Capítulo 1

Windy Poplars

Rua do Fantasma

14 de setembro

Mal posso aceitar que nossos lindos meses juntos terminaram. Eles foram lindos, não foram, meu amado? E agora só faltam dois anos para que...

(Vários parágrafos omitidos.)

Mas também foi muito bom voltar para Windy Poplars. Para a minha torre particular, minha poltrona especial e minha própria cama macia... e até mesmo para Dusty Miller, tomando sol no parapeito da janela da cozinha.

As viúvas ficaram contentes em me ver e Rebecca Dew disse com toda a franqueza: “Que bom que voltou”. Não foi diferente com a pequena Elizabeth. Tivemos um reencontro arrebatador no portão verde. Ela disse que ficou um pouco com medo de que eu tivesse chegado ao Amanhã antes dela. Então eu perguntei se não estava uma noite encantadora? E ela respondeu que a noite é sempre encantadora na minha presença. Que elogio!

Perguntei como ela passou o verão e ela respondeu com doçura que pensou em tudo de bom que acontecerá no Amanhã. Então nós fomos para a minha torre e lemos uma história sobre elefantes. A pequena Elizabeth está muito interessada nesses animais, atualmente. Perguntou com seriedade, segurando o queixo nas mãozinhas, em um gesto característico seu: “Há algo de fascinante até no próprio nome do elefante, não acha? Espero ver muitos elefantes no Amanhã”.

Nós colocamos um parque para elefantes em nosso mapa da Terra das Fadas. Não faça uma cara de superioridade e desdenho, meu Gilbert, como sei que fará ao ler isto, pois de nada servirá, o mundo sempre terá fadas, não conseguiria seguir em frente sem elas e alguém precisa provê-las.

Também foi ótimo voltar para a escola. Katherine Brooke continua não sendo uma boa companhia, mas meus pupilos parecem alegres em me ver e Jen Pringle quer a minha ajuda para fazer auréolas de latão para as os anjos da apresentação da escola dominical.

Acho que as aulas serão muito mais interessantes que as do ano passado. História do Canadá vai entrar no currículo e tenho que fazer uma pequena apresentação sobre a Guerra de 1812. É tão estranho ler sobre essas guerras antigas... coisas que jamais podem voltar a acontecer. Não acho que nenhum de nós terá mais do que um interesse acadêmico nas “batalhas de outrora”. É impossível imaginar o Canadá em guerra novamente e fico grata por este período histórico ter terminado.

Vamos reorganizar o Clube de Artes Dramáticas o quanto antes, e pedir doações para todas as famílias ligadas à escola. Lewis Allen e eu vamos ficar com a estrada Dawlish e a percorreremos para angariar fundos na tarde de sábado. Lewis tentará matar dois coelhos com uma cajadada só, pois ele está competindo por um prêmio oferecido pela Country Homes  pela melhor fotografia de uma casa de fazenda. O prêmio é de vinte e cinco dólares, que ele usará para comprar um terno e um casaco novo, dos quais precisa muito. Ele trabalhou em uma fazenda durante todo o verão, e está fazendo serviços domésticos e servindo mesas na pensão onde mora novamente, neste ano. Ele deve detestar, mas nunca reclama. Eu gosto do Lewis, é tão determinado e ambicioso, dono de um sorrisinho charmoso, não é muito encorpado e achei que ele não iria aguentar o ritmo de trabalho no ano passado, porém, o verão na fazenda parece tê-lo deixado mais atlético. Este é seu último ano na Escola Secundária e ele pretende cursar um ano na Queen’s. As viúvas vão convidá-lo para o jantar de domingo sempre que possível, neste inverno. A tia Kate e eu tivemos uma conversa sobre as economias da casa e eu a persuadi a me deixar colaborar com os gastos extras e claro que não tentamos persuadir a Rebecca Dew. Eu meramente pedi para a tia Kate se poderia convidar o Lewis Allen para jantar aos domingos, pelo menos duas vezes por mês. A tia Kate disse friamente que temia que elas não tivessem condições. Rebecca soltou uma exclamação angustiada: “É o fim da picada. Estamos tão pobres que sequer podemos oferecer de vez em quando uma refeição a um jovem humilde, trabalhador e virtuoso que está tentando ter uma boa educação! Vocês pagam o quanto é preciso pelo fígado para Aquele Gato, que está explodindo de gordo. Bem, descontem o valor do meu salário e convidem o rapaz!”.

O evangelho segundo Rebecca foi aceito. Lewis Allen virá jantar, e nem o fígado do Dusty Miller nem o salário da Rebecca Dew serão reduzidos. A querida Rebecca Dew!

A tia Chatty veio até meu quarto na noite passada e me contou que queria uma capa decorada com contas, mas a tia Kate disse que ela era velha demais e isso feriu os seus sentimentos. Perguntou se eu concordava, pois não queria parecer inapropriada, mas sempre quis uma capa com contas! Sempre achou que elas são o que você chamaria de garbosas e agora elas voltaram à moda! Eu lhe assegurei que ela não é velha demais e que ninguém é velho demais para usar o que deseja. Disse que ela não iria querer usá-la, se fosse velha demais. Então, ela afirmou em um tom nem um pouco desafiador, que deveria comprá-la e desafiar a tia Kate, mas acredito que ela vai acabar comprando-a e eu sei como aplacar a tia Kate.

Estou sozinha em minha torre. Lá fora, a noite está muito, muito tranquila, e o silêncio parece aveludado. Nem mesmo os álamos estão murmurejando. Eu acabei de me debruçar na janela e assoprar um beijo na direção de alguém que está a menos de cinquenta quilômetros de Kingsport.