Capítulo 8

Cabia a Irene o privilégio de todas as noites escovar os cabelos da tia. Esses momentos noturnos eram para ela os mais preciosos. É verdade que às vezes era uma agonia manter-se acordada e que era sempre doloroso reprimir os bocejos; três anos de prática incessante ainda não a tinham acostumado às horas tardias de tia Lilian, que tinha o hábito de caçoar dela por seu infantil desejo de dormir. Algumas vezes insistia, muito solícita, em que Irene repousasse depois do almoço; outras, em que fosse para a cama às dez da noite. As caçoadas deixavam Irene envergonhada da própria infantilidade; as solicitudes faziam-na protestar contra a ideia de ser considerada ainda um bebê, já que nunca se sentia cansada e se satisfazia plenamente com cinco ou seis horas de sono. O mais importante, descobrira, era não bocejar na frente de tia Lilian e parecer sempre descansada e disposta. Se tia Lilian não notasse nada, não caçoaria nem seria solícita.

Em qualquer dos casos, essas inconveniências eram vinte mil vezes recompensadas pelas delícias das conversas confidenciais diante do espelho da penteadeira. Enquanto a jovem passava a escova dezenas de vezes pelas longas mechas castanho-douradas, a sra. Aldwinkle, de olhos fechados e com uma expressão de beatitude no rosto — ela sentia o prazer de um gato sendo acariciado —, falava espasmodicamente, com frases entrecortadas, dos acontecimentos do dia, dos hóspedes, das pessoas que ambas conheciam; ou do próprio passado, dos planos para o futuro, dela ou de Irene, do amor. Sobre todos esses assuntos a sra. Aldwinkle falava com intimidade, confidencialmente, sem reservas. Sentindo que a tia a tratava como uma moça crescida e quase como sua igual, Irene ficava orgulhosa e agradecida. Apesar de não ter planejado deliberadamente a completa submissão da sobrinha, a sra. Aldwinkle descobrira nessas conversas em altas horas da noite o meio mais perfeito de atingir esse objetivo. Se falava dessa forma com Irene, era porque sentia necessidade de conversar intimamente com alguém, e não havia mais ninguém com quem pudesse fazê-lo. Entretanto, por acaso conseguira, no decorrer do processo, fazer da sobrinha sua escrava. Por ter se tornado confidente de tia Lilian e estar investida, por assim dizer, de um título honorífico, Irene sentia uma gratidão que fortalecia seu natural apego infantil por ela.

Ao mesmo tempo, ela aprendera a conversar com certa familiaridade sobre muitas coisas sobre as quais espera-se que as jovens sejam ignorantes e das quais, na verdade, ela própria não sabia absolutamente nada, a não ser superficialmente. Aprendera a ser informada e experiente no vácuo, por assim dizer, sem ter qualquer conhecimento pessoal do mundo. Ingenuamente era capaz de dizer coisas que só poderiam ser expressas dos recônditos da mais profunda inocência, amplificando e tornando embaraçosamente explícitas em público questões que a sra. Aldwinkle apenas sugerira, ao seu modo fragmentado, durante aquelas horas de confidências. Irene se considerava tremendamente madura.

Nessa noite a sra. Aldwinkle estava com um humor particularmente sombrio e queixoso.

— Estou ficando velha — disse, suspirando, e abriu os olhos um instante para sua imagem no espelho. A imagem não contradizia a afirmação. — Mas ainda me sinto muito jovem.

— É isso que importa na verdade — declarou Irene. — E além disso é besteira; a senhora não está velha e não parece velha. — Aos olhos da sobrinha, principalmente, ela não parecia velha.

— As pessoas não gostam de quem envelhece — continuou a sra. Aldwinkle. — Os amigos são terrivelmente infiéis. Eles desaparecem — suspirou. — Quando penso em todos os amigos... — e não concluiu a frase.

Ao longo da vida, a sra. Aldwinkle tivera o mau hábito de romper com seus amigos e amantes. O mr. Cardan era quase o único sobrevivente de uma antiga geração de amigos. Ela se afastara de todos os outros sem nenhum pesar. Na juventude parecia fácil substituir velhos amigos por novos. Eles podiam ser encontrados, pensava ela, em todos os lugares, diariamente. Agora começava a duvidar de que a substituição fosse inesgotável como supunha. Descobrira que as pessoas de sua idade havia muito estavam acomodadas nos pequenos mundos sociais que criaram para si mesmas. E os mais jovens pareciam ter dificuldade em acreditar que ela sentisse no coração o mesmo que eles sentiam.

— Acho as pessoas horríveis — disse Irene, dando um puxão especialmente violento na escova para enfatizar sua indignação.

— Você não vai ser infiel? — perguntou a sra. Aldwinkle.

Em resposta, Irene se curvou e beijou-a na testa. A sra. Aldwinkle abriu seus cintilantes olhos azuis e ergueu-os para a sobrinha, sorrindo como uma mulher fatal, que, para Irene, continuava tão fascinante quanto sempre fora.

— Se ao menos as pessoas fossem como minha pequena Irene... — A sra. Aldwinkle deixou a cabeça pender para a frente e novamente fechou os olhos. Fez-se silêncio. — O que você está escondendo por trás de tantos suspiros? — perguntou de repente.

Irene sentiu o rubor subir por suas têmporas e desaparecer por trás da franja metálica.

— Oh, nada — respondeu, precipitada, demonstrando a dimensão de seu embaraço. Aquela inspiração profunda e a expiração breve e apaixonada não eram componentes de um anseio. Ela apenas bocejava com a boca fechada.

Mas a sra. Aldwinkle, sempre propensa ao romantismo, não suspeitou da verdade.

— Francamente! Nada? — repetiu, incrédula. — Ora, isso é um vento que sopra pelas frestas de um coração partido. Nunca ouvi um suspiro como esse. Pelo espelho, olhou para Irene.

— E por que está vermelha como uma peônia? O que é?

— Não é nada, estou lhe dizendo — declarou Irene num tom quase irritado. Estava mais aborrecida consigo mesma por ter bocejado com tanta inépcia e enrubescido de maneira tão evidente do que com a tia. Mergulhou ainda mais na escovação, esperando e rezando para que a tia mudasse de assunto.

Mas a sra. Aldwinkle era implacável na sua falta de tato.

— Tenho certeza de que se trata de um mal de amor. — Arqueou um sorriso através do espelho.

Os gracejos da sra. Aldwinkle conseguiam cair como pesados golpes de porrete sobre os alvos de sua troça. Nunca se sabia, quando ela estava animada, de quem ter mais pena: se da vítima ou da própria sra. Aldwinkle. Pois, apesar de a vítima ser duramente atingida, o espetáculo que a sra. Aldwinkle proporcionava ao se empenhar no ataque era tristemente ridículo; pelo bem dela e de toda a humanidade, desejava-se ansiosamente que parasse. Mas ela nunca o fazia. Seguia com seus gracejos até um fim previsto, e geralmente ia mais longe do que qualquer um menos obstinado pudesse prever.

— Parece um gemido de baleia — continuou ela com seu jogo assustador. — Deve ser uma paixão imensa. Quem é? Quem é? — Ela ergueu as sobrancelhas e abriu o que lhe pareceu, ao estudar-se no espelho, o mais matreiro, porém charmoso, dos sorrisos, como um sorriso numa comédia de Congreve, ocorreu-lhe.

— Mas, tia Lilian — protestou Irene, quase desesperada, quase em lágrimas —, não é nada, estou lhe dizendo. — Em momentos como esse ela quase chegava a ter ódio da tia. — Na verdade, é apenas... — Ia revelar corajosamente o seu segredo; ia dizer à tia Lilian, sob o risco de uma implicância ou de uma solicitude igualmente dispensáveis, pois qualquer uma seria melhor do que aquilo, que simplesmente bocejara. Mas a sra. Aldwinkle, ainda perseguindo implacavelmente sua diversão, interrompeu-a.

— Posso adivinhar quem é — disse, agitando o indicador para o espelho. — Eu aposto. Não sou tão velha, cega e estúpida quanto você pensa. Acha que não notei? Tolinha! Acha que sua velha tia está cega?

Irene enrubesceu novamente; as lágrimas subiram-lhe aos olhos.

— De quem a senhora está falando, afinal? — Sua voz era o resultado de um grande esforço para não deixar que saísse trêmula, falha, descontrolada.

— Que ingenuidade! — caçoou a sra. Aldwinkle, ainda toda Congreve. E nesse ponto, mais cedo do que costumava nessas ocasiões, misericordiosamente consentiu que a pobre Irene se livrasse de sua agonia. — Hovenden, é claro! Quem mais poderia ser?

— Hovenden? — repetiu Irene com genuína surpresa.

— Quanta inocência! — Por um momento a sra. Aldwinkle retomou sua esmagadora diversão. — Mas é incrivelmente óbvio — continuou num tom mais natural. — O pobre rapaz segue você como um cãozinho.

— A mim? — Irene estava preocupada demais em acompanhar o raciocínio da tia para perceber que o seu é que estava sendo seguido.

— Não finja — disse a sra. Aldwinkle. — É besteira fingir. Muito melhor ser franca e direta. Admita que gosta dele.

Irene admitiu:

— Sim, é claro que gosto dele. Mas não... não de maneira especial. Nem mesmo cheguei a pensar nisso.

Com uma expressão ao mesmo tempo desdenhosa e benevolente, a sra. Aldwinkle sorriu. Esquecera sua depressão, as causas de suas queixas pessoais contra a ordem universal das coisas. Absorvida unicamente pelo mais interessante dos assuntos, o estudo exclusivo e apropriado da espécie humana, ela se sentia novamente feliz. Amor — a única coisa possível. Mesmo a arte, em comparação, quase não existia. A sra. Aldwinkle quase chegava a interessar-se pelo amor dos outros tanto quanto pelo seu próprio. Queria que todos amassem, constante e complicadamente. Gostava de aproximar as pessoas, fomentar sentimentos ternos, observar o desenvolvimento da paixão, ajudar na trágica catástrofe, quando acontecia — e a sra. Aldwinkle sempre se desapontava quando não acontecia. E então, quando o primeiro amor, envelhecido, morresse lenta ou violentamente, haveria um novo amor para pensar, arranjar, fomentar, observar; e depois o terceiro, o quarto... As pessoas deviam seguir sempre os movimentos do coração; é o divino em nós que se agita no coração. E deve-se adorar Eros com tanta reverência que nada mais nos satisfaça senão as mais apaixonadas manifestações de seu poder. Contentar-se com um amor que com o tempo se torna mera afeição, gentileza e compreensão silenciosa é o mesmo que blasfemar contra o nome de Eros. O amor verdadeiro, pensava a sra. Aldwinkle, abandona o amor velho e paralítico e se devota completamente à paixão repleta de juventude.

— Que bobinha você é! — disse ela. — Às vezes me pergunto se é capaz, afinal, de se apaixonar. É tão incompreensiva, tão fria...

Irene protestou o mais energicamente possível. Não se podia viver, como ela, tanto tempo na companhia da sra. Aldwinkle sem considerar a acusação de frieza e insensibilidade à paixão como a mais execrável de todas as culpas. Era preferível ser chamada de assassina — principalmente se fosse um caso de crime passionnel.

— Não sei como a senhora pode dizer isso — disse, indignada. — Estou sempre me apaixonando. — Não houvera Peter, e Jacques, e Mário?

— Você pode pensar que está — disse a sra. Aldwinkle desdenhosamente, esquecendo-se de que fora ela mesma quem convencera Irene de que estava apaixonada. — Mas é mais imaginação do que um fato. Algumas mulheres nascem assim. — Ela balançou a cabeça. — E morrem assim. — Podia-se inferir das palavras da sra. Aldwinkle e pelo tom de sua voz que Irene era uma solteirona comprovadamente incapaz, depois de vinte anos de evidências acumuladas, de sentir qualquer coisa remotamente semelhante a um amor apaixonado.

Irene não disse nada e continuou escovando os cabelos da tia. As calúnias da sra. Aldwinkle feriam-na profundamente. Gostaria de fazer alguma coisa surpreendente para provar que eram infundadas. Algo espetacular.

— E sempre achei Hovenden um rapaz muito bonito — continuou a sra. Aldwinkle, no tom de quem desenvolvia um argumento. E prosseguiu falando. Irene ouvia e continuava escovando.