg Hansen (ed.), Schulpolitik, p. 81-106. Para Jäger, ver Evans, The Third Reich in Power, p. 224. Ver também Präg e Jacobmeyer (eds.), Das Diensttagebuch, p. 314, para a crescente hostilidade de Frank à Igreja Católica no Governo Geral (19 de dezembro de 1940).

21 Jochen August (ed.), “Sonderaktion Krakau”: Die Verhaftung der Krakauer Wissenschaftler am 6. November 1939 (Hamburgo, 1997).

22 Klessmann, Die Selbstbehauptung, p. 54-61, 78-107; idem e Wazlaw Dlugoborski, “Nationalsozialistische Bildungspolitik und polnische Hochschulen 1939-1945”, Geschichte und Gesellschaft, 23 (1997), p. 535-59.

23 Präg e Jacobmeyer (eds.), Das Diensttagebuch, p. 53.

24 Hans-Christian Harten, De-Kulturation und Germanisierung: Die nationalsozialistische Rassen- und Erziehungspolitik in Polen 1939-1945 (Frankfurt am Main, 1996), p. 170-87 (para política cultural) e p. 188-264 (para educação); Evans, The Nazi New Order, p. 113--37; Gross, Polish Society, p. 75-8.

25 Sword, “Poland”, p. 696-7; Gertrude M. Godden, Murder of a Nation: German Destruction of Polish Culture (Londres, 1943), p. 7-56.

26 Klukowski, Diary, p. 54, 72; ver, em termos mais gerais, Christoph Klessmann, “Die kulturelle Selbstbehauptung der polnischen Nation”, em idem (ed.), September 1939, p. 117-38; idem, Die Selbstbehauptung, p. 108-82; idem, “Die Zerstörung des Schulwesens als Bestandteil deutscher Okkupationspolitik im Osten am Beispiel Polens”, em Manfred Heinemann (ed.), Erziehung und Schulung im Dritten Reich, I: Kindergarten, Schule, Jugend, Berufserziehung (Stuttgart, 1980), p. 176-92; e extensiva documentação em Hansen (ed.), Schulpolitik, p. 107-411.

27 Klukowski, Diary, p. 146 (18 de abril de 1941).

28 Ibid., p. 126 (25 de novembro de 1940); Madajczyk, Die Okkupationspolitik, p. 333-64. Para os efeitos a longo prazo, ver Waclaw Dlugoborski, “Die deutsche Besatzungspolitik und die Veränderungen der sozialen Struktur Polens 1939-1945”, em idem (ed.), Zweiter Weltkrieg und sozialer Wandel: Achsenmächte und besetzte Länder (Göttingen, 1981), p. 303-63.

29 Koehl, RKFDV, p. 49, 76, 89-100, 254; Aly, “Final Solution”, p. 59-81.

30 Matthias Hamann, “Erwünscht und unerwünscht: Die rassenpsychologische Selektion der Ausländer”, em Götz Aly et al. (eds.), Herrenmensch und Arbeitsvölker: Ausländische Arbeiter und Deutsche 1939-1945 (Berlim, 1986), p. 143-80; Koehl, RKFDV, p. 100-10.

31 Ibid., p. 209-37.

32 Ibid., p. 129, 160-1.

33 Klukowski, Diary, p. 253-4 (17 de maio de 1943).

34 Ibid., p. 264-9 (2-11 de julho de 1943), p. 274-5 (1o de agosto de 1943); contexto mais amplo em Michael Hartenstein, Neue Dorflandschaften: Nationalsozialistische Siedlungsplanung in den “eingegliederten Ostgebieten”: 1939 und 1944 (Berlim, 1998).

35 Aly e Heim, Architects, p. 275-9 (de novo enfatizando excessivamente as motivações econômicas); Henry e Hillel, Children, p. 180-1; Housden, Hans Frank, p. 187-9, 203; Madajczyk, Die Okkupationspolitik, p. 422-30.

36 Klukowski, Diary, p. 271 (15 de julho de 1943), p. 289 (28 de novembro de 1943).

37 Ibid., p. 277-8 (18-27 de agosto de 1943).

38 Götz Aly, “The Posen Diaries of the Anatomist Hermann Voss”, em Götz Aly et al., Cleansing the Fatherland: Nazi Medicine and Racial Hygiene (Baltimore, Md., 1994), p. 99-
-155, na p. 127 (24 de maio de 1941), p. 128 (2 de junho de 1941), p. 130 (15 de junho de 1941).

39 Jost Hermand, Als Pimpf in Polen: Erweiterte Kinderlandverschickung 1940-1945 (Frankfurt am Main, 1993), p. 78-118.

40 Maschmann, Account Rendered, p. 110-9.

41 Ibid., p. 127-9.

42 Elizabeth Harvey, Women and the Nazi East: Agents and Witnesses of Germanization (Londres, 2003), esp. p. 78-118 (recrutamento) e p. 119-90; mais genericamente, para as várias atitudes dos alemães em relação aos poloneses, ver Madajczyk, Die Okkupationspolitik, p. 166-85

43 Alcuin (pseud.), I Saw Poland Suffer, p. 62-8.

44 Broszat, Nationalsozialistische Polenpolitik, p. 80-4; Joachim C. Fest, The Face of the Third Reich (Londres, 1979 [1963]), p. 322-31; Gross, Polish Society, p. 45-62, 145-59; Housden, Hans Frank, p. 154-76.

45 Citado em Gross, Polish Society, p. 110; preocupação sobre o mercado negro registrada em Präg e Jacobmeyer (eds.), Das Diensttagebuch, p. 88 (16 de janeiro de 1940).

46 Madajczyk, Die Okkupationspolitik, p. 596-602.

47 Klukowski, Diary, p. 70.

48 Ibid., p. 74.

49 Ibid., p. 119 (1o de outubro de 1940); ver também Tomasz Szarota, Warschau unter dem Hakenkreuz: Leben und Alltag im besetzten Warschau 1.10.1939 bis 31.7.1944 (Paderborn, 1985 [1973]), p. 80-1, 113-4.

50 Jacobmeyer, “Der Überfall”, p. 29-31.

51 Sword, “Poland”, p. 697; Czeslaw Luczak, “Landwirtschaft und Ernährung in Polen während der deutschen Besatzungszeit 1939-1945”, em Bernd Märtin e Alan S. Milward (eds.), Agriculture and Food Supply in the Second World War (Ostfildern, 1985), p. 117-27.

52 Natalija Decker, “Die Auswirkungen der faschistischen Okkupation auf das Gesundheitswesen Polens und den Gesundheitszustand des polnischen Volkes”, em Achim Thom e Genadij Caregorodcev (eds.), Medizin unterm Hakenkreuz (Berlim, 1989), p. 401-16; também Madajczyk, Die Okkupationspolitik, p. 261-307, para a vida cotidiana sob os alemães.

53 Klukowski, Diary, p. 77 (19 de fevereiro de 1940), p. 105-6 (1o de agosto de 1940), p. 126 (23 de novembro de 1940), p. 132 (4 de janeiro de 1941). Para informantes, ver Wlodzimierz Borodziej, Terror und Politik: Die deutsche Polizei und die polnische Widerstandsbewegung im Generalgouvernement 1939-1944 (Mainz, 1999), p. 136-61.

54 Klukowski, Diary, p. 85 (25 de abril de 1940).

55 Para comparações, ver Waclaw Dlugoborski, “Deutsche und sowjetische Herrschafts-
systeme in Ostmitteleuropa im Vergleich”, em Gerhard Otto e Johannes Houwink ten Cate (eds.), Das organisierte Chaos: “Ämterdarwinismus” und “Gesinnungsethik”: Determinanten nationalsozialistischer Besatzungsherrschaft (Berlim, 1999), p. 93-121; idem e Czeslaw Madajczyk, “Ausbeutungssysteme in den besetzten Gebieten Polens und der UdSSR”, em Friedrich Forstmeier e Hans-Erich Volkmann (eds.), Kriegswirtschaft und Rüstung 1939-1945 (Düsseldorf, 1977), p. 375-416.

56 Janusz K. Zawodny, Death in the Forest: The Story of the Katyn Forest Massacre (Londres, 1971); Wladyslaw T. Bartoszewski, “Foreword”, em Salomon W. Slowes, The Road to Katyn: A Soldier’s Story (Oxford, 1992), p. vii-xxxii; e, mais recentemente, Gerd Kaiser, Katyn: Das Staatsverbrechen – das Staatsgeheimnis (Berlim, 2002), e Anna M. Cienciala et al., Katyn: A Crime without Punishment (Londres, 2006).

57 Sword, “Poland”, p. 698-9; Garlinski, Poland, p. 32-7; Norman Davies, God’s Playground: A History of Poland (2 vols., Oxford, 1981), II, p. 447-53; Jan T. Gross, Revolution from Abroad: The Soviet Conquest of Poland’s Western Ukraine and Western Belorussia (Princeton, N. J., 1988), esp. p. 35-45 (violência entre comunidades), p. 71-113 (plebiscitos), p. 144-
-86 (prisões) e p. 187-224 (deportações).

58 Friedländer, The Years of Extermination, p. 43-8; ver também, em termos mais gerais, Norman Davies e Antony Polonsky (eds.), Jews in Eastern Poland and the USSR, 1939--1946 (Nova York, 1991), e Jan T. Gross, “A Tangled Web: Confronting Stereotypes Concerning Relations between Poles, Germans, Jews, and Communists”, em István Déak et al. (eds.), The Politics of Retribution in Europe: World War II and its Aftermath (Princeton, N. J., 2000), p. 74-129, provavelmente, porém, subestimando a colaboração judaica com a administração soviética (p. 97-8): ver a detalhada pesquisa de Alexander B. Rossino, “Polish ‘Neighbors’ and German Invaders: Anti-Jewish Violence in the Bialystok District during the Opening Weeks of Operation Barbarossa”, Polin: Studies in Polish Jewry, 16 (2003), p. 431-52; e Bogdan Musial, “Konterrevolutionäre Elemente sind zu erschiessen”: Die Brutalisierung des deutsch-sowjetischen Krieges im Sommer 1941 (Berlim, 2000), p. 57-73.

59 Mazower, Hitler’s Empire, p. 96-101.