“Obra da Providência”

 

 

I

 

 

 

 

Em 8 de novembro de 1939, por volta das oito da noite, Hitler chegou à Bürgerbräukeller, a cervejaria de Munique onde havia tentado o fracassado golpe de 1923. Seu compromisso de agenda era fazer o discurso anual para os líderes regionais e os “velhos combatentes” do movimento nazista. No encontro de 1939, ele falou por menos de uma hora. E então, para surpresa de todos, saiu abruptamente rumo à estação de trem para viajar para Berlim, onde, na Chancelaria do Reich, discutiria a planejada invasão da França, adiada há apenas dois dias por causa do mau tempo. Os “velhos combatentes” ficaram decepcionados por Hitler não seguir o costume habitual de ficar por mais meia hora para conversar. A maioria foi embora lentamente, deixando uma equipe de cerca de 100 pessoas para fazer a limpeza. Às 21h20, menos de meia hora depois de Hitler ter deixado o prédio, uma enorme explosão rasgou o salão. A galeria e o teto desabaram, e o deslocamento de ar arrancou janelas e portas. Três pessoas morreram na hora, cinco morreram das lesões posteriormente e 62 ficaram feridas. Muitos dos que saíram a duras penas dos escombros, tossindo e espirrando, machucados e sangrando, presumiram que tivessem sido vítimas de um ataque aéreo britânico. Apenas gradativamente perceberam que a explosão fora causada por uma bomba escondida em um dos pilares centrais do prédio.

Hitler recebeu a notícia quando seu trem parou em Nuremberg. De início, ele pensou que fosse uma piada. Mas, ao ver que ninguém ao redor estava rindo, percebeu que escapara da morte por um triz. Hitler declarou que a Providência mais uma vez o havia preservado para as tarefas por vir. Mas restavam muitas questões. Quem, perguntavam os líderes nazistas, fora responsável por esse atentado covarde à vida de Hitler? Com pouco mais de dois meses de guerra, a resposta parecia óbvia. O serviço secreto britânico devia estar por trás daquilo. Hitler em pessoa ordenou o sequestro de dois agentes britânicos que Walter Schellenberg, chefe de inteligência do Serviço de Segurança da SS de Heydrich, mantinha sob vigilância na fronteira holandesa, em Venlo. Com certeza eles revelariam detalhes sobre as origens do complô. Schellenberg fez contato com os agentes e os persuadiu a se encontrarem com homens da SS que eles pensaram ser representantes da resistência militar alemã. Os homens da SS atiraram em um oficial holandês que tentou intervir e carregaram os agentes britânicos através da fronteira alemã antes que alguém pudesse detê-los. Mas, embora em Berlim os oficiais britânicos tenham sido persuadidos a fornecer o nome de numerosos agentes britânicos no continente, não tiveram condições de lançar alguma luz sobre a tentativa de assassinato1.

A máquina de propaganda de Goebbels rapidamente começou a jorrar denúncias contra o serviço secreto britânico. A verdade só começou a vir à tona quando, em uma parte remota do sul da Alemanha, a polícia da fronteira deteve um marceneiro de 38 anos de idade chamado Georg Elser, que estava tentando cruzar a divisa suíça sem os documentos adequados. Ao revistar suas roupas e pertences, encontraram um cartão-postal da cervejaria onde a explosão ocorrera, um detonador e esboços de uma bomba. Elser foi rapidamente entregue à Gestapo local. Quando as notícias da explosão chegaram ao escritório da Gestapo, os policiais somaram dois mais dois e enviaram Elser a Munique para interrogatório. De início, ninguém pôde acreditar que o marceneiro houvesse agido por conta própria. Suspeitos de todos os tipos foram detidos, em um processo alimentado por uma onda de denúncias de sujeitos vistos agindo de forma suspeita perto do cenário da tentativa de assassinato. Heinrich Himmler chegou à central de interrogatório, chutou Elser repetidas vezes com seus coturnos e fez que fosse espancado. Mas Elser continuou a insistir que agira inteiramente por conta própria. A Gestapo até o fez construir uma réplica exata da bomba, o que, para espanto dos agentes, ele fez com sucesso. No fim, foram forçados a admitir em particular que Elser agira sozinho2.

Georg Elser era um homem comum de passado humilde cujo pai brutal e violento instigara nele uma poderosa aversão à tirania. Membro da Liga dos Combatentes da Frente Vermelha do Partido Comunista por um tempo, teve dificuldade em conseguir trabalho sob o Terceiro Reich e culpava Hitler por seus infortúnios. Em Munique, havia feito um reconhecimento da cervejaria onde Hitler faria seu discurso anual, e então deu início ao preparo da tentativa de assassinato. Ao longo de muitos meses, surrupiou explosivos, um detonador e outros equipamentos de seus patrões, achando emprego até mesmo em uma pedreira, a fim de poder ter acesso ao tipo certo de material. Tirou as medidas da cervejaria sub-repticiamente, embora uma tentativa de conseguir emprego lá tenha dado em nada. Toda noite, ele jantava no local por volta das nove horas, depois escondia-se em um depósito até a cervejaria fechar. No começo da madrugada, Elser trabalhava meticulosamente no pilar de suporte de carga que havia selecionado como melhor local para a explosão, ajustando uma porta secreta no revestimento de madeira, retirando os tijolos, colocando os explosivos e o detonador e instalando o timer especialmente produzido. Depois de dois meses, em 2 de novembro de 1939, ele inseriu a bomba; três noites depois, instalou o timer, marcado para às 9h20 da noite do dia 8, quando, pensou ele, Hitler estaria no meio de seu discurso. Apenas o fato de Hitler ter abreviado seu pronunciamento a fim de partir para Berlim evitou que a bomba o matasse ali mesmo3.

O efeito sobre a opinião pública, informou o Serviço de Segurança da SS em tom bajulatório, foi provocar uma reação popular contra os britânicos. “O amor pelo Líder cresceu ainda mais, e as atitudes quanto à guerra tornaram-se ainda mais positivas em muitos setores da população como resultado da tentativa de assassinato4.” O efeito foi tão disseminado que o repórter americano William L. Shirer pensou que os próprios nazistas tivessem encenado o ataque a fim de conquistar simpatia. Do contrário, intrigou-se ele, por que os “manda chuvas haviam [...] saído tão às pressas do prédio em vez de ficar para conversar?5”. Mas essa teoria, aceita também por alguns historiadores posteriores, era tão pouco baseada em fatos quanto a teoria dos nazistas de uma conspiração britânica para o atentado6. Elser foi mandado para o campo de concentração de Sachsenhausen. Um julgamento formal teria levado a domínio público o fato de que ele agira sozinho, e Hitler e as lideranças nazistas preferiram manter a ficção de que Elser fizera parte de um complô maquinado pelo serviço secreto britânico. Elser recusou-se terminantemente a dizer qualquer coisa a não ser a verdade. Mas, para o caso de mudar de ideia, foi mantido no campo como prisioneiro especial e recebeu dois cômodos para seu uso exclusivo. Teve permissão até mesmo para usar um deles como oficina, para continuar praticando o ofício de marceneiro. Recebia um suprimento regular de cigarros e matava o tempo tocando cítara. Não tinha permissão para falar com os outros prisioneiros ou receber visitas. Mas sua morte não teria servido de nada sem o tipo de confissão que os nazistas queriam, e essa jamais aconteceu7.

 

 

II

 

A tentativa de assassinato aconteceu no momento em que Hitler voltava sua atenção para o conflito com Grã-Bretanha e França, após o formidável sucesso da conquista da Polônia. Ambos os países haviam declarado guerra à Alemanha logo após a invasão. Mas, desde o início, perceberam que haveria bem pouco que pudessem fazer para ajudar os poloneses. As duas nações já estavam bem armadas em meados da década de 1930, mas só começaram a aumentar o ritmo da produção de armas em 1936 e precisavam de mais tempo. No começo, pensaram, da parte delas, a guerra seria defensiva; só mais tarde, quando fossem páreo para os alemães em homens e equipamento, poderiam ir para o ataque. Esse foi o período da “guerra de araque”, a drôle de guerre, a Sitzkrieg, durante o qual todas as nações combatentes aguardaram nervosamente o começo da ação para valer. Em 9 de outubro de 1939, Hitler disse às Forças Armadas alemãs que lançaria um ataque a oeste se os britânicos se recusassem a chegar a um acordo. A liderança do Exército alemão, entretanto, advertiu que a campanha polonesa consumira recursos em demasia e era preciso um tempo de recuperação. Além disso, franceses e britânicos com certeza seriam oponentes bem mais formidáveis que os poloneses8. Hitler ficou consternado com tal cautela e em 23 de novembro de 1939, em um encontro com 200 oficiais de alta patente, recordou que os generais haviam ficado nervosos com a remilitarização da Renânia, a anexação da Áustria, a invasão da Tchecoslováquia e outras políticas audaciosas que no fim haviam se revelado triunfos. A meta última da guerra, disse ele, não pela primeira vez, era a criação de “espaço vital” no leste. Se isso não fosse conquistado, o povo alemão pereceria. “Só podemos nos opor à Rússia quando estivermos livres no oeste”, ele advertiu. A Rússia estaria militarmente debilitada no mínimo pelos dois anos seguintes, de modo que agora era a hora de assegurar a retaguarda da Alemanha e evitar a guerra em duas frentes que havia sido tão mutilante em 1914-18. A Inglaterra só podia ser derrotada após a conquista da França, da Bélgica e da Holanda e da ocupação da costa do canal. Portanto, isso teria de acontecer o mais breve possível. A Alemanha estava mais forte do que nunca. Mais de uma centena de divisões estava pronta para ir ao ataque. A situação dos suprimentos era boa. Grã-Bretanha e França não haviam completado seu rearmamento. Acima de tudo, disse Hitler, a Alemanha tinha um fator que a tornava imbatível – ele mesmo. “Estou convencido dos poderes de meu intelecto e de decisão [...] O destino do Reich depende só de mim [...] Não vou recuar diante de nada e hei de destruir todos os que se oponham a mim.” O destino estava com ele, proclamou Hitler, encorajado por ter escapado da bomba na cervejaria duas semanas antes. “Mesmo nos presentes acontecimentos, eu vejo a Providência9.”

Os generais líderes ficaram consternados com esse novo acesso do que consideravam a agressividade irresponsável de Hitler. Era preciso tempo, eles pleitearam, para treinar mais recrutas e reparar e repor o equipamento danificado ou perdido na campanha polonesa. O chefe do Estado-Maior Geral do Exército, Franz von Halder, ficou tão alarmado que retomou os planos conspiratórios que estivera maquinando com seus colegas oficiais, com espíritos descontentes da contrainteligência do Exército e com funcionários públicos e políticos conservadores durante um confronto semelhante a respeito da proposta de invasão da Tchecoslováquia no verão de 1938. Durante um período, ele chegou a circular com um revólver carregado escondido, na esperança de abater Hitler quando surgisse a oportunidade. Apenas o senso arraigado de obediência ao juramento de lealdade ao Líder nazista e o conhecimento de que teria pouco apoio público ou de seus oficiais subalternos impediram Halder de usá-lo. Durante novembro de 1939, os conspiradores começaram a se preparar outra vez para prender Hitler e seus principais assessores, com a ideia de colocar Göring no poder, visto que ele era conhecido por ter sérias dúvidas a respeito de uma guerra com Grã-Bretanha e
França. Em 23 de novembro de 1939, entretanto, Hitler discursou para seus generais seniores. “O Líder”, anotou um deles, “adota uma postura das mais fortes contra qualquer tipo de derrotismo.” Seu pronunciamento expôs “um certo ânimo mal-humorado em relação aos líderes do Exército. ‘A vitória’, disse ele, ‘não pode ser conquistada com espera!10’” Halder entrou em pânico, acreditando que Hitler ouvira falar do complô, e saiu da trama de vez. O complô desmanchou-se. Em última análise, a falta de comunicação e coordenação entre os conspiradores e a ausência de planos concretos para o período após a detenção de Hitler fadaram a conspiração ao fracasso desde o início11.

Em todo caso, o confronto no fim mostrou-se desnecessário, pois Hitler foi forçado a adiar a data da ofensiva mais uma vez no inverno de 1939-40 devido às más condições do tempo. A chuva forte e constante transformou o solo em lama ao longo de enormes faixas da Europa ocidental, tornando impossível os tanques e impedindo os blindados pesados alemães de se moverem com a rapidez que havia desempenhado papel tão essencial na campanha polonesa. Os meses de adiamento mostraram-se benéficos aos preparativos alemães para a guerra, pois Hitler promoveu mudanças importantes no programa de armamentos. No fim da década de 1930, ele exigira a construção de uma Força Aérea em uma escala imensa. Mas a Alemanha carecia de suprimento suficiente de combustível aéreo. E, no verão de 1939, a falta de aço e de outras matérias-primas, bem como de engenheiros de construção qualificados, estava levando a uma drástica retração no programa de construção. A produção de aeronaves também tinha de competir pela prioridade com tanques e navios de guerra. Em agosto de 1939, Hitler foi persuadido pelo lobby intensivo do Ministério do Ar a colocar a produção de bombardeiros Junker 88 de volta no topo da agenda. Um corte no programa de construção naval também permitiu a Hitler exigir um aumento maciço na manufatura de munição, em especial de projéteis de artilharia. Dali em diante, aviões e munição sempre receberam dois terços ou mais dos recursos para a produção armamentista. Mas essas mudanças avançaram com lentidão através dos sistemas de planejamento e produção, uma vez que era preciso traçar novos projetos, adaptar máquinas, construir equipamentos, remanejar fábricas existentes e abrir novas. A escassez de mão de obra acentuava-se com a convocação de trabalhadores para as Forças Armadas, enquanto a falta de investimento no sistema ferroviário alemão fazia que não houvesse material rolante suficiente para transportar armamentos, componentes e matérias-primas pelo país, e o fornecimento de carvão para a indústria começou a sofrer atrasos graves. Todos esses fatores levaram tempo para ser superados12.

Só em fevereiro de 1940 a produção de munição começou a aumentar de forma significativa. Em julho de 1940, a produção alemã de armamentos havia duplicado13. A essa altura, porém, Hitler já havia perdido a paciência com o sistema de aquisição de armamentos gerido pelas Forças Armadas durante o comando do major-general Georg Thomas. Em 17 de março de 1940, ele instalou o novo Ministério do Reich para Munições. O homem que colocou no comando foi Fritz Todt, seu engenheiro favorito, que arquitetou um dos projetos prediletos de Hitler na década de 1930, a construção de um novo sistema de autoestradas14. O chefe do escritório de contratos de compra do Exército, general Karl Becker, ficou tão consternado com esse acontecimento e com os boatos contra a alegada ineficiência de sua organização, orquestrados em parte por representantes das companhias de armas como a Krupp – que viram uma oportunidade no novo arranjo –, que se suicidou com um tiro. Todt montou imediatamente um sistema de comitês para os diferentes aspectos da produção de armas, no qual os industriais desempenhavam o papel principal. O surto ocorrido na produção de armas nos meses seguintes deveu-se em grande parte ao sucesso do regime anterior de aquisições em desbloquear os gargalos de suprimento de matérias-primas vitais como cobre e aço. Mas o crédito foi todo para Todt15.

 

 

III

 

Como resultado do Pacto Nazi-Soviético e das negociações adicionais referentes à invasão da Polônia, a Alemanha cedeu à esfera de influência russa não só o leste da Polônia e os Estados bálticos, mas também a Finlândia. Em outubro de 1939, Stálin exigiu que os finlandeses cedessem à Rússia a área imediatamente ao norte de Leningrado e a parte ocidental da península de Rybachi em troca de uma ampla área da Carélia oriental. Mas as negociações foram interrompidas em 9 de novembro de 1939. Em 30 de novembro, o Exército Vermelho invadiu, instalou um governo comunista fantoche em uma cidade finlandesa da fronteira e fez que este assinasse um acordo cedendo o território que Stálin exigia. A essa altura, porém, as coisas começaram a dar muito errado para o líder soviético. Muitos dos mais antigos generais soviéticos haviam sido eliminados nos expurgos da década de 1930, e as tropas soviéticas estavam despreparadas e mal lideradas. O inverno já começara, e as tropas finlandesas, vestidas de branco, movendo-se velozmente com esquis, conseguiram uma vantagem contra os novatos recrutas soviéticos, que não haviam sido treinados para lutar em neve espessa. Na verdade, alguns oficiais soviéticos consideravam tal camuflagem um símbolo de covardia e se recusavam a empregá-la mesmo quando estava disponível. Treinadas apenas para atacar, unidades inteiras do Exército Vermelho foram ao encontro da morte ao correr direto para ninhos de metralhadora construídos nos bunkers defensivos da Linha Mannerheim, uma extensa série de trincheiras de concreto cujo nome era uma homenagem ao comandante finlandês16.

“Eles estão nos matando como moscas”, queixou-se um soldado da infantaria soviética na frente finlandesa em dezembro de 1939. Quando o conflito acabou, mais de 126 mil soldados soviéticos haviam sido mortos e outros 300 mil evacuados da frente devido a ferimentos, doenças ou gangrena pelo frio. As perdas finlandesas também foram severas, de fato até maiores em termos proporcionais, com 50 mil mortos e 43 mil feridos. Todavia, não restou dúvida de que os finlandeses haviam acertado os soviéticos em cheio. Suas tropas mostraram não apenas coragem e determinação, alimentadas por forte sentimento nacionalista, mas também engenhosidade. Tomando emprestado o exemplo das forças de Franco na Guerra Civil Espanhola, os finlandeses pegavam garrafas de bebida vazias, enchiam com querosene e outros químicos, enfiavam um pavio em cada uma, acendiam e atiravam nos tanques soviéticos que se aproximavam, cobrindo-os com chamas. “Jamais pensei que um tanque pudesse queimar por tanto tempo”, disse um veterano finlandês. Eles também criaram um novo nome para o projétil: em honra ao ministro de Relações Exteriores soviético, chamaram-no de “coquetel Molotov17”. No fim, porém, os números decidiram. Após uma segunda ofensiva fracassada, Stálin convocou enormes reforços, ao mesmo tempo que desistia do governo fantoche e oferecia negociações ao regime finlandês legítimo de Helsinque. Na noite de 12-13 de março de 1940, reconhecendo o inevitável, os finlandeses aceitaram um acordo de paz que alocou à União Soviética uma quantidade de território ao sul substancialmente maior que a originalmente exigida. Porém, apesar da derrota final e da abertura de uma base militar soviética em seu território, os finlandeses mantiveram a independência. Sua valentia e resistência eficiente expuseram a fraqueza do Exército Vermelho e convenceram Hitler de que não havia nada a temer. Para Stálin, a Finlândia serviria agora como um Estado-tampão subserviente para isolar a Rússia de qualquer conflito que pudesse ser travado entre a Alemanha e os aliados na Escandinávia. Os muitos reveses e desastres da guerra persuadiram Stálin a reconvocar para o serviço ativo, e em cargos importantes, ex-oficiais expurgados e em desgraça. Os acontecimentos também incitaram os generais de Stálin a se lançar em reformas militares radicais que esperavam que garantissem ao Exército Vermelho um melhor desempenho quando entrasse novamente em ação18.

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Mapa 5. Ganhos territoriais soviéticos, 1939-40

Nesse meio-tempo, porém, o conflito na Finlândia e o fracasso anglo-francês em intervir voltaram a atenção de Hitler para a Noruega. Os portos costeiros do país poderiam ser bases vitais para as operações submarinas alemãs contra os britânicos. Também poderiam fornecer um canal essencial para a exportação do muito necessário ferro da neutra Suécia para a Alemanha, em especial durante o inverno, quando Narvik permanecia livre do gelo. A falta de qualquer perspectiva imediata de invadir a França e a evidente possibilidade de uma invasão antecipada dos britânicos tornou o ataque contra a Noruega da máxima urgência aos olhos de Hitler. O chefe da Marinha alemã, grande almirante Raeder, ciente das consequências do fracasso da Alemanha em controlar a costa noroeste europeia na Primeira Guerra Mundial, já estava pressionando Hitler a esse respeito em outubro de 1939. Para preparar o terreno, Raeder fez contato com o líder do Partido Fascista norueguês, Vidkun Quisling. Nascido em 1887, Quisling, filho de um pastor, havia saído da academia militar com as maiores notas já alcançadas e entrado para o Estado-Maior Geral aos 24 anos de idade. Em 1931-33, serviu como ministro de Defesa em um governo liderado pelo Partido Agrário, grupo nacionalista formado havia pouco para representar pequenas comunidades agrícolas do país de 3 milhões de pessoas. A rápida industrialização levara ao surgimento de um movimento operário radical pró-comunista nas cidades, que gerou grande alarme entre os camponeses. Àquela altura, Quisling proclamava abertamente a superioridade da raça nórdica e advertia sobre a ameaça do comunismo. Ele apresentou-se como defensor dos interesses do campesinato. Em março de 1933, quando o governo caiu, ele fundou seu movimento de unidade nacional, adornando-o com ideias como o princípio de liderança, emprestado do recém-empossado regime nazista da Alemanha19.

O movimento de Quisling não conseguiu nenhum avanço na década de 1930. Foi solapado pela volta dos social-democratas noruegueses a uma posição centrista, baseada na conciliação dos interesses de trabalhadores e camponeses. Isso levou os social-democratas à maioria parlamentar de 1936 em diante. Quisling retomou os contatos com os nazistas, visitando Hitler no começo de 1940 para tentar persuadi-lo a respaldar um golpe fascista liderado por ele mesmo. Os alemães mostraram-se céticos em vista da evidente falta de apoio de Quisling entre a população norueguesa. Entretanto, Quisling convenceu Hitler de que uma invasão aliada da Noruega era provável, e, dois dias depois do encontro, Hitler ordenou o início do planejamento de uma investida alemã. Quisling viajou a Copenhague em 4 de abril de 1940 e se reuniu com um oficial do Estado-Maior alemão, a quem forneceu detalhes dos preparativos defensivos da Noruega e indicou os melhores locais para invadir o país. Por mais desastrosa que fosse, a traição de Quisling se mostraria útil à propaganda aliada sob um aspecto: talvez porque seu nome fosse fácil de pronunciar, rapidamente tornou-se um termo popular para traidores de todos os tipos, substituindo o termo “quinta-coluna”, mais pesadão, usado primeiro na Guerra Civil Espanhola, que os propagandistas britânicos achavam que a maioria das pessoas provavelmente já havia esquecido20.

Em 1º de março de 1940, Hitler emitiu uma ordem formal para a invasão (apelidada de Exercício Weser), que, por motivos geográficos óbvios, abrangeria não só a Noruega, mas também a Dinamarca. Deixando de lado a objeção de que noruegueses e dinamarqueses eram neutros e provavelmente assim permaneceriam, Hitler observou que seria necessária apenas uma força relativamente pequena em vista da fraqueza das defesas inimigas. Em 9 de abril de 1940, as forças alemãs cruzaram a fronteira da Dinamarca por terra a partir do sul às 5h25 da manhã, ao passo que um desembarque aéreo em Ålborg garantiu a principal base da Força Aérea dinamarquesa, e uma invasão por mar ocorreu em cinco diferentes pontos, inclusive Copenhague, cujos defensores foram apanhados totalmente de surpresa. O único problema ocorreu quando o encouraçado Schleswig-Holstein encalhou. Às 7h20, reconhecendo o inevitável, o governo dinamarquês ordenou o cessar da resistência. A invasão fora concluída com sucesso em menos de duas horas21. Na Noruega, porém, as forças invasoras depararam com resistência mais séria. Os navios de transporte alemães a caminho de Trondheim e Narvik deram jeito de se safar dos britânicos à espera, mas o mau tempo dispersou a frota acompanhante de 14 contratorpedeiros, dois encouraçados (Scharnhorst e Gneisenau) e um cruzador pesado, o Admiral Hipper. O encouraçado britânico Renown encontrou os dois encouraçados alemães e os avariou com gravidade suficiente para forçar sua retirada, mas o fato crítico era que os navios britânicos estavam longe demais da costa norueguesa para impedir a força alemã principal de entrar nos fiordes noruegueses. As baterias costeiras causaram algum estrago, e um cruzador pesado recém-lançado, o Blücher, foi afundado, mas isso não foi suficiente para impedir as tropas alemãs de tomar todas as principais cidades norueguesas, inclusive a capital. Mesmo assim, não foi um mar de rosas, e dois ataques da frota britânica afundaram dez contratorpedeiros alemães ancorados em Narvik e imediações em 10 e 13 de abril de 1940. Os alemães também perderam 15 embarcações de transporte, o que os forçou a usar uma frota de 270 navios mercantes para levar a força de apoio de 108 mil soldados e seus suprimentos através da Dinamarca, enquanto mais 30 mil eram levados de avião. Por causa da dependência do transporte aéreo e a falta de navios-transporte de tropas, a invasão inicial não teve condições de usar a força esmagadora de que realmente precisava. Combinados com as dificuldades do terreno basicamente montanhoso da Noruega, esses fatores deram aos noruegueses a chance de oferecer combate às forças invasoras alemãs22.

As dificuldades da invasão somaram-se à decisão de proclamar Quisling chefe de um novo governo pró-Alemanha tão logo Oslo foi ocupada em 9 de abril. Vários de seus antigos apoiadores, que Quisling nomeou como ministros, recusaram-se publicamente a se unir a ele, e o governo legítimo condenou sua ação de forma categórica. O rei conclamou a resistência a continuar e saiu de Oslo com o gabinete. Ele foi apoiado pelo Exército e pela grande massa do povo norueguês, ultrajados pela posse de um óbvio fantoche alemão que carecia de qualquer tipo de apoio eleitoral significativo. A proclamação de uma “revolução nacional” por Quisling no 1º de maio de 1940, quando tachou o rei e o governo de traidores que haviam se vendido aos judeus que dirigiam a Grã-Bretanha e consagrou o futuro da Noruega ao que chamou de “Comunidade Germânica de Destino”, deparou com nada além de escárnio23. As tropas norueguesas desempenharam papel significativo no combate em torno de Narvik e em outros portos ocidentais no rastro da invasão alemã. As coisas com certeza não estavam saindo conforme o planejado pelos alemães. Mas eram ainda mais desastrosas para os britânicos. Em 14 e 17 de abril, as forças britânicas desembarcaram em dois pontos intermediários ao longo da costa, apoiadas por tropas da Legião Estrangeira francesa e algumas unidades polonesas. Mas houve uma confusão a respeito de para onde deveriam ir. Muitos soldados estavam parcamente equipados para combater no inverno e não tinham sapatos para a neve. Outros estavam tão sobrecarregados pelo equipamento de inverno que mal conseguiam se mexer. O fato de não terem apoio aéreo efetivo foi crucial. Os aviões alemães bombardearam sem piedade. Depois de muitos atrasos, os aliados ocuparam Narvik em 29 de maio de 1940, mas os reforços alemães enfim começaram a chegar, e um ataque de surpresa que afundou o porta-aviões britânico Glorious em 4 de junho, junto com todas as aeronaves a bordo, salientou as dificuldades da posição britânica. As forças aliadas ao sul de Narvik já haviam se retirado e, depois de destruir o porto, a força ocupante de Narvik também navegou para casa em 8 de junho de 1940. No dia anterior, o rei da Noruega e seu governo tinham ido para o exílio, deixando ordens para o cessar-fogo, mas ressaltando que o estado de guerra entre seu país e o Terceiro Reich continuaria até segunda ordem24.

A despeito das dificuldades encontradas, os alemães haviam triunfado em um inédito ataque coordenado por ar, mar e terra. Agora detinham uma ampla parte da costa noroeste do continente, onde estabeleceram uma série de bases navais importantes, em especial para os submarinos, tão vitais à interceptação dos suprimentos britânicos vindo da América. Não só as entregas de minério de ferro suecas para a Alemanha agora estavam garantidas, como a própria Suécia, ainda nominalmente neutra, fora efetivamente reduzida à posição de Estado-cliente alemão. Mesmo durante a campanha norueguesa, as autoridades suecas haviam permitido que suprimentos alemães fossem transportados através de território sueco; em seguida, também permitiram o trânsito de centenas de milhares de soldados alemães. Os estaleiros suecos construíram navios para a Marinha alemã, e a economia sueca tornou-se fonte de abastecimento de praticamente qualquer coisa que os alemães decidissem exigir, contanto que a tivesse. Por outro lado, o conjunto da operação aliada, conforme William L. Shirer anotou em seu diário, tinha sido um “descalabro”. Os planos britânicos de colocar minas do lado de fora dos principais portos noruegueses foram repetidamente adiados até ser tarde demais. A coordenação entre o Exército britânico e a Marinha Real havia sido fraca. O planejamento militar havia sido confuso e inconsistente. As forças britânicas foram obrigadas a empreender uma retirada humilhante pouco depois de desembarcar. Em Narvik, haviam vacilado de modo fatal antes de avançar, renunciando com isso ao elemento surpresa e permitindo aos alemães trazer reforços. Nada disso pareceu um bom agouro para o futuro esforço de guerra britânico25. De fato, já em 21 de março de 1940, o oficial do Exército Hans Meier-Welcker anotou em seu diário um otimismo geral entre os alemães comuns de que a guerra terminaria no verão26.

As recriminações em Londres foram imediatas. Defendendo sua condução da guerra na Câmara dos Comuns, o primeiro-ministro Neville Chamberlain soou frouxo e inconvincente. O líder de oposição do Partido Trabalhista, Clement Attlee, foi direto ao ponto: “Não é apenas a Noruega”, disse ele. “A Noruega surge como a culminação de muitos outros dissabores. O povo está dizendo que os maiores responsáveis pela condução dos assuntos são homens que tiveram uma carreira quase ininterrupta de fracassos. A Noruega veio depois da Tchecoslováquia e da Polônia. Por toda parte tem-se a história do ‘tarde demais’.” A avaliação tipicamente rude de Attlee a respeito da situação era compartilhada por muitos. O Partido Trabalhista, de oposição, decidiu forçar uma votação sobre o assunto. Dos 615 membros, 486 votaram; estimou-se que uns 80 conservadores abstiveram-se, mantendo-se afastados do debate, ao passo que 40 deles que estavam presentes votaram com a oposição. Um governo majoritário de 213 foi retalhado para 80. No dia seguinte, curvando-se ao inevitável, Chamberlain, um homem prostrado, decidiu renunciar. Em um ano, ele estaria morto27. O político considerado pela maioria como seu sucessor óbvio, o secretário de Relações Exteriores, lorde Edward Halifax, membro da Câmara Alta, declinou do cargo por acertadamente considerar que seria impossível liderar o país da Câmara dos Lordes. A escolha, portanto, recaiu sobre Winston Churchill. Como primeiro lorde do almirantado, Churchill fora formalmente responsável pelo descalabro da Noruega, mas, apesar de ter tido de defender a posição do governo durante o debate crucial, ele escapou em grande parte das críticas por causa de uma sensação generalizada de que sua ousadia havia sido estropiada pela cautela dos outros. Com 65 anos de idade ao ser nomeado, Churchill tinha visto a ação na Guerra do Sudão no fim do século XIX e em 1914-18. Ocupara muitos cargos no governo ao longo dos anos, mas, na época da deflagração da Segunda Guerra Mundial, encontrava-se em plano secundário, posição em que estivera na maior parte da década, isolado do governo por causa da reputação de insubordinado e sobretudo pela crítica estridente ao Terceiro Reich e pela incansável defesa do rearmamento. Ele imediatamente ampliou o governo para uma unidade nacional. Sua mensagem à Câmara dos Comuns no primeiro discurso após a nomeação foi intransigente. A Grã-Bretanha, ele declarou, lutaria até o fim28.

 

 

IV

 

A investida alemã sobre a Dinamarca e a Noruega foi o prenúncio do lançamento de uma operação bem maior contra a França e os países do Benelux. Discutido por muitos meses, o plano inicial das Forças Armadas, bastante convencional, de um ataque de três pontas à França, à Bélgica e à Holanda, foi reduzido a um ataque de duas pontas, depois teve de ser reformado de novo, quando o plano caiu em mãos inimigas após a captura de um oficial do Estado-Maior que fez um pouso forçado na Bélgica e não conseguiu destruir os documentos antes de ser detido. Voltando à prancheta, Hitler começou a argumentar em favor de uma investida única, concentrada e de surpresa através de Ardenas, uma região montanhosa coberta de bosques e em geral considerada imprópria para tanques e, por conseguinte, defendida fracamente pelos franceses. A vantagem disso seria evitar o ataque aos posicionamentos defensivos pesados dos franceses na bem fortificada Linha Maginot, que se estendia por muitos quilômetros ao longo da fronteira franco-alemã. As dúvidas iniciais do alto comando do Exército foram superadas quando a detalhada defesa do novo plano improvisado do general Erich von Manstein foi confirmada por jogos de guerra e simulações executadas pelo Estado-Maior Geral. Oficial cuja ambição era tão irritante ao general Halder que este o fez ser transferido para tarefas de campo em Stettin, o general Manstein, nascido em 1887, era assistente próximo do general Gerd von Rundstedt, que liderou o planejamento da invasão da Polônia. Uma das metas secundárias do novo plano era dar ao Grupo de Exércitos do Sul de Rundstedt a parte mais importante na invasão da França. Reunido com Hitler em 17 de fevereiro de 1940, Manstein demonstrou que, com um planejamento cuidadoso, seria possível deslocar uma grande força motorizada por Ardenas. Tendo atravessado a área, o corpo principal das forças alemãs deveria rumar para o canal, interceptando as forças aliadas vindas do sul. Enquanto isso, outra força invasora mais ao norte entraria na Bélgica e na Holanda, levando os aliados a pensar erroneamente que era dali que provinha a principal investida. A força expedicionária britânica e o Exército francês seriam, assim, efetivamente cercados pelo norte e pelo sul e prensados contra o mar29.

No começo de maio, as chuvas haviam cessado, a campanha norueguesa estava aproximando-se claramente de um final vitorioso, e era chegada a hora. As tropas alemãs invadiram a Holanda em 10 de maio de 1940, e algumas delas foram lançadas de paraquedas, mas a maioria simplesmente cruzou a fronteira por terra com a Alemanha. O Exército holandês recuou, afastando-se das forças anglo-francesas ao sul. Com apenas oito divisões, não era páreo para o Exército alemão invasor tremendamente maior. Um bombardeio aéreo alemão sobre Roterdã em 14 de maio de 1940, destruindo o centro da cidade e matando muitas centenas de habitantes civis, persuadiu os holandeses de que, para evitar mais carnificina, era aconselhável render-se. Foi o que fizeram no dia seguinte. A rainha Guilhermina e o governo escaparam para Londres para continuar na luta do outro lado do canal. Ao mesmo tempo, paraquedistas e tropas especiais de planadores alemães apoderaram-se das pontes e das posições defensivas essenciais e garantiram as principais rotas para a Bélgica, onde as tropas de defesa, fracassando em coordenar suas ações com os britânicos e os franceses que avançavam para ajudá-las, foram rapidamente rechaçadas. A violenta investida foi súbita e aterrorizante. William L. Shirer ficou pasmo com a velocidade do avanço alemão. Entrando de carro no país com um grupo de repórteres, Shirer viu “trilhos de ferrovia arrancados e retorcidos por toda parte; vagões e locomotivas descarrilados” em volta da estação ferroviária pesadamente bombardeada na cidade de Tongres. “A cidade em si estava abandonada. Dois ou três cães famintos farejavam tristonhos pelas ruínas, ao que parece à procura de água, comida e de seus donos30.”

Mais adiante, passaram por filas de refugiados arrastando-se pelas estradas, “mulheres velhas”, conforme notou Shirer, “carregando um ou dois bebês em seus braços idosos, as mães carregando os pertences da família. Os de mais sorte traziam suas coisas equilibradas em bicicletas. Os poucos realmente sortudos, em carroças. Os rostos – atordoados, horrorizados, as linhas de expressão congeladas em dor e sofrimento, mas dignos”. Chegando a Louvain, verificaram que a biblioteca da universidade, incendiada na Primeira Guerra Mundial por soldados alemães em um ato deliberado de represália devido à resistência enfrentada, e mais tarde reconstruída e reabastecida com a ajuda de verbas americanas, fora destruída outra vez. “O grande prédio da biblioteca”, registrou Shirer em 20 de maio de 1940, “está completamente estraçalhado. As ruínas ainda fumegam.” A máquina de propaganda de Goebbels apressou-se em afirmar que a biblioteca havia sido destruída pelos britânicos, mas o comandante alemão local, dando de ombros, contou a Shirer: “Houve uma batalha nessa cidade [...] Combate pesado nas ruas. Artilharia e bombas”. Todos os livros haviam sido queimados, disse ele31. O avanço alemão continuou em meio a combate pesado. Com 22 divisões sob seu comando, o exército belga conseguiu oferecer uma resistência mais dura que os holandeses. Mas também foi sobrepujado. Em 28 de maio de 1940, o rei belga, Leopoldo III, sem consultar britânicos ou franceses, rendeu-se. Rejeitando o conselho de seu governo de seguir para o exílio em Londres, Leopoldo ficou. E foi mantido em confinamento pelos alemães pelo resto da guerra32.

A decisão do rei belga de se render foi fortemente influenciada pelos acontecimentos em curso mais ao sul. Em 10 de maio de 1940, ao mesmo tempo que tropas alemãs invadiam Bélgica e Holanda, uma grande força germânica começou a avançar em segredo por Ardenas. Os franceses sentiam-se confiantes na capacidade de fazer frente a uma invasão alemã.
O rearmamento havia prosseguido em ritmo acelerado, e no início de 1940 os franceses dispunham de cerca de 3 mil tanques modernos e eficientes para confrontar uma força blindada alemã de cerca de 2,5 mil tanques de qualidade no geral inferior, e cerca de 11 mil peças de artilharia contra 7,4 mil dos alemães. No total, 93 divisões francesas e dez britânicas encararam um total de 93 divisões alemãs. Os franceses tinham 647 caças, 242 bombardeiros e 489 aviões de reconhecimento a seu dispor na França na primavera de 1940, e os britânicos contavam com 261 caças, 135 bombardeiros e 60 aviões de reconhecimento, somando um total de quase 2 mil aeronaves; a Força Aérea alemã tinha cerca de 3.578 aviões de combate operacionais na ocasião; mesmo com as forças aéreas belgas e holandesas colocadas na balança, isso não bastava para sobrepujar os oponentes. Todavia, a despeito da recente entrega de 500 aeronaves americanas modernas, muitos dos aviões franceses eram obsoletos, e nem britânicos nem franceses tinham aprendido a usar seus aviões como apoio tático para forças em terra da forma como os alemães haviam feito na Polônia. O resultado foi que na Holanda, na Bélgica e na França, os caças de mergulho alemães conseguiram destruir as defesas antiaéreas do inimigo, danificar as comunicações inimigas e estabelecer sua superioridade no ar antes que as forças aéreas aliadas pudessem reagir. Além disso, os aliados mantinham muitas de suas aeronaves na reserva, enquanto a Força Aérea alemã lançou quase toda sua força operacional na peleja. Foi uma aposta ousada, na qual os alemães perderam nada menos que 347 aviões, incluindo a maioria dos transportadores de paraquedistas e planadores usados na Holanda e na Bélgica; mas foi uma aposta que teve um saldo espetacular33.

A inteligência francesa falhou por completo em prever como a invasão alemã aconteceria. Alguns preparativos foram notados, mas ninguém reuniu todas as informações em um quadro coerente, e os generais ainda presumiram que os planos capturados, àquela altura obsoletos, eram válidos. Recorrendo à experiência da Primeira Guerra Mundial, os militares franceses fracassaram em perceber o quão rápido e quão longe as divisões blindadas alemãs conseguiam deslocar-se. Desde o impasse na guerra de trincheiras de 1914-18, a chegada do poder aéreo e dos tanques havia transferido a vantagem das operações militares da defesa para o ataque, um fato que pouca gente do lado dos aliados acompanhou até a conclusão lógica. Situando-se muitos quilômetros atrás da linha de frente para obter uma visão geral melhor, os generais franceses sofreram com a comunicação insuficiente e foram lentos para reagir ao ritmo acelerado dos acontecimentos. Em breve, 57 divisões concentravam-se no norte para rechaçar a esperada invasão alemã que viria via Holanda e Bélgica. Mas as forças alemãs ali somavam apenas 29 divisões, e, enquanto os franceses dispuseram outras 36 divisões ao longo da Linha Maginot, os alemães confrontaram-nas com apenas 19 divisões. A força alemã mais poderosa, com 45 divisões, incluindo muitas de suas forças mais bem treinadas e bem equipadas, focou-se na arremetida através de Ardenas. Não é de surpreender que pelo menos de início a defesa francesa no norte tenha aguentado firme, rechaçando os alemães na primeira batalha de tanques da história, em Hannur. Entretanto, a questão de verdade estava sendo decidida mais ao sul, onde o general Ewald von Kleist liderava 134 mil soldados, 1.222 tanques, 545 veículos semitratores blindados e quase 40 mil caminhões de carga e carros através dos estreitos vales de bosques de Ardenas no que foi chamado de “o maior engarrafamento de trânsito conhecido até então na Europa34”.

O empreendimento foi extremamente arriscado. Não restou praticamente nenhum blindado alemão na reserva. O fracasso teria aberto a Alemanha para contra-ataques devastadores. Conforme Fedor von Bock, o hábil, ainda que conservador, general no comando do Grupo de Exércitos B ao norte, havia observado ao ficar sabendo da invasão planejada através de Ardenas, era claro que isso “deve dar errado, a menos que os franceses fiquem loucos35”. Mas a sorte dos alemães manteve-se. Lenta e penosamente, quatro colunas vagarosas, cada uma com quase 400 quilômetros de comprimento, rastejaram ao longo de estradas estreitas na direção do rio Meuse (Maas). Com frequência empacavam. Os controladores de tráfego voavam para cima e para baixo pelas colunas em aviões leves para identificar pontos onde havia ameaça de atravancamento geral. Os tanques dependiam dos postos de combustível montados pelas unidades avançadas em pontos previamente designados da rota. Todas as companhias e os motoristas deviam se movimentar por três dias e noites sem intervalo; unidades de combate de elite eram medicadas com anfetamina (apelidada de “chocolate panzer” pelos soldados) para se manter despertas. Vulneráveis e expostas, as colunas eram alvos fáceis para ataques aéreos aliados. Contudo, conseguiram safar-se porque os aliados fracassaram em reconhecê-las como a principal força alemã. Chegando ao rio Meuse em 13 de maio de 1940, as forças alemãs ficaram sob fogo na primeira tentativa francesa real de detê-las. Kleist convocou nada menos que mil aviões para bombardear as posições francesas, o que fizeram em ondas de ataques com duração de cerca de oito horas, forçando os franceses a buscar abrigo ou recuar, e abalando severamente seu moral. Centenas de botes de borracha foram lançados no rio pelos alemães, e os soldados desembarcaram do outro lado em três lugares, destruindo posições defensivas francesas e criando na margem esquerda uma cabeça de ponte grande o bastante para os engenheiros construírem uma ponte sobre a qual os tanques alemães puderam começar a atravessar36.

Esse foi o avanço crucial. É verdade que até esse ponto as forças alemãs ainda estavam vulneráveis a contra-ataque, mas os franceses de novo foram lentos demais para reagir, e mais uma vez foram surpreendidos quando, em vez de se voltarem para o leste para assaltar a Linha Maginot vindos de trás, conforme se esperava, os homens de Kleist viraram para oeste, no famoso “corte de foice” de Manstein, arquitetado para prensar as forças aliadas na Bélgica contra o Exército alemão invasor ao norte e juntamente empurrá-las para o mar. Quando chegaram ao Meuse, os tanques franceses foram claramente superados por seus congêneres alemães. Muitos ficaram sem gasolina. A maioria foi destruída. A aviação aliada estava distante, no centro e no norte da Bélgica, e quando enfim chegou encontrou alvos em solo difíceis de identificar com precisão. Também foi bem avariada pelo fogo antiaéreo alemão: os britânicos perderam 30 bombardeiros de uma força de 71. Enquanto isso, os tanques alemães imprimiram velocidade através da planície aberta. Em muitos casos, os comandantes alemães, arrebatados pelo ímpeto do ataque, avançaram mais longe e mais rapidamente do que seus superiores mais cautelosos pretendiam. Tropas francesas em marcha para o front se espantaram ao encontrar alemães tão a oeste. A liderança do Exército francês ficou desesperada. No quartel-general do Estado-Maior, os generais explodiram em lágrimas ao saber da velocidade e do sucesso do avanço alemão. Na manhã de 15 de maio de 1940, o primeiro-ministro francês, Paul Reynaud, telefonou para Churchill. “Fomos derrotados”, disse ele. Ao se comprometer excessivamente na Bélgica, os franceses haviam ficado desprovidos de reservas para lançar na batalha. Em 16 de maio de 1940, Churchill chegou a Paris para uma conferência às pressas com os líderes franceses. “Completo abatimento estampado em cada rosto”, ele
relatou mais tarde. O comandante-chefe francês, general Maurice Gamelin, relatou em desespero que não podia fazer um contra-ataque: “Inferioridade em números, inferioridade em equipamento, inferioridade de método”, disse ele, acompanhando suas palavras, conforme Churchill notou mais tarde, “com um dar de ombros desesperançado37”.

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Mapa 6. A conquista alemã da Europa ocidental, 1940

Em 19 de maio de 1940, Reynaud exonerou Gamelin, cuja reputação de cauteloso havia se comprovado tão fatalmente merecida, e o substituiu pelo general Maxime Weygand, um veterano muito admirado da Primeira Guerra Mundial que se aposentara em 1935. Era tarde demais. No dia seguinte, os primeiros tanques alemães chegaram ao canal. Os exércitos aliados na Bélgica agora estavam cercados de divisões alemãs por três lados, com o mar no quarto lado. Weygand concluiu que o avanço panzer alemão podia ser rompido por um ataque simultâneo de norte e sul, mas logo ficou claro que a situação tornara-se tão caótica que era impossível uma ofensiva coordenada. Em reunião com o rei belga, Weygand concluiu acertadamente que Leopoldo já havia desistido de lutar. As comunicações entre britânicos e franceses foram efetivamente rompidas. Todas as tentativas de se localizar o comandante-chefe britânico, lorde Gort, falharam38. O general francês no comando geral das forças do norte morreu em um acidente de carro e não foi possível achar um substituto satisfatório. O contra-ataque planejado afundou em meio a um redemoinho de recriminações. Os britânicos começaram a achar que os franceses eram incompetentes, e os franceses que os britânicos não eram confiáveis. As coisas só pioraram com a capitulação da Bélgica em 28 de maio. Dizem que, ao saber da notícia, Reynaud ficou “lívido de raiva”, enquanto o primeiro-ministro britânico na Primeira Guerra Mundial, David Lloyd George, escreveu que seria árduo “encontrar um exemplo mais negro e mais sórdido de perfídia e pusilanimidade que o perpetrado pelo rei dos belgas”. Enquanto o ataque panzer alemão de três pontas passava de roldão pelo norte e pelo oeste para encontrar as outras forças alemãs que avançavam através da Bélgica pelo leste, britânicos e franceses começaram a retroceder para o porto de Dunquerque39.

No dia da demissão de Gamelin, o governo britânico, antecipando esses acontecimentos, começou a reunir uma frota, que consistia de quase quaisquer barcos e navios que pudessem ser encontrados ao longo da costa inglesa e conseguissem chegar à região a tempo, para fazer a evacuação. Bombardeados e encurralados por caças de mergulho alemães, 860 embarcações, cerca de 700 delas britânicas, abriram caminho até as praias de Dunquerque e retiraram quase 340 mil soldados para a Inglaterra. Quase 200 mil deles eram britânicos; o restante, na maioria franceses. Muitos menos teriam escapado caso Hitler não tivesse ordenado pessoalmente a parada do avanço alemão, convencido pela bazófia de Göring de que seus aviões liquidariam as tropas aliadas e aconselhado por Rundstedt a dar uma folga às tropas cansadas antes que se voltassem para o sul, rumo a Paris. Nem Brauchitsch, o chefe do Exército, nem Fedor von Bock, comandante do Grupo de Exércitos B, na frente norte, conseguiram entender aquilo. Bock disse a Brauchitsch que o ataque devia ser retomado com urgência, “do contrário pode acontecer de os ingleses conseguirem transportar o que quer que queiram, bem debaixo de nosso nariz, a partir de Dunquerque”. Mas Hitler respaldou Rundstedt, vendo aí a chance de afirmar sua autoridade sobre os altos comandantes. Quando Brauchitsch persuadiu Hitler a retomar o ataque, a evacuação estava em andamento, e a resistência feroz das tropas de defesa foi demais para os alemães extenuados. “Em Dunquerque”, anotou Bock com irritação evidente em 30 de maio de 1940,

 

os ingleses continuam a partir, até mesmo da costa aberta! Quando enfim chegarmos lá, eles terão ido embora! A parada das unidades de tanque pela Liderança Suprema mostrou-se um erro grave! Continuamos atacando. O combate é árduo, os ingleses são rijos como couro, e minhas divisões estão exaustas40.

 

Quando a batalha aproximava-se do fim, Bock fez uma visita ao cenário. Ficou surpreso com a quantidade de bunkers de concreto e defesas de arame farpado que guardavam Dunquerque, e consternado com a qualidade do equipamento inimigo:

 

A linha inglesa de retirada apresenta um aspecto indescritível. Quantidades de veículos, peças de artilharia, carros blindados e equipamento militar além da estimativa estão amontoados e metidos uns dentro dos outros no menor espaço possível. Os ingleses tentaram queimar tudo, mas na pressa só o conseguiram aqui e ali. Eis aqui o matériel de um exército inteiro, tão incrivelmente bem equipado que nós, pobres diabos, só podemos olhar com inveja e assombro41.

 

Dois dias depois, Dunquerque enfim rendeu-se. Quarenta mil soldados que compunham a retaguarda, na maioria franceses, foram deixados para serem feitos prisioneiros. Weygand culpou os britânicos por deixar seus homens para trás, embora a evacuação de fato tenha continuado por dois dias depois de os últimos soldados britânicos terem deixado a praia. Em todo caso, a escolha dos franceses para compor a retaguarda era natural, dada a sua chegada relativamente tardia ao cenário. Não obstante, Weygand esbravejou amargamente diante da recusa de Churchill de mandar mais aeronaves ou soldados em defesa da França. Os britânicos, por sua vez, agora decididos a não comprometer a defesa das Ilhas Britânicas sacrificando mais de suas Forças Armadas ou aviões, desdenhavam dos generais e dos líderes políticos franceses, que consideravam emotivos demais, fracos e derrotistas. Generais britânicos não explodiam em lágrimas, por mais medonha que fosse a situação em que se achassem. As relações estavam se aproximando do fundo do poço. E não iriam se recuperar por algum tempo42.

Depois de se reagrupar, reparar e recuperar, os alemães começaram a avançar para o sul com 50 divisões de infantaria e dez divisões panzer reconhecidamente um tanto depauperadas. Havia no caminho 40 divisões de infantaria e o que restava de três divisões blindadas francesas. Em 6 de junho de 1940, as forças alemãs cruzaram o Somme. Três dias depois, estavam em Rouen. O governo francês se transferira para uma série de castelos salpicados pela zona rural ao sul de Paris, onde as comunicações eram difíceis, os telefones em funcionamento, raros e viajar tornara-se quase impossível pelas infindáveis colunas de refugiados que agora atravancavam as vias expressas. Em 12 de junho de 1940, na primeira reunião desde que haviam deixado Paris, os chocados ministros foram informados por Weygand que mais resistência era inútil e estava na hora de pedir um armistício. Na visão de Weygand, os britânicos não seriam capazes de resistir a uma invasão alemã do Reino Unido, de modo que não fazia sentido transferir o governo francês para Londres. Além disso, a exemplo de um número crescente de outros generais, Weygand estava começando a achar que a culpa pela derrocada era dos políticos civis. Desse modo, era dever do Exército fazer uma paz honrosa com o inimigo. Só assim seria possível evitar a eclosão da anarquia e da revolução na França, como havia acontecido antes da derrota anterior para os alemães em 1870, e abrir a brecha para a regeneração moral do país. O herói da Batalha de Verdun na Primeira Guerra Mundial, o idoso marechal Philippe Pétain, fora trazido por Reynaud como uma figura militar de destaque, e ele agora apoiava essa ideia. “Não vou abandonar o solo francês”, declarou Pétain, “e aceitarei o sofrimento que será imposto à pátria e a seus filhos. O renascimento francês será fruto desse sofrimento [...] A meu ver, o armistício é a condição necessária para a durabilidade da França eterna43.”

Em 16 de junho de 1940, após o governo ter se reunido novamente em Bordeaux, Reynaud, isolado na oposição ao armistício, renunciou como primeiro-ministro. Foi substituído pelo próprio Pétain. Em 17 de junho de 1940, o novo líder francês anunciou na rádio estatal que era hora de parar o combate e promover a paz. Cerca de 120 mil soldados franceses tinham sido mortos ou dados como desaparecidos no conflito (ao lado de 10,5 mil holandeses e belgas e 5 mil britânicos), mostrando que muitos haviam lutado e desmentindo afirmações de que o orgulho nacional francês fora destruído pelos políticos da década de 1930. Mas, depois do anúncio de Pétain, muitos desistiram. Metade do 1,5 milhão de soldados franceses feitos prisioneiros pelos alemães renderam-se depois disso. Soldados que queriam continuar lutando com frequência eram fisicamente atacados por civis. Conservadores como Pétain, que abominavam as instituições democráticas da Terceira República, não viam por que afinal deveriam lutar até a morte para defendê-las. Muitos deles admiravam Hitler e queriam agarrar a oportunidade da derrota para recriar a França à imagem da Alemanha. Em breve teriam a oportunidade de fazê-lo44.

 

 

V

 

Enquanto isso, a França descambava para o caos quase total. Um vasto êxodo de refugiados atravessava o país de roldão rumo ao sul. Uma escritora russa emigrada, Irène Némirovski, que fugira da Revolução Bolchevique, indo para a França aos 14 anos de idade com o pai, um empresário judeu, descreveu vividamente “a multidão caótica arrastando-se pela poeira”, os mais afortunados empurrando “carrinhos de mão, um carrinho de bebê, uma carroça montada com quatro pranchas de madeira fixadas em cima de rodas feitas de modo tosco, curvando-se sob o peso de sacolas, roupas esfarrapadas, crianças adormecidas45”. Carros tentavam andar pelas estradas atravancadas, “explodindo de tanta bagagem e mobília, carrinhos de bebê e gaiolas, caixotes de embalagem e cestas de roupas, todos com um colchão bem preso na capota”, parecendo “montanhas de frágeis andaimes”. “Um rio infindável e lento fluía de Paris: carros, caminhões, carroças, bicicletas, junto com carruagens puxadas por cavalos de fazendeiros que haviam abandonado suas terras46.” A velocidade e a escala da invasão alemã implicou que não houvesse planos oficiais de evacuação. A lembrança das atrocidades alemãs em 1914 e os rumores sobre o efeito aterrorizante dos bombardeios criaram uma histeria de massa. Cidades inteiras foram abandonadas; acredita-se que a população de Lille tenha caido de 200 mil para 20 mil em poucos dias; a de Chartres, de 23 mil para 800. Saqueadores invadiam lojas e outros estabelecimentos e pegavam o que queriam. No sul, locais seguros incharam explosivamente de refugiados. Bordeaux, lar habitual de 300 mil habitantes, dobrou de população em poucas semanas, enquanto 150 mil pessoas apinharam-se em Pau, que normalmente abrigava apenas 30 mil. No total, acredita-se que entre 6 e 8 milhões de pessoas fugiram de sua casa durante a invasão. As estruturas sociais vergaram e desmoronaram sob o peso dos números. Apenas gradualmente as pessoas começaram a voltar para casa. A desmoralização teve um efeito devastador sobre o sistema político francês, que, conforme vimos, desmanchou-se sob a tensão47.

Portanto, quando os alemães entraram em Paris em 14 de junho de 1940, encontraram grandes partes da cidade desertas. Em vez da costumeira cacofonia das buzinas de carro, tudo que se conseguia ouvir era o mugido de um rebanho abandonado no centro da cidade por refugiados de passagem rumo à zona rural mais ao norte. Por toda parte da França aonde foram, as tropas alemãs saquearam as cidades e as aldeias abandonadas. “Está tudo em oferta aqui, como em uma grande loja de departamentos, mas sem custar nada”, relatou, de Elbeuf, Hans Meier-Welcker em 12 de junho de 1940:

 

Os soldados vasculham tudo e pegam qualquer coisa que lhes agrade, se têm condições de levá-la. Retiram sacas inteiras de café dos caminhões de carga. Camisas, meias, cobertores, botas e inúmeras outras coisas estão por aí para se escolher. Coisas que de outro modo necessitariam de poupança cuidadosa aqui podem ser apanhadas na rua e no chão. Os soldados também estão se apoderando de transporte para eles. Por toda parte dá para ouvir o ronco de motores recém-ligados por motoristas que ainda precisam familiarizar-se com eles48.

 

A humilhação francesa parecia completa. Contudo, o pior estava por vir. Sob ordens pessoais de Hitler, o vagão particular do marechal Foch, comandante francês na Primeira Guerra Mundial, no qual fora assinado o armistício de 11 de novembro de 1918, foi apanhado em um museu e, depois que as paredes do museu foram derrubadas por uma equipe alemã de demolição, o vagão foi retirado e rebocado para o local que havia ocupado na floresta de Compiègne durante a assinatura do armistício. Enquanto os alemães chegavam, William L. Shirer observou o rosto de Hitler “transbordante de vingança” misturada com o triunfo visível em seu “passo ágil”. Tomando o mesmo assento ocupado por Foch em 1918, Hitler posou para fotógrafos, depois foi embora desdenhosamente, deixando o restante da delegação, incluindo Hess, Göring, Ribbentrop e os líderes militares, para ler os termos e receber as assinaturas dos desalentados franceses49. De acordo com esse tratado, todos os combates cessaram na manhã de 24 de junho de 1940. A França foi dividida em duas, uma zona ocupada a norte e outra a oeste, com um Estado nominalmente autônomo a sul e a leste, governado da cidade balneária de Vichy pelo governo existente do marechal Pétain, cujas leis e decretos eram válidos em todo o país50.

As forças alemãs haviam realizado a maior operação de envolvimento militar da história. Nenhuma vitória subsequente seria tão grande ou tão barata em vidas alemãs, das quais menos de 50 mil foram perdidas (mortos ou desaparecidos). Foram feitos mais prisioneiros – quase 1,5 milhão – que em qualquer outra ação militar única da guerra. O sucesso persuadiu Hitler e os generais líderes de que tática semelhante renderia dividendos em ações futuras, notadamente no ano seguinte, na invasão da União Soviética51. A inimiga hereditária da Alemanha fora humilhada. O Tratado de Versalhes fora vingado. Hitler ficou fora de si de exultação. Antes do raiar da manhã de 28 de junho de 1940, ele voou em segredo para Paris com seu arquiteto Albert Speer e o escultor Arno Breker para uma viagem turística inteiramente pessoal. Visitaram a Ópera, especialmente iluminada para o ocasião, a Torre Eiffel, que serviu de fundo para uma foto informal dos três homens tirada ao alvorecer, os Inválidos e o bairro artístico de Montmartre. “Ver Paris era o sonho de minha vida”, Hitler contou a Speer. “Não posso dizer o quanto estou feliz por ter esse sonho realizado hoje.” Satisfeito com a visita, ele revelou ao arquiteto que várias vezes havia pensado em reduzir a cidade a cinzas. Entretanto, disse ele mais tarde, depois que os grandiosos planos dos dois homens para a capital alemã tivessem transformado Berlim na nova cidade mundial da Germânia, “Paris será apenas uma sombra. Assim, por que haveríamos de destruí-la?52”.

Hitler jamais voltou à capital francesa. O desfile da vitória ocorreria em casa. Em 6 de julho de 1940, imensas multidões rejubilantes alinharam-se nas ruas de Berlim, sobre as quais as pessoas haviam lançado milhares de buquês de flores ao longo da rota a ser percorrida pelo Líder desde a estação até a Chancelaria. Ao chegar lá, ele foi chamado repetidas vezes ao balcão para receber os aplausos das milhares de pessoas reunidas abaixo. Conforme William L. Shirer notou, houve pouco entusiasmo quando a invasão da França foi anunciada. Nada de multidões reunidas diante da Chancelaria, como em geral acontecia quando ocorriam grandes eventos. “A maioria dos alemães que vi”, registrou ele em 11 de maio de 1940, “está mergulhada em profunda depressão por causa da notícia53.” Como em crises externas anteriores, houve ansiedade generalizada quanto ao resultado, corroborada pelo temor geral da possibilidade de bombardeios aliados sobre as cidades alemãs. Mas, também como nas ocasiões anteriores, o alívio pela facilidade com que Hitler havia alcançado seu objetivo fluiu com sentimentos de orgulho nacional em uma onda de euforia. Dessa vez bem maior que qualquer outra. Lore Walb, estudante de história de classe média, nascida em 1919 na Renânia e naquela época aluna na Universidade de Munique, teve uma reação típica. “Não é tremendamente maravilhoso?”, perguntou retoricamente ao registrar as vitórias em seu diário em 21 de maio de 1940. Ela atribuiu tudo a Hitler, como muita gente fez: “Só agora podemos realmente avaliar a grandeza de nosso Líder. Ele provou seu talento como estadista, mas seu talento como comandante militar não é menor [...] Com esse líder, a guerra não pode terminar para nós a não ser com vitória! Todo mundo está firmemente convencido disso54”.

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Mapa 7. A divisão da França, 1940

“A admiração pelos feitos dos soldados alemães não tem limites”, relatou o Serviço de Segurança da SS em 23 de maio de 1940, “e agora é sentida até mesmo por pessoas que mantinham certa distância e ceticismo no começo da campanha55.” A capitulação da Bélgica, prosseguiram os relatórios, “instigou o maior entusiasmo por toda parte”, e a entrada das tropas alemãs em Paris “causou entusiasmo em todas as partes do Reich em um grau até então nunca visto. Houve demonstrações ruidosas de alegria e cenas emocionadas de entusiasmo em muitas praças de cidades e muitas ruas56”. “O recente entusiasmo”, registraram em 20 de junho de 1940, “propicia a cada vez a impressão de que não é possível entusiasmo maior, todavia, a cada novo acontecimento, a população concede à sua alegria uma expressão ainda mais intensa.” O anúncio de Pétain de que a França estava jogando a toalha foi saudado por manifestações espontâneas nas praças de numerosas cidades alemãs. Veteranos da Primeira Guerra Mundial ficaram estupefatos com a velocidade da vitória. Mesmo aqueles contrários ao regime confessaram um sentimento de orgulho e relataram que a atmosfera geral de júbilo tornou impossível a continuação de suas atividades clandestinas de resistência57. O oficial católico Wilm Hosenfeld, tão crítico a respeito da política alemã na Polônia que escrevera para a esposa: “Às vezes tenho vergonha de ser um soldado alemão58”, ficou extasiado com a notícia: “Garoto, ó garoto”, escreveu ele para o filho em 11 de junho de 1940, “quem não ficaria feliz em fazer parte disso!59”. Em Hamburgo, a professora conservadora Luise Solmitz compartilhou da euforia geral: “Um grande, grande dia para o povo alemão”, escreveu em seu diário em 17 de junho de 1940 ao ouvir o anúncio de que Pétain estava pedindo paz. “Estamos todos radiantes de felicidade e entusiasmo.” A vitória foi “uma virada inacreditavelmente grande da sorte nacional, a realização de sonhos nacionalistas há muito acalentados”. Em comparação a isso, as inquietações diárias dos tempos de guerra, que haviam dominado seu diário até então, desvaneceram-se no plano de fundo. Apenas quando recordava as perseguições a que ela e seu marido judeu Friedrich eram submetidos, apesar de viverem no que era classificado de “casamento misto privilegiado”, ela parava para pensar: “Os sucessos são tão tremendos que a sombra lançada por essa luz está se tornando cada vez mais escura e mais ameaçadora60”.

 

 

VI

 

A conquista da França marcou o ponto mais alto da popularidade de Hitler na Alemanha entre 1933 e 1945. As pessoas agora esperavam confiantes que a Grã-Bretanha pedisse paz e a guerra estivesse acabada no fim do verão. Todavia, o problema sobre o que fazer a seguir não era simples. Além disso, a atitude de Hitler em relação aos britânicos era fundamentalmente ambivalente. Por um lado, ele admirava o império britânico, que nas décadas de 1930 e 1940 era o maior do mundo, ainda cobrindo uma enorme área do globo, e considerava os ingleses primos “anglo-saxões” dos alemães, que no fim seriam impelidos pela lógica do destino racial a fazer uma causa comum com eles. Por outro lado, Hitler percebeu que na política britânica havia forças poderosas que consideravam a Alemanha sob sua liderança uma grave ameaça ao império, que devia ser detida a qualquer custo. No setembro anterior, essas forças haviam incitado o primeiro-ministro Neville Chamberlain a declarar guerra à Alemanha logo após a invasão da Polônia. Hitler estava ciente de que várias figuras de liderança no Partido Conservador, notadamente o secretário de Relações Exteriores, lorde Halifax, ainda ansiavam por uma solução pacífica para o conflito, e esperava que ele, de algum modo, as persuadisse a começar a negociação de um tratado de paz. Na maior parte dos primeiros meses da guerra, a política de Hitler em relação à Grã-Bretanha vacilou entre agressão e conciliação. Mesmo depois de a nomeação de Churchill como primeiro-ministro tornar uma paz em separado muito menos provável, Hitler continuou a ter esperanças, ao mesmo tempo que preparava planos de invasão em caso de não ser bem-sucedido61.

Ribbentrop, o ministro de Relações Exteriores, era totalmente a favor da invasão. Após a Grã-Bretanha ser invadida e conquistada, ele imaginava a restauração do ex-rei Eduardo VIII, que fora forçado a abdicar em 1936 em favor do irmão mais moço depois de declarar a intenção de se casar com uma divorciada americana e tinha ido para o exílio com o título de duque de Windsor. O duque havia visitado a Alemanha não muito depois de renunciar ao trono e diz-se que cumprimentou os oficiais com uma versão modificada da saudação nazista. Em mais de uma ocasião, ele deixou claro que apreciava o que os nazistas estavam tentando fazer na Alemanha. Em 1940, dizia a qualquer um que quisesse ouvir que a Grã-Bretanha havia praticamente perdido a guerra e que estava na hora de fazer a paz com os nazistas. No começo do verão de 1940, o duque e sua esposa residiam em Portugal, e Ribbentrop encarregou Walter Schellenberg, o oficial de inteligência da SS que já se sobressaíra no caso Venlo, de sequestrá-los e levá-los para a Alemanha via Espanha. Em busca de suas próprias metas, Ribbentrop também achou que o sequestro do duque de Windsor dificultaria uma paz com a Grã-Bretanha. A trama nazista dependia de se persuadir o casal de que eles corriam o risco de ser sequestrados e quem sabe assassinados por agentes secretos britânicos para impedir que caíssem em mãos alemãs. Fascistas espanhóis foram recrutados pelas costas do governo neutro de Franco – que teria ficado consternado com o dano causado nas relações com a Grã-Bretanha – para raptar os Windsor quando eles cruzassem a fronteira. No entanto, o complô inevitavelmente acabou enredado nas teias da política de poder interno nazista, e nem Schellenberg nem ninguém mais tentou com afinco fazer que desse certo, pois produziria um importante triunfo para o odiado Ribbentrop. Os Windsor, por fim, afundaram o complô ao aceder à sugestão de Churchill de que o duque deveria ir para as Bahamas como governador-geral das ilhas. Isso colocaria ele e sua esposa a milhares de quilômetros de intrigas daquele tipo. O superior de Schellenberg, Reinhard Heydrich, congratulou o jovem oficial da inteligência por manejar a incumbência de Ribbentrop com a exata mistura de entusiasmo aparente e incompetência prática62.

Nesse meio-tempo, Hitler estivera consultando seus chefes do Exército e da Marinha sobre as questões práticas da invasão. A frota alemã sofrera pesadas perdas na campanha norueguesa. Três cruzadores e dez contratorpedeiros haviam sido afundados, e dois cruzadores pesados e um encouraçado sofreram severos danos e estavam fora de combate. No verão de 1940, o almirante Raeder dispunha apenas de um cruzador pesado, dois cruzadores leves e quatro contratorpedeiros sob seu comando. Era uma força lamentavelmente inadequada para tentar conquistar o controle de um canal inglês protegido por cinco encouraçados da Marinha Real, 11 cruzadores e 30 contratorpedeiros, respaldados por outra importante força naval que podia navegar de Gibraltar a qualquer momento63. Além disso, os alemães haviam fracassado em adicionar a frota francesa à sua força naval depois da capitulação da França. Em 3 de julho de 1940, em uma manobra audaciosa que ultrajou ainda mais a opinião francesa, navios britânicos atacaram a base naval francesa em Mers-el-Kébir, perto de Oran, na Argélia, de controle francês, danificando vários navios de batalha e matando 1.250 marinheiros franceses a fim de impedir que a Marinha francesa caísse em mãos alemãs. Em consequência, Raeder ficou com uma quantidade por demais escassa de navios de guerra à sua disposição. Desse modo, seria necessário no mínimo obter completa superioridade aérea sobre o canal inglês, destruindo a Real Força Aérea. Só assim o obstáculo potencial colocado pela predominância naval britânica poderia ser mais ou menos neutralizado64.

Depois de muita deliberação, Hitler assinou uma diretiva em 16 de julho para uma invasão, mas apenas “em caso de necessidade”, e três dias depois, em uma ocasião cuidadosamente encenada no Reichstag, renovou a oferta anterior de paz aos britânicos. Entretanto, os termos em que a oferta foi formulada eram tão vagos que foi rejeitada pelo governo de Churchill uma hora depois. Ouvindo a notícia da rejeição britânica da oferta com um grupo de oficiais militares e civis, William L. Shirer ficou impressionado com a consternação que o anúncio provocou. Ele anotou que os oficiais “não podiam acreditar no que ouviam. Um deles gritou para mim: ‘Dá para entender? Dá para entender esses tolos britânicos? Recusar a paz agora?’”. “Os alemães com quem conversei”, comentou Shirer no dia seguinte, “simplesmente não conseguem entender. Eles queriam paz. Não queriam outro inverno como o último. Eles não têm nada contra os britânicos [...] Pensam que também podem derrotar a Grã-Bretanha caso se chegue ao confronto. Mas preferiam a paz65.” Entre alguns alemães, a recusa britânica de buscar a paz desencadeou amargos sentimentos de ódio e vingança, nascidos da decepção com o fato de que a guerra, no fim das contas, não iria acabar. “Nunca tive sentimentos terríveis de ódio”, escreveu a estudante Lore Walb em seu diário em 17 de junho de 1940, “mas uma coisa eu quero: dessa vez o Líder não deve ser tão humano, e deve dar uma lição de verdade nos ingleses – pois apenas eles são responsáveis por todo o infortúnio e desgraça em que tantos povos mergulharam66.”

Hitler ainda esperava que Churchill fosse derrubado pelos defensores em seu próprio governo de uma paz em separado. Na realidade, porém, não havia chance de isso acontecer. Não só Churchill, mas também seu gabinete, sabia que uma paz com a Alemanha agora dominante na Europa ocidental abriria caminho para um aumento da interferência alemã nos assuntos domésticos da Grã-Bretanha, demandas crescentes para uma política mais dura em relação aos judeus, respaldo alemão ao potencial equivalente britânico de Quisling, o político fascista Sir Oswald Mosley, e, a longo prazo, o solapamento e a destruição da independência britânica, especialmente se nesse ínterim a Alemanha conquistasse a União Soviética. As ofertas de paz de Hitler haviam provado repetidamente não trazer “paz para o nosso tempo”, mas apenas demandas adicionais, conforme mostrara a experiência da Tchecoslováquia, e em julho de 1940 poucos políticos britânicos tinham quaisquer ilusões a respeito desse fato67.

Portanto, com uma relutância que ficou óbvia para sua entourage, Hitler começou os preparativos para a invasão da Grã-Bretanha. O planejamento para a Operação Leão-Marinho tivera início no inverno anterior. Uma frota de 2 mil barcaças pluviais de fundo achatado foi reunida nos portos do canal da Mancha e do mar do Norte (a maioria delas totalmente imprópria para atravessar o mar, exceto em condições de calmaria absoluta), foram realizadas manobras de desembarque e colocados sinais ao longo da costa do canal mostrando aos soldados o caminho para os pontos de embarque68. Walter Schellenberg havia preparado um manual para soldados e oficiais alemães, uma espécie de guia com informações sobre as instituições britânicas que iriam encontrar69. Figuras seniores das Forças Armadas estavam céticas. A Marinha, avisou Raeder, não estaria pronta pelo menos até meados de setembro, mas o melhor curso de ação seria esperar até maio seguinte. O chefe do Estado-Maior Geral, Franz Halder, debateu interminavelmente com os planejadores navais sobre o melhor local para o desembarque. Enquanto o Exército queria desembarcar em uma frente ampla, de modo a maximizar a vantagem militar, a Marinha queria desembarcar em uma frente estreita, de modo a minimizar o perigo de ataque da Marinha Real. Mas, de qualquer forma, a fim de abrir caminho para a invasão, as defesas aéreas britânicas deveriam ser destruídas. Em 1º de agosto, portanto, Hitler assinou a ordem para o lançamento de ataques aéreos contra a Grã-Bretanha. Os acontecimentos na Noruega e na França haviam dado a Hitler a confiança de que uma invasão mista por ar e mar em princípio era viável, desde que seus aviões tivessem domínio incontestável dos céus. O controle naval britânico do canal da Mancha e do mar do Norte poderia oferecer um obstáculo de um tipo não encontrado em uma invasão por terra, mas, sem aeronaves para protegê-los, os navios da Marinha Real com certeza seriam presa fácil para os caças de mergulho alemães70.

Os aviões alemães já haviam bombardeado alvos britânicos em pequena escala de 5-6 de junho em diante; os ataques ficaram mais pesados a partir de 10 de julho, e intensos depois de 18 de agosto de 1940. Embora houvesse ataques aéreos esparsos sobre um grande número de cidades e vilas, a carga principal do ataque da metade de agosto em diante foi contra os campos de aviação do Comando de Caça da Real Força Aérea. Ao contrário do mito britânico sobre “os poucos”, as duas forças estavam equilibradas: em meados de agosto de 1940, havia 1.379 pilotos de caça britânicos em estado de prontidão operacional contra cerca de 870 pilotos alemães, embora os pilotos britânicos estivessem estacionados por todo o país, ao passo que os alemães concentravam-se ao longo da costa do canal. Os bombardeiros alemães dependiam dos caças para a proteção e estavam mal equipados para se esquivar e abater os caças britânicos enviados para interceptá-los. Os britânicos empregaram dois dos mais velozes e mais avançados caças do mundo, o Hurricane e o Spitfire, que haviam sido e estavam sendo produzidos em massa e em velocidade vertiginosa para fortalecer as defesas britânicas. Eles foram para o ar bem antes de a força alemã de ataque chegar, graças à invenção e à utilização do radar, inicialmente desenvolvido em 1935, à interceptação de mensagens de rádio alemãs pelos britânicos e aos milhares de observadores estacionados ao longo da costa do canal. Por conseguinte, os aviões alemães jamais chegaram a tempo de pegar os caças britânicos em terra71.

Enquanto os céus sobre o sudeste da Inglaterra começavam a ser entrecortados pelos rastros brilhantes de vapor branco dos combates aéreos, aos poucos foi ficando claro que os alemães não atingiriam sua meta. Embora o principal avião de combate alemão, o Messerschmitt Me109, talvez fosse melhor que seus equivalentes britânicos em alturas acima de 6 mil metros, perdia sua vantagem porque tinha de proteger os bombardeiros permanecendo em altitudes menores, onde o Spitfire e o Hurricane eram mais manobráveis e podiam dar a volta e se inclinar de lado mais rapidamente. O Messerschmitt Me110, um caça pesado planejado para acompanhar os esquadrões de bombardeiros, era ainda menos capaz de escapar dos ataques dos velozes caças britânicos. A Força Aérea alemã em geral também foi construída para dar apoio de perto às forças em terra e achou difícil adaptar-se para proteger esquadrões de bombardeiros no ar. Bases aéreas tinham sido improvisadas às pressas nas áreas recém-conquistadas do norte da França; era difícil organizar os suprimentos e os consertos com frequência demoravam demais. Não havia diferença em habilidade ou padrões entre os pilotos de caça das duas forças, mas ambas estavam com relativa escassez de oferta. Entretanto, enquanto muitos pilotos britânicos cujos aviões eram abatidos conseguiam saltar a salvo de paraquedas em solo britânico e voltar à peleja mais adiante, a mesma situação, obviamente, não era verdade para seus pares alemães. O resultado da batalha pode ser lido pelo número de baixas: quase 900 aviões alemães, inclusive pelo menos 443 caças, abatidos entre 8 e 31 de agosto de 1940, contra 444 aviões britânicos no período ligeiramente maior de 6 de agosto a 2 de setembro. Os britânicos não tiveram dificuldade para se ressarcir das perdas, com 738 Hurricanes e Spitfires operacionais em 6 de setembro de 1940, contra 672 em 23 de agosto. No início de setembro, os britânicos tinham mais que o dobro de pilotos prontos para voar que os alemães72. Crucialmente também, a produção alemã de aeronaves, a essa altura, estava ficando muito para trás da britânica. Logo depois da anexação alemã da Áustria, em abril de 1938, o governo britânico havia levado a cabo uma tremenda aceleração com o objetivo de construir 12 mil novas aeronaves de combate nos dois anos seguintes. Na segunda metade de 1940, os britânicos estavam produzindo duas vezes mais aviões de caça que os alemães73.

Contudo, os comandantes alemães da Força Aérea, em particular os dois envolvidos mais de perto, o marechal de campo Albert Kesselring e o ex-chefe da Legião Condor na Espanha, marechal de campo Hugo Sperrle, receberam informações secretas muito diferentes sobre o resultado da batalha. De acordo com as informações passadas a eles, 50% de todos os caças britânicos haviam sido perdidos, contra apenas 12% dos alemães, isto é, 791 aviões contra 169. Muitos pilotos alemães acreditaram que tinham vencido. Já em 17 de agosto de 1940, William L. Shirer, ao encontrar um piloto de caça Messerschmitt em um café belga – que, avaliou ele, não se tratava de um
sujeito inerentemente fanfarrão –, ficou impressionado quando o rapaz disse calmamente: “É questão de mais umas duas semanas, sabe, até liquidarmos com a RAF. Em 15 dias, os britânicos não terão mais aviões74”. Ulrich Steinhilfer, um jovem piloto de Me109, escreveu para a mãe com entusiasmo desenfreado a respeito de suas missões. Em 19 de agosto de 1940, ao atacar um campo de aviação em Manston, ele contou: “Mirei um tanque de combustível que estava abastecendo um Spitfire, depois outros dois Spitfires, um atrás do outro. O tanque explodiu e tudo começou a queimar ao redor. Meus outros dois Spitfires começaram a queimar sozinhos. Só agora percebo quanto poder é dado a um piloto com essas quatro armas75”. No último dia de agosto, seu otimismo seguia irredutível. “Uma das missões de hoje”, escreveu ele para a mãe, “foi um ataque ao solo em Detling, com duas sessões de intenso combate aéreo. Nosso esquadrão pegou três sem perdas, e o escore do grupo foi dez. É assim que a coisa vai prosseguir com nossa experiência e habilidade em combate aumentando. Tally-Ho!76

Tal otimismo foi aceito sem questionamento em Berlim. Portanto, no início de setembro, pensou-se que chegara a hora de lançar a fase seguinte do ataque, isto é, a destruição da indústria, do transporte e do moral britânicos pelo bombardeio em massa das principais cidades britânicas. Bombardeios de surpresa desse tipo já haviam começado, embora não de forma coordenada, e um ataque ao East End de Londres em 24 de agosto de 1940 havia incitado a Real Força Aérea a lançar um contra-ataque sobre Berlim na noite seguinte. Embora não muito eficiente em poder destrutivo, o ataque causou assombro na capital alemã e ultrajou Hitler, que declarou em um encontro público realizado no Palácio de Esportes de Berlim em 4 de setembro de 1940 que, se a Real Força Aérea lançasse alguns milhares de quilos de bombas sobre as cidades alemãs, “então lançaremos [...] um milhão de quilos em uma só noite. E, caso declarem que irão aumentar imensamente seus ataques sobre nossas cidades, então iremos extinguir as cidades deles!77”. Contudo, nem as incursões britânicas nem as alemãs nesse estágio da guerra eram o que Hitler chamou de “ataques de terror” em 1º de agosto. Ele referiu-se a essa tática apenas para insistir que não deveria ser empregada exceto sob suas ordens explícitas, que de fato ele não emitiu até 4 de abril de 1942, após o primeiro ataque aéreo britânico importante sobre um alvo não militar, a cidade de Lübeck, no norte alemão78.

Dissessem o que dissessem os propagandistas, as tripulações aéreas de ambos os lados tinham ordens de só soltar bombas quando pudessem ver um alvo apropriado de importância econômica ou militar – por exemplo, as docas de Londres. Na prática, é claro que tais instruções não eram muito realistas, dada a impossibilidade de exatidão com o equipamento de bombardeio da época. Além disso, o bombardeio de Londres havia começado quase 15 dias antes do discurso de Hitler em 4 de setembro. O diferente agora eram a frequência e a intensidade das incursões. Em 7 de setembro, 350 bombardeiros atacaram as docas de Londres à luz do dia, causando estragos maciços. Tanto os bombardeiros quanto os esquadrões acompanhantes de caças tinham de voar em altitude elevada para evitar o fogo antiaéreo, de modo que os britânicos recuaram seus esquadrões de caças dos campos de aviação costeiros para o oeste de modo a ganhar tempo para entrar em formação e mantiveram uma escala permanente de patrulhas aéreas em antecipação às incursões alemãs. Enquanto subiam, os pilotos britânicos forneciam estimativas falsas de sua altitude pelo rádio para induzir os pilotos de caça alemães a permanecerem relativamente baixo. Tudo isso reduziu as perdas britânicas, ao passo que os alemães logo foram forçados a executar ataques basicamente à noite para tentar minimizar as suas. Entre 7 de setembro e 5 de outubro de 1940, a Força Aérea alemã executou 35 raides de larga escala, 18 deles sobre Londres. Apenas na semana de 7 a 15 de setembro, 298 aeronaves alemãs foram abatidas, contra 120 britânicas. Em 15 de setembro, mais de 200 bombardeiros atacaram Londres, acompanhados por uma substancial escolta de caças; 158 bombardeiros chegaram ao alvo, alguns foram abatidos antes de alcançar a cidade, outros foram forçados a voltar por algum motivo. Trezentos Hurricanes e Spitfires travaram combate com eles sobre a cidade, derrubando 34 bombardeiros e 26 caças e danificando muitos mais79.

O Junkers 88, esteio da força de bombardeio alemã, era lento, pequeno demais para carregar uma carga de explosivos realmente efetiva e carecia de capacidade defensiva e de manobra para rechaçar os caças britânicos. Outros bombardeiros, como o Heinkel 111 e o Dornier 17, não apenas eram relativamente pequenos, como também antiquados sob muitos aspectos; na verdade, estavam sendo substituídos pelo Junkers 88 ao longo do tempo, a despeito dos defeitos deste. A força de bombardeio alemã era simplesmente inadequada para cumprir sua tarefa. Um quarto dos 200 bombardeiros originais não voltou do raide de 15 de setembro. Perdas em uma escala dessas eram insustentáveis80. Caças e especialmente pilotos estavam cada vez mais escassos. Escoltando um “grande raide” sobre Londres em 17 de setembro, Ulrich Steinhilfer, em um novo e melhorado Me109, deparou com “uma oposição de caças espantosamente forte81”. Em 29 de setembro de 1940, “quando chegamos a Londres e o combate começou, de repente verifiquei que havia apenas cinco aeronaves de nosso esquadrão comigo e uns 30 a 50 Spitfires contra nós”. Ele só escapou porque os caças britânicos foram embora para atacar um alvo mais importante. Em outubro, ele dizia ao pai que em seu grupo “só restavam 12 da antiga tripulação”; não podiam levar os inexperientes recém-chegados para a batalha por medo de perdê-los, e havia um novo tipo de Spitfire tão veloz que “nosso Me mal consegue acompanhá-lo [...] não se fala mais de superioridade absoluta82”. “A liderança de nossa Força Aérea”, anotou o chefe do Estado-Maior Geral do Exército, general Franz Halder, após um relatório da situação em 7 de outubro de 1940, “subestimou os caças britânicos em cerca de 100% [...] Precisamos de quatro vezes mais para derrotar os ingleses83.” Àquela altura, Steinhilfer havia sido derrubado, ejetando-se em 27 de outubro de 1940 para passar o resto da guerra em cativeiro, com a batalha de caças efetivamente perdida.

Em 14 de setembro de 1940, véspera da data original para o lançamento da Operação Leão-Marinho, de invasão da Grã-Bretanha, Hitler convocou uma reunião dos líderes das Forças Armadas para admitir que, “no geral, a despeito de todos os nossos sucessos, as pré-condições necessárias para a Leão-Marinho ainda não existem [...] Um desembarque bem-sucedido significa vitória; mas requer domínio total do ar”, e isso não havia sido obtido. A Operação Leão-Marinho foi adiada por prazo indefinido84. Hitler foi persuadido por Raeder a prosseguir com os raides noturnos, em especial sobre Londres, para destruir a infraestrutura militar e econômica da cidade. Os raides também eram cada vez mais justificados por seu impacto sobre o moral civil. A decisão foi saudada por muitos na Alemanha. “A guerra de aniquilação contra a Inglaterra agora começou realmente”, escreveu Lore Walb com satisfação em seu diário em 10 de setembro de 1940: “Rezo a Deus para que eles fiquem de joelhos em breve!85”.85 Em Londres, essa “guerra de aniquilação” era conhecida como “a Blitz”. No total, uns 40 mil civis britânicos foram mortos durante a Batalha da Grã-Bretanha e a Blitz. Mas o moral não se abateu. Uma nova manobra alemã de enviar caças e caças-bombardeiros voando a elevadas altitudes – 235 desses raides foram levados a cabo apenas em outubro de 1940 – foi planejada para exaurir tanto o moral civil quanto o contingente de caças britânicos. Em outubro de 1940, cerca de 146 Spitfires e Hurricanes foram extraviados. Mas a Real Força Aérea adaptou sua tática montando patrulhas em voos elevados, e no mesmo mês os alemães perderam outras 365 aeronaves, na maioria bombardeiros. Em novembro, um raide com uma frota de quase 450 bombardeiros sobre a cidade de Coventry, no interior, destruiu todo o centro da cidade, inclusive a catedral medieval, matando 380 civis e ferindo 865; o serviço secreto britânico fracassou em antecipar o raide, e a cidade foi efetivamente deixada sem proteção86.

Mas esse foi um erro raro. Na maior parte das vezes, os bombardeiros alemães encontraram resistência pesada e bem preparada. Concluindo que tais ataques rendiam pouco, Raeder persuadiu Hitler a voltar a campanha de bombardeio para os portos da Grã-Bretanha a partir de 19 de fevereiro de 1941, mas, enquanto muitos raides eram montados, as defesas noturnas da Grã-Bretanha rapidamente tornaram-se eficientes ali também, à medida que radares e armas controladas por radar entraram em operação. Em maio de 1941, os raides estavam sendo reduzidos. O moral civil britânico, ainda que estremecido durante a fase inicial da campanha de bombardeio, não havia entrado em colapso. Churchill não ficara sob nenhuma pressão doméstica significativa para pedir paz. A produção britânica de aeronaves não foi seriamente afetada. Seiscentos bombardeiros alemães haviam sido derrubados. Os alemães comuns começaram a ficar temerosos a respeito do resultado do conflito. “Pela primeira vez desde que a guerra teve início”, escreveu Lore Walb em seu diário em 3 de outubro de 1940, “meu otimismo constante começou a vacilar. Não estamos fazendo progresso contra a Inglaterra87.” E, em dezembro de 1940, Hans Meier-Welcker foi forçado a concluir privadamente, como muitos outros já tinham feito, que não havia sinal de “um colapso do moral entre o povo inglês88”. Pela primeira vez, Hitler perdera uma batalha importante. As consequências seriam de longo alcance89.

 


 

1 Roger Moorhouse, Killing Hitler: The Third Reich and the Plots against the Führer (Londres, 2006), p. 36-58, é o relato mais recente. Ver também Peter Hoffmann, Hitler’s Personal Security (Londres, 1979), p. 105-11.

2 Moorhouse, Killing Hitler, p. 50-3; Heinz Höhne, The Order of the Death’s Head: The Story of Hitler’s SS (Londres, 1972 [1966]), p. 264-6.

3 Moorhouse, Killing Hitler, p. 43-50; Kershaw, Hitler, II, p. 271-5.

4 Boberach (ed.), Meldungen, III, p. 449: Bericht zur innenpolitischen Lage Nr. 15, 13 de novembro de 1939.

5 Shirer, Berlin Diary, p. 194-5 (9 de novembro de 1939).

6 Alan Bullock, Hitler: A Study in Tyranny (Londres, 1952), p. 522-3, afirmou que a Gestapo foi responsável, assim como Peter Padfield, Himmler: Reichsführer-SS (Londres, 1990), p. 283. Ver, porém, Anton Hoch, Das Attentat auf Hitler im Münchener Bürgerbräukeller 1939”, VfZ 17 (1969), p. 383-413, e em especial Lothar Gruchmann (ed.), Autobiographie eines Attentäters: Johann Georg Elser: Aussage zum Sprengstoffanschlag im Bürgerbräukeller, München, am 8. November 1939 (Stuttgart, 1970).

7 Moorhouse, Killing Hitler, p. 58.

8 Hans-Adolf Jacobsen (ed.), Dokumente zur Vorgeschichte des Westfeldzuges 1939-1940 (Göttingen, 1956), p. 5-7. Para a cautela prévia dos generais, ver Evans, The Third Reich in Power, p. 633, 642, 668-70.

9 Tribunal Militar Internacional, Nuremberg: ND 789-PS, p. 572-80: ver Evans, The Third Reich in Power, p. 892.

10 Fedor von Bock, Generalfeldmarschall Fedor von Bock: Zwischen Pflicht und Verweigerung: Das Kriegstagebuch (ed. Klaus Gerbet, Munique, 1995), p. 78-9 (23 de novembro de 1939).

11 Para o confronto de 1938, ver Evans, The Third Reich in Power, p. 668-71; para os argumentos de 1939-40 e a retomada do complô, ver Kershaw, Hitler, II, p. 262-71, e Johannes Hürter, Hitlers Heerführer: Die deutschen Oberbefehlshaber im Krieg gegen die Sowjetunion 1941/42 (Munique, 2007), p. 163-71.

12 Tooze, The Wages of Destruction, p. 331-43. Um relato exaustivo do programa de construção de aviões é fornecido por Lutz Budrass, Flugzeugindustrie und Luftrüstung in Deutschland (Düsseldorf, 1998). A situação dos suprimentos foi uma preocupação constante nos diários de Halder durante esses meses (Halder, Kriegstagebuch, I, passim).

13 Rolf-Dieter Müller, The Mobilization of the German Economy for Hitler’s War Aims, GSWW V/I, p. 407-786, nas p. 407-11; Tooze, The Wages of Destruction, p. 343-8.

14 Müller, The Mobilization, p. 453-85.

15 Evans, The Third Reich in Power, p. 364-5; para Todt, ver ibid., p. 322-5.

16 Weinberg, A World at Arms, p. 100-3; Catherine Merridale, Ivan’s War: The Red Army 1939-1945 (Londres, 2005), p. 67-70. Para a política alemã, ver Gerd R. Ueberschär, Hitler und Finnland 1938-1941 (Wiesbaden, 1978).

17 Merridale, Ivan’s War, p. 44-7, 57-60, 67-71.

18 Weinberg, A World at Arms, p. 105-7; John Erickson, The Soviet High Command (Londres, 1962), p. 541-52; Tomas Ries, Cold Will: The Defence of Finland (Londres, 1988); Geoffrey Roberts, Stalin’s Wars: From World War to Cold War, 1939-1953 (Londres, 2006), p. 46-55; Chris Bellamy, Absolute War: Soviet Russia in the Second World War: A Modern History (Londres, 2007), p. 69-98.

19 Thomas K. Derry, Norway, em Stuart J. Woolf (ed.), European Fascism (Londres, 1968), p. 217-30, nas p. 217-24.

20 Derry, Norway, p. 224-6; Weinberg, A World at Arms, p. 114-5; Oddvar K. Hoidal, Quisling: A Study in Treason (Oslo, 1989); Carl-Axel Gemzell, Raeder, Hitler und Skandinavien (Lund, 1965). Para a visita de Quisling a Berlim em dezembro de 1939 e o papel-chave de Raeder no planejamento pré-guerra, ver Hans-Martin Ottmer, Weserübung”: Der deutsche Angriff auf Dänemark und Norwegen im April 1940 (Munique, 1994), p. 3-17, 24-6.

21 Bernd Stegemann, OperationWeserübung, em GSWW II, p. 206-19, nas p. 211-2; Ottmer, “Weserübung”, p. 67-79; Hubatsch (ed.), Hitlers Weisungen, p. 47-50.

22 Stegemann, Operation Weserübung, p. 207-11; Ottmer, “Weserübung”, p. 79-131.

23 Vidkun Quisling, Quisling ruft Norwegen! Reden und Aufsäztze (Munique, 1942), p. 96-7, 102, 105, 137.

24 Stegemann, Operation Weserübung, p. 212-5.

25 Weinberg, A World at Arms, p. 119-21; Shirer, Berlin Diary, p. 254 (4 de maio de 1940).

26 Meier-Welcker, Aufzeichnungen, p. 54 (21 de março de 1940).

27 Roy Jenkins, Churchill (Londres, 2001), p. 573-84.

28 Peter Clarke, Hope and Glory: Britain 1900-1990 (Londres, 1996), p. 192-6.

29 Jacobsen (ed.), Dokumente, p. 64-5, 155-6; Hans-Adolf Jacobsen, Fall Gelb: Der Kampf um den deutschen Operationsplan zur Westoffensive 1940 (Wiesbaden, 1957); Karl-Heinz Frieser, Blitzkrieg-Legende: Der Westfeldzug 1940 (Munique, 1996 [1995]), p. 15-70 para a natureza improvisada e de curto prazo do plano, p. 71-116 para os argumentos a respeito na hierarquia militar.

30 Shirer, Berlin Diary, p. 275-6 (20 de maio de 1940); Hans Umbreit, The Battle for Hegemony in Western Europe, em GSWW II, p. 227-326, nas p. 270-80; Julian Jackson, The Fall of France: The Nazi Invasion of 1940 (Oxford, 2003), p. 9-39; Ernest R. May, Strange Victory: Hitler’s Conquest of France (Nova York, 2000).

31 Shirer, Berlin Diary, p. 276-9 (20 de maio de 1940).

32 Weinberg, A World at Arms, p. 122-6.

33 Umbreit, The Battle”, p. 37; Frieser, Blitzkrieg-Legende, p. 428.

34 Jackson, The Fall of France, p. 37-9; Frieser, Blitzkrieg-Legende, p. 135.

35 Bock, Zwischen Pflicht und Verweigerung, p. 101 (24 de fevereiro de 1940).

36 Jackson, The Fall of France, p. 42-7; Umbreit, The Battle”, p. 278-304; narrativa vívida em Tooze, The Wages of Destruction, p. 374-9; detalhes sobre o uso de anfetamina em Werner Pieper (ed.), Nazis on Speed: Drogen im 3. Reich (Loherbach, 2002), p. 325-30; melhor relato crítico recente em Frieser, Blitzkrieg-Legende, p. 173-361.

37 Jackson, The Fall of France, p. 9-12 (citação na p. 10).

38 Ibid., p. 58-62.

39 Ibid., p. 85-94, oferece um relato judicioso desses acontecimentos muito contestados; ver também Kershaw, Hitler, II, p. 295-6.

40 Bock, Zwischen Pflicht und Verweigerung, p. 135 (26 de maio de 1940), p. 140 (30 de maio de 1940); Hans-Adolf Jacobsen, Dünkirchen: Ein Beitrag zur Geschichte des Westfeldzuges 1940 (Neckargemünd, 1958), p. 70-122, 203, e idem (ed.), Dokumente zum Westfeldzug 1940 (Göttingen, 1960), p. 114-46, ambos atribuindo a responsabilidade a Rundstedt; Frieser, Blitzkrieg-Legende, p. 363-93, enfatiza o papel de Hitler.

41 Bock, Zwischen Pflicht und Verweigerung, p. 143 (2 de junho de 1940).

42 Jackson, The Fall of France, p. 94-100.

43 Ibid., p. 101-6 (citação na p. 105).

44 Ibid., p. 107-73; Frieser, Blitzkrieg-Legende, p. 399-409; May, Strange Victory, p. 448-9, argumentando em favor da animação do moral militar francês nos estágios iniciais da invasão.

45 Irène Némirovsky, Suite Française (Londres, 2007 [2004]), p. 50.

46 Ibid., p. 42.

47 Jackson, The Fall of France, p. 174-82; Hanna Diamond, Fleeing Hitler: France 1940 (Oxford, 2007).

48 Meier-Welcker, Aufzeichnungen, p. 74 (12 de junho de 1940).

49 Shirer, Berlin Diary, p. 328-32 (21 de junho de 1940).

50 Jackson, The Fall of France, p. 232; o melhor levantamento geral é do mesmo autor, France: The Dark Years 1940-1944 (Oxford, 2001).

51 Frieser, Blitzkrieg-Legende, p. 409-35.

52 Albert Speer, Inside the Third Reich: Memoirs (Londres, 1971 [1970]), p. 170-2 (também citado em Lynn Nicholas, The Rape of Europa: The Fate of Europe’s Treasures in the Third Reich and the Second World War (Nova York, 1994), p. 118).

53 Shirer, Berlin Diary, p. 260-3 (10-11 de maio de 1940).

54 Lore Walb, Ich, die Alte – ich, die Junge: Konfrontation mit meinen Tagebüchern 1933-1945 (Berlim, 1997), p. 179 (21 de maio de 1940).

55 Boberach (ed.), Meldungen, IV, p. 1.163 (23 de maio de 1940).

56 Ibid., p. 1189 (30 de maio de 1940), p. 1261 (17 de junho de 1940).

57 Ibid., p. 1274-5 (20 de junho de 1940).

58 Hosenfeld, Ich versuche”, p. 294 (carta à esposa, 25 de novembro de 1939).

59 Ibid., p. 356 (11 de junho de 1940, carta ao filho).

60 Luise Solmitz, Tagebuch (Staatsarchiv der Freien- und Hansestadt Hamburg, p. 622-1, 111.511-3: Familie Solmitz; transcrições em Forschungsstelle für Zeitgeschichte, Hamburgo), XI, p. 551, 560, 563, 565-6 (12 de junho de 1940, 17 de junho de 1940, 21 de junho de 1940).

61 Gerhard L. Weinberg, Hitler and England, 1933-1945: Pretense and Reality, German Studies Review, 8 (1988), p. 299-309, argumenta que Hitler jamais esteve interessado em um acordo com a Grã-Bretanha; ver também Weinberg, A World at Arms, p. 89-95.

62 Frances Donaldson, Edward VIII (Londres, 1974), p. 191-206, 327-34, 358-77; Michael Bloch, Operation Willi: The Plot to Kidnap the Duke of Windsor, July 1940 (Londres, 1984); Walter Schellenberg, The Memoirs of Hitler’s Spymaster (Londres, 2006 [1956]).

63 Weinberg, A World at Arms, p. 118.

64 Charles S. Thomas, The German Navy in the Nazi Era (Londres, 1990), p. 191.

65 Shirer, Berlin Diary, p. 355, 358 (19-20 de julho de 1940).

66 Walb, Ich, die Alte, p. 185 (17 de junho de 1940).

67 Domarus (ed.), Hitler, III, p. 2.062 (19 de julho de 1940), Kershaw, Hitler, II, p. 301--8. Para a ideia de que uma paz em separado teria salvo o império britânico, ver John Charmley, Churchill: The End of Glory: A Political Biography (Londres, 1993), p. 422-32.

68 Karl Klee, Das Unternehmen “Seelöwe”: Die geplante deutsche Landung in England 1940 (Göttingen, 1958); idem, Dokumente zum Unternehmen “Seelöwe”: Die geplante deutsche Landung in England 1940 (Göttingen, 1959), ambos argumentando que o problema foi causado pela falta de planejamento antecipado.

69 Walter Schellenberg, Invasion 1940: The Nazi Invasion Plan for Britain (Londres, 2000), esp. p. 1-114 (Gestapo Handbook).

70 Richard J. Overy, The Battle (Londres, 2000), p. 60-3.

71 Ibid., esp. p. 161-2.

72 Ibid., p. 53-4, 80.

73 Tooze, The Wages of Destruction, p. 249-50, 400-1.

74 Shirer, Berlin Diary, p. 377 (17 de agosto de 1940).

75 Ulrich Steinhilfer e Peter Osborne, Spitfire on My Tail: A View from the Other Side (Bromley, 1989), p. 279 (19 de agosto de 1940).

76 Ibid., p. 289 (31 de agosto). A expressão original era Horridoh!

77 Domarus (ed.), Hitler, III, p. 2086 (4 de setembro de 1940).

78 Ibid., p. 2072 (1o de agosto de 1940, Diretiva no 17); para a visão contrária, ver Kershaw, Hitler, II, p. 309; boa discussão em Horst Boog, The Strategic Air War in Europe and Air Defence of the Reich, em GSWW VII, p. 9-458, nas p. 357-67.

79 Overy, The Battle, p. 90-6; Klaus A. Maier, The Battle of Britain, em GSWW II, p. 374-407.

80 Overy, The Battle, p. 90-6; Alfred Price, Blitz on Britain (Shepperton, 1977); Tooze, The Wages of Destruction, p. 447-8.

81 Steinhilfer e Osborne, Spitfire, p. 295 (17 de setembro de 1940).

82 Ibid., p. 319 (carta ao pai, 19 de outubro de 1940).

83 Halder, Kriegstagebuch, II, p. 128 (7 de outubro de 1940).

84 Ibid., p. 99 (14 de setembro de 1940).

85 Walb, Ich, die Alte, p. 197 (10 de setembro de 1940).

86 F. Harry Hinsley, British Intelligence in the Second World War (5 vols., Londres, 1979-90), I, p. 316-8, 523-48.

87 Walb, Ich, die Alte, p. 200 (3 de outubro de 1940).

88 Meier-Welcker, Aufzeichnungen, p. 101 (31 de dezembro de 1940).

89 Overy, The Battle, p. 97-135.