“Não estamos melhor que porcos”

 

 

I

 

 

 

 

O feito de Speer de galvanizar a economia de guerra em um aumento de produção, por mais fútil que se provasse no fim, baseou-se em parte no uso eficiente da força de trabalho. A proporção de trabalhadores industriais engajados na manufatura de armas havia crescido 159% de 1939 a 1941 e, na época em que Speer assumiu o cargo, restava pouco espaço para mais aumento nesse setor. Speer encorajou o uso mais eficiente da mão de obra, não apenas aumentando a quantidade de trabalho em turnos, mas também com a racionalização geral da produção, cortando pela metade o número de horas-
-homem necessárias para fazer um tanque Panzer III, por exemplo. O número de aviões de combate feitos em fábricas alemãs quadruplicou entre 1941 e 1944, e, mesmo que a escolha de datas de conclusão para as estatísticas maximizasse o aumento, o crescimento na produção ainda assim foi bastante real. Todavia, isso foi obtido com uma mão de obra nas fábricas de avião que, em 1944, não era muito maior do que três anos antes: de 390 mil, em vez de 360 mil1.

Ao mesmo tempo, novos braços foram despejados nas indústrias de armamento, aumentando drasticamente o tamanho da força de trabalho em uns poucos setores-chave. Em 1942, o número de operários engajados na produção de tanques cresceu perto de 60%. Um aumento de 90% no número de empregados de fábricas de locomotivas no mesmo ano ajudou a impulsionar a produção de menos de 2 mil em 1941 para mais de 5 mil dois anos depois. O aumento crucial veio na produção de munições, onde 450 mil trabalhadores estavam empregados no outono de 1943, contra 160 mil nas fábricas de tanques e 210 mil na manufatura de armas. Ali também houve aumentos significativos, embora tenham sido inaugurados não por Speer, mas por um programa anunciado em 10 de janeiro de 1942 na gestão de Todt2. A tarefa de recrutar esses novos operários coube ao homem que Hitler nomeou plenipotenciário geral para a mobilização de trabalhadores depois da criação desse novo cargo em 21 de março de 1942: Fritz Sauckel. Este era um tipo muito diferente do profissional burguês afável e refinado como Speer. Nascido em 27 de outubro de 1894, filho de um trabalhador dos correios, Sauckel cresceu em situação de pobreza na Francônia, deixou a escola aos 15 anos, tornou-se grumete em um cargueiro e passou a Primeira Guerra Mundial em um campo de prisioneiros quando o navio foi afundado por uma belonave francesa assim que as hostilidades tiveram início. De volta à Alemanha em 1919, trabalhou como torneiro mecânico em uma fábrica de rolamentos antes de estudar engenharia. Eis, portanto, um verdadeiro plebeu, tanto de origem quanto de estilo de vida. Ao contrário de outras lideranças nazistas, Sauckel parece ter tido um casamento feliz, durante o qual foi pai de nada menos que dez filhos. Em 1923, ele ouviu Hitler falar e foi convertido pela mensagem de necessidade de união nacional. Sauckel permaneceu leal a Hitler depois do golpe fracassado da cervejaria naquele ano, e Hitler recompensou-o com a nomeação de líder regional da Turíngia em 1927. Eleito para a Assembleia Legislativa da Turíngia em 1929, Sauckel tornou-se ministro-presidente da Turíngia quando os nazistas saíram das eleições estaduais de 1932 como o partido mais forte3.

Na década de 1930, ele não só dirigiu a arianização de uma das maiores fábricas de armas da Turíngia, como assegurou-se de que fosse tomada por sua própria empresa holding, a Fundação Wilhelm Gustloff. Portanto, a despeito de suas origens, Sauckel não era alheio ao mundo dos negócios e da indústria. Sua experiência seria útil em 1942. O populismo plebeu de Sauckel encontrou expressão dramática na deflagração da guerra quando, depois de Hitler negar seu pedido para servir nas Forças Armadas, ele infiltrou-se em um submarino como clandestino, sendo descoberto apenas depois de a embarcação fazer-se ao mar. Dada sua proeminência, o chefe da esquadra do submarino, almirante Karl Dönitz, retornou a embarcação ao porto, mas o episódio não causou dano à reputação de Sauckel. Aliado próximo de Martin Bormann, Sauckel deu a impressão, tanto para aquele quanto de fato para Hitler, de ter as qualidades de energia e impiedade necessárias para resolver a questão trabalhista em 1942. Sua ficha de nazista linha-dura asseguraria ao Partido que ele não seria mole com os “sub-humanos” eslavos mesmo que o trabalho deles fosse vital para o esforço de guerra alemão. O novo cargo era subordinado diretamente a Hitler, o que deu a Sauckel, assim como a Speer, enorme influência. Ele a usou, ao menos de início, para trabalhar próximo de Speer na organização e no recrutamento sobretudo de operários estrangeiros, embora a tensão entre os dois homens fosse palpável, transformando-se mais tarde em uma verdadeira luta por poder. Outras instituições que haviam desempenhado um papel na mobilização trabalhista anteriormente, inclusive o Ministério do Trabalho do Reich, o Plano de Quatro Anos e a Frente de Trabalho Alemã, foram efetivamente deixadas de lado. Em contrapartida, o elemento de coerção necessário para colocar a mobilização em prática necessariamente envolvia o Gabinete Central de Segurança do Reich, cujo chefe, Heinrich Himmler, tornou-se assim o terceiro principal jogador em campo, junto com Sauckel e Speer4.

Já havia grande quantidade de trabalhadores estrangeiros na Alemanha – mais de um milhão deles eram poloneses – quando Sauckel assumiu o cargo recém-criado. Como Himmler e Göring consideravam os poloneses inferiores em termos raciais e também em todos os outros, eram vistos como capazes de trabalhar apenas em serviços simples e não especializados na agricultura, onde de fato eram muito necessários devido ao alistamento dos operários alemães no Exército e à migração de longo prazo dos trabalhadores rurais para as cidades5. Do 1,2 milhão de prisioneiros de guerra e civis estrangeiros trabalhando na Alemanha em maio de 1940, 60% estavam empregados na agricultura. Os 700 mil poloneses entre eles trabalhavam quase exclusivamente como peões de fazenda, embora uns poucos estivessem empregados na construção de estradas. Tentativas de convocá-los para as minas surtiram pouco efeito; os trabalhadores poloneses eram inexperientes, muitos estavam com a saúde ruim, desnutridos e inaptos para o pesado trabalho braçal exigido dos mineradores de carvão, e sua produtividade era baixa6. Embora a maioria esmagadora dos operários poloneses tivesse sido recrutada para a agricultura, em meados de 1940 a necessidade bem maior era de operários para a indústria de armas – de acordo com alguns inspetores de armamento, o déficit era de até um milhão. A grande quantidade de prisioneiros de guerra franceses e britânicos durante a campanha de maio-junho de 1940 pareceu notavelmente adequada. No início de julho de 1940, cerca de 200 mil deles já haviam sido enviados para trabalhar na Alemanha; o número aumentou para 600 mil em agosto de 1940 e para 1,2 milhão em outubro de 19407.

Todavia, as tentativas de identificar trabalhadores especializados para emprego na indústria de armas ficaram longe de ser um pleno sucesso. Em dezembro de 1940, mais da metade dos prisioneiros estava empregada, como os poloneses, na agricultura. O déficit teve de ser coberto por voluntários civis. Eles foram recrutados de países orientais ocupados e países aliados da Alemanha, e pelo menos na teoria supunha-se que tivessem os mesmos salários e condições dos operários alemães. Em outubro de 1941, havia 300 mil trabalhadores civis na Alemanha vindos de países orientais, 270 mil da Itália, 80 mil da Eslováquia e 35 mil da Hungria. Os italianos logo tornaram-se impopulares devido às reclamações sobre a comida alemã e ao comportamento desordeiro à noite; além disso, os privilégios concedidos a eles suscitaram ressentimento entre os nativos alemães. Tampouco os trabalhadores estrangeiros ficaram à altura das expectativas de seus empregadores. A maioria deles, conforme reclamava o Serviço de Segurança da SS, dedicava pouco esforço ao trabalho. O motivo era óbvio: seus salários eram mantidos abaixo dos vencimentos de seus equivalentes alemães e não estavam vinculados ao desempenho8.

A invasão da União Soviética, entretanto, introduziu toda uma nova dimensão no emprego de mão de obra estrangeira. De início, como vimos, Hitler, Göring e os administradores econômicos do Reich consideravam o povo dos territórios conquistados na Operação Barba Ruiva dispensáveis. A vitória seria rápida, de modo que seu trabalho não seria necessário. Em outubro de 1941, porém, ficou claro que a vitória não viria naquele ano, e os empresários da indústria da Alemanha começaram a pressionar o regime para fornecer prisioneiros de guerra do Exército Vermelho para as minas, por exemplo, onde a escassez de mão de obra havia provocado uma queda na produção. Em 31 de outubro de 1941, Hitler ordenou que os prisioneiros russos de guerra fossem alistados no trabalho da economia de guerra. Usá--los como operários não especializados permitira dispor dos trabalhadores especializados alemães onde se faziam mais necessários9. Entretanto, a essa altura, haviam morrido tantos prisioneiros de guerra soviéticos e a condição dos restantes era tão precária que apenas 5% dos 3,35 milhões de soldados do Exército Vermelho capturados até o fim de março de 1942 foram realmente usados como trabalhadores10. Com isso, o recrutamento de civis tornou-se ainda mais urgente.

Usando uma mistura de publicidade e incentivos, de um lado, e coerção e terror, de outro, as autoridades civis e militares alemãs nos territórios ocupados do leste deflagraram uma campanha maciça para recrutar trabalhadores civis antes mesmo de Sauckel assumir o cargo. Comissões armadas de recrutamento percorreram o interior detendo e prendendo homens e mulheres jovens e de boa constituição física, ou, se eles houvessem se escondido, maltratando os pais e familiares até que se entregassem. No fim de novembro de 1942, Sauckel afirmou ter recrutado mais de 1,5 milhão de trabalhadores estrangeiros desde sua nomeação, elevando o total a quase 5,75 milhões. Muitos desses, notadamente os do oeste, ficaram sob contratos de seis meses, e uma parte foi liberada como inapta, de modo que o verdadeiro número de operários estrangeiros (incluindo prisioneiros de guerra) empregados na Alemanha em novembro de 1942, na verdade, não passava de 4,665 milhões. No entender de Sauckel, isso foi um feito substancial11. Mas ainda não era o bastante. Em 1942, a guerra no leste havia se transformado exatamente no tipo de guerra de desgaste que Hitler tentara evitar. De junho de 1941 a maio de 1944, as Forças Armadas alemãs perderam em média 60 mil homens mortos por mês na frente oriental. Além disso, outras centenas de milhares ficaram fora de ação por captura, ferimento ou doença12. Substituí-los não foi nada fácil. Quase um milhão de novos recrutas foram obtidos em 1942 baixando-se a idade de alistamento; outros 200 mil homens antes considerados isentos foram recrutados da indústria de armas; aumentar a idade de alistamento para incluir os de meia-idade também foi necessário para engajar muitos deles. Mas essas medidas, por sua vez, exacerbaram a escassez existente de mão de obra na indústria de armas e na agricultura13.

Quanto mais soldados alemães morriam na frente oriental, mais o Exército convocava novos grupos de operários alemães das indústrias de armas antes protegidos, e mais essas indústrias precisavam substituir os empregados que partiam por novas levas de operários estrangeiros. Sem vontade de desagradar a opinião popular na Alemanha aumentando os salários e melhorando as condições dos trabalhadores estrangeiros, o regime apelou cada vez mais para a coação até mesmo no oeste. Em 6 de junho de 1942, Hitler combinou com Pierre Laval, o primeiro-ministro de Vichy, que soltaria 50 mil prisioneiros de guerra franceses em troca do envio de 150 mil operários civis para a Alemanha, em um esquema que em seguida foi ainda mais ampliado. No começo de 1942, Sauckel exigiu que um terço de todos os metalúrgicos franceses, somando cerca de 150 mil operários especializados, fossem realocados para a Alemanha, junto com mais 250 mil trabalhadores de todos os tipos. Em dezembro de 1943, havia mais de 666 mil trabalhadores franceses empregados na Alemanha, junto com 223 mil belgas e 274 mil holandeses. Quanto mais resolutamente as comissões itinerantes de Sauckel capturavam operários das fábricas francesas, mais difícil ficava manter tais fábricas produzindo munições e equipamento para o esforço de guerra alemão. O aumento da coação levou a uma resistência crescente, assim como acontecera antes na Polônia14.

Sauckel sentiu que a esfera de ação que tinha para o recrutamento forçado era consideravelmente maior no leste que no oeste. À medida que a situação militar na frente oriental ficou mais difícil, Exército, autoridades de ocupação e a SS começaram a abandonar quaisquer escrúpulos restantes quanto ao recrutamento de habitantes locais como mão de obra. Ao falar em Posen em outubro de 1943, Heinrich Himmler declarou: “Que 10 mil mulheres russas caiam de exaustão na construção de uma vala antitanque para a Alemanha só me interessa na medida em que a vala seja cavada para a Alemanha15”. A SS queimava aldeias inteiras se os rapazes fugissem da convocação para o trabalho, pegava operários potenciais nas ruas e fazia reféns até que se apresentassem candidatos suficientes para o alistamento – medidas essas que incitavam ainda mais o recrutamento para as guerrilhas. Enquanto isso, as autoridades militares no leste conceberam um plano (Operação Feno) para capturar até 50 mil crianças de dez a 14 anos de idade para o emprego em obras de construção da Força Aérea alemã ou para deportação para a Alemanha a fim de trabalharem em fábricas de armas. Com tais métodos, o número de operários estrangeiros das áreas ocupadas da União Soviética empregados na Alemanha saltou para mais de 2,8 milhões no outono de 1944, incluindo mais de 600 mil prisioneiros de guerra. Nessa época, havia um total de quase 8 milhões de operários estrangeiros no Reich: 46% dos trabalhadores na agricultura eram cidadãos estrangeiros, 33% na mineração, 30% nas indústrias metalúrgicas, 32% na construção, 28% na indústria química e 26% nos transportes. No último ano da guerra, mais de um quarto da força de trabalho da Alemanha consistia de cidadãos de outros países16.

 

 

II

 

O influxo maciço de mão de obra estrangeira mudou o aspecto das aldeias e cidades alemãs da primavera de 1942 em diante. Campos e albergues foram montados por toda a Alemanha para abrigar esses trabalhadores. Apenas em Munique, por exemplo, havia 120 campos de prisioneiros de guerra e 286 acampamentos e albergues para operários civis estrangeiros. Dessa forma, foram disponibilizados 80 mil leitos para os trabalhadores estrangeiros. Algumas empresas empregaram números bastante grandes: no fim de 1944, a fabricante de veículos BMW abrigava 16,6 mil operários estrangeiros em centros especiais17. A fábrica da Daimler-Benz em Untertürkheim, perto de Stuttgart, que fazia motores para aviação e outros produtos bélicos, teve uma força de trabalho de até 15 mil durante a guerra. Excluindo-se o setor de pesquisa e desenvolvimento da companhia, a proporção de trabalhadores estrangeiros aumentou de praticamente nenhum em 1939 para mais da metade em 1943. Eles foram abrigados em 70 instalações diferentes, inclusive alojamentos improvisados, montados em uma velha sala de concertos e uma antiga escola18. Na siderúrgica Krupp em Essen, que perdera mais da metade de seus funcionários alemães do sexo masculino para as Forças Armadas em setembro de 1942, ao mesmo tempo que tinha de lidar com a duplicação do volume de negócios desde 1937 em resposta aos enormes aumentos nas encomendas militares, quase 40% da mão de obra consistia de estrangeiros no começo de 1943. Eles estavam lá porque a empresa apresentara repetidas solicitações às autoridades relevantes do governo (posteriormente ao gabinete de Sauckel) e porque a própria companhia se lançara em uma ofensiva na busca de operários especializados na Europa ocidental. Os altos funcionários da Krupp mexeram os pauzinhos na administração de ocupação alemã na França para garantir a alocação de quase 8 mil trabalhadores, muitos deles altamente especializados, no outono de 1942. O gabinete de Sauckel começou a suspeitar até mesmo de que a companhia preferia funcionários estrangeiros especializados do que os alemães menos qualificados e experientes. Em Essen, cidade da companhia Krupp, os operários estrangeiros moravam em alojamentos privativos ou – se fossem prisioneiros de guerra ou recrutados no leste – em campos especialmente construídos e fortemente guardados. Os campos para os trabalhadores soviéticos eram particularmente mal construídos, com saneamento inadequado e sem roupa de cama e outros acessórios. Uma grande quantidade de civis tinha menos de 18 anos de idade. A dieta reservada a eles era claramente pior que a fornecida às outras nacionalidades. Um capataz da unidade de produção de veículos da Krupp, que também era sargento da SS e assim provavelmente não solidário com os operários soviéticos, queixou-se de que esperavam que ele obtivesse um dia decente de trabalho de homens cuja ração diária “não passava de água com dois nabos boiando nela, igualzinho à água usada para lavar louça”. Outro gerente da Krupp destacou: “Essa gente está morta de fome e sem condição de fazer o serviço pesado na construção de caldeiras para o qual foi designada19”.

A corrupção grassava nos campos de operários estrangeiros, com comandantes e oficiais subtraindo mantimentos e vendendo-os no mercado negro, ou alugando operários especializados para comerciantes locais em troca de bebida ou comida para si mesmos. Havia um comércio ativo de autorização de licenças, com frequência forjadas por reclusos estudados que trabalhavam na administração do campo. Em um campo, um intérprete de alemão e polonês estabeleceu uma disseminada roda de prostituição usando as moças reclusas e subornando os guardas alemães para fecharem os olhos com comida roubada das cozinhas do campo. Eram comuns as relações sexuais entre oficiais alemães do campo e as reclusas; elas com frequência eram coagidas, e o estupro não era incomum. Para as necessidades sexuais dos trabalhadores estrangeiros, haviam sido especialmente estabelecidos 60 bordéis até o fim de 1943, com 600 prostitutas, todas (pelo menos de acordo com o Serviço de Segurança da SS) voluntárias de Paris, da Polônia e do Protetorado Tcheco, e todas ganhando uma bela soma de dinheiro pelo oferecimento de serviços sexuais aos trabalhadores. É questionável se o trabalho delas era tão lucrativo quanto a SS supunha. Em um bordel do campo de Oldenburg, por exemplo, cerca de seis a oito mulheres registraram 14.161 visitas de clientes ao longo de 1943, ganhando 200 reichsmarks por semana, com 110 deduzidos como custos de moradia20. Se essas medidas pretendiam impedir as ligações entre operários estrangeiros e cidadãos alemães, elas fracassaram. O contato social entre alemães e operários estrangeiros ocidentais não era proibido se estes não fossem prisioneiros de guerra, e inevitavelmente houve muitos encontros sexuais, tantos, na verdade, que o Serviço de Segurança da SS estimou que, como resultado, pelo menos 20 mil filhos ilegítimos nasceram de mulheres alemãs, de modo que o “perigo de contaminação estrangeira do sangue do povo alemão estava aumentando constantemente21”.

A situação dos trabalhadores poloneses no Reich era particularmente ruim. No interior, conforme os observadores secretos dos sociais-democratas alemães registraram em fevereiro de 1940, os aldeões estavam prestando auxílio aos operários poloneses de todas as maneiras. Especialmente nas zonas do leste, os alemães estavam acostumados há décadas a usar poloneses como operários migrantes sazonais. O regime ficou consternado com tal fraternidade, reagindo com propaganda detalhando as atrocidades supostamente cometidas pelos poloneses e apresentando evidências de sua alegada inferioridade racial e a ameaça que isso representaria22. Baseado na experiência de lidar com trabalhadores tchecos recrutados pelo Reich depois de março de 193923, o regime nazista, após discussões entre Hitler, Himmler e Göring, emitiu uma série de decretos em 8 de março de 1940 para assegurar-se de que a inferioridade dos poloneses fosse claramente reconhecida na Alemanha. Foram distribuídos panfletos aos operários poloneses na Alemanha advertindo-os de que corriam o risco de ser enviados para um campo de concentração caso fossem indolentes no trabalho ou atentassem contra a operação industrial. Eles recebiam salários mais baixos que alemães fazendo o mesmo trabalho, estavam sujeitos a impostos especiais e não ganhavam bônus ou subsídio por doença. Deviam usar um distintivo indicando sua condição de trabalhadores poloneses – um precursor da “estrela judaica” introduzida no ano seguinte. Tinham de ser abrigados em alojamentos separados e se manter longe de instituições culturais alemãs e locais de divertimento como bares, estalagens e restaurantes. Não podiam usar as mesmas igrejas que os católicos alemães. Para evitar as ligações sexuais com alemãs, recrutavam-se números iguais de ambos os sexos da Polônia, ou, onde não fosse possível, estabeleciam-se bordéis para os homens. Os trabalhadores poloneses não tinham permissão para usar transportes públicos. Eram submetidos a toque de recolher. Relação sexual com uma mulher alemã era passível de morte para o homem polonês envolvido, por ordens pessoais de Hitler. Qualquer alemã que se envolvesse em um relacionamento com um trabalhador polonês deveria ser publicamente identificada e humilhada, tendo, entre outras coisas, a cabeça raspada. Se não fossem condenadas à prisão por um tribunal, deveriam de qualquer forma ser mandadas para um campo de concentração. O padrão sexual duplo em vigor sob o regime nazista garantia que punições semelhantes não fossem decretadas para homens alemães que tivessem relações sexuais com mulheres polonesas. Durante a primeira fase da guerra, esses decretos foram amplamente distribuídos às autoridades locais e aplicados em vários locais, às vezes como resultado de denúncias de membros da comunidade, embora os atos rituais de humilhação, como raspar a cabeça das mulheres, também causassem desassossego popular disseminado24. Um incidente típico ocorreu em 24 de agosto de 1940 em Gotha, quando um operário polonês de 17 anos foi enforcado em público sem julgamento diante de 50 poloneses (forçados a assistir) e 150 alemães (que assistiram por vontade própria). Seu delito foi ter sido flagrado em intercurso sexual com uma prostituta alemã. Tais incidentes tornaram-se mais comuns do outono de 1940 em diante25. Os poloneses deveriam ser mantidos separados da sociedade alemã por todos os meios possíveis. Não é de surpreender, portanto, que muitos fugissem e que a resistência ao recrutamento se espalhasse depressa pela Polônia26.

Os prisioneiros de guerra soviéticos que trabalhavam na Alemanha eram tratados com severidade ainda maior que os poloneses27. Em um encontro ocorrido em 7 de novembro de 1941, Göring dispôs as diretrizes básicas:

 

O lugar dos operários alemães especializados é na indústria de armamentos. Limpar sujeira e escavar pedras não são serviços para eles – os russos estão aqui para isso [...] Nada de contato com a população alemã, em especial nada de “solidariedade”. O trabalhador alemão basicamente é sempre o chefe dos russos [...] Fornecimento de comida é assunto do Plano de Quatro Anos. Os russos que arranjem a própria comida (gatos, cavalos etc.). Vestuário, moradia e manutenção um pouco melhores do que o que eles têm em casa, onde alguns ainda vivem em cavernas [...] Supervisão: membros das Forças Armadas durante o trabalho, bem como trabalhadores alemães atuando como polícia auxiliar [...] Âmbito de punição: de corte nas rações de comida a execução por esquadrão de fuzilamento; no geral, nada entre uma coisa e outra28.

 

Parte da intenção dessas regulamentações era cooptar a classe operária alemã para a ideologia do regime, da qual muitos de seus membros ainda permaneciam distantes, alistando-os como membros da raça dominante em seus contatos com os russos. O meio-termo mais amplo que elas representavam entre os impulsos racistas exterminadores da SS, de um lado, e a necessidade de mão de obra, de outro, foi expresso, tanto aí como em outras situações, pelo recrutamento dos supostamente sub-humanos como trabalhadores, mas eles continuavam a ser tratados como sub-humanos ao lhe serem negadas condições decentes de vida e obrigados a viver sob um regime draconiano de supervisão e punição. Em 20 de fevereiro de 1942, após semanas de negociação, Heydrich assinou um projeto de decreto ordenando que prisioneiros de guerra soviéticos e trabalhadores forçados que – afirmava-se – tivessem sido criados sob o bolchevismo, sendo, portanto, inimigos inveterados do nacional-socialismo, fossem segregados dos alemães tanto quanto possível, usassem um distintivo especial e fossem punidos com enforcamento se praticassem relação sexual com alemãs29.

Quer tivessem vindo como voluntários ou não, os trabalhadores forçados soviéticos eram todos tratados da mesma forma: amontoados em alojamentos, submetidos a rituais humilhantes de despiolhamento e alimentados com pão e sopa aguada. “Não estamos melhor que porcos”, reclamaram duas moças russas que foram como voluntárias e por isso tinham permissão para escrever a seus parentes em casa no começo de 1942. “[...] É como estar na cadeia, e o portão está trancado [...] Não temos permissão para sair para lugar nenhum [...] Levantamos às cinco da manhã e vamos para o trabalho às sete. Terminamos às cinco da tarde30.” Tuberculose e doenças semelhantes grassavam31. Os empregadores logo começaram a reclamar que os trabalhadores do leste estavam tão desnutridos que, todos os dias, mais de 10% faltavam devido a doenças, e o resto mal tinha condições de trabalhar. Algumas mulheres sofriam desmaios por fome enquanto trabalhavam. Relatos sobre a forma como os russos eram tratados chegaram aos parentes e amigos em casa e levaram a um rápido declínio no número de voluntários. O Ministério do Leste, de Rosenberg, exigiu uma melhora no tratamento; em 13 de março de 1942, quando Speer fez um relatório da situação para Hitler, o Líder ordenou que os trabalhadores civis russos não deveriam ser mantidos confinados e teriam seus salários aumentados, bônus por desempenho e rações melhoradas. Por outro lado, qualquer insubordinação era passível de morte. Em 9 de abril de 1942, essas ordens foram expressas em um novo conjunto de regulamentações que Sauckel colocou em prática imediatamente, revestindo-as com uma retórica brutal destinada a assegurar aos ideólogos nazistas que os russos racialmente inferiores não estavam sendo tratados com espírito humanitário. Se desobedecessem ordens, disse Sauckel, seriam entregues à Gestapo e “enforcados, fuzilados!”. Se agora estavam recebendo rações decentes, era porque “até uma máquina só pode funcionar se eu lhe der combustível, óleo lubrificante e cuidar de suas necessidades”. Do contrário, os russos se tornariam um fardo para o povo alemão ou até mesmo uma ameaça à sua saúde32.

Essa retórica conseguiu superar a hostilidade da SS ao recrutamento de civis soviéticos. Entretanto, foi considerado vital para os objetivos políticos que seus salários e condições não fossem substancialmente melhorados no momento em que as rações para os alemães estavam sendo reduzidas. Isso causaria reações hostis entre a população alemã. De qualquer modo, seu padrão de vida no leste era mais baixo, argumentou-se. Por outro lado, era igualmente importante não deixar seus salários tão baixos que os empregadores demitissem operários alemães para contratá--los. Para evitar isso, os empregadores tinham de pagar uma sobretaxa especial para trabalhadores do leste. E, para melhorar o ritmo do trabalho, os operários recebiam por unidade produzida e bônus de produtividade, especialmente quando se percebeu que o programa de industrialização forçada de Stálin da década de 1930 havia provido muitos deles com habilidades muitíssimo necessárias à indústria alemã. A despeito de melhorias limitadas como essas, o número de alistamentos aumentou. Sauckel, todavia, julgou necessário lembrar aos oficiais nazistas locais em setembro de 1942 que “russos fatigados, semimortos de fome e mortos não mineram carvão para nós, são totalmente inúteis para produzir ferro e aço33”. No fim de 1942, portanto, os operários estrangeiros estavam se tornando vitais tanto para a indústria quanto para a agricultura na Alemanha. Ao mesmo tempo, porém, a SS e as agências da lei do Partido ficavam cada vez mais preocupadas com o que viam como a ameaça à segurança representada pela presença de enormes contigentes de homens e mulheres de países conquistados nas cidades e aldeias da Alemanha, e tentavam controlá-la por todos os meios possíveis. Com a concordância do Escritório Central da Segurança do Reich, Martin Bormann montou uma operação especial de vigilância, com unidades de membros confiáveis do Partido, ex-soldados, homens da SS e da SA para monitorar os operários estrangeiros e denunciá-los caso violassem normas, como usar transporte público, frequentar bares ou andar de bicicleta, por exemplo34.

Não só as condições desses trabalhadores eram precárias como a segurança na prática também era muito frouxa, a despeito das punições draconianas para infrações das regras. Em abril de 1942, à medida que o programa de importação de mão de obra entrava em andamento, mais de 2 mil prisioneiros de guerra e civis soviéticos escaparam dos campos e albergues; três meses depois, o número havia se multiplicado mais de dez vezes. Em agosto de 1942, a Gestapo previu em desespero que haveria pelos menos outros 30 mil foragidos até o fim do ano. Mesmo que a afirmação sobre a recaptura de três quartos dos fugitivos fosse correta, era claro que a situação estava saindo do controle. Assumindo o comando da situação no mês seguinte, Heinrich Müller, chefe da Gestapo, montou bloqueios de estrada e cordões por todo o país, instituiu barreiras de fiscalização nas estações de trem e colocou homens em cidades do interior para conferir os documentos de pedestres com aparência suspeita. Com isso, o influxo em massa de operários estrangeiros agora tinha um efeito drástico na vida dos alemães comuns, à medida que as verificações e o controle da polícia tornavam-se mais invasivos que nunca. Eram tantos os trabalhadores estrangeiros em Hamburgo na primavera de 1941, anotou Luise Solmitz em seu diário, que havia “uma babel confusa de idiomas sempre que se ouvia pessoas conversando35”.

 

Enquanto isso, Fr.[iedrich] Solmitz viu uma procissão miserável de operários estrangeiros na rua Ostmark: moças loiras, gente jovem, entre eles os inconfundíveis asiáticos, gente velha, cambaleando sob seus fardos, sem um sorriso do leste, curvados sob seus parcos pertences, quase a morrer de cansaço. “Saiam da calçada, seus bandidos!36

 

Simpatia desse tipo não era incomum, embora, conforme a referência de Luise Solmitz a asiáticos sugere, o povo alemão com frequência tivesse uma sensação de superioridade racial sobre prisioneiros soviéticos e trabalhadores forçados37. Quando, poucos meses depois, ele deu um pouco de comida a um trabalhador forçado faminto, Friedrich Solmitz foi denunciado anonimamente à polícia e detido pela Gestapo; teve a sorte de escapar com apenas uma advertência38.

 

 

III

 

Um grande motivo para o recrutamento em massa de mão de obra estrangeira para a indústria de armas estava no fato de, por uma variedade de motivos, o regime não colocar um número suficiente de mulheres alemãs na força de trabalho. As possibilidades para isso eram de fato bastante limitadas. Por muitas décadas, a participação das mulheres na força de trabalho fora muito maior na Alemanha do que na economia industrial mais avançada da Grã-Bretanha. Em 1939, mais da metade de todas as mulheres entre 15 e 60 anos de idade da Alemanha estava no trabalho, comparadas a apenas um quarto no Reino Unido. Graças a um esforço considerável, a taxa de participação britânica cresceu para 41% em 1944; mas jamais alcançou a da Alemanha. A cota feminina na força de trabalho alemã também era maior que nos Estados Unidos, que ficava em 26%. O motivo básico era que as fazendas pequenas, tão características de muitas regiões agrícolas da Alemanha, dependiam pesadamente do trabalho feminino, ainda mais à medida que os homens partiam para o front ou eram sugados pela indústria de munições. Em 1939, nada menos que 6 milhões de mulheres alemãs trabalhavam em fazendas, em comparação com meras 100 mil na Grã-Bretanha. À medida que os homens foram convocados para o Exército ou para a produção de armas, a proporção de mulheres na força de trabalho nativa alemã aumentou de 55% em 1939 para 67% em 1944; esse trabalho era parte vital da produção de guerra, e as mulheres engajadas nele eram ajudadas nos momentos cruciais, tais como os meses de colheita, pelo recrutamento de trabalho temporário feminino adicional, envolvendo, por exemplo, quase 950 mil mulheres no verão de 1942. Acima e além de tudo isso, centenas de milhares de mulheres trabalhavam como ajudantes de família não remuneradas nas fazendas ou em lojas. Em 1941, 14 milhões de mulheres estavam empregadas, constituindo 42% da mão de obra nativa (já havia um número substancial de trabalhadoras estrangeiras na Alemanha antes da guerra, e seu número também aumentou). Quanto mais esse índice poderia subir?39 Os gestores da economia consideravam que, mesmo com os mais vigorosos esforços para mobilizar as mulheres para a produção de guerra, não seria possível recrutar mais que 1,4 milhão de pares de mãos extras. Essa era uma mera fração do número realmente necessário40.

Quando a guerra começou, a Alemanha, na verdade, experimentou uma queda no emprego feminino, com meio milhão de mulheres deixando o mercado de trabalho entre maio de 1939 e maio de 1941. Isso ocorreu em grande parte devido à retração nas indústrias têxtil, calçadista e de bens de consumo em geral, que empregavam grande quantidade de mulheres. Cerca de 250 mil trabalhadoras haviam sido transferidas desses setores para a indústria bélica em junho de 1940. Entre maio de 1939 e maio de 1942, o número de mulheres trabalhando na indústria bélica subiu de 760 mil para pouco mais de 1,5 milhão, ao passo que nas indústrias de bens de consumo caiu de pouco mais de 1,6 milhão para menos de 1,3 milhão. A Frente de Trabalho Alemã, em consequência disso, fez intensa pressão para a melhoria das condições das operárias, a fim de atrair mais mulheres para a indústria de armas. Em maio de 1942, obteve sucesso ao conseguir um aumento da verba do governo no que diz respeito a creches para operárias casadas, e uma licença melhorada para as trabalhadoras nas semanas antes e depois do parto, bem como novas restrições no horário de trabalho de gestantes e mães que estivessem amamentando. Mas o efeito desses incentivos era mais do que neutralizado pelas generosas pensões proporcionadas às esposas e viúvas de homens em serviço militar; em alguns casos, somavam até 85% do salário dos homens em suas ocupações civis prévias. O próprio Hitler opunha-se pessoalmente ao recrutamento de mulheres alemãs para a indústria bélica porque pensava que isso poderia prejudicar suas perspectivas de procriação ou até desencorajá-las por completo de ter filhos. Ele vetou pessoalmente a ideia de se recrutar mulheres alemãs de 45 a 50 anos de idade para os esquemas de trabalho em novembro de 1943, declarando que isso afetaria sua capacidade de cuidar do marido e da família; no ano anterior, ele também interviera para tentar garantir que as mulheres alemãs que se candidatassem a emprego relacionado à guerra recebessem serviços de escritório relativamente pouco exigentes. Mobilizar mulheres com filhos pequenos não era considerado aceitável em nenhum país beligerante, e de qualquer modo, em 1944, mais de 3,5 milhões dessas mulheres na Alemanha estavam em serviços de meio período, o que era quatro vezes mais que no Reino Unido. O mais fundamental talvez é que Hitler estava obcecado, como sempre, com o que via como o precedente da “punhalada pelas costas” que julgava ter causado a derrota da Alemanha em 1918. As mulheres da frente doméstica haviam ficado descontentes e ressentidas por serem forçadas ao trabalho mal pago, exaustivo e perigoso nas fábricas, e algumas haviam participado de greves que Hitler achava que haviam minado o moral na frente doméstica. O apoio previdenciário inadequado havia levado as mulheres a participar de tumultos por comida e espalhado o sentimento contrário à guerra mais amplamente entre a população. Ele estava determinado a impedir que isso acontecesse na Segunda Guerra Mundial41.

Em 1º de setembro de 1939, para garantir, Hitler conclamou as mulheres a se unir à “comunidade combatente” da Alemanha e dar sua contribuição ao esforço de guerra. Mas que contribuição era essa?42 As tentativas do regime de impulsionar o papel da mãe na “comunidade nacional” alemã continuaram infatigavelmente durante a guerra: as organizações nazistas de mulheres prosseguiram com as exposições itinerantes sobre maternidade, cursos de puericultura e celebrações do Dia das Mães que organizavam antes da guerra43. Com a publicação constante de literatura louvando a mãe alemã, apareceram novas coleções de ensaios, voltadas ao consumo feminino, recontando a vida de mulheres alemãs heroicas do passado. Seu heroísmo, porém, não consistia em feitos guerreiros, mas apenas em ajudar nobremente seus homens, mandando o marido e os filhos para a batalha ou protegendo as crianças quando o inimigo aparecia. A coragem das mulheres em tempos de guerra transparecia principalmente em sua recusa em ceder ao desespero ao saber da morte de alguém querido em batalha. A propaganda em vários meios de comunicação insistia em que, como donas de casa, as mulheres podiam contribuir para o esforço de guerra comportando-se de forma responsável como consumidoras e mantendo a família vestida e alimentada em circunstâncias econômicas difíceis. Se as mulheres tinham de ser persuadidas a se engajar no trabalho de guerra, então deveria ser um trabalho de guerra em conformidade com o que a ideologia nazista considerava sua essência feminina. Se atuassem como guardas antiaéreos, fariam-no para proteger a família alemã; se fizessem munição em uma fábrica, estariam provendo os filhos da nação com as armas de que precisavam para sobreviver em batalha. O sacrifício altruísta deveria ser seu quinhão. Foi relatado que uma mulher que trabalhava em uma fábrica enquanto o filho servia no front disse: “Antes eu passava manteiga no pão para ele, agora pinto granadas e penso: isso é para ele44”.

Não havia um equivalente alemão para “Rosie, a Rebitadora”, o muito alardeado ícone de propaganda americana que arregaçava as mangas alegremente para ajudar no esforço de guerra fazendo o que tradicionalmente fora considerado um serviço de homem em um mundo industrial de homens45. A despeito de todas as medidas de assistência social projetadas para proteger as mães trabalhadoras, o fato é que na Alemanha, assim como em outros países, a maioria das mulheres em trabalho remunerado em turno integral eram jovens e não casadas. Organizações como a Liga das Moças Alemãs e a Frente de Trabalho Alemã fizeram de tudo para recrutar mulheres para vários tipos de serviços relacionados à guerra, e a extensão em que moças nazistas comprometidas candidataram-se a serviços movidas pelo entusiasmo pela causa não deve ser subestimada. O percentual de mulheres na força civil de trabalho cresceu, segundo uma estimativa, de 37% em 1939 para 51% em 1944, e também havia 3,5 milhões de mulheres trabalhando em meio expediente em turnos de até oito horas nessa época. Mas é claro que a força de trabalho civil alemã estava encolhendo o tempo todo. Cada vez mais homens alemães partiam para o front, de modo que o número real de mulheres em empregos pagos cresceu apenas de 14,626 milhões em maio de 1939 para 14,897 milhões em setembro de 194446. Os empregadores simplesmente acharam mais fácil contar com a mão de obra estrangeira. Podiam obter da França ou das áreas conquistadas da União Soviética trabalhadores especializados, ou pelo menos treinados, e em todo caso (pelo menos na teoria) capazes de trabalho físico pesado. E podiam empregá-los por salários muito baixos e sem ter de organizar e proporcionar os extensos privilégios e benefícios a que as trabalhadoras alemãs tinham direito47.

É claro que os empregadores não faziam objeção a mulheres operárias. De fato, em maio de 1944, as mulheres somavam 58% de todos os trabalhadores poloneses e soviéticos civis na Alemanha. Muitas estavam empregadas como domésticas, para ajudar as mulheres alemãs em casa enquanto as moças alemãs que em tempos de paz normalmente teriam assumido esse papel eram enviadas para um ano de serviço compulsório. Em 10 de setembro de 1942, Sauckel emitiu um decreto para a importação de empregadas domésticas do leste. Em parte, estava regularizando uma situação, pois muitos administradores civis e oficiais das Forças Armadas já haviam trazido mulheres dos territórios ocupados para sua casa na Alemanha como empregadas domésticas. Consultado sobre o assunto, Hitler deixou de lado possíveis objeções raciais: muitas mulheres da Ucrânia, declarou ele, de qualquer modo, eram de descendência alemã, e, se fossem loiras de olhos azuis, poderiam ser germanizadas após um período adequado de serviço no Reich. O decreto de Sauckel exigia devidamente que as mulheres, que deveriam ter de 15 a 35 anos de idade, fossem o mais parecidas possíveis com as mulheres alemãs. Famílias de classe média agarraram a oportunidade avidamente. Empregar uma doméstica do leste tornou-se um novo símbolo de status. Ao contrário das serviçais alemãs, as mulheres do leste podiam receber ordens para fazer qualquer tipo de trabalho, não importando o quão sujo ou pesado; elas eram baratas; podiam ser obrigadas a trabalhar por longas horas sem férias e ser mantidas em uma posição de subordinação completa. Conforme relatou o Serviço de Segurança da SS, “uma grande proporção das donas de casa reclamou repetidas vezes que, em contraste com as moças russas, as ajudantes domésticas alemãs são com frequência insolentes, preguiçosas e devassas, e tomam todo tipo de liberdade48”. Ter uma empregada russa em casa permitiu às famílias de classe média voltar aos bons tempos de quando os criados conheciam seu lugar e faziam o que lhes mandavam49.

Raciocínio semelhante foi aplicado pelos empregadores da indústria. Diferentemente das alemãs, as mulheres do leste podiam ser colocadas nos turnos da noite e receber tarefas físicas pesadas. Não podiam tirar férias e eram consideradas dóceis e obedientes. “Queremos mais operárias do leste!”, declarou a gerência da fábrica óptica Carl Zeiss em Jena, em junho de 194350. Dada a quantidade, era inevitável que houvesse relacionamentos sexuais entre homens alemães e trabalhadoras estrangeiras em larga escala. Como era típico, Himmler e a SS ficaram preocupados com as crianças resultantes dessas relações. Algumas mulheres polonesas e outras engravidaram deliberadamente, por pensar que isso as mandaria de volta para casa51. Mas, a partir do fim de 1942, operárias estrangeiras grávidas não deviam ser deportadas de volta ao local de origem, mas examinadas para determinar se havia probabilidade de a criança ser de “boa linhagem racial”. Se o diagnóstico fosse positivo, elas deveriam ser tiradas da mãe após o desmame, colocadas em maternidades especiais – sem a permissão da mãe, caso ela fosse do leste – e criadas como alemãs. As outras eram colocadas em maternidades para crianças estrangeiras. Esses bebês eram de baixa prioridade em termos de nutrição e padrões gerais de cuidado e amparo. Em uma dessas casas, em Helmstedt, 96% das crianças polonesas e russas morreram entre maio e dezembro de 1944 de doenças e desnutrição, ao passo que 48 de 120 em outra casa em Voerde morreram em uma epidemia de difteria no mesmo ano. A taxa de mortalidade entre os bebês de operárias russas e polonesas colocados no lar de crianças da fábrica da Volkswagen em Wolfsburg era comparável. Um general da SS relatou a Himmler, em 11 de agosto de 1943, que as crianças de uma casa que ele visitou obviamente estavam sendo “deixadas a morrer de fome lentamente52”. Políticas como essa devem ter tido um efeito no moral e no comprometimento de muitos operários estrangeiros. Todavia, ao passo que entre 1939 e 1941 a produção por operário da indústria de armas caiu quase um quarto, começou a se recuperar em 1942, e a produtividade havia melhorado claramente em 1944. O motivo para isso jazia sobretudo nos princípios de racionalização introduzidos por Speer e seus aliados e levados a termo com tamanha determinação que 1944 se revelaria o ponto culminante da economia de guerra alemã.

 

 

IV

 

Uma parte essencial do gerenciamento da economia armamentista de Speer foi sua colaboração não só com a SS, mas também com a indústria alemã. Logo surgiu um elo de interesses comuns. Em sua busca por mão de obra barata e obediente, indústrias de toda a Alemanha olharam além dos operários estrangeiros disponíveis e começaram a recrutar reclusos dos campos de concentração. Em outubro de 1944, por exemplo, os 83,3 mil trabalhadores estrangeiros empregados pelo conglomerado químico gigante da I. G. Farben – 46% da força de trabalho total – incluíam não apenas 9,6 mil prisioneiros de guerra, mas também 10,9 mil prisioneiros fornecidos pelo sistema de campos. Entre as unidades industriais essenciais montadas pelo conglomerado durante a guerra estava uma enorme fábrica de buna (borracha sintética) em Monowitz, a cinco quilômetros da cidade de Auschwitz. Situava-se longe o bastante a leste para ficar fora do alcance dos bombardeios, mas desfrutava de boas conexões ferroviárias e estava próxima de boas fontes de água, cal e carvão. Uma vez acertada a construção, em 6 de fevereiro de 1941, Carl Krauch, diretor da I. G. Farben e também chefe de pesquisa e desenvolvimento do Plano de Quatro Anos de Göring, fez Göring pedir a Himmler para fornecer mão de obra tanto de alemães étnicos reassentados na área quanto de reclusos do campo de concentração vizinho (na época prisioneiros políticos e militares poloneses) a fim de acelerar a obra. A companhia concordou em pagar à SS de três a quatro reichsmarks por turno de nove a 11 horas completados por prisioneiro, enquanto o comandante do campo, Rudolf Höss, concordou em fornecer trens e comida e abrigar os reclusos, e construir uma ponte e um ramal ferroviário do campo até a fábrica. Na primavera de 1942, havia 11,2 mil homens trabalhando no local, 2 mil deles do campo. Otto Ambros, que comandava o programa de buna na I. G. Farben, declarou que a companhia tornaria “essa fundação industrial uma pedra angular do germanismo viril e saudável no leste”. “Nossa nova amizade com a SS”, relatou ele privadamente a seu chefe dentro da companhia, Fritz terMeer, “está se mostrando muito benéfica53”.

No fim de 1943, porém, a construção ainda estava longe de concluída. Até 29 mil operários foram empregados em Monowitz, quase metade deles estrangeiros, cerca de um quarto alemães étnicos e o restante reclusos do campo. Os maus-tratos dos prisioneiros pelos guardas da SS, junto com as parcas rações que recebiam e a falta de instalações médicas e sanitárias básicas nos alojamentos da obra, onde dormiam em dois ou três por cama, fez que um número crescente ficasse doente ou não tivesse condições de cumprir as longas horas de trabalho braçal pesado exigidas na construção. Além disso, a essa altura, a grande maioria dos reclusos do campo eram judeus. Muito provavelmente a convite dos gerentes da companhia no local, um oficial da SS no campo foi convocado, inspecionou os 3,5 mil prisioneiros engajados na obra e mandou aqueles considerados inaptos para trabalhar de volta ao campo principal de Auschwitz para serem mortos a gás. Dali em diante, essas “seleções” seriam repetidas a intervalos frequentes, de modo que, em 1943-44, um total de 35 mil reclusos passou por Monowitz, dos quais sabe-se que 23 mil morreram de doença ou exaustão, ou foram mandados para as câmaras de gás; o total pode ter chegado a 30 mil. Em sua residência, os gerentes da companhia ficavam expostos ao fedor constante das chaminés dos crematórios e, além disso, durante alguns períodos de setembro de 1942 em diante, das grelhas onde grandes quantidades de cadáveres às vezes eram queimados a céu aberto. Os supervisores e gerentes da I. G. Farben sabiam do extermínio em massa em andamento em Birkenau e da sina que aguardava aqueles identificados pela SS como inaptos para trabalhar na unidade de Monowitz: de fato, alguns até usavam as câmaras de gás como ameaça aos prisioneiros que achavam que não estavam dando duro o bastante. Enquanto isso, a SS acumulava uma bela renda graças à colaboração com a gigante química, recolhendo no total algo em torno de 20 milhões de reichsmarks em pagamentos da companhia pelos operários54.

O uso de prisioneiros de campos de concentração como trabalhadores foi o resultado de uma mudança significativa na natureza, na extensão e na administração dos campos ocorrida no começo de 1942. Quase tão logo a guerra começou, Theodor Eicke, que dirigia os campos desde os primeiros tempos do Terceiro Reich, foi transferido para tarefas militares; ele foi morto em ação na Rússia em 16 de fevereiro de 1943. Sob seu sucessor, Richard Glücks, a população geral do sistema de campos expandiu-se rapidamente de um total de 21 mil às vésperas da guerra para 110 mil em setembro de 1942. É claro que esse total não inclui os campos de extermínio da Operação Reinhard, onde os prisioneiros não eram registrados, mas mandados diretamente para as câmaras de gás, exceto um pequeno número empregado por algum tempo nos destacamentos especiais. Grande quantidade dos novos reclusos eram trabalhadores poloneses, e a partir de 1940 também oponentes conhecidos ou suspeitos de oposição ao regime de ocupação alemã no Protetorado da Boêmia e Morávia, na França, na Bélgica, na Noruega, na Holanda e na Sérvia. Trabalhadores, profissionais liberais e clérigos eram um alvo específico. Com a invasão da União Soviética, vieram mais detenções. Uma tabela das detenções efetuadas pela Gestapo em outubro de 1941 através do Reich mostrou que o total do mês foi de 544 detenções por “comunismo e marxismo”, 1.518 por “oposição”, 531 por “associação proibida com poloneses ou prisioneiros de guerra” e nada menos que 7.729 por “parar de trabalhar”. Outros, em números menores, foram detidos por oposição religiosa ao regime ou porque eram judeus que haviam sido soltos de um campo após o pogrom de novembro de 1938 sob a condição de emigrar e não cumpriram essa determinação55.

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Mapa 13. Campos de concentração e satélites, 1939-45

A expansão do sistema nos dois anos e meio iniciais da guerra envolveu o estabelecimento de novos campos, inclusive Auschwitz, Gross-Rosen e Stutthof. A despeito da tentativa de Himmler de insistir em que algumas das novas fundações fossem realmente campos de trabalho, a distinção entre campo de concentração, campo de trabalho e gueto tornou-se cada vez mais nebulosa com o avanço da guerra. Isso ocorreu em parte porque a necessidade rapidamente crescente de mão de obra para a economia de guerra alemã tornou a população dos campos uma fonte cada vez mais óbvia de operários para as indústrias relacionadas à guerra. A mudança mais importante nesse sentido veio como parte da reorganização geral da economia de guerra após a derrota do Exército da Alemanha diante de Moscou e a nomeação de Albert Speer como ministro de Armamentos. Em 16 de março de 1942, Himmler transferiu a Inspetoria dos Campos de Concentração para o Escritório Central de Economia e Administração da SS, comandado por Oswald Pohl. Esse tornou-se o canal através do qual as empresas solicitavam a provisão de mão de obra, e a SS colocou mais e mais operários poloneses e do leste nos campos, de modo que pudessem atender à demanda. Em 30 de abril de 1942, Pohl escreveu a Himmler resumindo a mudança de função que ocorria nos campos naquele momento:

 

A mobilização de toda a mão de obra dos campos inicialmente para tarefas militares (para aumentar a produção de armamentos) e depois para programas de construção de tempos de paz está se tornando cada vez mais importante. Essa percepção requer uma ação que permita uma transformação gradual dos campos de concentração de sua antiga forma política unilateral em uma organização adequada aos requisitos econômicos56.

 

Himmler concordou plenamente com essa mudança radical, embora continuasse a insistir em que os campos deveriam efetuar reeducação política, “do contrário poderia aumentar a suspeita de que detemos pessoas, ou as mantemos presas se foram detidas, a fim de ter trabalhadores57”.

A mão de obra era provida basicamente segundo os mesmos arranjos de Monowitz: a SS recebia um pagamento e em troca supervisionava e guardava os destacamentos de trabalho, certificava-se de que trabalhassem duro e lhes fornecia roupas, comida, acomodações e assistência médica. Himmler ordenou que os trabalhadores especializados entre a população do campo fossem identificados e que outros recebessem treinamento quando fosse apropriado. O grosso era usado em projetos de construção, para trabalho braçal pesado e relativamente não especializado, mas Himmler pretendia que a especialização fosse explorada onde existisse. Desde 1933, muitos reclusos já marchavam para fora dos campos diariamente a serviço, mas desse ponto em diante a escala da expansão do sistema foi tal que logo se tornou necessário estabelecer subcampos perto dos postos de trabalho a mais de um dia de marcha do campo principal. Em agosto de 1943, havia 224 mil prisioneiros nos campos; o maior era o complexo dos três campos de Auschwitz, com 74 mil, seguido de Sachsenhausen, com 26 mil, e Buchenwald, com 17 mil. Em abril de 1944, os reclusos estavam abrigados em 20 campos e 165 subcampos. Em agosto de 1944, o número de reclusos havia subido para quase 525 mil. De modo igualmente crescente, os trabalhadores forçados dos territórios ocupados foram transferidos para o Reich, e assim, em janeiro de 1945, havia quase 715 mil reclusos, inclusive mais de 202 mil mulheres58.

A essa altura, a proliferação de subcampos, muitos deles bastante pequenos, havia atingido tal dimensão que praticamente não havia cidade do Reich que não tivesse prisioneiros de campos de concentração trabalhando nela ou nas proximidades. Neuengamme, por exemplo, tinha nada menos que 83 subcampos, inclusive em Alderney, nas ilhas do Canal. Auschwitz tinha 45. Alguns eram muito pequenos, como em Kattowitz, onde dez prisioneiros de Auschwitz ficaram envolvidos com a construção de abrigos antiaéreos e alojamentos para a Gestapo ao longo de 1944. Outros ficavam anexos a grandes empreendimentos industriais, como a fábrica de armas antiaéreas operada pela companhia Rheinmetall-Borsig em Laurahütte, onde uns 900 prisioneiros estavam trabalhando no fim de 1944 junto com 850 trabalhadores forçados e 650 alemães. Muitos prisioneiros eram selecionados pela habilidade e qualificação, e eram relativamente bem tratados; outros trabalhavam nas cozinhas, realizavam trabalho de escritório ou atuavam em serviço não especializado, como carregar e descarregar produtos e equipamento. O campo onde viviam era comandado por Walter Quakernack, um guarda transferido do campo principal de Auschwitz e conhecido pela brutalidade; ele foi executado por seus crimes pelos britânicos em 194659. Mas essa situação logo mudou, quando a SS perdeu o controle sobre a distribuição e o emprego dos reclusos dos campos, que finalmente foi assumido pelo Ministério de Armamentos em outubro de 1944. Nos meses finais da guerra, a SS na prática ficou reduzida ao papel de simplesmente proporcionar “segurança” aos empregadores dos prisioneiros60.

Uma vasta variedade de companhias alemãs de armas fez uso do trabalho dos campos. Tamanha era a demanda das empresas que, contrariando os dogmas ideológicos mais básicos da SS e da administração dos campos, até mesmo prisioneiros judeus eram recrutados à força se tivessem as habilidades e qualificações certas61. As empresas eram indiferentes ao bem-estar dos prisioneiros, e a SS continuou a tratá-los da mesma forma que nos campos; por isso, desnutrição, sobrecarga, estresse físico e também a violência contínua dos guardas cobravam um preço. Na fábrica da Volkswagen em Wolfsburg, 7 mil reclusos do campo foram empregados de abril de 1944 em diante, a maioria na construção; as condições miseráveis em que viviam pouco importavam à gerência da companhia, e a SS continuou a priorizar a supressão da individualidade dos prisioneiros e da coesão de grupo sobre sua manutenção como trabalhadores efetivos62. Os prisioneiros foram levados para os estaleiros Blohm e Voss em Hamburgo, onde a SS montou outro subcampo. Ali também os interesses econômicos da companhia conflitaram com o zelo repressor da SS63. Na fábrica da Daimler-Benz em Genshagen, 180 reclusos de Sachsenhausen foram postos a trabalhar a partir de janeiro de 1943, juntando-se a milhares de outros de Dachau e de outros campos em uma variedade de unidades industriais. A utilização de mão de obra dos campos foi o motor que impulsionou a criação de subcampos pelo país, refletindo por sua vez a dispersão crescente da produção de armas por muitos locais diferentes, alguns subterrâneos, outros no interior, em um esforço para desviar a atenção dos bombardeios aliados. As empresas precisavam de uma injeção rápida de mão de obra para construir as novas instalações, e a SS estava mais que disposta a fornecê-la.64

As mortes nos campos de trabalho forçado eram comuns, e as condições eram terríveis. Por toda parte, os prisioneiros fracos demais ou doentes demais para trabalhar eram mortos a bala ou, em alguns casos, por gás. Ao contrário de outros campos, o complexo de Auschwitz continuou até o fim com a função dupla de campo de trabalho e campo de extermínio, e comparado a ele as instalações de extermínio em massa por gás de outros locais só tiveram uso relativamente restrito, como em Sachsenhausen e Mauthausen. Entretanto, os médicos de campo da SS no geral recebiam instruções de matar reclusos que estivessem doentes demais ou fracos demais para trabalhar aplicando-lhes injeções letais de fenol. Nesses casos, a causa da morte era atribuída ao tifo ou a alguma enfermidade semelhante65. Foi relatado que, em 16 de dezembro de 1942, o subcomandante de Auschwitz, Hans Aumeier, disse ao oficial da SS encarregado das deportações de Zamość:

 

Apenas poloneses de boa constituição física devem ser enviados, a fim de se evitar tanto quanto possível qualquer fardo inútil para o sistema de transporte. Deficientes mentais, aleijados e doentes devem ser removidos o mais rápido possível para liquidação, de modo a aliviar a carga do campo. Entretanto, a ação apropriada é complicada pela instrução do Escritório Central de Segurança do Reich de que, ao contrário dos judeus, os poloneses devem morrer de causas naturais66.

 

Na prática, portanto, Aumeier estava dizendo que apenas quando poloneses eram mortos os registros precisavam ser falsificados para constar óbito por causas naturais. As taxas de mortalidade de fato eram altas. Nada menos que 57 mil de uma média total de 95 mil prisioneiros morreram apenas na segunda metade de 1942, uma taxa de mortalidade de 60%. Em alguns campos, notadamente em Mauthausen, para onde alemães “antissociais” e condenados por crimes eram mandados para “extermínio por meio do trabalho”, as taxas de mortalidade eram ainda mais altas. Em janeiro de 1943, Glücks ordenou aos comandantes de campo que “fizessem todo o esforço para reduzir a mortalidade”, com isso “preservando a capacidade dos prisioneiros para o trabalho”. As taxas de mortalidade de fato declinaram um pouco depois disso. Não obstante, mais 60 mil prisioneiros morreram nos campos entre janeiro e agosto de 1943 de doença, desnutrição e maus-tratos ou assassinato pela SS67. Havia uma tensão constante entre a SS, incapaz de abandonar o conceito arraigado dos campos como instrumentos de punição e opressão racial e política, e os empregadores, que os viam como fonte de mão de obra barata; essa tensão jamais foi resolvida de forma satisfatória68.

Até que ponto as empresas lucraram com o emprego de trabalho forçado e de prisioneiros? Com certeza isso era deveras barato. Um prisioneiro de guerra soviético, por exemplo, custava menos da metade de um operário alemão. Até 1943, as empresas alemãs muito provavelmente obtiveram ganhos financeiros com o uso de operários estrangeiros. Mas a produtividade deles era baixa, particularmente se eram prisioneiros de guerra. Em 1943-44, por exemplo, a produtividade dos prisioneiros de guerra nas minas de carvão era apenas a metade dos trabalhadores flamengos69. Mas a mão de obra estrangeira era cada vez mais usada em projetos de construção, que não renderam lucros significativos antes de a guerra chegar ao fim. A unidade química gigante de Auschwitz-Monowitz, por exemplo, jamais foi concluída e nunca conseguiu produzir buna, embora uma instalação para produzir metanol, usado no combustível de aviação e explosivos, tenha começado a operar em outubro de 1943; no fim de 1944, produzia 15% do total do metanol da Alemanha. A longo prazo, a fábrica de Monowitz tornou-se uma importante produtora de borracha sintética, mas só bem depois de a guerra acabar, e então sob ocupação soviética70. Um empreendimento semelhante, construído em Gleiwitz com o uso de mão de obra de reclusos de campos de concentração, entre outras, custou à companhia química Degussa 21 milhões de reichsmarks no fim de 1944, ao passo que a venda dos produtos que começou a produzir amealhou não mais que 7 milhões, e as instalações construídas pelos prisioneiros foram desmanteladas para uso das forças soviéticas, sendo que depois o que sobrou foi nacionalizado pelo governo polonês. A avidez das empresas em usar o sistema de campos de concentração como fonte de mão de obra barata, especialmente nos dois últimos anos da guerra, refletiu metas de longo prazo e não a obtenção de lucros imediatos. Em 1943, a maioria dos líderes empresariais havia percebido que a guerra seria perdida. Eles começaram a olhar à frente e posicionar seus empreendimentos para os anos pós-guerra. A forma de investimento mais segura era adquirir imóveis e unidades industriais, e para isso as fábricas tinham de se expandir para abocanhar mais terrenos e conseguir mais encomendas de armamentos do governo. Isso, por sua vez, exigia o recrutamento de mais operários, e os líderes empresariais não se importavam muito com a questão de onde os conseguiam. Uma vez obtidos os operários, as empresas com frequência decidiam por conta própria como eles seriam explorados, apesar das instruções de organismos centrais de planejamento. A provisão de mão de obra forçada, e mais ainda as condições homicidas sob as quais ela era usada, era responsabilidade da SS e do Estado nazista. Mas uma grande parte da responsabilidade por sua rápida expansão e exploração coube às empresas que a exigiram71. No total, 8,435 milhões de trabalhadores estrangeiros foram recrutados pela indústria ao longo da guerra; apenas 7,945 milhões deles ainda estavam vivos em meados de 1945. Para os prisioneiros de guerra foi ainda pior: dos 4,585 milhões que se viram engajados no trabalho forçado durante a guerra, apenas 3,425 milhões ainda estavam vivos quando a guerra acabou72. Os sobreviventes tiveram de esperar quase meio século até poder reivindicar compensação.

Speer nunca alcançou o domínio total da economia. Embora sua influência fosse enorme, muito dela dependia da cooperação uniforme com outras partes interessadas, envolvendo não só Göring e o Plano de Quatro Anos, mas também as Forças Armadas e seus oficiais de compras, como Milch e Thomas, Sauckel e sua operação de mobilização de mão de obra, o Ministério de Economia do Reich e a SS. Em suas memórias, Speer traçou um contraste agudo entre os anos em que esteve no comando e o que ele retratou como o caos administrativo precedente; o contraste foi exagerado73. Por um lado, Fritz Todt já havia alcançado um grau de descentralização antes de morrer; por outro, a “policracia” administrativa que muitos historiadores identificaram na economia armamentista antes de Speer continuou até o fim da guerra74. Speer fez de tudo para dominá-la, mas jamais foi realmente bem--sucedido. De forma igualmente importante, Speer conseguiu beneficiar-se das conquistas nazistas. Quando somada à pilhagem e requisição forçada de vastas quantidades de gêneros alimentícios, matérias-primas, armas e equipamentos e produção industrial de países ocupados, à expropriação de judeus da Europa, às relações desiguais de taxas, tarifas e câmbio entre o Reich e as nações sob seu domínio e à compra contínua pelos soldados comuns alemães de mercadorias de todos os tipos por um preço vantajoso, a mobilização da mão de obra estrangeira deu uma enorme contribuição à economia de guerra alemã. Provavelmente algo como um quarto das receitas do Reich foi gerado de um jeito ou de outro pela conquista75.

Todavia, nem isso foi suficiente para impulsionar a economia de guerra alemã o bastante para competir com o avassalador poder econômico dos Estados Unidos, da União Soviética e do império britânico combinados. Nenhum tipo de racionalização, impulso em favor da eficiência e mobilização de mão de obra teriam funcionado a longo prazo. Os sucessos militares alemães dos primeiros dois anos de guerra dependeram em larga medida do elemento surpresa, da velocidade e da vivacidade e do uso de táticas desconhecidas contra um inimigo despreparado. Uma vez perdidos esses elementos, também perderam-se as chances de vitória. No fim de 1941, a guerra havia se tornado uma guerra de desgaste, assim como a Primeira Guerra Mundial. A Alemanha simplesmente estava sendo superada em produção pelos inimigos, e no fim não havia nada que Speer pudesse fazer para salvar a situação, por mais que tentasse. Isso ficara claro para muitos gestores econômicos antes mesmo de Speer assumir em 1942. Em momento nenhum da guerra a relação entre a taxa do PIB dos aliados e dos países do Eixo, incluindo o Japão, foi menor que 2:1, e em 1944 era de mais de 3:176. No começo de 1944, até Speer estava começando a perceber que a desigualdade era irremediável. Todos os seus esforços simplesmente adiaram o inevitável. Foram direcionados não para o gerenciamento da crise de abastecimento de armas, mas para disfarçá-lo. O recrutamento em massa de mão de obra estrangeira, a racionalização, os esforços desesperados para coordenar a produção de armamentos foram essencialmente empreendimentos irracionais que ignoraram a impossibilidade básica de a Alemanha superar a produção de seus inimigos77. Em 18 de janeiro de 1944, esgotado pelo esforço de tentar alcançar o impossível, Albert Speer caiu gravemente enfermo e foi levado para o hospital. Passaram-se quase quatro meses antes de ele se recuperar o suficiente para ter condições de voltar ao trabalho. Nesse ínterim, seus rivais, de Himmler a Sauckel, juntaram-se como abutres em volta do que consideravam um cadáver político na esperança de bicar partes do império de Speer para si mesmos78.

 


 

1 Overy, “Rationalization”, p. 368.

2 Tooze, The Wages of Destruction, p. 567-9.

3 Peter W. Becker, “Fritz Sauckel: Plenipotentiary for the Mobilisation of Labour”, em Smelser e Zitelmann (eds.), The Nazi Elite, p. 194-201.

4 Ibid.; também Herbert, Hitler’s Foreign Workers, p. 161-3; Edward L. Homze, Foreign Labor in Nazi Germany (Princeton, N. J., 1967), p. 111-53; Hans Pfahlmann, Fremdarbeiter und Kriegsgefangene in der deutschen Kriegswirtschaft 1939-1945 (Darmstadt, 1968), p. 16-22.

5 Ver, em termos gerais, Ela Hornung et al., “Zwangsarbeit in der Landwirtschaft”, DRZW IX/II, p. 577-666.

6 Herbert, Hitler’s Foreign Workers, p. 84-9; Christa Tholander, Fremdarbeiter 1939 bis 1945: Ausländische Arbeitskräfte in der Zeppelin-Stadt Friedrichshafen (Essen, 2001), p. 34-104.

7 do recrutamento país por país; ver também Pfahlmann, Fremdarbeiter, p. 82-103 e p. 176-92 para prisioneiros de guerra.

8 Herbert, Hitler’s Foreign Workers, p. 95-111; ver também o estudo recente de Oliver Rathkolb, “Zwangsarbeit in der Industrie”, DRZW IX/II, p. 667-728.

9 Herbert, Hitler’s Foreign Workers, p. 137-49.

10 Ibid., p. 157.

11 Ibid, p. 193-4; também Pfahlmann, Fremdarbeiter, p. 44-65.

12 Overmans, Deutsche militärische Verluste, p. 238-9.

13 Tooze, The Wages of Destruction, p. 513-4.

14 Herbert, Hitler’s Foreign Workers, p. 273-8; Homze, Foreign Labor, p. 177-203; Richard Vinen, The Unfree French: Life under the Occupation (Londres, 2006), p. 183-214 (para prisioneiros de guerra), e p. 247-312 (para trabalho); Pfahlmann, Fremdarbeiter, p. 31-44.

15 Citado em Herbert, Hitler’s Foreign Workers, p. 279.

16 Ibid., p. 278-82, 297-8.

17 Tooze, The Wages of Destruction, p. 519.

18 Bernard Bellon, Mercedes in Peace and War: German Automobile Workers, 1903-1945 (Nova York, 1990), p. 250-1.

19 Citado em Herbert, Hitler’s Foreign Workers, p. 209-11; ver também ibid., p. 211-7, e Bellon, Mercedes, p. 251; mais genericamente, ver Spoerer, Zwangsarbeit, p. 116-44; Pfahlmann, Fremdarbeiter, p. 193-217; Marcus Meyer, “...uns 100 Zivilausländer umgehend zu beschaffen”: Zwangsarbeit bei den Bremer Stadtwerken 1939-1945 (Bremen, 2002); Mark Spoerer, “Die soziale Differenzierung der ausländischen Zivilarbeiter, Kriegsgefangenen und Häftlinge im Deutschen Reich”, DRZW IX/II, p. 485-576, nas p. 515-32.

20 Herbert, Hitler’s Foreign Workers, p. 217-22; Andreas Heusler, Ausländereinsatz: Zwangsarbeit für die Münchner Kriegswirtschaft 1939-1945 (Munique, 1996), p. 212-22; Spoerer, Zwangsarbeit, p. 199-200; Eginhard Scharf, “Man machte mit uns, was man wollte”: Ausländische Zwangsarbeiter in Ludwigshafen am Rhein 1939-1945 (Hamburgo, 2004), p. 56-73; e Valentina Maria Stefanski, Zwangsarbeit in Leverkusen: Polnische Jugendliche im I. G. Farbenwerk (Osnabrück, 2000), p. 333-49; Katharina Hoffmann, Zwangsarbeit und ihre gesellschaftliche Akzeptanz in Oldenburg 1939-1945 (Oldenburg, 2001), p. 96-161, 216-24; em termos gerais, Spoerer, “Die soziale Differenzierung”, p. 562-5.

21 Herbert, Hitler’s Foreign Workers, p. 268-9; Spoerer, Zwangsarbeit, p. 200-5; Scharf, “Man machte”, p. 237-42.

22 Behnken (ed.), Deutschland-Berichte, VII, p. 100-3 (fevereiro de 1940).

23 Evans, The Third Reich in Power, p. 686-7.

24 Jill Stephenson, Hitler’s Home Front: Württemberg under the Nazis (Londres, 2006), p. 281-5.

25 Herbert, Hitler’s Foreign Workers, p. 116-36. Heusler, Ausländereinsatz, p. 387-417, fornece um relato detalhado dos contatos sociais e sexuais com a população alemã em Munique. Para a punição de trabalhadores estrangeiros, ver também Scharf, “Man machte”, p. 246-50.

26 Herbert, Hitler’s Foreign Workers, p. 69-94.

27 Para prisioneiros de guerra soviéticos na fábrica da Volkswagen, ver Hans Mommsen e Manfred Grieger, Das Volkswagenwerk und seine Arbeiter im Dritten Reich (Düsseldorf, 1996), p. 544-65.

28 Citado em Herbert, Hitler’s Foreign Workers, p. 149.

29 Ibid., p. 149-67; Spoerer, Zwangsarbeit, p. 200-5.

30 Citado em Herbert, Hitler’s Foreign Workers, p. 171.

31 Tholander, Fremdarbeiter, p. 312-37, 365-9.

32 Herbert, Hitler’s Foreign Workers, p. 176-80; Heusler, Ausländereinsatz, p. 172-222; Mommsen e Grieger, Das Volkswagenwerk, p. 566-98.

33 Citado em Herbert, Hitler’s Foreign Workers, p. 192.

34 Ibid., p. 182-92; Spoerer, Zwangsarbeit, p. 33, 90-115.

35 Solmitz, Tagebuch (7 de março de 1943).

36 Ibid., p. 840 (4 de agosto de 1943).

37 Rolf Keller, ‘‘‘Die kamen in Scharen hier an, die Gefangenen’: Sowjetische Kriegsgefangene, Wehrmachtsoldaten und deutsche Bevölkerung in Norddeutschland 1941/42”, em Detlef Garbe (ed.), Rassismus in Deutschland (Bremen, 1994), p. 35-53; Hoffmann, Zwangsarbeit, p. 315.

 

38 Solmitz, Tagebuch, p. 858 (2 de setembro de 1943) e p. 883 (29 de dezembro de 1943, Nachtrag).

39 Richard J. Overy, “Guns or Butter? Living Standards, Finance, and Labour in Germany, 1939-1942”, em idem, War and Economy in the Third Reich, p. 259-314, nas p. 303-4; Tilla Siegel, Leistung und Lohn in der nationalsozialistischen “Ordnung der Arbeit” (Opladen, 1989), p. 161-73; e Leila J. Rupp, Mobilizing Women for War: German and American Propaganda 1939-1945 (Princeton, N. J., 1978), p. 185-6.

40 Overy, “Guns or Butter?”, p. 307-11.

41 Matthew Stibbe, Women in the Third Reich (Londres, 2003), p. 91-6; Tim Mason, Social Policy in the Third Reich: The Working Class and the “National Community” (Oxford, 1995), p. 19-40; Overy, “Guns or Butter?”, p. 309-10.

42 Citado em Rupp, Mobilizing Women, p. 115.

43 Evans, The Third Reich in Power, p. 517-20.

44 Citado em Rupp, Mobilizing Women, p. 122; para os detalhes acima, ibid., p. 115-6; também Dörte Winkler, “Frauenarbeit versus Frauenideologie: Probleme der weiblichen Erwerbstätigkeit in Deutschland, 1930-1945”, Archiv für Sozialgeschichte, 17 (1977), p. 99-126, e do mesmo autor Frauenarbeit im “Dritten Reich” (Hamburgo, 1977); também Annemarie Tröger, “Die Frau im wesensgemässen Einsatz”, em Frauengruppe Faschismusforschung (ed.), Mutterkreuz und Arbeitsbuch: Zur Geschichte der Frauen in der Weimarer Republik und im Nationalsozialismus (Frankfurt am Main, 1981), p. 246-72.

45 Esse é o argumento geral de Rupp, Mobilizing Women.

46 Ibid., p. 185, e Winkler, “Frauenarbeit”, p. 126.

47 Stibbe, Women, p. 94-5.

48 Citado em Herbert, Hitler’s Foreign Workers, p. 189.

49 Ibid., p. 187-9.

50 Citado em ibid., p. 307.

51 Stefanski, Zwangsarbeit, p. 339.

52 Ibid., p. 268-9; Stibbe, Women, p. 101-2; Klaus-Georg Siegfried, Das Leben der Zwangsarbeiter im Volkswagenwerk 1939-1945 (Frankfurt am Main, 1988), p. 235-55; Spoerer, Zwangsarbeit, p. 205-9.

53 Peter Hayes, Industry and Ideology: IG Farben in the Nazi Era (Cambridge, 1987), p. 349--56. Para a borracha sintética, ver Evans, The Third Reich in Power, p. 362-3, 375.

54 Hayes, Industry and Ideology, p. 358-67; Bernd C. Wagner, IG-Auschwitz: Zwangsarbeit und Vernichtung von Häftlingen des Lagers Monowitz 1941-1945 (Munique, 2000), p. 37-90.

55 Martin Broszat, “The Concentration Camps 1933-1945”, em Helmut Krausnick et al., Anatomy of the SS State (Londres, 1968), p. 460-71; números corrigidos em Nikolaus Wachsmann, Hitler’s Prisons: Legal Terror in Nazi Germany (Londres, 2004), p. 395; Hermann Kaienburg, “KZ-Haft und Wirtschaftsinteresse: Das Wirtschaftsverwaltungshauptamt der SS als Leitungszentrale der Konzentrationslager und der SS-Wirtschaft”, em idem (ed.), Konzentrationslager und deutsche Wirtschaft 1939-1945 (Opladen, 1996), p. 29-60.

56 Citado em Broszat, “The Concentration Camps”, p. 497.

57 Ibid., p. 498, e, mais genericamente, p. 473-98.

58 Ibid., p. 503-4; Jan Erik Schulte, “Das SS-Wirtschafts-Verwaltungshauptamt und die Expansion des KZ-Systems”, em Wolfgang Benz e Barbara Distel (eds.), Der Ort des Terrors: Geschichte der nationalsozialistischen Konzentrationslager (6 vols., Munique, 2005--2007), I, p. 141-55; Hermann Kaienburg, “Zwangsarbeit: KZ und Wirtschaft im Zweiten Weltkrieg”, em ibid., p. 179-94.

59 “Auschwitz”, em ibid., V, p. 79-173.

60 Schulte, Zwangsarbeit, p. 441-5.

61 Jan Erik Schulte, “Zwangsarbeit für die SS: Juden in der Ostindustrie GmbH”, em Frei et al. (eds.), Ausbeutung, p. 43-74.

62 Manfred Grieger, “Unternehmen und KZ-Arbeit: Das Beispiel der Volkswagenwerk GmbH”, em Kaienburg (ed.), Konzentrationslager, p. 77-94; Mommsen e Grieger, Das Volkswagenwerk, p. 516-43, 566-98, 740-99; Christian Jansen e Arno Weckbecker, “Zwangsarbeit für das Volkswagenwerk: Häftlingsalltag auf dem Laagberg bei Wolfsburg”, em Frei et al. (eds.), Ausbeutung, p. 75-108.

63 Ludwig Eiber, “Das KZ-Aussenlager Blohm und Voss im Hamburger Hafen”, em Kaienburg (ed.), Konzentrationslager, p. 227-38.

64 Neil Gregor, Daimler-Benz in the Third Reich (Londres, 1998), p. 194-6; Birgit Weitz, “Der Einsatz von KZ-Häftlingen und jüdischen Zwangsarbeitern bei der Daimler-Benz AG (1941-1945): Ein Überblick”, em Kaienburg (ed.), Konzentrationslager, p. 169-95, esp. p. 190. Há muitos estudos locais, inclusive, por exemplo, Annette Wienecke, “Besondere Vorkommnisse nicht bekannt”: Zwangsarbeit in unterirdischen Rüstungsbetrieben: Wie ein Heidedorf kriegswichtig wurde (Bonn, 1996); e Wilhelm J. Waibel, Schatten am Hohentwiel: Zwangsarbeiter und Kriegsgefangene in Singen (Konstanz, 1997 [1995]), com entrevistas de ex-trabalhadores.

65 Broszat, “The Concentration Camps”, p. 501-2.

66 Citado em ibid., p. 502.

67 Ibid., p. 497-9. Ver também Lutz Budrass e Manfred Grieger, “Die Moral der Effizienz: Die Beschäftigung von KZ-Häftlingen am Beispiel des Volkswagenwerks und der Henschel Flugzeug-Werke”, Jahrbuch für Wirtschaftsgeschichte (1993), p. 89-136.

68 Wagner, IG-Auschwitz, p. 204, 291; Rainer Fröbe, “Der Arbeitseinsatz von KZ-Häftlingen und die Perspektive der Industrie, 1943-1945”, em Ulrich Herbert (ed.), Europa und der “Reichseinsatz”: Ausländische Zivilarbeiter, Kriegsgefangene und KZ-Häftlinge in Deutschland 1938-1945 (Essen, 1991), p. 351-83; Jaskot, The Architecture of Oppression, p. 37-8.

69 Spoerer, Zwangsarbeit, p. 183-90.

70 Tooze, The Wages of Destruction, p. 445-6; Hayes, Industry and Ideology, p. 361-5.

71 Hayes, From Cooperation to Complicity, p. 26-71; Heusler, Ausländereinsatz, p. 421; Spoerer, Zwangsarbeit, p. 186.

72 Ibid., p. 221-2.

73 Observação feita pela primeira vez por Carroll, Design for Total War, p. 245-7.

74 Para um relato sobre a policracia pré-Speer, ver Müller, “The Mobilization”, p. 448-56, 630-8; também enfatizada por Herbst, Der totale Krieg, p. 111-7; para a continuidade da competição interinstitucional na era Speer, ver Carroll, Design for Total War, p. 245-7; para a rivalidade entre Speer e o Ministério de Economia do Reich, ver Herbst, Der totale Krieg, p. 267-75.

75 Aly, Hitler’s Beneficiaries, p. 75-179, 324-5; também Michael Wildt, “Alys Volksstaat: Hybris und Simplizität einer Wissenschaft”, Sozial.Geschichte, 20 (2005), p. 91-7, com referências adicionais. Para uma avaliação positiva da contribuição da mão de obra estrangeira, ver Pfahlmann, Fremdarbeiter, p. 226-35.

76 Harrison (ed.), The Economics of World War II, p. 10-1.

77 Naasner, Neue Machtzentren, p. 469-73. Para a ideia da “crise de gerenciamento” da Alemanha em tempos de guerra, ver Rolf-Dieter Müller, Der Manager der Kriegswirtschaft: Hans Kehrl: Ein Unternehmer in der Politik des “Dritten Reiches” (Essen, 1999), esp. p. 101-3.

78 Speer, Inside the Third Reich, p. 446; para Sauckel nesse período, ver Homze, Foreign Labor, p. 233-9.