Deflagrando o genocídio

 

 

I

 

 

 

 

Dada a referência de Hitler em 25 de outubro de 1941 à sua profecia sobre a aniquilação dos judeus no caso de uma guerra mundial, não é de surpreender que nessa época ele estivesse pensando em escala global. No fundo, ao longo da Operação Barba Ruiva e depois desta, ele pensava que a rápida derrota da União Soviética provocaria também a capitulação dos britânicos. A tentativa de levar os britânicos à submissão mediante bombardeio em 1940 fracassara claramente. Mas havia outras maneiras de levá-los à mesa de negociação. A principal era a interrupção do abastecimento, que necessariamente tinha de ser feito por mar, vindo em parte do vasto império da Grã-Bretanha, mas principalmente dos Estados Unidos. O presidente americano, Franklin Delano Roosevelt, até então conquistara considerável apoio doméstico por manter a América fora da guerra. Mas havia algum tempo ele em particular pensava que os Estados Unidos teriam de agir para deter a agressão alemã1. Portanto, Roosevelt deu início a um programa de produção de armas em larga escala, com o Congresso aprovando enormes quantias para a construção de aeronaves, navios, tanques e equipamento militar. Já em 16 de maio de 1940, Roosevelt havia apresentado ao Congresso uma proposta para a construção de nada menos que 50 mil aeronaves militares por ano, a começar imediatamente. Esse volume era muitas vezes maior do que o que qualquer um dos combatentes europeus podia produzir. Discussões técnicas secretas com os britânicos asseguraram que esses aviões seriam de benefício direto para o esforço de guerra britânico. Não muito depois, o Congresso também aprovou a Lei de Expansão Naval nos Dois Oceanos, inaugurando a construção de enormes frotas no Atlântico e no Pacífico, agrupadas em torno de porta-aviões que permitiriam à Marinha dos Estados Unidos investir sobre os inimigos da América ao redor do mundo. O recrutamento veio a seguir, começando com o alistamento e o treinamento de um Exército de 1,4 milhão de homens. Em novembro de 1940, Roosevelt foi reeleito. Animado pelo apoio bipartidário no Congresso, ele transferiu quantidades crescentes de suprimentos militares e navais, bem como gêneros alimentícios e muito mais, para a Grã-Bretanha sob arranjos de “empréstimo e arrendamento”. Apenas em 1940, os britânicos conseguiram comprar mais de 2 mil aeronaves de combate dos Estados Unidos; em 1941, o número subiu para mais de 5 mil. Eram números significativos. Na metade de agosto de 1941, Roosevelt e Churchill reuniram-se para assinar a Carta do Atlântico, que incluiu a cláusula de que submarinos americanos acompanhariam comboios para a Grã-Bretanha pelo menos durante metade de sua travessia atlântica2.

A partir de junho de 1941, os Estados Unidos também começaram a embarcar suprimentos e equipamento para a União Soviética em quantidades cada vez maiores; se a URSS fosse derrotada, Roosevelt temia, com certa razão, que a Alemanha então voltaria a atacar a Grã-Bretanha e a seguir avançaria para desafiar a América3. O ritmo e a escala do rearmamento americano em 1940-41 e a invasão alemã da União Soviética, que prendeu as forças soviéticas no oeste, ajudaram a persuadir o agressivo e expansionista governo japonês de que seu ímpeto para criar um novo império japonês no sudeste da Ásia e no Pacífico exigia a eliminação das forças navais americanas na região o quanto antes. Em 7 de dezembro de 1941, seis porta-aviões japoneses enviaram suas aeronaves para bombardear a base naval americana de Pearl Harbor, no Havaí, onde afundaram, encalharam ou inutilizaram 18 navios antes de avançar rumo à invasão da Tailândia, da Malásia e das Filipinas. O ataque uniu o povo americano no respaldo à intervenção na guerra. E também incitou Hitler a se livrar do comedimento que até então havia mostrado em relação aos Estados Unidos. Ele autorizou o afundamento de navios americanos no Atlântico, para atrapalhar e se possível cortar os fornecimentos dos Estados Unidos à Grã-Bretanha e à União Soviética. A seguir, apostando na preocupação dos Estados Unidos com o Pacífico, Hitler emitiu uma declaração formal de guerra em 11 de dezembro de 1941. Itália, Romênia, Hungria e Bulgária igualmente declararam guerra aos Estados Unidos. Hitler acreditava que o ataque japonês enfraqueceria os americanos por dividir seus esforços militares. Isso proporcionaria a chance de derrotar os Estados Unidos no Atlântico e cortar o abastecimento da Grã-Bretanha e da União Soviética. Além disso, consumiria importantes recursos britânicos no Extremo Oriente, à medida que os japoneses avançassem sobre colônias britânicas da Malásia à Birmânia e quem sabe também sobre a Índia. Acima de tudo, o gesto de Hitler foi governado pela percepção de que era vital atacar quanto antes – antes que a imensa preparação militar dos Estados Unidos atingisse sua plena e avassaladora dimensão4.

Esses acontecimentos tiveram um efeito direto sobre a política nazista em relação aos judeus. O auxílio americano à Grã-Bretanha e à União Soviética, em rápida expansão, aprofundou a convicção de Hitler de que os Estados Unidos estavam efetivamente participando da guerra em uma aliança secreta, de domínio judaico, com Churchill e Stálin. Em 22 de junho de 1941, dia do lançamento da Operação Barba Ruiva, Hitler anunciou que chegara a hora “em que será necessário partir para o confronto dessa conspiração de instigadores da guerra judaico-anglo-saxões e dos governantes igualmente judaicos da Central Bolchevique de Moscou5”. Na primavera de 1941, já estava em curso a propaganda com a meta de persuadir o povo alemão de que a administração Roosevelt fazia parte de uma conspiração judaica internacional contra a Alemanha. Em 30 de maio e 6 de junho de 1941, o Ministério da Propaganda instruiu os jornais a enfatizar que “a Inglaterra [é] em última análise governada pela judiaria; o mesmo é válido para os Estados Unidos” e insistiu na “clareza sobre a meta dos judeus dos Estados Unidos de destruir e exterminar a Alemanha a qualquer preço6”. A enxurrada de propaganda foi então drasticamente intensificada.

Desde o início, a Operação Barba Ruiva fora planejada como um ataque surpresa, de modo que não foi precedida por uma escalada da propaganda como a que pressagiou o movimento contra a Polônia em 1939. Por isso, nas semanas seguintes à invasão da União Soviética em 22 de junho de 1941, a liderança nazista julgou necessário lançar uma ofensiva de propaganda destinada a conquistar a aprovação retrospectiva do povo alemão. Quase imediatamente, Hitler focou a atenção nos judeus. A coincidência da Operação Barba Ruiva com a escalada da ajuda americana à Grã-Bretanha e Rússia formou o foco central da blitz dos meios de comunicação que veio a seguir. Essa blitz foi dirigida por Hitler em pessoa e refletiu suas mais profundas convicções7. Em 8 de julho de 1941, Hitler disse a Goebbels para intensificar os ataques da mídia ao comunismo. “Por conseguinte, nossa linha de propaganda”, escreveu Goebbels no dia seguinte, “é clara: devemos continuar a desmascarar a colaboração entre bolchevismo e plutocracia e agora também expor cada vez mais o caráter judaico dessa frente8.” As instruções foram devidamente transmitidas à imprensa, e uma campanha maciça entrou em andamento, reforçada pelo posterior encorajamento dado por Hitler a seu ministro da Propaganda em 14 de julho de 19419.

Essa campanha teve como ponta de lança o jornal diário do Partido Nazista, o Observador Racial, editado desde 1938 por Wilhelm Weiss. Com circulação de quase 1,75 milhão, tinha um status semioficial. Suas histórias baseavam-se muito nas diretrizes de imprensa emitidas por Otto Dietrich, o chefe de imprensa do Reich, do quartel-general de Hitler após seu encontro diário com o Líder. Ao longo de todo o ano de 1940, o Observador Racial não havia estampado uma única manchete de primeira página de natureza antissemita. Em fevereiro e março de 1941, houve três, mas depois não houve mais nada por três meses até um jorro concentrado ter início em julho. Em 10 e 12 de julho, o jornal estampou manchetes de primeira página sobre o “bolchevismo judaico”; em 13 e 15 de julho voltou sua atenção para a Grã-Bretanha (“judiaria inunda a Inglaterra com mentiras soviéticas”), e em 23 e 24 de julho publicou histórias sobre Roosevelt como instrumento dos judeus e dos maçons que estavam dispostos a destruir a Alemanha. Houve mais histórias de primeira página em 10 e 19 de agosto (“Meta de Roosevelt é o domínio do mundo pelos judeus”), e manchetes mais sensacionalistas atacando Roosevelt em 27 e 29 de outubro e 7 de novembro, com uma manchete geral sobre “O inimigo judeu” em 12 de novembro. Depois disso, a campanha esmoreceu, com apenas quatro manchetes antissemitas em 194210. De modo semelhante, os cartazes Palavra da Semana, publicados desde 1937 em edições de 125 mil cópias, colados em paredes e quiosques por toda a Alemanha ou afixados em expositores de vidro especialmente projetados para isso, com um novo tópico a cada semana, só haviam mencionado temas antissemitas em três das 52 edições de 1940, mas, entre 1941 e seu término em 1943, os ataques aos judeus foram publicados em cerca de 25% deles. Em contraste com o Observador Racial, os cartazes de parede continuaram a campanha em 1942, com 12 das 27 edições até julho dedicadas a temas antissemitas11. Assim, houve um pico indiscutível na propaganda antissemita de todos os tipos na segunda metade de 1941, refletindo a ordem de Hitler a Goebbels em 8 de julho para enfocar a atenção da máquina de propaganda nos judeus. A propaganda teve um efeito quase imediato. Já em 23 de junho de 1941, por exemplo, um suboficial do Exército alemão estacionado em Lyon relatou: “Agora os judeus declararam guerra a nós de fora a fora, de um extremo a outro, dos plutocratas de Nova York e Londres até os bolcheviques. Todas as coisas sob o domínio judeu estão alinhadas em uma frente contra nós12”.

A campanha usou com grande ostentação um panfleto do americano Theodore N. Kaufman, que fora publicado naquele ano sob o título A Alemanha deve perecer, que exigia a esterilização de todos os homens alemães e a divisão de todo o território da Alemanha entre seus vizinhos europeus. Kaufman era um excêntrico (para não usar um termo mais forte) que já havia caído em ridículo na imprensa dos Estados Unidos ao instar que todos os homens americanos fossem esterilizados para evitar que seus filhos se tornassem assassinos e criminosos. Não obstante, Goebbels apoderou-se do novo panfleto, retratou Kaufman como consultor oficial da Casa Branca e alardeou o texto como um produto judaico que revelava as verdadeiras intenções do governo Roosevelt em relação à Alemanha: “Enorme programa judaico de extermínio”, anunciou o Observador Racial em 24 de julho de 1941. “Roosevelt exige a esterilização do povo alemão: povo alemão deve ser exterminado em duas gerações13.” “Alemanha deve ser aniquilada!”, declarou o cartaz da Palavra da Semana de 10 de outubro de 1941. “A mesma meta de sempre14.” Goebbels declarou que mandaria traduzir o livro de Kaufman para o alemão e distribuir milhões de cópias, “sobretudo no front”. Um livreto contendo trechos traduzidos realmente foi publicado em setembro de 1941, e o editor afirmou que era a prova de que “a judiaria mundial em Nova York, Moscou e Londres está de acordo em exigir o extermínio completo do povo alemão15”. O ministro da Propaganda somou a isso repetidas reportagens na imprensa sobre as supostas atrocidades contra soldados alemães por tropas do Exército Vermelho. A mensagem era clara: os judeus estavam conspirando ao redor do mundo para exterminar os alemães; a autodefesa exigia que eles fossem mortos onde quer que fossem encontrados16. Em resposta a essa ameaça, conforme Goebbels declarou em 20 de julho de 1941 em artigo para O Reich, jornal semanal que ele havia criado em maio de 1940 e que àquela altura atingira uma circulação de 800 mil exemplares, a Alemanha e de fato a Europa aplicariam um golpe nos judeus “sem pena e sem misericórdia”, que ocasionaria “sua ruína e derrocada17”.

O golpe incidiu em etapas no fim do verão e princípio do outono de 1941. Do fim de junho em diante, como vimos, as forças-tarefa e suas associadas estavam matando um número crescente de homens judeus, depois, a partir de meados de agosto, mulheres e crianças judias também, no leste. Mas, àquela altura, já estava claro que os líderes nazistas não estavam pensando em uma escala apenas regional, mas europeia. Em 31 de julho de 1941, Heydrich levou a Göring, que formalmente estava a cargo da política judaica, um documento sucinto para ser assinado. Esse documento conferia a Heydrich o poder “para fazer todos os preparativos organizacionais, práticos e materiais para uma solução total da questão judaica na esfera de influência alemã na Europa”. O ponto-chave dessa ordem, que também habilitava Heydrich a consultar todos os outros gabinetes do Partido e do governo caso suas áreas de competência fossem afetadas, foi estender a autoridade dele para todo o continente. Não era um comando para iniciar, menos ainda para implementar, uma “solução total da questão judaica”, era um mandado para fazer os preparativos para essa ação. Mas, por outro lado, era bem mais que o encargo, visto por alguns historiadores, de apenas incumbir-se de “estudos de viabilidade” que poderiam ou não ser usados em algum momento no futuro – os subsequentes relatórios e referências ao resultado de tais estudos que seriam de esperar no registro documental simplesmente não estão lá18.

O assunto ficou em suspenso por algumas semanas, enquanto Hitler e os generais discutiam a respeito de avançar para Moscou ou desviar os exércitos alemães mais para norte e sul; a seguir, no começo de agosto, Hitler ficou gravemente enfermo com disenteria19. Em meados de agosto, porém, ele estava bem o bastante para lançar uma nova diatribe contra os judeus, registrada por Goebbels em sua anotação do diário de 19 de agosto de 1941:

 

O Líder está convencido de que a profecia que fez no Reichstag, de que, se a judiaria tivesse êxito em provocar uma guerra mundial outra vez, isso acabaria na aniquilação dos judeus, está se confirmando. Isso está se tornando verdade nessas semanas e meses com uma certeza que parece quase sobrenatural. Os judeus estão tendo de pagar o preço no leste; em certa medida já pagaram na Alemanha e terão de pagar ainda mais no futuro. Seu último refúgio é a América do Norte, e lá também, a curto ou longo prazo, terão de pagar um dia20.

 

É notável como Goebbels deixa escapar aqui o âmbito global das ambições geopolíticas nazistas definitivas. Em termos mais imediatos, esses comentários coincidiram, não por acaso, com uma escalada acentuada das chacinas cometidas pelas forças-tarefa na Europa oriental ocupada. Além disso, de fevereiro a abril de 1941, Hitler sancionara a deportação de cerca de 7 mil judeus de Viena para o distrito de Lublin a pedido do líder regional nazista da ex-capital da Áustria, Baldur von Schirach, que havia conquistado posição de destaque na década de 1930 como chefe da Juventude Hitlerista. O principal objetivo de Schirach era apoderar-se de casas e apartamentos para distribuir aos sem-teto não judeus. Ao mesmo tempo, sua ação manteve a continuidade das medidas de cunho ideológico antissemita que remontavam aos primeiros dias da ocupação alemã de Viena em março de 193821. Por alguns meses, essa permaneceu uma ação relativamente isolada. A fim de evitar qualquer possível perturbação em casa enquanto a guerra estava em andamento, Hitler vetou por algum tempo a proposta de Heydrich de começar igualmente a evacuar os judeus alemães de Berlim22.

Mas, em meados de agosto, Hitler retomou a ideia que havia rejeitado no verão de 1941, de começar a deportar os judeus que restavam na Alemanha para o leste. Na metade de setembro, seus desejos haviam se tornado amplamente conhecidos na hierarquia nazista. Em 18 de setembro de 1941, Himmler disse a Arthur Greiser, líder regional de Wartheland: “O Líder quer o Velho Reich e o Protetorado [da Boêmia e Morávia] esvaziados e livres de judeus ocidentais o mais rapidamente possível23”. Hitler pode ter pensado nas deportações, que deveriam ser efetuadas abertamente, como um aviso para a “judiaria internacional”, especialmente dos Estados Unidos, não
ampliar a guerra ainda mais, ou coisas piores poderiam acontecer aos judeus da Alemanha. Ele ficara sob pressão para tomar medidas de retaliação contra a Rússia “judaico-bolchevique” após a deportação à força de alemães do Volga por Stálin24. Líderes regionais, notadamente Karl Kaufmann em Hamburgo, estavam pressionando pelo despejo dos judeus para dar lugar a famílias alemãs sem casa devido aos bombardeios. Joseph Goebbels, na função de líder regional de Berlim, estava decidido: “Temos de evacuar os judeus de Berlim o mais rápido possível”. Isso seria possível “assim que tivermos liquidado as questões militares no leste25”. O fato de vastas extensões de território terem sido conquistadas a leste do Governo Geral já havia aberto a possibilidade de deportar judeus da Europa central para lá. Após uma reunião com Heydrich, Goebbels disse que eles seriam colocados em campos de trabalho já montados pelos comunistas. “O que é mais óbvio do que esses campos agora serem povoados por judeus?26” Atropelando todos os outros possíveis motivos na mente de Hitler estava o da segurança: em sua lembrança de 1918, os judeus haviam apunhalado a Alemanha pelas costas, e desde que chegara ao poder ele vinha tentando por meios cada vez mais radicais impedir que isso ocorresse de novo, expulsando-os do país. Por um lado, a ameaça aparentemente aumentara após a invasão da União Soviética e do crescente envolvimento dos Estados Unidos na guerra. Por outro, a oportunidade para a deportação em massa agora se apresentava com as novas anexações territoriais a leste. Parecia chegada a hora para a ação em escala europeia27.

 

 

II

 

Durante esse período, as condições de vida deterioraram-se rapidamente para os judeus que permaneceram na Alemanha. Um deles era Victor Klemperer, cuja situação em certa medida ainda era protegida pelo casamento com uma não judia, sua esposa Eva, e pelo registro como veterano de guerra. Aprisionado em uma cela da delegacia de Dresden em 23 de junho de 1941 por violar as regulamentações do blecaute, Klemperer viu o período na cadeia pesar fortemente em sua mente. Mas ele não foi maltratado e, a despeito da preocupação obsessiva de que tivessem esquecido dele, foi solto em 1º de julho de 1941. Acomodou-se de novo na vida na casa superlotada de judeus que era forçado a dividir com a esposa e outros casais semelhantes em Dresden28. Em breve, seu diário foi tomado pelas dificuldades crescentes que ele e a esposa enfrentavam no que chamou de “caça à comida”. Em abril de 1942, registrou em desespero: “Agora estamos encarando a inanição completa. Hoje até mesmo os nabos eram apenas para ‘clientes cadastrados’. Nossas batatas acabaram, nossos cupons para pão vão durar quem sabe umas duas semanas, não quatro29”. Começaram a pedir e trocar30. Na metade de 1942, Klemperer sentia fome constantemente e estava reduzido a roubar comida de outra habitante da casa (“com a consciência limpa”, ele confessou, “pois ela precisa de pouco, desperdiça muita coisa, recebe muitas coisas da mãe idosa – mas me sinto muito rebaixado”)31.

A partir de 18 de setembro de 1941, em decorrência de um decreto emitido pelo Ministério dos Transportes do Reich, não foi mais permitido aos judeus alemães frequentar os vagões-restaurante de trens, andar em veículos de excursão ou usar transportes públicos no horário de pico32. Enquanto sua esposa costurava a estrela judaica no lado esquerdo de seu casaco em 19 de setembro de 1941, Klemperer teve “um ataque frenético de desespero”. Como muitos outros judeus, ele sentia vergonha de sair (vergonha “de quê?”, perguntou-se retoricamente). A esposa passou a tratar das compras33. A máquina de escrever de Klemperer foi confiscada, e de 28 de outubro de 1941 em diante ele teve de escrever seu diário e o restante de sua autobiografia à mão34. Seguiram-se outras pequenas privações. Os judeus perderam o direito a cupons para creme de barbear (“será que querem reintroduzir a barba medieval judaica à força?”, perguntou Klemperer, irônico)35. A lista compilada por ele de todas as restrições a que os judeus estavam submetidos a essa altura já passava de 30 itens, incluindo a proibição de usar ônibus, ir a museus, comprar flores, ter casacos de pele e cobertores de lã, entrar em estações de trem, comer em restaurantes e sentar em cadeiras de convés36. Uma lei promulgada em 4 de dezembro de 1941 estabeleceu a pena de morte para praticamente qualquer infração cometida por um judeu37. Em 13 de março de 1942, o Escritório Central de Segurança do Reich mandou colar uma estrela de papel branca na entrada de toda residência habitada por judeus38. Um golpe adicional veio em maio de 1942, quando as autoridades anunciaram que judeus não mais podiam ter animais de estimação ou doá-los; com dor no coração, Klemperer e a esposa levaram o gato Muschel para um amigo veterinário e o sacrificaram de modo ilegal, para poupá-lo do sofrimento a que acharam que o animal seria submetido se o entregassem no recolhimento geral39. Todas essas medidas, conforme sua cronologia deixa claro, visavam a preparar a deportação em massa dos judeus da Alemanha para o leste40.

Para sublinhar a firmeza da decisão sobre a deportação, em 23 de outubro de 1941, Himmler ordenou que os judeus não tivessem mais permissão para emigrar do Reich alemão ou de qualquer outro país ocupado41. O fim da comunidade judaica na Alemanha também foi assinalado pela dissolução da Liga de Cultura Judaica pela Gestapo em 11 de setembro de 1941; seus bens, instrumentos musicais, patrimônio e propriedades foram distribuídos a várias instituições, incluindo a SS e o Exército42. Todas as escolas judaicas restantes no Reich já haviam sido fechadas43. O agrupamento e as deportações tiveram início em 15 de outubro de 1941; de acordo com decretos emitidos em 29 de maio e 25 de novembro de 1941, e pessoalmente aprovados por Hitler, os deportados eram destituídos da nacionalidade alemã e suas propriedades confiscadas pelo Estado. Em 5 de novembro de 1941, 24 grandes comboios de trem carregados de judeus – cerca de 10 mil do Velho Reich, 5 mil de Viena e 5 mil do Protetorado – tinham ido para Lódź, junto com 5 mil ciganos do território rural austríaco de Burgenland. Em 6 de fevereiro de 1942, mais 34 carregamentos haviam levado 33 mil judeus para Riga, Kovno e Minsk44. Ainda restou um número substancial de judeus que estavam desempenhando tarefas de trabalho forçado julgadas importantes para a economia de guerra. Goebbels ficou decepcionado e pressionou pelo aceleramento das deportações. Em 22 de novembro de 1941, ele pôde anotar em seu diário que Hitler havia concordado em promover as deportações em um esquema de cidade por cidade45.

Para preparar as deportações, a Gestapo obtinha listas de judeus locais na Associação dos Judeus do Reich na Alemanha, selecionava o nome daqueles a serem deportados, dava-lhes números em sequência e informava a data em que deveriam partir e os arranjos a serem feitos para a viagem. Cada deportado tinha permissão para levar 50 quilos de bagagem e provisões para três dias. Eles eram levados pela polícia para um centro de agrupamento de onde, depois de esperar com frequência por muitas horas, eram transportados para um trem de passageiros comum para a viagem. Essas medidas pretendiam evitar que os judeus ficassem alarmados a respeito de seu destino. Todavia, os trens começavam a jornada à noite, em pátios de manobra em vez de estações de passageiros, e não raramente os deportados eram empurrados de modo grosseiro para dentro do trem pela polícia, com xingamentos e pancadas. Um policial acompanhava cada grupo durante a jornada. Quando os deportados chegavam a seu destino, sua situação deteriorava-se rapidamente. O primeiro comboio a deixar Munique, por exemplo, partiu em 20 de novembro de 1941, e após se desviar de Riga, o destino original, onde o gueto estava cheio, chegou em Kovno três dias depois. Informada de que o gueto ali também estava lotado, a polícia levou os deportados para o Forte IX nas proximidades, onde esperaram por dois dias no fosso seco ao redor do prédio até serem todos fuzilados46.

Em janeiro de 1942, chegou a ordem para que todos os judeus de Dresden fossem deportados para o leste. O alívio de Victor Klemperer foi palpável, portanto, quando soube que detentores da Cruz de Ferro de Primeira Classe que viviam em “casamentos mistos”, como ele, estavam isentos47. Para os que permaneceram, a vida ficou ainda mais dura. Em 14 de fevereiro de 1942, Klemperer, com 60 anos de idade e uma saúde longe de perfeita, recebeu ordem de se apresentar para trabalhar limpando a neve das ruas. Ao chegar à avenida, descobriu que era o mais jovem dos 12 homens judeus no local. Felizmente, ele registrou, os inspetores do departamento de limpeza pública eram decentes e educados, permitindo aos homens parar e conversar, e disseram a Klemperer: “Você não deve se exceder, o Estado não exige isso48”. Eles receberam a mísera quantia de 70 reichsmarks por semana, descontados os impostos49. Quando esse serviço não era mais necessário, Klemperer foi obrigado a trabalhar em uma fábrica de embalagens50. A Gestapo tornou-se mais brutal e abusiva, e os judeus passaram a ter pavor da ideia de suas casas ser revistadas pelas autoridades. Quando a casa de judeus de Klemperer foi vasculhada, ele por acaso estava fora visitando um amigo. Ao voltar, encontrou-a revirada. Toda a comida e o vinho haviam sido roubados, junto com algum dinheiro e medicamentos. O conteúdo de armários, gavetas e prateleiras fora jogado no chão e pisoteado. Tudo que queriam roubar, incluindo roupa de cama, os homens da Gestapo haviam metido em quatro malas e um grande baú, que mandaram os moradores levar para a delegacia de polícia no dia seguinte. Eva Klemperer fora insultada (“Sua meretriz de judeu, por que casou com ele?”) e esbofeteada várias vezes. “Que desgraça inimaginável para a Alemanha”, foi a reação de Victor Klemperer51. “Isso não são mais revistas em casas”, comentou a esposa, “são pogroms52.” Desesperado com a preocupação de que a Gestapo encontrasse seus diários (“uma pessoa é assassinada por delitos menores”), Klemperer começou a fazer a esposa levá-los a intervalos mais frequentes para sua amiga não judia, a médica Annemarie Köhler, para mantê-los a salvo. “Mas continuarei escrevendo”, ele declarou em maio de 1942. “Esse é o meu heroísmo. Pretendo prestar testemunho, testemunho exato53!”

Em Hamburgo, grata porque seu marido judeu Friedrich não tinha de usar a estrela amarela por conta do status privilegiado de veterano de guerra condecorado, casado com uma não judia e que criava uma filha como cristã, Luise Solmitz registrou com amargura em 13 de setembro de 1941: “Nossa sorte agora é negativa – tudo aquilo que não nos afeta”. Os Solmitz foram beneficiados pela norma da Gestapo de que pessoas em casamentos mistos privilegiados como o deles não eram obrigadas a acolher judeus em suas casas. Eles compartilhavam com os outros alemães os cortes de pensões, benefícios e rações. Quanto ao resto, viviam de modo semelhante a antes, ainda que necessariamente de forma mais reclusa, visto que Friedrich foi efetivamente proibido de fazer parte da vida social dos círculos não judeus em que eles outrora circulavam. Luise Solmitz e o marido foram perdendo peso constantemente à medida que o fornecimento de comida ficou menor ao longo de 1941. Em 21 de dezembro de 1942, ela pesava 43 quilos. Todavia, sua maior preocupação quanto às mudanças nos esquemas de racionamento não era tanto o fato de sua dieta ficar ainda mais restrita, mas de ela ser proibida de buscar os cupons de ração da família, e Friedrich ter de ir ao escritório de racionamento como judeu, com seu “epíteto maligno, inacreditável” imposto pelo governo (“Israel”) e ficar na fila “em meio a toda aquela gente com quem não tem nada a ver” ou, em outras palavras, a população restante de judeus de Hamburgo. Sua preocupação com a segurança da filha semijudia, Gisela, crescia, à medida que circulavam rumores de que pessoas classificadas como mestiças seriam deportadas. “Já somos os joguetes de poderes sombrios e maliciosos”, ela registrou soturna no diário em 24 de novembro de 194254.

 

 

III

 

É claro que, em outubro de 1941, a ideia de deportação em princípio abrangia a Europa inteira, e a intenção era começar quase imediatamente55. Em 4 de outubro de 1941, Heydrich referiu-se ao “plano de evacuação total dos judeus dos territórios ocupados por nós56”. No princípio de novembro de 1941, ele defendeu sua aprovação aos ataques antissemitas a sinagogas parisienses ocorridos quatro dias antes em vista do fato de a “judiaria ter sido identificada com a maior clareza e no mais alto grau como a instigadora responsável pelo que havia acontecido na Europa, e dever enfim desaparecer da Europa57”. O próprio Hitler aumentou agudamente outra vez os ataques retóricos aos judeus, não só da União Soviética e dos Estados Unidos, mas também da Europa no todo. Em 28 de novembro de 1941, ao se reunir com o grande mufti de Jerusalém, Haj Amin al-Husseini, Hitler declarou: “A Alemanha está decidida a pressionar as nações europeias uma por uma para resolver o problema judaico”. Também na Palestina, ele assegurou ao mufti, a Alemanha trataria dos judeus assim que obtivesse o controle da região58.

A essa altura, os judeus sobreviventes das regiões conquistadas pelas forças alemãs na Europa oriental estavam sendo reunidos e confinados em guetos nas principais cidades. Em Vilna (Vilnius), a partir de 6 de setembro de 1941, 29 mil judeus foram apinhados em uma área que antes abrigava apenas 4 mil pessoas. Ao visitar o gueto de Vilna no começo de novembro de 1941, Goebbels notou: “Os judeus estão quase acocorados uns por cima dos outros, figuras horríveis, não é de se olhar, que dirá tocar [...] Os judeus são os piolhos da humanidade civilizada. Têm de ser exterminados de algum jeito [...] Onde quer que você os poupe, mais tarde torna-se vítima deles59”. Outro gueto foi montado em Kovno em 10 de julho de 1941, onde uma população de 18 mil foi submetida a violentos e frequentes ataques de forças alemãs e lituanas em busca de objetos de valor60. Guetos menores foram estabelecidos por volta da mesma época em outras cidades nos países bálticos, na esteira de grandes massacres da população judaica local. Visto que os massacres, ao menos na fase inicial, haviam sido direcionados principalmente contra os homens, os guetos com frequência tinham predomínio de mulheres e crianças: em Riga, por exemplo, onde o gueto foi implantado por volta do fim de outubro de 1941, havia quase 19 mil mulheres e 11 mil homens quando este foi fechado, pouco mais de um mês depois. Desses, 24 mil foram levados e fuzilados em 30 de novembro e 8 de dezembro de 1941; o restante, na maioria homens, foram mandados para a Alemanha como operários industriais. Uma matança em massa semelhante aconteceu em maior escala em Kovno em 28 de outubro de 1941, quando Helmut Rauca, chefe do Departamento Judaico da Gestapo na cidade, ordenou que 27 mil habitantes judeus se reunissem às seis da manhã na praça principal. Ao longo de todo o dia, Rauca e seus homens separaram os que podiam trabalhar dos que não podiam. Ao anoitecer, haviam sido selecionados 10 mil judeus da última categoria. O resto foi mandado para casa. Na manhã seguinte, os 10 mil marcharam para fora da cidade até o Forte IX e foram fuzilados em grupos61.

Quase todos os guetos criados na Europa oriental ocupada depois da invasão da União Soviética foram improvisados e de duração relativamente curta, planejados como pouco mais que zonas de contenção para judeus destinados à morte em futuro bastante próximo. Em Ialta, um gueto foi criado em 5 de dezembro de 1941 pelo isolamento de uma área nos limites da cidade; em 17 de dezembro de 1941, menos de duas semanas depois, foi fechado e seus habitantes fuzilados. Padrão semelhante pôde ser observado também em outros centros62. Era claro que não se esperava que os judeus da Europa oriental vivessem por muito mais tempo. Os guetos precisavam ser esvaziados para dar lugar aos judeus cuja expulsão do Velho Reich e do Protetorado da Boêmia e Morávia era agora incitada repetidamente por Hitler, sendo que essa seria seguida da expulsão do resto da Europa de ocupação alemã. Alguns historiadores tentaram identificar a data exata em que Hitler ordenou a expulsão e o extermínio dos judeus da Europa. Todas as evidências para isso são inconsistentes. Deu-se muito destaque ao fato de que, bem depois da guerra, Adolf Eichmann recordou-se de Heydrich tê-lo convocado no fim de setembro ou início de outubro para dizer que “o Líder havia ordenado o extermínio físico dos judeus”. Himmler também viria a se referir a tal ordem em mais de uma ocasião no futuro. Mas é extremamente duvidoso que a ordem tenha sido dada em tantas palavras a Himmler ou a Heydrich – ou de fato a qualquer outro. As declarações de Hitler, registradas em várias fontes, mais notadamente no registro público de seus discursos e nas anotações particulares de suas conversas no diário de Goebbels e na Conversa à mesa, representam tanto o estilo quanto o teor do que ele tinha a dizer sobre o assunto. É um erro procurar ou imaginar uma ordem, seja escrita ou falada, do tipo emitido por Hitler no caso do programa de eutanásia compulsória, onde ela foi exigida para dar legitimidade às ações de profissionais médicos e não às de homens comprometidos da SS, que mal precisavam delas de qualquer forma63. Conforme a Suprema Corte do Partido Nazista havia notado no começo de 1939, durante a República de Weimar, os líderes do Partido haviam se acostumado a se furtar de responsabilidade legal certificando-se de que “as ações [...] não são ordenadas com clareza absoluta ou nos mínimos detalhes”. De modo análogo, os membros do Partido haviam se acostumado a “interpretar mais de tais comandos do que o que era dito em palavras, assim como tornou-se costume generalizado de parte das pessoas que emitem o comando [...] não dizer tudo” e “apenas insinuar” o objetivo de uma ordem64.

Desse modo, é extremamente improvável que Hitler tenha ido além de proferir declarações do tipo que ele fez repetidas vezes da metade de 1941 em diante a respeito dos judeus, respaldado pela virulenta propaganda antissemita de Goebbels e seus meios de comunicação coordenados. Tais declarações com frequência eram amplamente transmitidas e propagandeadas, e ao menos aquelas feitas em público eram familiares a quase todo membro do Partido, da SS e de organizações semelhantes. Quando somadas às ordens explícitas dadas antes da Operação Barba Ruiva de matar comissários soviéticos e judeus e às políticas homicidas já implementadas na Polônia desde setembro de 1939, criaram uma mentalidade genocida na qual Himmler em Berlim e seus funcionários graduados em campo no leste competiram para ver quão plena e radicalmente conseguiam pôr em prática a repetida promessa, ou ameaça, de Hitler de aniquilar os judeus da Europa. Com frequência, eles encararam severa escassez de alimentos e, como na Polônia, estabeleceram uma hierarquia de racionamento de comida na qual os judeus ocuparam inevitavelmente o posto mais baixo. Daí para o extermínio ativo foi apenas um pequeno passo para muitos comandantes locais e regionais zelosos, que – como na Bielorrússia – também ordenaram a chacina de outras pessoas vistas como incapazes de trabalhar e, portanto, “consumidoras inúteis de comida”, conforme a expressão usada. Entre estas estavam os doentes mentais e os deficientes. Eles foram assassinados não por motivos raciais, embora a campanha alemã de “eutanásia” houvesse proporcionado um precedente importante, mas por razões econômicas. A SS não fazia objeção às influências “degeneradas” na hereditariedade eslava, simplesmente considerava supérfluos os doentes mentais e deficientes dessas regiões65.

Os resultados concretos dessa mentalidade ficaram evidentes o mais tardar na metade de outubro de 1941. A essa altura, judeus do Grande Reich Alemão e do Protetorado estavam sendo deportados para o leste, e judeus do resto da Europa de ocupação alemã iriam a seguir. Nenhum judeu tinha permissão para emigrar. Há numerosas declarações da época em vários níveis da hierarquia nazista atestando que houve um entendimento geral de que todos os judeus da Europa seriam deportados para o leste. As forças-tarefa estavam fuzilando um grande número de judeus de forma indiscriminada por toda a Europa oriental ocupada. Em uma palestra na Academia Alemã em 1º de dezembro de 1941 proferida para importantes elementos militares, policiais, do Partido, da Frente de Trabalho, dos meios acadêmico e cultural e outras áreas, Goebbels relatou que a profecia de Hitler de 30 de janeiro de 1939 agora estava sendo cumprida.

 

Simpatia ou mesmo pesar são inteiramente descabidos. A judiaria mundial fez uma estimativa completamente falsa das forças à sua disposição ao deflagrar esta guerra. Agora está sofrendo o processo gradual de aniquilação que pretendia para nós e que sem dúvida teria executado se tivesse poder para fazê-lo. Agora está perecendo como resultado da própria lei da judiaria: “Olho por olho, dente por dente66”.

 

Conforme Goebbels insinuou, embora o assassinato em massa tivesse de ser levado a cabo em estágios por motivos óbvios de praticidade, não havia dúvida de que, conforme afirmou Alfred Rosenberg ao falar em uma conferência de imprensa em 18 de novembro de 1941, a meta era o “extermínio biológico de toda a judiaria da Europa67”.

A essa altura, estava claro que autoridades militares, unidades policiais, SS e administradores civis estavam cooperando sem dificuldade com a implementação do programa de extermínio. De acordo com um relatório compilado pela Inspetoria de Armas das Forças Armadas, milícias ucranianas, “em muitos locais, lamentavelmente, com a participação voluntária de membros das Forças Armadas alemãs”, estavam fuzilando homens, mulheres e crianças judeus de maneira “horrível”. Cerca de 200 mil já haviam sido mortos no Comissariado do Reich da Ucrânia, e no fim o total atingiria quase meio milhão68. Mas já estava ficando claro que o fuzilamento em massa não atingiria a escala de extermínio que Himmler exigia. Além disso, chegavam queixas dos líderes das forças-tarefa de que os fuzilamentos em massa contínuos de mulheres e crianças indefesas causavam um desgaste intolerável nos homens. Conforme Rudolf Höss, oficial sênior da SS, mais tarde recordou: “Sempre estremeci diante da perspectiva de promover extermínio por fuzilamento ao pensar nos vastos números envolvidos e nas mulheres e crianças”. Muitos membros das forças-tarefa, “sem condições de chapinhar no sangue por mais tempo, haviam cometido suicídio. Alguns até tinham ficado loucos. A maioria [...] tinha de contar com o álcool enquanto executava seu trabalho horrível69”. O número de judeus a ser fuzilado era tão grande que o relatório de uma força-tarefa concluiu em 3 de novembro de 1941: “Apesar de um total de cerca de 75 mil judeus ter sido liquidado dessa forma até agora, ficou evidente que o método não vai proporcionar uma solução para o problema judaico70”.

 

 

IV

 

Entretanto, uma solução para o problema apresentou-se imediatamente. Depois do término forçado da ação T-4 de “eutanásia” em 24 de agosto de 1941, depois das denúncias do bispo Clemens von Galen, os técnicos em gás letal ficaram disponíveis para recolocação no leste71. Especialistas da unidade T-4 visitaram Lublin em setembro; Viktor Brack e Philipp Bouhler, dois de seus principais administradores, também. O doutor August Becker, que se descreveu como “especialista nos processos gasosos envolvidos no extermínio de doentes mentais”, mais tarde recordou:

 

Fui transferido para o Escritório Central de Segurança do Reich em Berlim como resultado de uma conversa particular entre o líder da SS do Reich, Himmler, e o líder sênior do serviço, Brack. Himmler queria empregar pessoas que haviam ficado disponíveis como resultado da suspensão do programa de eutanásia e que, como eu, eram especialistas em extermínio por gás, nas operações de utilização do gás em larga escala no leste, que estavam recém-começando72.

 

Além disso, Albert Widmann, que imaginou a câmara de gás padrão usada no programa de “eutanásia”, visitou Minsk e Mogilev, onde a Força-Tarefa B requisitara assistência técnica para matar pacientes dos manicômios locais. Tais assassinatos faziam parte das atividades de praxe da força-tarefa no leste, assim como ocorrera na Polônia em 1939-40, e vários milhares de pacientes sucumbiram. Depois de muitos pacientes serem mortos por monóxido de carbono da fumaça do escapamento de carros lançada dentro de uma sala lacrada, Arthur Nebe, o chefe da Força-Tarefa, teve a ideia de matar pessoas colocando-as dentro de uma van hermeticamente fechada e canalizando a fumaça do escapamento para dentro do veículo. Heydrich deu sua aprovação73.

Em 13 de outubro de 1941, Himmler reuniu-se com os chefes regionais de polícia, Globonick e Krüger, no início da noite e concordou com a construção de um campo em Belzec para servir de base para caminhonetes de gás. Em outras palavras, um campo criado com o único propósito de matar pessoas74. A construção começou em 1º de novembro de 1941, e especialistas da operação T-4 foram enviados para o local no mês seguinte75. Os habitantes dos guetos poloneses agora estavam sendo mortos de forma sistemática para dar espaço aos judeus que eram levados para lá de outras partes da Europa. Um centro semelhante foi montado em Chelmno, Wartheland, de onde os prisioneiros judeus, transportados do gueto de Lódź, eram levados nas caminhonetes e asfixiados. Cada uma das três caminhonetes de gás baseadas em Chelmno podia matar 50 pessoas por vez; as vítimas eram levadas do campo para os bosques a uns 16 quilômetros de distância, sendo asfixiadas no caminho. Lá as caminhonetes paravam para largar seu pavoroso carregamento em valas escavadas por outros reclusos judeus do campo. Às vezes, uma mãe dentro da caminhonete conseguia enrolar seu bebê o bastante para impedi-lo de respirar a fumaça mortífera. Jakow Grojanowski, um dos coveiros empregados pela SS, relatou que os guardas alemães pegavam quaisquer bebês que sobrevivessem à jornada e esmagavam a cabeça deles contra as árvores próximas. Até mil pessoas eram mortas todos os dias; 4,4 mil ciganos do gueto de Lódź também foram assassinados. Ao todo, 145 mil judeus foram sacrificados no primeiro período da existência de Chelmno; seguiram-se mais, e outros 7 mil foram assassinados quando o campo reabriu brevemente na primavera de 1944; o total de mortos no campo ultrapassou 360 mil76.

Essas caminhonetes de gás estavam entre as 30 construídas por um pequeno fabricante de veículos de Berlim. As quatro primeiras foram entregues para as forças-tarefa em novembro-dezembro de 1941; todas as quatro forças-tarefa estavam usando-as no fim do ano77. Os operadores das caminhonetes mais tarde descreveram como até 60 judeus, com frequência em más condições físicas, famintos, sedentos e fracos, eram reunidos na parte de trás de cada veículo, completamente vestidos. “Não parecia que os judeus soubessem que estavam prestes a ser asfixiados”, disse um deles posteriormente. “Os gases do escapamento eram emitidos dentro da caminhonete”, recordou Anton Lauer, membro do Batalhão da Reserva da Polícia número 9. “Ainda hoje posso ouvir os judeus batendo e gritando: ‘Caros alemães, deixem-nos sair’.” “Quando as portas abriam-se”, relembrou outro operador, “saía uma nuvem de fumaça. Depois que a fumaça dissipava-se, podíamos começar nosso trabalho hediondo. Era apavorante. Dava para ver que eles haviam lutado terrivelmente pela vida. Alguns seguravam o nariz. Os mortos tinham de ser puxados para se separar uns dos outros78.”

Uma caminhonete de gás também foi enviada para a Sérvia, onde o general Franz Böhme, ocupado em exterminar judeus em represália ao que supunha ter sido o papel deles no levante Chetnik em curso desde julho anterior, relatou em dezembro de 1941 que 160 soldados alemães mortos e 278 feridos haviam sido vingados pela chacina de 20 mil a 30 mil civis sérvios, incluindo todos os judeus e ciganos homens adultos. Até ali, os assassinatos haviam abrangido apenas homens; Böhme imaginava que os 10 mil restantes de mulheres, crianças e velhos judeus, bem como algum judeu homem sobrevivente, seriam arrebanhados e colocados em um gueto. Mais de 7 mil mulheres e crianças judias, 500 homens judeus e 292 mulheres e crianças ciganas foram reunidos pela SS em um campo em Sajmiste, do outro lado do rio de Belgrado, e mantidos em alojamentos sem saneamento e sem aquecimento enquanto a SS arranjava o envio, vindo de Berlim, de uma unidade móvel de extermínio por gás. Os ciganos foram soltos, ao passo que os judeus foram informados de que seriam transferidos para um campo com melhores condições. Assim que o primeiro lote de 64 entrou na caminhonete, as portas foram lacradas, e o cano de escapamento foi virado, para lançar a fumaça mortífera no interior do veículo. Enquanto a caminhonete andava pelo centro de Belgrado, passando por multidões de pedestres incautos e pelo trânsito diário e indo até o campo de tiro de Avela, do outro lado da capital, os judeus dentro dela eram asfixiados até a morte. Em Avela, uma unidade da polícia removeu os corpos e jogou-os em uma grande cova já escavada. Até o começo de maio de 1942, todos os 7,5 mil reclusos judeus do campo haviam sido mortos dessa maneira, junto com os pacientes e a equipe do hospital judaico de Belgrado e prisioneiros judeus de outro campo das redondezas. Harald Turner, o principal oficial da SS no país, declarou com orgulho em agosto de 1942 que a Sérvia era o único país até então no qual a questão judaica fora completamente “resolvida”79.

 


 

1 Weinberg, A World at Arms, p. 153-61; Saul Friedländer, Prelude to Downfall: Hitler and the United States, 1939-1941 (Londres, 1967); David Reynolds, From Munich to Pearl Harbor: Roosevelt’s America and the Origins of the Second World War (Chicago, 2001); idem, The Creation of the Anglo-American Alliance, 1937-1941: A Study in Competitive Co-operation (Londres, 1981).

2 Friedländer, The Years of Extermination, p. 201; Tooze, The Wages of Destruction, p. 406-7.

3 Weinberg, A World at Arms, p. 243-5.

4 Ibid., p. 245-63.

5 Domarus (ed.), Hitler, IV, p. 1731. Para detalhes sobre a ausência de influência judaica na política americana da época, ver Herf, The Jewish Enemy, p. 79-82.

6 Ibid., p. 84-5.

7 Ibid., p. 98-104.

8 Fröhlich (ed.), Die Tagebücher, II/I, p. 32-5 (9 de julho de 1941; a primeira anotação ditada).

9 Herf, The Jewish Enemy, p. 105.

10 Ibid., p. 106-7, 281-3 (ajustei ligeiramente os números de Herf, visto que algumas manchetes que ele cita não fazem menção aos judeus).

11 Ibid., p. 28-31.

12 A. N., 23 de junho de 1941, citado em Manoschek (ed.), “Es gibt nur Eines”, p. 28.

13 Herf, The Jewish Enemy, p. 282.

14 Ibid., ilustração, entre p. 166 e 167.

15 Citado em ibid., p. 113.

16 Friedländer, The Years of Extermination, p. 202-7; Wolfgang Benz, “Judenvernichtung aus Notwehr? Die Legenden um Theodore N. Kaufman”, VfZ 29 (1981), p. 615-30; mais genericamente, Philipp Gassert, Amerika im Dritten Reich: Ideologie, Propaganda und Volksmeinung 1933-1941 (Stuttgart, 1997), esp. cap. 7, e Bianka Pietrow-Ennker, “Die Sowjetunion in der Propaganda des Dritten Reiches: Das Beispiel der Wochenschau”, Militärgeschichtliche Mitteilungen, 46 (1989), p. 79-120.

17 Citado em Herf, The Jewish Enemy, p. 108; para O Reich, ver ibid., p. 20-1.

18 Longerich, Politik, p. 421-3 e 696, notas 3, 5, 8; uma boa discussão em Friedländer, The Years of Extermination, p. 78-9, nota 160.

19 Kershaw, Hitler, II, p. 410-2.

20 Fröhlich (ed.), Die Tagebücher, II/I, p. 269 (19 de agosto de 1941); ver também Longerich, Der ungeschriebene Befehl, p. 113-4.

21 Ver em particular Gerhard Botz, Wohnungspolitik und Judendeportation in Wien 1938 bis 1945: Zur Funktion des Antisemitismus als Ersatz nationalsozialistischer Sozialpolitik (Viena, 1975) p. 57-65.

22 Friedländer, The Years of Extermination, p. 238-9.

23 Longerich e Pohl, Ermordung, p. 157; ver também idem, Der ungeschriebene Befehl, p. 114, e mais genericamente, Politik, p. 421-34 (entre outras coisas, enfatizando a intensificação da propaganda antissemita nessa época).

24 Longerich, Der ungeschriebene Befehl, p. 115. O argumento de Friedländer, The Years of Extermination, p. 264, de que Stálin não teria ficado impressionado é irrelevante; o que interessava era impressionar a população alemã em casa.

25 Fröhlich (ed.), Die Tagebücher, II/I, p. 480-1 (24 de setembro de 1941); ver também Longerich, Der ungeschriebene Befehl, p. 116-7.

26 Fröhlich (ed.), Die Tagebücher, II/I, p. 481 (24 de setembro de 1941).

27 Longerich, Der ungeschriebene Befehl, p. 115-7.

28 Klemperer, I Shall Bear Witness, p. 374-98 (23 de junho-1o de julho de 1941).

29 Klemperer, To the Bitter End, p. 37 (12 de abril de 1942).

30 Ibid., p. 33 (31 de março de 1942), p. 37 (18 de abril de 1942), p. 41-2 (23 e 26 de abril de 1942).

31 Ibid., p. 65 (6 de junho de 1942).

32 Friedländer, The Years of Extermination, p. 228.

33 Klemperer, I Shall Bear Witness, p. 414-5 (18, 19 e 20 de setembro de 1941), também p. 424 (9 de novembro de 1941).

34 Ibid., p. 422 (31 de outubro de 1941).

35 Klemperer, To the Bitter End, p. 11 (6 de fevereiro de 1942).

36 Ibid., p. 62-3 (2 de junho de 1942).

37 Friedländer, The Years of Extermination, p. 289.

38 Ibid., p. 368.

39 Klemperer, To the Bitter End, p. 50-3 (18-19 de maio de 1942).

40 Longerich, Politik, p. 446-8.

41 Longerich, Der ungeschriebene Befehl, p. 121.

42 Friedländer, The Years of Extermination, p. 255-6.

43 Wolf Gruner, Judenverfolgung in Berlin 1933-1945: Eine Chronologie der Behördenmassnahmen in der Reichshauptstadt (Berlim, 1996), p. 84.

44 Friedländer, The Years of Extermination, p. 266-7, fornece números ligeiramente diferentes; ver também Longerich, Der ungeschriebene Befehl, p. 117-8. Para a mecânica da deportação e numerosas histórias individuais de deportados, ver o extraordinário estudo de Hans Georg Adler, Der verwaltete Mensch: Studien zur Deportation der Juden aus Deutschland (Tübingen, 1974).

45 Fröhlich (ed.), Die Tagebücher, II/II, p. 340-1 (22 de novembro de 1941).

46 Ver Stadtarchiv München (ed.), “...verzogen, unbekannt wohin”: Die erste Deportation von Münchner Juden im November 1941 (Zurique, 2000); Dina Porat, “The Legend of the Struggle of Jews from the Third Reich in the Ninth Fort Near Kovno, 1941-1942”, Tel Aviver Jahrbuch für deutsche Geschichte, 20 (1991), p. 363-92.

47 Klemperer, To the Bitter End, p. 6 (1o de janeiro de 1942).

48 Ibid., p. 13 (15 de fevereiro de 1942).

49 Ibid., p. 17 (21 de fevereiro-6 de março de 1942).

50 Ibid., p. 25-7 (9-16 de março de 1942).

51 Ibid., p. 54-6 (23 de maio de 1942).

52 Ibid., p. 81 (24 de junho de 1942) (itálicos no original).

53 Ibid., p. 58 (27 de maio de 1942).

54 Solmitz, Tagebuch, p. 652, 655, 679 (22 de maio de 1941, 3 de junho de 1941, 13 de setembro de 1941).

55 Ver a discussão geral em Friedländer, The Years of Extermination, p. 263-7.

56 Citado em Longerich, Der ungeschriebene Befehl, p. 119.

57 Citado em ibid., p. 118.

58 Hillgruber (ed.), Staatsmänner und Diplomaten, I, p. 664.

59 Fröhlich (ed.), Die Tagebücher II/II, p. 222 (2 de novembro de 1941).

60 Avraham Tory, Surviving the Holocaust: The Kovno Ghetto Diary (Cambridge, 1990).

61 Ibid., p. 43-60; e Corni, Hitler’s Ghettos, p. 35.

62 Ibid., p. 31-7.

63 Conforme o persuasivo argumento de Pohl, Von der “Judenpolitik” zum Judenmord, p. 179; para um estudo do debate infindável sobre a data exata de uma suposta ordem, ver Christopher R. Browning, “The Decision-Making Process”, em Dan Stone (ed.), The Historiography of the Holocaust (Londres, 2004), p. 173-96.

64 Citado em Longerich, Der ungeschriebene Befehl, p. 23-4.

65 Christian Gerlach, Kalkulierte Morde: Die deutsche Wirtschafts- und Vernichtungspolitik in Weissrussland 1941 bis 1944 (Hamburgo, 1999), esp. p. 683-743, e 1131-6; para os doentes mentais e deficientes, ver ibid., p. 1.067-74.

66 Herf, The Jewish Enemy, p. 124-7. O discurso foi subsequentemente publicado como um panfleto, O Coração de Ferro.

67 Citado em Longerich, Der ungeschriebene Befehl, p. 139; ver também Jürgen Hagemann, Die Presselenkung im Dritten Reich (Bonn, 1970), p. 125, 146, nota 67.

68 Militär verwaltungsgebiet und im Reichskommissariat 1941-1945”, em Norbert Frei et al. (eds.), Ausbeutung, Vernichtung, Öffentlichkeit: Neue Studien zur nationalsozialistischen Lagerpolitik (Munique, 2000), p. 135-73. Ver também Martin Dean, Collaboration in the Holocaust: Crimes of the Local Police in Belorussia and the Ukraine, 1941-44 (Nova York, 2000); e Shmuel Spector, The Holocaust of Volhynian Jews: 1941-1944 (Jerusalém, 1990).

69 Rudolf Höss, Commandant of Auschwitz: The Autobiography of Rudolf Höss (Londres, 1959 [1951]), p. 165.

70 Klee et al. (eds.), “Those Were the Days”, p. 68.

71 Longerich, Der ungeschriebene Befehl, p. 122-3.

72 Citado em Klee et al. (eds.), “Those Were the Days”, p. 69.

73 Yitzhak Arad, Belzec, Sobibor, Treblinka: The Operation Reinhard Death Camps (Bloomington, Ind., 1999 [1987]), p. 10-1; Longerich, Der ungeschriebene Befehl, p. 123; idem, Politik, p. 441-2; mais detalhes em Beer, “Die Entwicklung der Gaswagen”; chacinas de pacientes mentais enumeradas em Longerich, Politik, p. 403-4.

74 Peter Witte et al. (eds.), Der Dienstkalender Heinrich Himmlers 1941/42 (Hamburgo, 1999), p. 233-4 (13 de outubro de 1941 e nota 35). Também foram traçados planos para a construção de centros de matança em Riga e Mogilev, embora nunca tenham sido realmente construídos.

75 Longerich, Der ungeschriebene Befehl, p. 122-3.

76 Friedländer, The Years of Extermination, p. 314-8; Grojanowski conseguiu escapar e contou sua história a Ringelblum em Varsóvia, onde chegou em janeiro de 1942. Ver também Gilbert, The Holocaust, p. 502.

77 Longerich, Der ungeschriebene Befehl, p. 123; idem, Politik, p. 443.

78 Citado em Klee et al. (eds.), “Those Were the Days”, p. 72-4.

79 Manoschek, “Die Vernichtung”, p. 228-34; também Menachem Schelach, “Sajmiste – an Extermination Camp in Serbia”, Holocaust and Genocide Studies, 2 (1987), p. 243-60; mais detalhes em Glenny, The Balkans, p. 504-6, e Browning, The Origins, p. 344-6, 421-3.