Resistência

 

 

I

 

 

 

 

Em 4 de outubro de 1943, em Posen, Heinrich Himmler fez um discurso para membros do alto escalão da SS, e o repetiu quase da mesma forma dois dias depois para os líderes regionais do Partido e outras figuras proeminentes, incluindo Joseph Goebbels e Albert Speer1. O discurso continha o que se tornou desde então um de seus mais famosos pronunciamentos. “A evacuação dos judeus”, declarou ele, “[...] é uma página digna de louvor da nossa história que nunca será escrita.” Os judeus eram uma ameaça ao Reich, declarou ele. Portanto, estavam sendo mortos, e não somente os homens:

 

Fomos confrontados com essa questão, e quanto às mulheres e às crianças? – Decidi encontrar uma solução totalmente clara para esse ponto também. Por isso, não senti que tinha o direito de exterminar os homens – vamos dizer então, de matá-los ou fazer que eles fossem mortos – se permitisse que seus vingadores, sob a forma de seus filhos, crescessem e se vingassem em nossos filhos e netos. A decisão realmente difícil tinha de ser tomada para fazer que esse povo desaparecesse da face da Terra. Para a organização que tinha de realizar a tarefa, essa era a decisão mais difícil que tivemos de tomar2.

 

Muitos meses depois, em 5 de maio de 1944 e outra vez em 24 de maio de 1944, ele repetiu esses sentimentos em pronunciamentos para oficiais do alto escalão em Sonthofen, descrevendo quão difícil tinha sido para ele “o cumprimento dessa ordem própria de um soldado e que foi dada a mim” para exterminar os judeus. Matar as mulheres e as crianças assim como os homens, ele deu a entender, foi sua interpretação pessoal da ordem de Hitler; a referência à “ordem própria de um soldado” poderia ser apenas uma referência a Hitler, já que não havia ninguém mais de quem Himmler tivesse de aceitar ordens de qualquer tipo. O próprio Hitler, entretanto, foi claro o bastante a respeito de sua responsabilidade geral. Como ele disse para os oficiais militares de alto escalão em 26 de maio de 1944: “Ao remover os judeus, removi da Alemanha a possibilidade de construção de qualquer tipo de células ou de núcleos revolucionários [...] O humanitarismo significaria a maior crueldade para com seu próprio povo, aqui, bem como, de modo geral, em qualquer lugar3”. Era uma batalha de vida ou morte. Se os judeus não fossem eliminados, eles exterminariam todo o povo alemão. Não apenas os generais e os funcionários subordinados do Partido, mas também o próprio Himmler, pareciam compartilhar da visão de que o extermínio dos judeus era um crime, um crime necessário de acordo com seu ponto de vista, mas, apesar disso, um crime: por que, se não fosse assim, os livros de história que seriam escritos no futuro nunca ousariam mencionar isso? Tal crime seria motivo para uma retaliação, caso a Alemanha perdesse a guerra. Então, esses discursos, feitos em uma época em que a situação militar da Alemanha estava se tornando progressivamente mais desesperada, tinham como um de seus maiores propósitos relembrar aos membros do alto escalão do Partido e aos generais sua cumplicidade nesse genocídio, com o intuito de garantir que eles continuariam a lutar até o fim, um ponto muito bem compreendido por Goebbels, que escreveu em seu diário, em 9 de outubro de 1944, que Himmler em seu discurso “urgiu a solução mais radical e a mais dura, a saber, exterminar a judiaria, com armas e bagagem. Essa é com certeza a solução mais consistente, mesmo que seja brutal. Pois temos de assumir a responsabilidade de solucionar por completo essa questão para nossos tempos4”.

Para os líderes da SS, em 4 de maio de 1944, Himmler enviara uma mensagem ainda mais explícita. Não tinha dúvidas de que eles continuariam a lutar até o fim. Queria relembrá-los, contudo, de que o extermínio dos judeus tinha de ser feito onde e do modo que fosse possível, e sem exceções:

 

“O povo judeu será exterminado”, diz cada camarada do Partido. “É claro, está em nosso programa. A eliminação dos judeus, extermínio, e faremos isso.” E então eles aparecem, os valorosos 80 milhões de alemães, cada um com seu judeu decente. É claro que outros são porcos, mas este é um bom judeu. Nenhum daqueles que fala desse jeito viu isso acontecer, nenhum deles passou por isso. A maioria de vocês vai entender o que isso significa quando uma centena de corpos estiver deitada lado a lado, ou 500, ou mil, estiverem postos lá. Ficar firme em seus postos e – a não ser por algumas exceções devido à fraqueza humana – ter permanecido decente, isso é o que nos tornou fortes5.

 

Até mesmo os membros da SS que eram responsáveis pelas mortes, portanto, ouviam de Himmler que o que eles estavam fazendo ia contra a vontade da maior parte dos alemães.

A maior parte dos judeus da Europa já havia sido morta nessa época; mas uma grande comunidade judaica permanecera mais ou menos intocada, especificamente, os judeus da Hungria, e fazia certo tempo que Hitler solicitava ao regime de Hórty que eles lhe fossem entregues. Com a situação militar se deteriorando rapidamente, sinais de que Hórty estava se preparando para mudar de lado começaram a se multiplicar. A Hungria, ainda a maior fonte de petróleo para o Reich, não poderia escapar do controle alemão. Hitler convocou Hórty para que fosse encontrá-lo no dia 18 de março de 1944 e lhe disse que as forças alemãs iriam ocupar seu país imediatamente. A única questão era se isso seria feito sem derramamento de sangue. Hórty não tinha escolha a não ser aceitar o ultimato, e concordar em colocar o embaixador em Berlim, Döme Sztójay, que era favorável à Alemanha, como primeiro-ministro. Uma das queixas de Hitler quanto a Hórty, e não a menor delas, era a de que, como ele disse ao regente húngaro em seu encontro, “a Hungria nada fez em relação à questão judaica, e não estava preparada para acertar as contas com a grande população judia na Hungria”. Agora, tudo isso estava prestes a mudar6.

Tropas alemãs entraram na Hungria em 19 de março de 1944. No mesmo dia, Adolf Eichmann chegou a Budapeste, e foi seguido pouco depois por uma unidade especial liderada por Theodor Dannecker, encarregado da prisão e da deportação de judeus húngaros. Dois antissemitas radicais, László Endre e László Bary, foram nomeados os mais altos funcionários públicos no Ministério do Interior, para auxiliar na captura. Como era costumeiro, um conselho judaico foi estabelecido, e em 7 de abril de 1944 o uso compulsório da estrela de Davi foi introduzido. As primeiras prisões de judeus começaram então na Transilvânia húngara e na Cárpato-Ucrânia, onde guetos e campos foram rapidamente construídos, tudo com a cooperação total da polícia húngara. Enquanto isso, a Gestapo prendeu milhares de profissionais, intelectuais, jornalistas, membros da esquerda ou políticos liberais judeus, e outras figuras de destaque, a maior parte em Budapeste, e os mandou para campos na Áustria. Seu destino posterior permanecia, no momento, incerto. O mesmo não acontecia com os judeus do interior do país, que agora estavam sendo agrupados em novos campos temporários e guetos na Hungria. Embora o conselho e também muitos judeus soubessem muito bem, devido a contatos pessoais, ao serviço húngaro da BBC e a muitas outras fontes qual era o destino que esperava os judeus deportados que pegavam os trens com destino a Auschwitz, nenhuma medida foi tomada para avisar os judeus que moravam fora de Budapeste para não embarcar neles. Relatos de quatro presos que conseguiram escapar do campo, impressos e distribuídos amplamente, não alteraram a situação. Provavelmente, o conselho judaico não desejava causar tumultos, e hesitou antes de incitar o povo a desrespeitar a lei. Ao mesmo tempo, contudo, muitos membros do conselho usaram seus contatos com a SS para permitir que eles, sua família e seus amigos fugissem para a Romênia ou, em alguns casos, para outros países vizinhos. Cerca de 8 mil judeus conseguiram escapar dessa maneira7. Enquanto isso, em Berlim, o Ministério da Propaganda começou a direcionar a imprensa alemã a publicar histórias a respeito da “judeização” da Hungria, que estava agora sendo corrigida pelas medidas tomadas após a invasão alemã8.

Os primeiros grupos de judeus partiram para Auschwitz em 14 de maio de 1944. A partir dessa data, entre 12 mil e 14 mil eram amontoados todos os dias em vagões para gado e mandados para os campos. Quatro câmaras de gás e crematórios foram reativados e trabalhavam 24 horas por dia ininterruptamente. Novos Destacamentos Especiais eram recrutados para tirar os corpos das câmaras de gás o mais rapidamente possível, para possibilitar que o próximo contingente de vítimas fosse levado para lá. Um prisioneiro na fábrica de borracha nas vizinhanças viu chamas que se erguiam com estrépito a dez metros de altura das chaminés dos crematórios à noite, enquanto o cheiro de carne queimada chegava até à própria fábrica. Um crematório quebrou devido ao uso excessivo, e os destacamentos especiais começaram a enterrar os corpos em fossas. Ao visitar Hitler em 7 de junho de 1944, o primeiro-ministro Sztójay tentou convencer o Líder de que as deportações estavam causando ressentimentos na Hungria, porque estavam sendo vistas como intervenção estrangeira em assuntos domésticos. Hitler respondeu com uma invectiva contra os judeus. Ele havia avisado Hórthy, disse, de que os judeus exerciam muita influência, mas o regente nada havia feito. Os judeus eram responsáveis pela morte de dezenas de milhares de alemães em bombardeios aliados, alegou Hitler. Por esse motivo, “ninguém poderia exigir dele que tivesse um pingo de piedade por essa praga global, e ele agora estava se atendo ao velho ditado judeu: ‘Olho por olho, dente por dente9’”. Nessa época, tanto o rei da Suécia quanto o presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, haviam protestado com Hórthy e lhe pedido que pusesse fim às deportações. Contudo, a intervenção de Pio XII, em 25 de junho de 1944, nem mencionou nominalmente os judeus, nem especificou o destino a que eles estavam sendo mandados. As figuras proeminentes na hierarquia da Igreja Católica húngara se recusaram a condenar publicamente as deportações; um deles, o arcebispo de Eger, considerou que “o que está acontecendo atualmente com os judeus não é nada mais que uma punição apropriada aos seus delitos do passado10”. Em 7 de julho de 1944, finalmente superando a oposição da maioria dos membros pró-nazistas do governo húngaro, Hórthy ordenou que as deportações fossem interrompidas. Mesmo assim, Eichmann conseguiu mandar mais dois trens carregados de judeus húngaros para Auschwitz nos dias 19 e 24 de julho de 1944. Nessa época, em pouco mais de dois meses, nada menos que 438 mil judeus húngaros tinham sido levados para Auschwitz, onde cerca de 394 mil deles foram mandados para a câmara de gás logo depois da chegada11.

 

 

II

 

Esses acontecimentos trágicos e desesperados aconteceram em meio a uma situação militar do Terceiro Reich que se deteriorava rapidamente. Em 3 de novembro de 1943, Hitler emitiu uma instrução geral para a condução da guerra nos meses seguintes. O Exército Vermelho poderia estar avançando no leste, mas as forças alemãs ainda estavam bem avançadas no território soviético, então, no momento, não havia uma ameaça direta para a sobrevivência do Reich. O perigo representado pela iminente invasão aliada da Europa ocidental, por outro lado, era muito maior, dada a relativa pouca distância que as tropas anglo-americanas teriam de atravessar antes de chegarem à fronteira da Alemanha assim que conseguissem desembarcar no continente. Sendo assim, a prioridade fora dada à construção de defesas no oeste; o leste poderia, por enquanto, cuidar de si mesmo. Ao mesmo tempo, contudo, Hitler não desejava sacrificar territórios no leste que tinham fornecido à Alemanha importantes suprimentos de cereais, de matéria-prima e de mão de obra. E o Exército Vermelho estava pressionando incessantemente, forçando o Grupo de Exércitos do Sul, sob a liderança de Manstein, de volta para oeste de Kiev e forçando o Grupo de Exércitos A de Kleist a sair da curva do rio Dnieper. Ao longo de toda a fronteira, dos pântanos de Pripet até o mar Negro, as divisões blindadas soviéticas estavam avançando através dos exércitos alemães, então reduzidos pela transferência de mais forças e equipamentos para o oeste, flanqueando suas defesas e avançando na direção das fronteiras da Hungria e da Romênia. Os 120 mil soldados alemães e romenos isolados na Crimeia foram aniquilados por um movimento de pinça soviético em abril e em maio de 1944. Como já acontecera antes, Hitler culpou seus generais por essas derrotas, demitindo Manstein e Kleist em 28 de março de 1944 e substituindo-os por dois de seus oficiais de alta patente favoritos, Ferdinand Schörner e Walter Model12.

Essas derrotas mostraram que o Exército Vermelho havia então tomado a iniciativa por completo. Contra-ataques alemães em qualquer escala estavam definitivamente fora de questão. Tudo que Schörner, Model e outros comandantes de campo podiam fazer era tentar adivinhar onde o Exército Vermelho atacaria em seguida. Mas adivinhar não era fácil. Stálin, Jukov e os generais soviéticos que estavam na liderança decidiram fazer que seus oponentes alemães pensassem que o ataque aconteceria na Ucrânia, com base nas vitórias alcançadas na primavera. Model persuadiu Hitler a mandar reforços substanciais e equipamentos para apoiar suas próprias forças (agora renomeadas Grupo de Exércitos do Norte da Ucrânia), tirando reservas do Grupo de Exércitos do Centro na Bielorrússia sob a liderança do marechal de campo Ernst Busch. O setor central do front estava então se projetando para o leste depois do êxito obtido na primavera pelo Exército Vermelho ao norte e ao sul. Tentativas anteriores feitas pelas forças soviéticas para reduzir a saliência não tinham sido bem-sucedidas. Em segredo, Stálin e seus comandantes enviaram reforços maciços de homens, tanques e armamentos para essa área, concentrando-se em uma grande ofensiva – cujo codinome era Operação Bagration – em vez de dispersar suas forças em setores separados no front. Sentindo-se tranquilo por causa dos repetidos e deliberados engodos transmitidos ao serviço de informações alemão pelos russos, Busch saiu de cena por alguns dias, ignorando o significativo aumento da atividade dos guerrilheiros na retaguarda de suas forças. Da noite de 19-20 de junho de 1944 em diante, guerrilheiros pró-soviéticos dinamitaram centenas de linhas ferroviárias e de estradas para dificultar o envio de reforços aos alemães. Um milhão e meio de soldados soviéticos, equipados com imensas quantidades de tanques, blindados e artilharia, começou uma gigantesca manobra de envolvimento, do tipo executado com tanto sucesso pelos alemães no começo da guerra, com uma série de ataques usando blindados. Busch voltou para o front, mas Hitler recusou seus apelos para bater em retirada. Em menos de duas semanas, 300 mil soldados alemães haviam sido mortos ou capturados enquanto o Exército Vermelho continuava a avançar. Em meados de julho, as forças soviéticas haviam avançado uns 300 quilômetros no setor central do front, e tiveram de parar para se reagrupar. Em 17 de julho de 1944, cerca de 57 mil prisioneiros alemães tiveram de desfilar em Moscou em uma espécie de triunfo romano. Muitos deles haviam simplesmente se rendido. Não estavam preparados para enfrentar uma nova Stalingrado. Foi uma das maiores e mais espetaculares vitórias da guerra13.

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Mapa 19. A longa retirada, 1942-44

A Operação Bagration abriu caminho para vitórias posteriores ao longo da linha. Ao norte, tropas soviéticas avançaram até o Báltico, a oeste de Riga; enviado para salvar a situação, Schörner conseguiu combater e recapturar o suficiente da linha costeira para restaurar as comunicações, mas suas forças ainda tinham de se retirar da Estônia e da maior parte da Letônia para não ficarem isoladas das demais. Entre 5 e 9 de outubro de 1944, tropas soviéticas avançaram outra vez na direção do mar. As forças alemãs não tinham recursos para um contra-ataque, mas os suprimentos e reforços chegavam por mar. Um novo matiz de desespero caracterizou a luta delas ao defenderem o território alemão da Prússia Oriental. As linhas de comunicação soviéticas estavam então muito estendidas. As forças alemãs conseguiram tornar lento o avanço soviético até que este cessou. Contudo, o Exército Vermelho também havia desencadeado um ataque na Finlândia em junho de 1944, completando a liberação de Leningrado e convencendo os finlandeses de que não havia alternativa a não ser pedir a paz. Em 4 de setembro de 1944, um novo governo sob a direção do marechal Mannerheim assinou um armistício, segundo o qual as fronteiras de 1940 deveriam ser restabelecidas e quaisquer tropas alemãs no país seriam capturadas e aprisionadas. Mais ao sul, o Grupo de Exércitos do Norte da Ucrânia de Model, enfraquecido pela transferência de tropas e de equipamento para o Grupo de Exércitos do Centro, foi alvo de uma série de investidas violentas dos blindados que fez que ele voltasse cambaleando para as montanhas dos Cárpatos. Os comandantes do Exército Vermelho foram auxiliados por uma maciça superioridade em armas e em equipamentos, e pela supremacia aérea depois de a Força Aérea alemã ter sido transferida para enfrentar os bombardeios aéreos no oeste. A artilharia soviética estava sendo produzida em grandes quantidades para pulverizar o inimigo antes que os tanques atacassem. Especialmente temido era o lança-foguetes Katiusha, usado pela primeira vez em Smolensk em 1941. Ele havia sido mantido sob sigilo absoluto; então, ao entrar em ação pela primeira vez, lançando com estrondo dúzias de foguetes contra o inimigo, não apenas as tropas alemãs, mas também os soldados do Exército Vermelho fugiram em pânico. Inicialmente bastante ineficaz, com um alcance de menos de 15 quilômetros, em 1944 o equipamento fora aperfeiçoado e estava sendo fabricado em massa. Os soldados alemães apelidaram-no de Órgão de Stálin, por causa da aparência de seus tubos de lançamento de foguetes colocados muito juntos uns dos outros. Eles não tinham nada equivalente para revidar14.

No outono de 1944, as forças soviéticas estavam se aproximando rapidamente de Varsóvia. Stálin anunciou a nomeação de um governo fantoche polonês, um rival para o regime polonês exilado em Londres. O clandestino Exército Nacional do regime exilado, uma organização nacionalista que se opunha ao comunismo, estava sendo arrasado pelo Exército Vermelho à medida que este avançava pelo território polonês. Não obstante, quando Stálin convocou os cidadãos de Varsóvia para um levante contra seus opressores alemães, na expectativa de que as forças soviéticas entrariam na cidade em pouco tempo, o Exército Nacional na cidade decidiu desencadear uma insurreição no dia 1o de agosto de 1944, temendo que, caso não tomasse essa atitude, Stálin os classificasse como pró-alemães, e esperando, em qualquer caso, ter influência política assumindo o controle da tradicional capital polonesa. O Exército Nacional em Varsóvia estava pobremente equipado, já que a maior parte de suas armas e munições estava sendo usada em atividades dos guerrilheiros no interior do país, e estava mal preparado. Seus comandantes tinham dado pouca importância ao levante no gueto no ano anterior, e não tinham aprendido nada com o que acontecera lá. Equipados com coquetéis molotov, pistolas e rifles, os poloneses iniciaram uma luta obstinada contra tanques, artilharia, metralhadoras e lança-chamas. Por dois meses, as terríveis cenas de 1943 se repetiram em larga escala, enquanto as unidades policiais e da SS alemã, comandadas por Erich von dem Bach-Zelewski confinaram os insurgentes em áreas isoladas, então os reduziram a bolsões de resistência, e finalmente eliminaram todos, destruindo a maior parte da cidade no processo. Vinte e seis mil soldados alemães morreram, foram feridos ou desapareceram, mas os mortos poloneses, entre homens, mulheres e crianças, alcançaram mais de 200 mil. Bach-Zelewski, empregando ucranianos, renegados soviéticos e prisioneiros tirados de campos de concentração, massacrou todas as pessoas que conseguiu encontrar. Uma enfermeira insurgente descreveu uma típica cena quando as tropas alemãs e ucranianas entraram no hospital em que ela trabalhava,

 

chutando e espancando os feridos que estavam deitados no chão e chamando-os de filhos da puta e de bandidos poloneses. Eles chutavam a cabeça das pessoas que estavam deitadas no chão com suas botas, gritando horrivelmente enquanto faziam isso. Sangue e matéria cerebral se espalhavam em todas as direções [...] Um contingente de soldados alemães com um oficial na liderança apareceu. “O que está acontecendo aqui?”, perguntou o oficial. Depois de afastar os assassinos, ele deu ordens para a retirada dos mortos, e calmamente solicitou que os sobreviventes que conseguiam andar se levantassem e fossem para o pátio. Nós tínhamos certeza de que eles levariam tiros. Depois de uma hora ou duas, outra horda de alemães-ucranianos chegou, carregando palha. Um deles derramou petróleo sobre ela [...] Houve uma explosão, e um grito terrível – o fogo estava bem atrás de nós. Os alemães haviam ateado fogo ao hospital e estavam atirando nos feridos15.

 

Incidentes semelhantes ou piores se repetiram em toda a capital polonesa durante essas semanas. Himmler havia ordenado que toda a cidade e sua população fossem destruídas. O centro da cultura polonesa não mais existiria. Se a insurreição fosse vista em uma perspectiva histórica, ele disse a Hitler, “é uma bênção que os poloneses estejam fazendo isso”. Isso possibilitaria que a Alemanha levasse o “problema polonês” a um fim decisivo16.

Stálin manteve o Exército Vermelho na defensiva enquanto as tropas se concentravam em construir cabeças de ponte nos rios Vístula e Narva. Ele nada fez para ajudar os poucos aviões anglo-americanos que tentavam transportar suprimentos para os insurgentes. A maior parte dos carregamentos caiu em território dominado pelos alemães, e a recusa de Stálin em permitir que os aviões usassem os campos de pouso soviéticos, juntamente com a relutância dos comandantes das forças aéreas, garantiu que o transporte não surtisse efeito. Do ponto de vista de Stálin, a insurreição foi um sucesso: ela infligiu perdas consideráveis aos alemães e também eliminou por completo o politicamente inconveniente Exército Nacional polonês. Assim que os últimos resistentes se entregaram, em 2 de outubro de 1944, ele enviou suas forças para que assumissem o controle da cidade devastada17. “Você tem de fechar os olhos e o coração”, escreveu o comandante do Exército alemão estacionado em Varsóvia, Wilm Hosenfeld, à medida que a luta desigual continuava. “A população está sendo impiedosamente exterminada18.” Depois de a insurreição de Varsóvia ter sido finalmente derrotada, ele observou as “infindáveis colunas de rebeldes capturados. Ficamos absolutamente assombrados com o porte orgulhoso que eles mostravam ao sair”. As mulheres impressionaram-no particularmente, marchando, de cabeça erguida, cantando hinos patrióticos19. Sua tentativa de fazer que os insurgentes capturados fossem vistos como combatentes inimigos e, desse modo, pelo menos teoricamente, sujeitos às leis de guerra, foi, como era de prever, rejeitada por seus superiores. Hosenfeld recebeu ordens de interrogar os sobreviventes. “Tento resgatar todos”, ele escreveu, “que possam ser salvos20.”

A resistência também estava crescendo no oeste, sobretudo na França, onde os maquis eram então milhares de homens e de mulheres engajados em sabotar instalações militares alemãs como preparativo para a invasão da França pelo canal da Mancha. Elaborados estratagemas criados pelos serviços de informação britânicos e americanos persuadiram os comandantes alemães de que a invasão aconteceria na Noruega ou em Calais ou em outro porto marítimo. Cerca de um milhão de soldados britânicos, americanos, franceses e canadenses e outras tropas aliadas foram reunidos no sul da Inglaterra sob o comando geral do general americano Dwight D. Eisenhower. Na noite de 5-6 de junho de 1944, mais de 4 mil lanchas de desembarque e mais de mil navios de guerra transportaram as tropas através do canal da Mancha, enquanto três divisões transportadas por aviões começaram a saltar de paraquedas por trás das defesas alemãs. Com a Marinha alemã definitivamente fora de combate, a Força Aérea alemã seriamente enfraquecida por perdas nos meses precedentes e as tropas alemãs dispersas em outras áreas e sem contar com as divisões especiais concentradas no front oriental, a resistência foi mais fraca do que o esperado. Pulverizadas por bombardeios navais e aéreos, as defesas alemãs foram sobrepujadas pela força dos desembarques e, a não ser na praia de Omaha, a resistência foi rapidamente vencida. No fim do dia 6 de junho de 1944, 155 mil soldados e 16 mil veículos tinham sido desembarcados em segurança na operação aliada. “Portos Mulberry” pré-fabricados foram rebocados e montados, e mais forças aliadas desembarcaram vindas das cinco cabeças de praia e se juntaram a eles, antes que o Exército alemão pudesse enviar reforços suficientes para repeli-las. A captura de Cherbourg em 27 de junho de 1944 garantiu-lhes um porto marítimo, e grande quantidade de soldados e de equipamentos começou a chegar. Reforços alemães foram transferidos às pressas para o front e começaram a oferecer uma resistência acirrada, mas os comandantes alemães, Rundstedt e seu subordinado Rommel, não dispunham de um plano estratégico para lidar com as forças invasoras, que agora começavam a abrir caminho combatendo através da Normandia. Essa era então uma guerra travada em duas linhas de frente21.

Hitler reagiu de modo previsível, pondo a culpa da situação em seus generais. Eles estavam constantemente lhe apresentando avaliações pessimistas da situação, vociferava Hitler, e exigindo permissão para bater em retirada e recuar ao invés de ficar no local e lutar até o fim. No dia 1o de julho de 1944, esgotado pelas discussões constantes com o Líder, Kurt Zeitzler, chefe do Estado-Maior do Exército, teve uma crise de nervos e simplesmente abandonou seu posto. Hitler fez que ele fosse expulso do Exército em janeiro de 1945 e lhe negou o direito de usar um uniforme. O general Heinz Guderian foi designado para substituí-lo em 21 de julho de 1944. No oeste, o marechal de campo Von Rundstedt foi demitido dois dias depois, junto com Hugo Sperrle, o comandante da Força Aérea que conquistara sua reputação no bombardeio de Guernica durante a Guerra Civil Espanhola, mas agora estava sendo responsabilizado por seu Líder pela falha em organizar uma defesa aérea eficaz contra a invasão aliada. O marechal de campo Günther von Kluge foi nomeado para substituir Rundstedt. No front oriental, o marechal de campo Ernst Busch foi demitido por causa da catastrófica derrota de seu Grupo de Exércitos do Centro na Operação Bagration, e substituído pelo marechal de campo Walter Model, um dos raros oficiais do alto escalão por quem Hitler ainda tinha muita consideração. Assim que deixou Berghof pela última vez, em 14 de julho de 1944, para voltar a seu quartel-general na Toca do Lobo, em Rastenburg, o desprezo de Hitler por muitos de seus generais estava se tornando ainda mais visível do que antes22.

 

 

III

 

As catástrofes militares da primavera e do começo do verão de 1944 levaram a um súbito aumento da resistência não apenas na Europa ocupada, mas também no próprio Reich alemão. As derrotas do ano anterior já haviam disseminado a desilusão em relação ao regime. Os efeitos devastadores dos bombardeios enfraqueceram ainda mais a autoridade do regime. Mesmo assim, atos abertos de resistência ou de desafio ainda eram raros. Ações individuais de desafio eram combatidas com prisão, julgamento e, muito frequentemente, execução. A resistência coletiva era extremamente difícil. As organizações de resistência social-democratas e comunistas tinham sido esmagadas pela Gestapo na metade da década de 1930, e os líderes dos dois partidos estavam ou exilados ou na prisão ou em campos de concentração. Não apenas as medidas mais restritivas adotadas pelo regime durante os anos de guerra, mas também o Pacto Nazi-Soviético, causaram um efeito inibidor no desejo dos antigos movimentos ativistas de organizar qualquer tipo de atividade de oposição antes de junho de 1941. E a euforia causada pelas assombrosas vitórias de 1939 e 1940 foi compartilhada por muitas pessoas das classes trabalhadoras, incluindo antigos social-democratas. Como precaução, também, a Gestapo prendeu e encarcerou inúmeros antigos funcionários comunistas na invasão da União Soviética, para evitar que começassem uma campanha de subversão. Foi apenas em 1942, depois da derrota do Exército alemão em Moscou, que grupos de resistência comunista clandestinos começaram a emergir outra vez, em bastiões da classe trabalhadora industrial, como Saxônia, Turíngia, Berlim e região do Ruhr. Alguns deles foram capazes de estabelecer contato com a liderança exilada do partido em Moscou, mas esse contato ocorreu de modo intermitente, e de modo geral havia pouca coordenação central. Os comunistas conseguiram afixar alguns cartazes incitando a oposição aos nazistas e até mesmo defendendo atos de sabotagem, mas em geral alcançaram muito pouco antes de também serem esmagados pela Gestapo. A ação mais espetacular foi, sem dúvida, a organizada por um grupo de judeus comunistas e seus simpatizantes, liderada por Herbert Baum que, como já vimos, conseguiu incendiar parte de uma exposição antissoviética planejada por Goebbels em Berlim, embora sem causar nenhum prejuízo sério ou alguma morte. Eles também logo foram traídos e entregues para a Gestapo; 30 membros foram presos e julgados pelo Tribunal do Povo; 15 foram executados23.

Desde a metade da década de 1930, a linha oficial do Partido Comunista em Moscou havia enfatizado a necessidade, por parte dos comunistas, de colaborar com os social-democratas em uma “frente popular”. Mas essa tática deparou com dificuldades imensas em ambos os lados. Os social-democratas justificadamente suspeitavam que os grupos clandestinos comunistas estavam sob uma vigilância muito mais intensiva do que eles, e os perigos da colaboração foram ilustrados de modo intenso em 22 de junho de 1944, quando um encontro em Berlim entre os social-democratas Julius Leber e Adolf Reichwein e um grupo de funcionários comunistas resultou na prisão de quase todos os envolvidos. Do ponto de vista dos comunistas, era mais do que provável que, quando a guerra terminasse, os social-democratas ressurgissem como seus maiores rivais pela lealdade da classe trabalhadora das indústrias, de modo que qualquer cooperação poderia ser apenas tática e temporária e não deveria envolver concessões a um possível inimigo político no futuro. Nos campos de concentração, e acima de tudo em Buchenwald, os comunistas formaram seus próprios grupos, que às vezes conseguiam alcançar um grau limitado de autoadministração dos prisioneiros. A designação de comunistas como capos e líderes de bloco foi encorajada pela administração dos campos da SS, que os viam como confiáveis e eficientes nesse papel. Por seu lado, os prisioneiros comunistas tentavam manter a solidariedade entre si e proteger seus camaradas, incumbindo às outras categorias de prisioneiros, como os “antissociais” e os criminosos, o trabalho difícil e perigoso. Com a manutenção de boas relações com a SS, eles também esperavam melhorar as condições gerais do campo e, desse modo, beneficiar em um tempo futuro todos os prisioneiros. Em tais circunstâncias, havia apenas uma perspectiva limitada de cooperação significativa com os social-democratas ou outros prisioneiros políticos. A solidariedade no grupo comunista foi da maior importância. Essa estratégia precária, de tentar alcançar o equilíbrio entre a pureza ideológica, de um lado, e a autoproteção por meio da colaboração com a SS, de outro, iria levar a uma controvérsia generalizada, e às vezes furiosa, depois da guerra24.

Um grupo excepcional com conexões comunistas, embora não se submetesse nem à disciplina comunista nem à ideologia stalinista, conseguira sobreviver desde o começo do Terceiro Reich. Era conhecido pela Gestapo como Orquestra Vermelha (Rote Kapelle), embora fosse, de fato, uma série de grupos clandestinos que se sobrepunham uns aos outros e tinham um funcionamento bastante diferente. A partir do fim de 1941, a contraespionagem alemã em Bruxelas e em Paris começou a expor uma extensa rede de agentes do serviço de informação soviético. Ela tinha ligações com o grupo da resistência em Berlim, formado ao redor de um funcionário público no Ministério da Economia do Reich, Arvid Harnack, e de um adido no Ministério da Aviação, Harro Schulze-Boysen. Harnack era um economista marxista que acreditava em uma Alemanha pacífica e socialista, ao passo que Schulze-Boysen era um revolucionário nacionalista radical que tinha sido preso e torturado pelos nazistas em 1933, mas depois libertado por bom comportamento. Alguns de seus seguidores eram membros do Partido Comunista, mas o grupo era, em essência, independente de qualquer supervisão de Moscou. As mulheres desempenhavam um papel particularmente importante nele, sobretudo a esposa americana de Harnack, Mildred Harnack-Fish, uma crítica literária, e a esposa de Schulze-Boysen, Libertas, que passou a ter um olhar crítico a respeito da propaganda nazista por causa de seu trabalho na seção de filmes do Ministério da Propaganda. Com o intuito de dar a si uma “cobertura”, Harnack se uniu ao Partido Comunista em 1937. O grupo ajudava fugitivos políticos a escapar da Alemanha, distribuía folhetos não apenas para alemães, mas também para trabalhadores forçados estrangeiros, e entrou em contato tanto com a embaixada americana quanto com a soviética, as quais mantinha informadas a respeito dos crimes do nazismo. Os soviéticos ficaram impressionados o suficiente para lhes dar um equipamento de rádio, e eles conseguiram transmitir algumas informações a respeito da economia de guerra aos russos, mas Stálin se recusou a acreditar nos avisos do grupo a respeito de uma invasão iminente em junho de 1941. Os folhetos do grupo ficaram maiores e mais ambiciosos, incluindo um escrito por Schulze-Boysen avisando de modo muito perspicaz que Hitler iria sofrer os mesmos reveses na Rússia que Napoleão. Entretanto, suas mensagens clandestinas de rádio para os russos foram interceptadas pelo serviço de contrainformação militar alemão. Esse fato levou à prisão de Schulze-Boysen em 30 de agosto de 1942, e à de Harnack em 7 de setembro de 1942. Outras prisões se seguiram, chegando a mais de 130. Depois de uma série de julgamentos sumários, mais de 50 membros do grupo foram executados, incluindo os casais Harnack e Schulze-Boysen. Por insistência pessoal de Hitler, a sentença de morte foi executada por enforcamento25.

A assim chamada Orquestra Vermelha não era um círculo de espiões soviéticos, como foi retratada pela propaganda nazista posteriormente, mas um movimento de resistência interno, cujos contatos com o serviço de informações soviético eram feitos segundo seus próprios termos. Ela estava longe de ser o único grupo de esquerda desse tipo, embora fosse maior que a maioria. Um dos mais notáveis era uma organização minúscula e pouco conhecida, mas muito bem estruturada, chamada Liga: Comunidade pela Vida Socialista. Formada no começo da década de 1920 pelo professor de educação para adultos Artur Jacobs, ela estabeleceu uma série de centros onde mantinha discussões, oferecia cursos de dança e de movimento, e tentou construir um estilo de vida que atravessasse as fronteiras de classe e transcendesse o egotismo do indivíduo. Alguns de seus membros eram comunistas; outros, social-democratas; muitos deles não tinham nenhuma afiliação partidária. De qualquer modo, seus membros, por assim dizer, deixavam seus cartões do partido na porta ao entrarem nas dependências da Liga. Desde o início, identificaram o antissemitismo como o âmago da ideologia nazista, e em 1933 a Liga e seus membros entraram na clandestinidade e começaram a ajudar os judeus a evitar a captura e, a partir de 1941, a deportação. Nesse caso, seu pequeno tamanho – nunca houve mais que umas poucas centenas de membros mesmo no auge de sua popularidade, na década de 1920 – e os profundos laços pessoais que haviam crescido entre seus membros ajudaram a Liga a permanecer intacta e a continuar seu trabalho sem ser detectada pela Gestapo. Seus membros preparavam documentos de identificação falsos para os judeus que estavam escondidos, transportavam-nos secretamente de um lugar para outro, e ajudavam-nos a fugir das atenções da Gestapo. Do ponto de vista dos membros da Liga, esse era o modo de manter vivo o espírito de igualdade racial e social no contexto da perseguição nazista. Assim, ofereciam uma alternativa prática para as atividades costumeiras dos grupos de resistência de esquerda, que tinham como foco a tentativa em grande parte fútil de tentar incitar a opinião popular contra os nazistas26.

O meio em que a Liga surgiu na década de 1920, no qual pequenos grupos de várias tendências políticas tentavam criar novos estilos de vida, de um tipo ou de outro, também fez surgir, em uma distância muito maior, um movimento de resistência bem mais conhecido, que se denominava Rosa Branca, e alguns de seus membros tinham estado envolvidos no movimento juvenil autônomo dos anos da República de Weimar. Qualquer entusiasmo inicial que pudessem ter sentido pelo regime nazista foi rapidamente extinto por causa de seu racismo e antissemitismo, suas restrições à liberdade pessoal e, acima de tudo, pela violência extrema que desencadeou no front oriental em 1941-42. Enquanto estudavam medicina na Universidade de Munique, alguns dos rapazes que desempenharam um papel importante na formação do grupo tinham sido mandados para trabalhar no serviço de medicina do Exército no front oriental. O grupo gradualmente se expandiu para incluir não somente Kurt Huber, um professor de Munique que agia como um tipo de mentor para muitos de seus membros, mas também amigos, colegas e estudantes em outras cidades universitárias, de Freiburg a Stuttgart, e especialmente Hamburgo. Os membros que estavam na liderança incluíam os irmãos Scholl, Hans e Sophie, bem como muitos outros estudantes de Munique, Alexander Schmorell, Christoph Probst e Willi Graf. Alguns deles tentaram entrar em contato com Falk Harnack, irmão da figura central na rede da Orquestra Vermelha, embora ele não tenha respondido às manifestações deles. À medida que se expandiu, o grupo tornouém -se mais ousado, datilografando, mimeografando e enviando para um grupo maior e mais ou menos variado de destinatários uma série de seis folhetos em quantidades que variavam de apenas uma centena até muitos milhares. Seu objetivo, assim como o de grupos tradicionais de resistência da esquerda, era incitar a opinião popular, de modo que as massas se sublevassem e acabassem com a guerra derrubando Hitler e seu regime. Eles condenavam peremptoriamente o extermínio em massa dos judeus e das elites polonesas, e criticavam a apatia do povo alemão perante os crimes nazistas. Depois de Stalingrado, começaram a grafitar nas paredes dos edifícios públicos de Munique (“Hitler, exterminador de massas”, “Liberdade”, e assim por diante). Em 18 de fevereiro de 1943, contudo, Hans e Sophie Scholl foram vistos por um porteiro da universidade enquanto distribuíam cópias de seu último folheto no pátio. Ele os delatou para a Gestapo, e os irmãos foram capturados. Apesar de se recusarem, sob tortura, a trair os demais membros do grupo, a polícia logo identificou e capturou Probst e os outros ativistas da Rosa Branca. Hitler desejava um julgamento sumário. Probst e os irmãos Scholl foram levados perante o Tribunal Popular em 22 de fevereiro de 1943, julgados culpados por traição e decapitados; Huber, Schmorell e Graf foram condenados em 19 de abril e também executados. Outros dez membros foram sentenciados à prisão. O grupo de Hamburgo continuou a distribuir os folhetos, mas também acabou sendo descoberto pela Gestapo; o último de seus membros foi preso em junho de 1944. Cópias do último folheto chegaram às mãos dos britânicos via Suécia, e a Real Força Aérea jogou centenas de milhares de cópias sobre a Alemanha na primavera de 194327. Desse modo, a mensagem da Rosa Branca não ficou sem ser lida.

Contudo, a maior parte dos críticos da moral e do regime ficou quieta, esperando tempos melhores e mantendo suas crenças para si mesmos. É impossível dizer com certeza quão disseminado era tal comportamento. Um exemplo pode ser encontrado no diário de Erika S., nascida em Hamburgo em 1926, em uma família que fora social-democrata. Seu diário trazia uma mescla inconsciente de suas preocupações cotidianas e sua indignação moral em relação ao grande estrago que achava que a guerra estava causando. “Ah”, ela escreveu em 4 de junho de 1942, “se esta guerra sacrílega acabasse logo! Nada para comer, e todos esses assassinatos cruéis, é horrível demais, sobretudo quando a gente pensa em todas essas vítimas e naqueles que foram deixados para trás. Ninguém sabe quantos jovens mais já tiveram de sacrificar sua vida pela causa diabólica de Hitler, isso não é nada mais que uma imensa campanha de assassinato28.” Tais sentimentos eram, sem dúvida, compartilhados por seu pai, que foi levado para a prisão pela Gestapo em mais de uma ocasião, a última vez em 23 de agosto de 1944. Sem se atemorizar diante dessa última prisão, Erika sentou-se e escreveu uma carta para Himmler, garantindo-lhe que seus pais tinham “educado a mim, e a meu irmão de 14 anos de idade, de um modo absolutamente nacional-socialista”. Lembrou ao chefe da SS que ela era membro da Liga das Moças Alemãs e tinha se filiado ao Partido Nazista no mês de abril anterior. Então, não podia entender por que seu pai fora levado à prisão. Depois de esperar em vão por uma resposta, ela foi ao escritório da Gestapo mais próximo para continuar sua busca. Os funcionários foram educados, mas não fizeram concessões. “Não dá para aguentar mais”, ela escreveu em seu diário, “o modo como somos tratados na Alemanha. E, mesmo assim, fazemos de tudo para não chamar a atenção29.”

 

 

IV

 

Nenhum desses movimentos jamais conseguiria derrubar o regime nazista. Apenas um grupo tinha condições de fazer isso, o da resistência militar que havia surgido originalmente em 1938 entre os oficiais de alto escalão do Exército preocupados com o que viam como imprudência de Hitler ao arriscar um conflito que envolveria toda a Europa com a invasão da Tchecoslováquia, sem que a Alemanha estivesse preparada para ele. As vitórias de 1939-40 pareceram provar que eles estavam errados30. Apenas uns poucos, como o antigo embaixador na Itália, Ulrich von Hassell, continuaram convencidos daquilo que ele chamava de irresponsabilidade criminosa do regime e ficaram chocados com a destruição que o regime estava infligindo à Europa oriental. Hassell achava intolerável, como escreveu em seu diário 8 de outubro de 1940, que “os judeus estejam sendo sistematicamente exterminados, e que uma campanha diabólica esteja sendo lançada contra a intelectualidade polonesa com o propósito expresso de aniquilá-la31”. Outros membros do Ministério do Exterior, incluindo o secretário de Estado Ernst von Weizsäcker, Adam von Trott zu Solz e Hans-Bernd von Haeften, compartilhavam havia muito tempo a opinião de Hassell. Hassell discutia com regularidade esse e outros assuntos com um pequeno grupo de civis que tinham as mesmas ideias e haviam ocupado posições importantes no governo e na administração, principalmente Carl Goerdeler, antigo Comissário de Controle de Preços e ex-prefeito de Leipzig, e o prussiano Johannes Popitz, ministro das Finanças. O grupo incluía o antigo chefe do Estado-Maior Geral do Exército Ludwig Beck, um dos poucos militares do alto escalão que não ficara impressionado com os triunfos militares da primeira fase da guerra; outros que haviam chegado a pensar em prender Hitler e instalar um regime militar, como Franz Halder, não faziam mais do que resmungar a respeito do modo como Hitler conduzia a guerra mesmo quando a situação começou a ficar complicada em 1941, como já vimos. Assim como a maioria dos oficiais do alto escalão, Halder apoiava a ideia de uma cruzada contra a União Soviética e considerava as medidas mais duras justificáveis. O círculo ao redor do chefe do serviço de espionagem militar, almirante Wilhelm von Canaris, e seu secretário, Hans Oster, também se preocupara por algum tempo com a irrefletida ambição militar de Hitler. Mas ficaram esperando por uma boa oportunidade, achando que era inútil tentar fazer alguma coisa enquanto o apoio popular a Hitler fosse tão grande. O grupo também incluía o jovem teólogo Dietrich Bonhoeffer, que havia sido uma figura inspiradora na Igreja Confessional, mas perdeu sua batalha maior contra o regime nazista na metade da década de 1930 porque estava servindo como pastor em Londres. Bonhoeffer fora convocado para o Serviço de Informações Militar em 1940, e logo começou a trabalhar com o grupo de oposição lá32.

Entretanto, um pequeno grupo de oficiais da geração mais jovem, em sua maioria aristocratas, como Fabian von Schlabrendorff e Henning von Tresckow, na equipe do Grupo de Exércitos do Centro, sentia-se tão ultrajado com as atrocidades que estavam sendo cometidas no leste que resolveram entrar em ação. Tresckow, particularmente, embora de início tivesse apoiado Hitler, logo ficara chocado com a brutalidade do regime e sua falta de respeito às leis. Oficial prussiano de linhagem tradicional, ele achava que os soldados inimigos deveriam ser tratados de acordo com as leis de guerra, e tentou não obedecer às ordens que recebera de atirar imediatamente em comissários políticos soviéticos. Seu oficial comandante, o marechal de campo Günther von Kluge, expressou interesse em se unir à oposição militar, mas era cauteloso demais para se comprometer. Objeções morais quanto ao nazismo eram também o fundamento da oposição crescente manifestada (confidencialmente) pelo Círculo de Kreisau (um nome que lhe foi dado posteriormente pela Gestapo). Era um grupo não muito estruturado de intelectuais que chegou a alcançar mais de uma centena de membros, os quais se encontravam em uma propriedade do conde Helmuth von Moltke em Kreisau, na Baixa Silésia, para discutir a situação. Em três ocasiões em 1942-43, o grupo manteve grandes conferências que incluíam teólogos, advogados e antigos políticos social-democratas, e outras pessoas de uma grande variedade de procedências. Muitos dos membros do círculo ocupavam postos não muito importantes no governo, entre eles o conde Peter Yorck von Wartenburg (um funcionário público no escritório do comissário do Controle de Preços) e o conde Fritz-Dietlof von der Schulenburg, vice-presidente da Polícia de Berlim. O próprio Moltke trabalhou no departamento de prisioneiros de guerra no Comando Supremo das Forças Armadas Combinadas. Alguns dos membros do Círculo de Kreisau conheciam outros países, o que reforçava sua perspectiva crítica a respeito do nazismo. Seus pontos de vista eram extremamente idealistas. Em 9 de agosto de 1943, eles estabeleceram um conjunto de princípios que seriam implementados depois do colapso do nazismo, os quais enfatizavam o cristianismo como a base para a regeneração moral do povo alemão. Liberdades básicas tinham de ser restauradas. Politicamente, a Alemanha se tornaria um Estado federativo com um poder central fraco. Ela seria dividida em províncias que teriam entre 3 e 5 milhões de habitantes cada uma, e essas províncias seriam subdivididas em comunidades que se autogovernariam, organizadas em distritos. As regiões teriam parlamentos eleitos por assembleias distritais, e um Parlamento (Reichstag) nacional seria eleito pelos parlamentos regionais. A idade mínima para votar seria 27 anos. O Círculo de Kreisau também desejava um tipo de comunidade internacional de países, para reduzir o risco de uma guerra acontecer outra vez. Todas essas ideias expressavam um tipo de idealismo radical-conservador, baseado na desconfiança quanto à moderna “sociedade de massas” e tinham por objetivo recriar um sentimento de arraigamento e de pertencimento baseado em valores cristãos e em identidades locais. Os membros do Círculo de Kreisau desconfiavam do capitalismo e desejavam tanto a propriedade comum de indústrias vitais quanto a “corresponsabilidade” na iniciativa individual. O que viam como um excesso de urbanismo seria suplantado pelo Estado, que garantiria que todas as famílias teriam um jardim33.

O Círculo de Kreisau e seus membros estabeleceram contatos esporádicos e múltiplos com membros da resistência civil e militar, e em 8 de janeiro de 1943 houve um encontro entre representantes dos dois grupos. A reunião não correu bem. Moltke achou que Goerdeler era um reacionário, ao passo que homens com maior experiência política, como Hassell, julgaram que muitos dos “jovens” não eram realistas34. Várias tentativas por parte de Moltke, de Trott e de outros de estabelecer contatos com os aliados no Ocidente e persuadi-los a trabalhar com eles na reconstrução da Alemanha depois da vitória não deram em nada35. Os aliados tinham seus próprios planos. A falta de confiança nos modelos de democracia parlamentar do Ocidente, que o Círculo de Kreisau considerava que tinham falhado durante a República de Weimar, era quase universal nas inúmeras ramificações da resistência alemã, e só isso já fazia que seus planos constitucionais fossem pouco recomendáveis para os britânicos ou os americanos. Goerdeler e os conspiradores militares tinham ainda menor probabilidade de merecer a aprovação dos aliados. A liderança do grupo havia discutido longamente e revisava repetidas vezes um conjunto de objetivos que ficavam cada vez mais modestos à medida que a situação militar piorava, mas até mesmo em maio de 1944 eles incluíam uma negociação de paz tendo como base as fronteiras alemãs de 1914 mais a Áustria, os Sudetos e a parte sul do Tirol, autonomia para a Alsácia-Lorena e a retenção de uma força de defesa efetiva no leste36.

As ideias constitucionais dos conspiradores variavam de um Estado autoritário, quase corporativista, como sugerido por Hassell, a um modelo mais parlamentarista defendido por Goerdeler em uma tentativa, entre outras coisas, de satisfazer os social-democratas do grupo, como Julius Leber. Até mesmo nesse ponto, entretanto, Goerdeler desejava um forte elemento corporativista, com candidatos vindos de grupos com interesses econômicos e eleições indiretas para o Parlamento, que teria sua influência limitada ao receber apenas poderes consultivos e ser subordinado a uma segunda câmara nomeada pelo chefe de Estado. Votos extras seriam dados aos pais de família. Assim como o Círculo de Kreisau, Goerdeler e os conspiradores militares estavam determinados a evitar as animosidades político-partidárias que tanto haviam debilitado a República de Weimar; então a campanha eleitoral aberta não deveria acontecer no Estado que eles desejavam fundar. E, assim como o Círculo de Kreisau, a resistência militar-conservadora via os valores cristãos como fundamento muito importante para o ressurgimento de uma Alemanha moralmente honrada, embora Leber e os social-democratas não estivessem felizes com essa ideia. A influência dos social-democratas, que aumentou com o tempo, poderia ser vista em uma certa coincidência de pontos, como a ênfase dada pelo Círculo de Kreisau à necessidade de controlar a economia capitalista. Contudo, a visão de Goerdeler e de seu grupo, de uma Alemanha em que antagonismos de classe seriam vencidos pela criação de uma legítima comunidade nacional dominada pela aristocracia tradicional (o “estrato que carrega o Estado”, como dizia Schulenburg), não tinha muitas chances de ser aceita pelos membros das classes trabalhadoras dos social-democratas. A hostilidade da resistência militar-conservadora a uma constituição parlamentarista e a uma sociedade aberta e diversificada demonstrava seu caráter retrógrado e sua falta de potencial para atrair as massas. Na verdade, dada a participação de oficiais prussianos e de políticos prussianos conservadores no grupo, não chegava a surpreender que eles se voltassem, assim como muitos membros do Círculo de Kreisau também faziam, para as reformas prussianas do barão Karl vom Stein no começo do século XIX como um modelo para o futuro desenvolvimento da Alemanha. Também nesse ponto, a falta de realismo era palpável37.

Um dos fatores que motivaram a resistência foi, sem dúvida, a afronta e a vergonha decorrentes do tratamento que o regime dispensava aos judeus. Já no fim de agosto de 1941, Helmuth von Moltke escrevia para sua esposa a respeito do extermínio em massa de judeus e de prisioneiros de guerra soviéticos no leste. Isso estava, disse ele, marcando o povo alemão “com uma culpa que nunca será aniquilada de nossa vida e nunca será esquecida38”. Em tom semelhante, Ulrich von Hassell confiou a seu diário, em 4 de outubro de 1941, que o general Georg Thomas, o chefe do abastecimento das Forças Armadas, falara, ao voltar do front oriental, a respeito “da continuidade de crueldades repulsivas, particularmente contra os judeus, que estavam sendo vergonhosamente mortos às bateladas39”. “Centenas de milhares de pessoas foram sistematicamente assassinadas apenas por causa de sua ascendência judaica”, observou um exaltado memorando escrito por Goerdeler e outros sobre o futuro pós-guerra da Alemanha em novembro de 1942. Depois da queda do nazismo, os autores prometiam que as Leis de Nuremberg e as leis que afetavam especificamente os judeus seriam abolidas. No entanto, a razão que davam não era o fato de elas serem injustas, mas sim de que eram desnecessárias, porque o número muito pequeno de judeus sobreviventes não mais constituiria um “perigo para a raça alemã”. Nem, de modo significativo, isso evitou que os membros da resistência esboçassem planos para classificar os judeus sobreviventes tendo como base não somente a sua etnia, mas também sua religião40.

Além do mais, alguns dos participantes militares da conspiração haviam, eles próprios, ordenado medidas contra os judeus, incluindo, por exemplo, Karl-Heinrich von Stülpnagel, comandante do Exército em Paris. Como oficial mais graduado na Silésia administrada pelo líder regional Wagner, Fritz-Dietlof von der Schulenburg implementara políticas antissemitas e antipolonesas com entusiasmo, incluindo convocação para o trabalho forçado ou deportação de poloneses e de judeus. Acima de tudo, foi a derrota militar alemã em Stalingrado, que ele considerou uma evidência da incompetência militar de Hitler, que levou Schulenburg à oposição; e de fato, para muitas das figuras militares que estavam entre os membros da resistência, a crença de que Hitler era o responsável pela piora da situação da Alemanha na guerra também foi crucial41. Wolf Heinrich, conde Helldorf, presidente da Polícia de Berlim, também envolvido na conspiração, desempenhara um papel importante na perseguição aos judeus da capital na década de 193042. O plano incluía entre seus defensores e informantes até mesmo Arthur Nebe, comandante da Força-Tarefa B da SS na União Soviética, responsável pela morte de milhares de judeus; seus motivos para se unir à oposição eram particularmente obscuros. Alguns dos conspiradores, incluindo Johannes Popitz, desaprovavam os métodos usados pelos nazistas para lidar com a “questão judaica” por serem muito drásticos, e não porque a ideia de discriminação contra os judeus fosse em si errada. Como isso sugere, não chegava a surpreender que muitos deles tivessem inicialmente apoiado os nazistas em suas políticas raciais, bem como por outras razões. Muito antes de 1944, contudo, tais ideias haviam sido praticamente anuladas pela noção de que, como dizia Goerdeler, “a perseguição aos judeus [...] tomou as formas mais desumanas, impiedosas e profundamente vergonhosas, para as quais não há compensação adequada43”.

Havia uma diferença essencial entre os conspiradores militares e o Círculo de Kreisau. Moltke e a maior parte de seus amigos eram contrários à tentativa de assassinato de Hitler por motivos religiosos, preferindo esperar o colapso militar do Terceiro Reich antes de colocar seus planos em ação. Até certo ponto, essa perspectiva era compartilhada por outros membros da resistência civil. Os militares não tinham tais escrúpulos. Henning von Tresckow, sobretudo, estava convencido de que Hitler teria de ser morto para que o regime nazista pudesse ser derrubado. Ele começou a organizar uma série de tentativas de assassinato pouco depois de Stalingrado. Em 13 de março de 1943, tentou explodir o avião de Hitler em um voo entre seus quartéis-generais com explosivos fornecidos pelo almirante Canaris e o serviço de contrainformações militar, e introduzidos no compartimento de bagagens do avião. Mas a tentativa falhou porque o detonador não funcionou nas temperaturas extremamente baixas do compartimento de bagagens a grande altitude. A bomba, disfarçada como um pacote contendo duas garrafas de conhaque, ainda estava no compartimento de bagagens quando o avião aterrissou. Em cima da hora, o coconspirador de Tresckow, Fabian von Schlabrendorff, conseguiu ir de avião até o local, se apoderar do pacote e desarmar a bomba. Em 21 de março de 1943, outro jovem conspirador, o coronel Rudolf-Christoph, barão Von Gersdorff, levou uma sacola de explosivos a uma exposição de equipamentos soviéticos capturados em Berlim, esperando matar Hitler durante a visita planejada. Mas o Líder nazista percorreu o prédio com tanta pressa que a oportunidade não se apresentou. Como uma tentativa depois de outra não dava resultado, Goerdeler pressionou os militares para que agissem rapidamente; caso contrário, outros milhões de vidas seriam perdidas e a Alemanha seria derrotada de tal modo que o novo regime por ele idealizado não teria condições de negociar com os aliados. O fato de ele acreditar que isso ainda seria possível apesar da decisão tomada pelos líderes aliados em Casablanca, no começo de 1943, de não aceitar nada além da rendição incondicional da Alemanha, mostra a falta de realismo político dos conspiradores; e mesmo que Churchill e Roosevelt estivessem dispostos a negociar, não havia chance de que aceitassem os termos que Goerdeler e seus coconspiradores estavam oferecendo44.

Além do mais, a conspiração passou a enfrentar problemas graves quando seus membros começaram, por um motivo ou outro, a chamar a atenção da Gestapo. O Serviço de Espionagem Militar, sob a direção de Canaris e de Oster, que os conspiradores viam como o principal centro logístico de sua operação, estava sendo cada vez mais ameaçado pelas ambições do departamento de informações no exterior do Serviço de Segurança da SS dirigido por Walter Schellenberg. Isso levou a uma vigilância ainda maior por parte da Gestapo. Na primavera de 1943, Oster e alguns de seus funcionários mais importantes, incluindo Bonhoeffer, foram capturados sob acusações de crimes financeiros. Em janeiro de 1944, as suspeitas de Hitler haviam feito que ordenasse que o controle do serviço de espionagem militar no exterior, que Oster tinha dirigido até sua prisão, fosse exercido pelo Serviço de Segurança da SS. Canaris, uma figura enigmática que alguns suspeitavam que tivesse entregue segredos militares aos aliados, foi preso. Em um golpe subsequente, Moltke foi capturado em janeiro de 1944. Enquanto isso, Popitz, em um extraordinário ato de falta de realismo político, se aproximou de Himmler com o intuito de convencê-lo da ideia de derrubar Hitler por sua própria iniciativa. A ideia foi recebida com uma vaga expressão de interesse por parte do chefe da SS, e nada mais. Horrorizados, Goerdeler e outros conspiradores civis fizeram o possível para evitar contato com Popitz depois disso. Figuras importantes caíram fora – Kluge ficou seriamente ferido em um acidente de carro, o social-democrata Mierendorff e o chefe aposentado do Exército, Hammerstein, morreram de causas naturais. Tudo isso atrasou a conspiração por muitos meses, e reduziu a possível coerência e a eficácia do complô45.

Os conspiradores depararam com problemas mais profundos quando tentaram reviver seus planos de assassinato. Para que o complô fosse bem-sucedido, tinham de persuadir unidades cruciais da reserva do Exército a se transferir para Berlim e assumir o controle das principais instituições do governo, mas, embora tivessem conseguido alguns avanços com as delicadas negociações, ainda havia muitas incertezas. Se, por um lado, o general Friedrich Olbricht, que liderava a seção de reserva das Forças Armadas em Berlim, os apoiava, planejando ativamente o movimento das tropas que assumiriam o poder quando Hitler estivesse morto, seu chefe, o general Friedrich Fromm, comandante da reserva do Exército, um homem que estava de olho em uma melhor oportunidade, decidiu ficar esperando quando foi informado a respeito da conspiração, embora naquele momento não traísse os conspiradores. Com o antigo chefe do Estado-Maior Geral do Exército Ludwig Beck e Tresckow, Olbricht esboçou os planos para a Operação Valquíria, um golpe militar que seria desencadeado imediatamente depois de a morte de Hitler ser declarada. Mas quem mataria o Líder? Esse era o problema final a ser resolvido. Ele requeria alguém que combinasse o acesso pessoal a Hitler com a dedicação à resistência – uma combinação difícil, se não impossível, de encontrar. Em mais de uma ocasião, uma tentativa tivera de ser abortada porque o homem que concordara em se encarregar dela não conseguiu se aproximar do alvo. Mas, no fim do verão de 1943, uma nova figura que entrou na conspiração preenchia todos esses requisitos. Claus Schenk, conde Von Stauffenberg, era um tenente-coronel que fora seriamente ferido no norte da África, perdendo a mão direita e os dedos anular e mínimo da mão esquerda. Ele usava um tapa-olho. Estava prestes a assumir sua nomeação como secretário do Estado-Maior Geral do Exército no dia 1o de outubro de 1943. Um oficial capaz e extremamente enérgico, Stauffenberg tinha, como alguns outros na hierarquia militar, apoiado o nazismo de início e ficado entusiasmado com as vitórias dos exércitos alemães na Polônia e na França. Porém, ficara desiludido com a irresponsabilidade de Hitler no front oriental e pensava, sobretudo depois de Stalingrado, que essa atitude estava levando a Alemanha para o abismo. Stauffenberg também tinha um tipo de comprometimento moral e patriótico pouco comum, cuja origem era sua participação, quando jovem, no grupo que rodeava o poeta Stefan George. O que o levou definitivamente a se voltar contra Hitler foram as atrocidades cometidas pela SS contra eslavos e judeus no front oriental e por trás das linhas de frente, e sua crença de que elas tinham de ser interrompidas antes que ficassem ainda maiores. Junto com Tresckow, Stauffenberg se tornou a figura central na organização e no incentivo ao complô. Os conspiradores planejaram uma tentativa de assassinato depois da outra, apenas para vê-las falhar, muitas vezes por puro acaso. Um dia, Stauffenberg resolveu ele mesmo matar Hitler46.

À medida que a Gestapo começou a se aproximar dos conspiradores, descobrir um jeito de se aproximar de Hitler tornou-se um ponto ainda mais urgente. Em 1o de julho de 1944, ele se apresentou inesperadamente quando Stauffenberg foi promovido a coronel e nomeado secretário pessoal de Fromm, chefe da reserva do Exército. Essa circunstância lhe deu acesso a Hitler na condição de emissário de Fromm. Ao mesmo tempo, o objetivo do assassinato estava mudando por causa das grandes alterações da situação militar. Depois dos desembarques na Normandia, Stauffenberg começou a se perguntar se matar Hitler serviria a algum propósito político útil. Certamente não havia mais esperança, se é que tinha existido, de chegar a um acordo nas negociações com os aliados e resgatar das ruínas uma parte da Alemanha. Porém, como lhe disse Tresckow: “O assassinato deve ser tentado a qualquer preço. Mesmo que ele falhe, a tentativa de assumir o poder na capital deve ser levada adiante. Devemos provar para o mundo e para as gerações posteriores que os homens do movimento de resistência alemã ousaram dar o passo decisivo e arriscar nele sua vida. Comparado a esse objetivo, nada mais importa47”. Em 20 de julho de 1944, Stauffenberg visitou os quartéis-generais de Hitler em Rastenburg, levando uma maleta que continha duas bombas. Com apenas o polegar e dois dedos a seu dispor, ele não conseguiu agir rapidamente ao ativar o detonador controlado por um relógio, e só teve tempo para preparar uma das bombas antes de ser levado ao alojamento onde Hitler estava dirigindo uma revisão da situação militar com seu pessoal; a outra bomba ele deixou com seu companheiro Werner von Haeften, que posteriormente a atirou para fora de seu carro. Colocando a maleta perto da grande mesa de conferência sobre a qual Hitler se debruçava, Stauffenberg saiu da sala, dizendo que tinha de dar um telefonema. Ele observou de certa distância a explosão da bomba, que destruiu os alojamentos. Então, deu um jeito de abrir caminho pelos cordões de segurança da SS, entrou em um avião e voou de volta para Berlim48.

Tendo recebido por telefone a garantia de Stauffenberg de que Hitler não poderia ter sobrevivido à explosão, Olbricht e os líderes da conspiração no quartel-general do Exército em Berlim iniciaram o golpe militar. Mas logo as coisas começaram a dar errado. Se Stauffenberg tivesse conseguido ativar as duas bombas, ou mesmo deixado a desativada em sua maleta com a outra, não há dúvidas de que Hitler teria sido morto. Mas a força da explosão não foi suficiente. A detonação não foi contida pelas frágeis paredes de madeira do alojamento e atirou-as longe, juntamente com as janelas, enquanto a pesada mesa de conferências protegeu Hitler, que estava parado do outro lado. Mesmo assim, quatro dos presentes, que estavam parados perto do local onde a bomba explodiu, morreram na hora ou posteriormente devido aos ferimentos. Hitler cambaleou porta afora, apagando as chamas que estavam queimando suas calças. Ele deparou com Keitel, o bajulador chefe do Comando Supremo das Forças Armadas, que começou a chorar, exclamando: “Meu Líder, o senhor está vivo, o senhor está vivo!”. A roupa de Hitler estava rasgada e ele tinha queimaduras e escoriações em seus braços e pernas, e algumas farpas de madeira em suas pernas. Assim como todos no barracão, com exceção de Keitel, ele tinha os tímpanos perfurados. Mas não sofreu ferimentos graves. Esse foi um acontecimento decisivo. Quase tão nefasto para os conspiradores era o fato de, mesmo tendo conseguido interromper algumas comunicações com o quartel-general de campo de Rastenburg, eles não terem sido capazes de interromper todas elas. Em pouco tempo, membros da equipe de Hitler conseguiram telefonar para Berlim e transmitir a notícia de que Hitler ainda estava vivo.

Em Berlim, o cauteloso general Fromm, que havia recebido dos conspiradores a ordem para colocar o golpe militar em andamento, telefonou para Rastenburg para ver se a alegação deles de que Hitler estava morto era correta, e lhe disseram que não. Tentando prender Olbricht e os demais conspiradores no quartel-general do Exército, ele próprio foi preso quando eles tentaram dar continuidade ao golpe. No meio da crescente confusão, algumas unidades do Exército agiram de acordo com a planejada Operação Valquíria, mas outros foram impedidos quando Hitler fez que suas instruções fossem transmitidas de Rastenburg cancelando as ordens dos conspiradores. Apanhado no fogo cruzado de informações contraditórias, o major Ernst Remer, comandante de um batalhão de guardas na capital, e nazista fanático, obedecera às ordens para cercar a área do governo com suas tropas, na crença de que Hitler estava morto. Com soldados equipados com metralhadoras assumindo posições perto do Portão de Brandemburgo, a situação pareceu ruim para ministros, como Goebbels, que foram apanhados na armadilha. Temendo o pior, Goebbels apanhou um suprimento de pílulas de cianureto antes de entrar em ação. Ele persuadiu Remer a ir discutir com ele a situação, na presença de Albert Speer, que posteriormente relembrou o nervosismo do ministro da Propaganda assim que o major entrou em sua sala. Hitler não havia morrido, Goebbels garantiu para Remer: e com certeza o Líder teria condições de contradizer as ordens de qualquer general. Ele telefonou para a linha direta de Hitler em Rastenburg. Hitler falou pessoalmente com Remer e o mandou restaurar a ordem. Remer retirou suas tropas dos ministérios do governo. Os subordinados de Olbricht que não estavam a par do assunto agora uniram forças com Remer. Um tiroteio começou no quartel-general do Exército, e Stauffenberg foi ferido. Fromm foi libertado, e por sua vez prendeu Olbricht, Stauffenberg e os demais conspiradores. Beck conseguiu um revólver e atirou em si próprio duas vezes; quando ele estava caído no chão, ferido, Fromm ordenou a um sargento que o levasse para o cômodo ao lado e acabasse com ele. Então, rapidamente, condenou os demais conspiradores à morte. Se fossem deixados vivos para falar com a Gestapo, sua cumplicidade prévia no complô teria sido revelada. Um pelotão de fuzilamento colocou lado a lado Olbricht, Stauffenberg, Haeften e o companheiro de conspiração deles coronel Albrecht Mertz von Quirnheim no pátio e atirou neles um por um. Quando estava para ser morto, Stauffenberg gritou: “Longa vida para a santa Alemanha!49”.

 

 

V

 

A notícia de que Hitler havia sobrevivido torpedeou o complô não apenas em Berlim, mas também em Praga e em Viena, onde alguns dos conspiradores também tinham tentado organizar um golpe. Em Paris, o comandante militar da França ocupada, o general Karl-Heinrich von Stülpnagel, deu início ao golpe assim que Stauffenberg telefonou para dizer que Hitler estava morto. Cerca de mil oficiais da SS foram presos, incluindo os principais comandantes da SS e de seu Serviço de Segurança em Paris, Carl-Albrecht Oberg e Helmut Knochen. Mas, antes que algo mais pudesse ser feito, o hesitante marechal de campo Kluge descobriu que Hitler ainda estava vivo, e rapidamente cancelou as medidas. Os homens da SS foram libertados. Para Oberg e Knochen, sua prisão e sua falha em tomar alguma medida contra a conspiração foram profundamente vergonhosas e potencialmente perigosas. O representante de Kluge em Paris, o general Günther Blumentritt, se aproveitou de seu evidente embaraço para fazer um acordo regado com diversas garrafas de champanhe no Salon Bleu do Hotel Raphaël. Ele transformou os principais acontecimentos em um mal-entendido e evitou que a cumplicidade da maior parte dos conspiradores em Paris fosse descoberta. Para Stülpnagel, entretanto, não houve atenuantes. “Então, Herr general”, Oberg havia dito a Stülpnagel ao entrar no hotel, “parece que o senhor apostou no cavalo errado.” Na verdade, Kluge já havia feito um relato das atividades de Stülpnagel para Berlim. Adivinhando o futuro que o aguardava, o general saiu de Paris e se dirigiu a Verdun, o local da batalha da Primeira Guerra Mundial, onde parou o carro, desceu e atirou na própria cabeça. Assim como Beck, contudo, não conseguiu se matar. Cego e muito desfigurado, foi levado para Berlim como prisioneiro50.

Notícias a respeito do atentado a bomba contra Hitler e do fato de ele ter sobrevivido já haviam sido transmitidas pelo rádio nessa altura dos acontecimentos. Abalado, mas não seriamente ferido, Hitler conseguiu encontrar tempo para um encontro já agendado com Mussolini em seus quartéis-generais de campo, conduzindo-o com orgulho a uma visita ao local da explosão, antes de falar à nação pouco antes de uma hora da madrugada de 21 de julho de 1944. Garantindo aos alemães que estava são e salvo, declarou que “uma pequena quadrilha de oficiais ambiciosos, inescrupulosos e, ao mesmo tempo, criminalmente estúpidos elaborou um complô para me afastar e, junto comigo, praticamente exterminar todo o pessoal do Supremo Comando alemão”. A providência, continuou ele de modo previsível, havia preservado sua vida. Em particular, criticou veementemente os conspiradores, vociferando que iria “aniquilar e exterminar” cada um deles. Designou Himmler como substituto de Fromm, cuja tentativa de encobrir sua própria cumplicidade não havia enganado ninguém. Guderian se tornou chefe do Estado-Maior Geral do Exército. Todos os alemães, disse Hitler, tinham de se unir na caçada aos responsáveis. Nesse momento, Remer e Ernst Kaltenbrunner, chefe do Serviço de Segurança da SS, tinham chegado ao quartel-general do Exército em Berlim, e Otto Skorzeny, que resgatara Mussolini do cativeiro um ano antes, apareceu com um pelotão de homens da SS. Eles impediram que quaisquer outras execuções acontecessem. Enquanto isso, Fromm tentou telefonar para Hitler do escritório de Goebbels, mas o desconfiado ministro da Propaganda deu o telefonema ele próprio, e recebeu ordens para prender o general. Goebbels instruiu a mídia a enfatizar uma vez mais que apenas um pequeno grupo de aristocratas reacionários estivera envolvido. Manifestações públicas deveriam ser organizadas para celebrar o fracasso do golpe51.

Enquanto isso, Himmler e a Gestapo entraram em ação para identificar e prender os conspiradores sobreviventes. À medida que a investigação prosseguia, ficou claro que estava errada a estimativa feita por Hitler de que o complô era obra de não mais que um punhado de oficiais reacionários. Logo Canaris, Oster e o grupo do Serviço de Espionagem Militar foram trazidos para interrogatório, junto com muitos outros oficiais envolvidos na conspiração. A prisão de civis aconteceu em seguida, incluindo Hjalmar Schacht, que já fora quem ditara as regras da economia do Terceiro Reich. Schacht estivera em contato com os conspiradores, mas, mesmo antes de ficar sabendo disso, Hitler ordenou que fosse capturado porque, ele ainda achava, Schacht sabotara o rearmamento na década de 1930. Hess também teria de ser preso quando a Inglaterra fosse finalmente derrotada, ele vociferava. Ele seria “enforcado sem piedade”, porque dera a outros um “exemplo da traição”. Johannes Popitz e os participantes e simpatizantes social-democratas, incluindo Gustav Noske e Wilhelm Leuschner, também foram presos. Carl Goerdeler passou à clandestinidade, e então se dirigiu para o leste, acampando em florestas, até ser finalmente reconhecido, denunciado e preso. Exausto, desmoralizado e submetido a privação de sono por seus capturadores e, assim como alguns dos outros membros da resistência, sob a influência de uma convicção moral de que não apenas a verdade tinha de ser dita, mas também de que ela teria um efeito persuasivo sobre aqueles que fossem ouvi-la, ele deu à Gestapo o nome de outros membros da conspiração, deixando claro que ela era muito mais que um complô elaborado por um punhado de militares descontentes. Ele nunca vacilou em sua convicção, que agora expressava abertamente, de que Hitler era um “vampiro” e de que “o assassinato bestial de um milhão de judeus” era um crime que conspurcava o nome da Alemanha52.

Himmler organizou uma gigantesca operação de captura de opositores conhecidos do regime, prendendo no fim quase 5 mil pessoas. Até o dia 23 de setembro de 1944, vieram à luz documentos que implicavam os antigos conspiradores, incluindo oficiais de alto escalão do Exército como Halder, Brauchitsch e o chefe do abastecimento das Forças Armadas, general Georg Thomas. Muitos outros já haviam se entregado, como Ulrich von Hassel, ou enfrentado a morte por resistir à prisão, ou se suicidado. Henning von Tresckow, ainda no front oriental, se dirigiu às linhas inimigas no dia 21 de julho e se matou detonando uma granada depois de saber que o complô tinha falhado. Preocupado com o fato de que a tortura o forçasse a denunciar pessoas, ele disse a Fabian von Schlabrendorff antes de partir: “Hitler é o arqui-inimigo não apenas da Alemanha, mas do mundo todo53”. Outros ingeriram veneno, ou atiraram em si. Um oficial do Exército que havia se unido à tentativa de golpe em Berlim colocou uma granada em sua boca e puxou o pino quando estava para ser levado pela Gestapo. Alguns conspiradores foram selvagemente espancados. Agulhas de metal foram introduzidas sob suas unhas para força-los a falar. Mas eles não revelaram o nome de outros participantes. A crescente suspeita de Hitler em relação a Kluge, que ele temia que fosse negociar uma rendição com os invasores aliados, levou-o a, em 17 de agosto de 1944, designar o sempre fiel Model para seu lugar. Sabendo que o jogo estava acabado, Kluge foi para o leste e, perto do local onde Stülpnagel tentara se matar, parou o carro e engoliu um frasco de veneno. O popular marechal de campo Erwin Rommel, que soubera da conspiração mas não a aprovara, tinha, não obstante, dito pessoalmente para Hitler que ele deveria acabar com a guerra. Rommel ainda estava convalescendo de ferimentos de guerra quando Hitler lhe apresentou as alternativas de um suicídio disfarçado como morte resultante de seus ferimentos e seguida por um enterro honroso, ou prisão, julgamento e humilhação pública. Quando a SS cercou a vila onde estava descansando, Rommel percebeu que nunca chegaria vivo a Berlim, e ingeriu veneno. O enterro honroso aconteceu como combinado. Outros 22 conspiradores militares foram demitidos com desonra do Exército por uma corte marcial apressadamente convocada por ordem de Hitler e presidida pelo marechal de campo Von Rundstedt54.

Em 7 de agosto de 1944, o julgamento dos oito primeiros conspiradores, incluindo o general Erwin von Witzleben, que estava envolvido em conspirações militares contra Hitler desde 1938, e Yorck von Wartenburg, foi iniciado em Berlim no Tribunal Popular. Outros julgamentos foram realizados nas semanas seguintes, envolvendo muitos outros conspiradores, como Schulenburg, Trott, Goerdeler, Leuschner, Hassel e o cego Stülpnagel. O julgamento de Leber, de Popitz e do antigo presidente do estado de Württemberg, Eugen Bolz, e dos membros do Círculo de Kreisau, incluindo Moltke, aconteceu bem depois, em janeiro de 1945. Muitos dos conspiradores tinham a esperança de que um julgamento lhes permitisse expor seus pontos de vista, e na verdade Hassell, entre outros, provavelmente se rendera com essa expectativa. Mas o presidente do Tribunal Popular, Roland Freisler, atormentou e afrontou os acusados, dirigindo-lhes inúmeros insultos grosseiros, e não lhes permitiu dizer mais que poucas palavras de cada vez. A conduta dele era tão ultrajante que até mesmo o nazista ministro da Justiça, Otto-Georg Thierack, reclamou a respeito dela. A maior parte dos advogados nomeados para defender os acusados prudentemente aceitou o caso da procuradoria desde o começo e não fez nenhuma tentativa de pedir que a pena fosse abrandada. Para garantir que eles teriam uma aparência tão patética e indigna quanto possível, os acusados tinham sido previamente maltratados fisicamente, proibidos de usar gravatas, e não lhes permitiram usar cintos ou suspensórios para segurar suas calças. Não obstante, alguns conseguiram um jeito de dizer alguma coisa. Quando Freisler disse a um deles que logo ele iria queimar no inferno, o réu fez uma reverência e respondeu rapidamente: “Vou esperar sua chegada iminente, meritíssimo!”. Outro disse a Freisler que, embora seu pescoço logo fosse estar no cepo, “em um ano vai ser o seu!”. Mas Hitler havia pessoalmente ordenado que eles fossem enforcados, uma punição desonrosa, geralmente reservada nessa época para os trabalhadores estrangeiros, embora também tivesse sido aplicada aos membros da Orquestra Vermelha. O primeiro grupo de homens foi enforcado em ganchos grosseiros presos no teto em um anexo na prisão de Plötzensee em Berlim. Uma corda especialmente fina foi usada para que eles morressem de uma estrangulação lenta. Enquanto estavam morrendo, suas calças foram abaixadas em um último ato de humilhação. Hitler fez que as execuções fossem filmadas e assistiu a elas em seu quartel-general à noite55.

Alguns dos conspiradores escaparam da morte e viveram depois do término do Terceiro Reich, para contar sua história para a posteridade. Entre eles, Fabian von Schlabrendorff, que estava abrigado no porão do Tribunal Popular com o juiz e alguns funcionários do Legislativo em 3 de fevereiro de 1945 quando um bombardeio aliado demoliu o tribunal. Uma viga despencou pelo piso caindo no porão. Freisler morreu na hora. Ele foi o único ferido, mas o julgamento teve de ser adiado; quando foi reiniciado, no meio do mês de março, o tribunal estava começando a contemporizar por causa da possibilidade da derrota iminente, e o absolveu por ele ter sido ilegalmente torturado, um escrúpulo que não tinha causado à corte nenhuma perturbação nos meses anteriores. No total, talvez mil pessoas tenham sido mortas ou cometido suicídio após o frustrado golpe de Estado. Além disso, Himmler, declarando que qualquer pessoa envolvida em um crime tão hediondo contra a Alemanha deveria ter sangue ruim, lançou mão do que ele dizia ser a antiga tradição alemã de punir também a família dos criminosos, e prendeu a esposa e os filhos, e, em alguns casos, irmãos e irmãs, pais, primos, tios e tias de diversos conspiradores. A esposa de Stauffenberg foi mandada para o campo de Ravensbrück, e seus filhos receberam uma nova identidade e foram colocados em um orfanato. A família de Goerdeler, Hammerstein, Oster, Popitz, Tresckow, Trott e outros foram tratadas de modo semelhante. A propriedade e os bens dos conspiradores e de sua família foram confiscados pelo Estado56.

O complô, a mais séria e abrangente tentativa de derrubar Hitler desde que ele assumira o poder em 1933, havia falhado, com as consequências mais desastrosas possíveis para quase todos os envolvidos, por diversas razões, tanto específicas quanto gerais. Os conspiradores não tinham conseguido matar Hitler, nem evitar que o fato de ele ter sobrevivido fosse divulgado de seu quartel-general para o mundo exterior. Seus preparativos foram descuidados e não prestaram muita atenção a detalhes. Embora estivesse diminuindo rapidamente, a carismática autoridade de Hitler, apoiada por Goebbels, Göring, Himmler e Bormann, ainda era suficiente para evitar que hesitantes oficiais de alto escalão, como Fromm e Kluge, jogassem todo seu peso em uma tentativa de golpe. Goebbels, Hitler, Himmler e a SS agiram de modo rápido e decisivo, enquanto os conspiradores foram lentos. Os conspiradores não haviam conseguido persuadir comandantes militares importantes em número suficiente para apoiar o golpe; embora a maioria dos oficiais de alto escalão soubesse naquele momento que havia pouca esperança de que a Alemanha vencesse a guerra, a maioria deles ainda estava enclausurada em uma mentalidade militar rígida em que as ordens vindas de seus superiores tinham de ser obedecidas, o juramento que haviam feito a Hitler era sacrossanto e matar o chefe de Estado era um ato de traição. Atitude típica foi a tomada pelo general Gotthard Heinrici, que em seu diário insistia na natureza sagrada do juramento de lealdade que havia feito a Hitler, assim como todos os outros soldados alemães, e desaprovava com firmeza o complô com a bomba de julho de 194457.

Os que apoiavam a tentativa de golpe estavam sempre em minoria. Alguns oficiais importantes eram, sem dúvida, influenciados pelas grandes somas de dinheiro que Hitler lhes dava. Muitos oficiais foram impedidos pelo medo de que poderiam ser responsabilizados pela derrota da Alemanha no estilo “punhalada nas costas” que muitos deles julgavam ter sido a responsável pela derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial. De modo mais geral, as ideias dos conspiradores eram retrógradas, e, apesar de todas as suas tentativas de criar um programa unificado, eram profundamente divididas em muitas questões centrais. Como os mais realistas deles já haviam percebido em junho de 1944, a tentativa de assassinato era mais um gesto moral do que um ato político. Se tivessem sido bem-sucedidos em suas tentativas anteriores de matar Hitler, em 1943, poderiam ter feito uma diferença maior. Mas, o que os atrapalhou desde o começo foi a falta de sorte. Se Stauffenberg tivesse conseguido matar Hitler, o resultado teria sido, com maior probabilidade, uma guerra civil entre unidades do Exército a favor dos conspiradores e as que se opunham a eles, apoiados pela SS. Mesmo então, parece difícil que os conspiradores pudessem ter vencido: as forças a seu dispor simplesmente não eram fortes ou em número suficiente. Os aliados não tinham a menor intenção de negociar com eles, e, na verdade, quando as notícias do atentado alcançaram Londres e Nova York, foram rapidamente deixadas de lado como uma briguinha sem importância na hierarquia nazista. Alguns dos conspiradores tinham esperanças de que o golpe lhes permitisse negociar separadamente com os aliados ocidentais um tratado de paz, mas os britânicos e os americanos tinham consciência disso, e estavam preocupados com o prejuízo que isso causaria a sua aliança com a União Soviética se dessem algum tipo de resposta positiva à conspiração. Um tratado de paz separado teria criado a perspectiva alarmante de um conflito com a União Soviética, e isso era algo que Churchill e Roosevelt não estavam preparados para considerar58.

O objetivo dos conspiradores era organizar um golpe militar, e, apesar das tentativas de Stauffenberg de conseguir um apoio mais amplo negociando com social-democratas como Leber, a resistência dos militares conservadores tinha muito pouco apoio na população alemã de modo geral59. No entanto, a morte de Hitler poderia muito bem ter apressado a desintegração do regime, enfraquecido os laços de lealdade que haviam unido tantos alemães a ele até meados de 1944 e encurtado a guerra em alguns meses, salvando milhões de vidas de todos os lados com isso. Só esse fato já era justificativa mais do que suficiente para a tentativa. Não foi fácil para os conspiradores chegar às conclusões a que chegaram ou tomar as atitudes que tomaram. No fim, contudo, eles agiram. O conde Peter Yorck von Wartenburg implicitamente falou em nome deles todos quando escreveu em sua última carta para a mãe, pouco antes de sua execução: “não foi ambição ou desejo pelo poder que determinou minhas ações. Minhas ações foram influenciadas unicamente pelo meu sentimento de patriotismo, minha preocupação com a minha Alemanha como ela tinha se desenvolvido ao longo dos dois últimos anos60”. A Alemanha dele, assim como a dos outros conspiradores, era a Alemanha do passado, acima de tudo do passado prussiano, e ele acabou reconhecendo que Hitler, em uma miríade de modos diferentes, a estava destruindo.

 


 

1 Speer sempre negou publicamente que tenha estado presente, mas em uma carta para Hélène Jeanty, viúva de um líder da resistência belga, em 23 de dezembro de 1971, ele escreveu: “Não há dúvida – eu estava presente quando Himmler anunciou em 6 de outubro de 1943 que todos os judeus seriam mortos”. Entretanto, logo isso também provou ser uma falsidade; Himmler não disse que eles seriam mortos; disse que eles já estavam sendo mortos, como Speer sabia muito bem (Kate Connolly, “Letter proves Speer knew of Holocaust plan”, Guardian, 13 de março de 2007).

2 Citado em Longerich, Der ungeschriebene Befehl, p. 189.

3 Hans-Heinrich Wilhelm, “Hitlers Ansprache vor Generalen und Offizieren am 26. Mai 1944”, Militärgeschichtliche Mitteilungen, 20 (1976), p. 123-70 (citação na p. 156).

4 Longerich, Der ungeschriebene Befehl, p. 188-91.

5 Citado em Noakes e Pridham (eds.), Nazism, III, p. 617-8.

6 Randolph L. Braham, The Politics of Genocide: The Holocaust in Hungary (2 vols., Nova York, 1981), I, p. 391; Christian Gerlach e Götz Aly, Das letzte Kapitel: Realpolitik, Ideologie und der Mord an den ungarischen Juden 1941/1945 (Munique, 2002).

7 Randolph L. Braham, “The Role of the Jewish Council in Hungary: A Tentative Assessment”, Yad Vashem Studies, 10 (1974), p. 69-109; Robert Rozett, “Jewish and Hungarian Armed Resistance in Hungary”, Yad Vashem Studies, 19 (1988), p. 269-88; Rudolf Vrba, “Die missachtete Warnung: Betrachtungen über den Auschwitz-Bericht von 1944”, VfZ 44 (1996), p. 1-24; e Yehuda Bauer, “Anmerkungen zum ‘Auschwitz-Bericht’ von Rudolf Vrba”, VfZ 45 (1997), p. 297-307; Steur, Theodor Dannecker, p. 129-50.

8 Herf, The Jewish Enemy, p. 242.

9 Hillgruber (ed.), Staatsmänner und Diplomaten, II, p. 463-4.

10 Citado em Phayer, The Catholic Church, p. 106.

11 Braham, The Politics, II, p. 607, 664-84, 762-74.

12 Weinberg, A World at Arms, p. 667-75; Frieser e Schönherr, “Der Rückschlag”, p. 447-50.

13 Weinberg, A World at Arms, p. 703-6; Karl-Heinz Frieser e Klaus Schönherr, “Der Zusammenbruch im Osten: Die Rückzugskämpfe seit Sommer 1944”, em DRZW VIII, p. 493-960.

14 Merridale, Ivan’s War, p. 96; Weinberg, A World at Arms, p. 705-8.

15 Citado em Norman Davies, Rising ’44: “The Battle for Warsaw” (Londres, 2003), p. 299-300.

16 Citado em Kershaw, Hitler, II, p. 725.

17 Weinberg, A World at Arms, p. 709-12.

18 Hosenfeld, “Ich versuche”, p. 824 (carta para a família, 8 de agosto de 1944).

19 Ibid., p. 856 (carta à família, 5 de outubro de 1944).

20 Ibid., p. 100-1, 834 (carta à família, 23 de agosto de 1944).

21 Weinberg, A World at Arms, p. 676-93, e Overy, Why the Allies Won, p. 134-79, para uma visão geral; um relato mais detalhado em Detlef Vogel, “German and Allied Conduct of the War in the West”, em GSWW VII, p. 459-702.

22 Kershaw, Hitler, II, p. 637-51.

23 Resumo em Gerd R. Ueberschär, Für ein anderes Deutschland: Der deutsche Widerstand gegen den NS-Staat 1933-1945 (Frankfurt am Main, 2006), p. 78-90, 116. Entre muitas contribuições, consultar Horst Duhnke, Die KPD von 1933-1945 (Colônia, 1972); Detlev Peukert, Die KPD im Widerstand: Verfolgund und Untergrundarbeit an Rhein und Ruhr 1933-1945 (Wuppertal, 1980); e idem, “Der deutsche Arbeiterwiderstand 1933-1945”, em Klaus-Jürgen Müller (ed.), Der deutsche Widerstand 1933-1945 (Paderborn, 1986), p. 157-81.

24 Karin Hartewig, “Wolf unter Wölfen? Die prekäre Macht der kommunistischen Kapos im Konzentrationslager Buchenwald”, em Herbert et al. (eds.), Die nationalsozialistischen Konzentrationslager, II, p. 939-58; Niethammer (ed.), Der “gesäuberte” Antifaschismus.

25 Ueberschär, Für ein anderes Deutschland, p. 133-40; Shareen Blair Brysac, Resisting Hitler: Mildred Harnack and the Red Orchestra: The Life and Death of an American Woman in Nazi Germany (Nova York, 2000); Almut Brunckhorst, Die Berliner Widerstandsorganisation um Arvid Harnack und Harro Schluze-Boysen (“Rote Kapelle”): Kundschafter im Auftrag Moskaus oder integraler Bestandteil des deutschen Widerstandes gegen den Nationalsozialismus? Ein Testfall für die deutsche Historiographie (Hamburgo, 1998); Hans Coppi et al. (eds.), Die Rote Kapelle im Widerstand gegen den Nationalsozialismus (Berlim, 1994); Stefan Roloff, “Die Entstehung der Roten Kapelle und die Verzerrung ihrer Geschichte im Kalten Krieg”, em Karl Heinz Roth e Angelika Ebbinghaus (eds.), Rote Kapellen – Kreisauer Kreise – Schwarze Kapellen: Neue Sichtweisen auf den Widerstand gegen die NS-Diktatur 1938-1945 (Hamburgo, 2004), p. 186-205.

26 A história da Liga é contada em um brilhante e emocionante livro de Mark Roseman, The Past in Hiding (Londres, 2000).

27 Ueberschär, Für ein anderes Deutschland, p. 126-32; entre uma vasta literatura, consultar especialmente Karl Heinz Jahnke, Weisse Rose contra Hakenkreuz: Der Widerstand der Geschwister Scholl und ihrer Freunde (Frankfurt am Main, 1969); idem, Weisse Rose contra Hakenkreuz: Studenten im Widerstand 1942/43: Einblicke in viereinhalb Jahrzente Forschung (Rostock, 2003); documentos traduzidos em Noakes (ed.), Nazism, IV, p. 457-9.

28 Breloer (ed.), Geheime Welten, p. 103.

29 Ibid., p. 113-5 (24 de agosto e 10 de setembro de 1944).

30 Evans, The Third Reich in Power, p. 668-71.

31 Hassell, The von Hassell Diaries, p. 151-2.

32 Ueberschär, Für ein anderes Deutschland, p. 32-60, 66-77; Joachim C. Fest, Plotting Hitler’s Death: The German Resistance to Hitler 1933-1945 (Londres, 1996), é uma leitura agradável a respeito da evolução da conspiração militar-aristocrática. Peter Hoffmann, The History of the German Resistance 1933-1945 (Montreal, 1996 [1969]), é o relato mais completo e detalhado; Winfried Heinemann, “Der militärische Widerstand und der Krieg”, em DRZW IX/I, p. 743-892, é a pesquisa mais recente.

33 Versão em inglês de trechos do manifesto de 9 de agosto de 1943 em Noakes (ed.), Nazism, IV, p. 614-6.

34 Hassell, The von Hassell Diaries, p. 283; Ueberschär, Für ein anderes Deutschland, p. 161-3.

35 Klemens von Klemperer, German Resistance against Hitler: The Search for Allies Abroad 1938-1945 (Oxford, 1992); Hoffmann, The History, p. 205-50.

36 Para os objetivos políticos e planos dos membros da resistência, consultar Hoffmann, The History, p. 175-202. Para documentos a respeito da resistência, consultar Hans-Adolf Jacobsen (ed.), “Spiegelbild einer Verschwörung”: Die Opposition gegen Hitler und der Staatsstreich vom 20. Juli 1940 in der SD-Berichterstattung: Geheime Dokumente aus dem ehemaligen Reichssicherheitshauptamt (2 vols., Stuttgart, 1984).

37 Hans Mommsen, “Social Views and Constitutional Plans of the Resistance”, em Hermann Graml et al., The German Resistance to Hitler (Londres, 1970 [1966]), p. 55-147.

38 Beate Ruhm von Oppen (ed.), Helmuth James von Moltke: Letters to Freya, 1939-1945 (Londres, 1991); de modo mais geral, sobre a crítica dos membros da resistência a respeito da condução da guerra no leste, consultar Heinemann, “Der militärische Widerstand”, p. 777-89.

39 Hassel, The von Hassell Diaries, p. 218.

40 Wolfgang Gerlach, And the Witnesses Were Silent: The Confessing Church and the Persecution of the Jews (Lincoln, Nebr., 2000 [1987]), p. 210-4; Hans Mommsen, “Die Moralische Wiederherstellung der Nation: Der Widerstand gegen Hitler war von einer antisemitischen Grundhaltung getragen”, Süddeutsche Zeitung, 21 de julho de 1999, p. 15.

41 Ulrich Heinemann, “‘Kein Platz für Polen und Juden’: Der Widerstandskämpfer Fritz-Dietlof Graf von der Schulenburg und die Politik der Verwaltung in Schlesien 1939/40”, em Klessmann (ed.), September 1939, p. 38-54; Heinemann, “Der militärische Widerstand”, p. 751-76.

42 Evans, The Third Reich in Power, p. 576-7.

43 Citado em Noakes (ed.), Nazism, IV, p. 633 (também para os pontos de vista de Popitz e de outros).

44 Ueberschär, Für ein anderes Deutschland, p. 165-71; detalhes a respeito desta e de outras tentativas de assassinar Hitler são encontrados em Hoffmann, The History, p. 251-60.

45 Fest, Plotting Hitler’s Death, p. 202-4, 212-5, 225-30.

46 Ibid., p. 202-26; Peter Hoffmann, Claus Schenk Graf von Stauffenberg und seine Brüder (Stuttgart, 1992), p. 15-268.

47 Fabian von Schlabrendorff, Revolt against Hitler: The Personal Account of Fabian von Schlabrendorff (Londres, 1948), p. 131.

48 Ueberschär, Für ein anderes Deutschland, p. 200-6; Fest, Plotting Hitler’s Death, p. 237-60; Hoffmann, The History, p. 373-411; Heinemann, “Der militärische Widerstand”, p. 803-38.

49 Fest, Plotting Hitler’s Death, p. 255-79; Hoffmann, Claus Schenk, p. 383-443.

50 Fest, Plotting Hitler’s Death, p. 280-7; consultar também a emocionante narrativa em Kershaw, Hitler, II, p. 655-84.

51 Heinemann, “Der militärische Widerstand”, p. 838-40; Hoffmann, The History, p. 412-506.

52 Fest, Plotting Hitler’s Death, p. 292-309; Kershaw, Hitler, II, p. 688-90; Speer, Inside the Third Reich, p. 511-28.

53 Citado em Fest, Plotting Hitler’s Death, p. 290.

54 Kershaw, Hitler, II, p. 691; Fest, Plotting Hitler’s Death, p. 291-307.

55 Ibid., p. 297-317; Kershaw, Hitler, II, p. 692-3 (e p. 1006 nota 43, discutindo as evidências contra e a favor de Hitler ter assistido ao filme); Speer, Inside the Third Reich, p. 531.

56 Schlabrendorff, Revolt, p. 164.

57 Hürter (ed.), Ein deutscher General, p. 16, 48.

58 Para um relato detalhado dos contatos dos conspiradores no exterior, ver Klemperer, German Resistance against Hitler.

59 Heinemann, “Der militärische Widerstand”, p. 840-3.

60 Citado em Noakes (ed.), Nazism, IV, p. 634.