Capítulo 10

O mr. Cardan retornou ao palácio dos Cybo Malaspina para descobrir que o número de hóspedes aumentara durante sua ausência, com a chegada da sra. Chelifer. A sra. Aldwinkle não se sentira particularmente desejosa de receber a mãe de Chelifer em sua casa, mas, ao tomar conhecimento do fato de que ele estava preparado para partir tão logo a mãe chegasse à Itália, insistiu veementemente em oferecer sua hospitalidade à dama.

— É absurdo — argumentou ela — descer novamente para aquele horrível hotel em Marina de Vezza e ficar lá durante alguns dias sem conforto nenhum, depois ir a Roma de trem. Traga sua mãe para cá e, então, quando o mr. Falx tiver que ir para a conferência, iremos todos a Roma de carro. Será muitíssimo mais agradável.

Chelifer tentou recusar, mas a sra. Aldwinkle não aceitou recusas. Quando a sra. Chelifer chegou à estação de Vezza, encontrou Francis na plataforma, e ao seu lado a sra. Aldwinkle, vestida de seda amarela com um esvoaçante véu branco. As boas-vindas dela foram muito mais efusivas do que as do próprio filho. Um pouco surpresa, mas preservando toda a calma e nobre dignidade, a sra. Chelifer foi levada para o Rolls-Royce.

— Todos nós admiramos muito o seu filho — disse-lhe a sra. Aldwinkle. — Ele é tão... como devo dizer?... tão post bellum, tão essencialmente um de nós... — Ela fazia questão de estabelecer sua posição entre os mais jovens da nova geração. — Ele expressa tudo o que alguém é capaz de sentir apenas vagamente. Surpreende-a a nossa admiração?

A sra. Chelifer estava surpresa com tudo. Foi preciso algum tempo para ela se acostumar à sra. Aldwinkle. Tampouco a aparência do palácio fora calculada para minorar seu assombro.

— É um soberbo exemplo do barroco primitivo — assegurou-lhe a sra. Aldwinkle, apontando com a sombrinha. Mas mesmo depois de tomar conhecimento das datas, tudo parecia um bocado estranho para a sra. Chelifer.

A sra. Aldwinkle foi extremamente cordial com sua nova hóspede, mas secretamente a sra. Chelifer a incomodava demais. Quaisquer que fossem as circunstâncias do encontro, teria havido poucas razões para que a sra. Aldwinkle gostasse dela. As duas mulheres não tinham nada em comum; suas visões da vida eram diferentes e irreconciliáveis, viviam em mundos separados. Em tempos melhores, a sra. Aldwinkle teria considerado sua hóspede bourgeoise e bornée. Mas, no momento, naquelas circunstâncias, simplesmente a detestava. Não era de admirar; porque, com sua mãe, Chelifer tinha uma desculpa permanente e irreprochável para escapar da sra. Aldwinkle. Naturalmente, ela ressentia a presença em sua própria casa de uma justificativa viva e permanente à infidelidade. Ao mesmo tempo era preciso estar em bons termos com a sra. Chelifer, pois se se indispusesse com a mãe, obviamente o filho se retiraria. Agastada, a sra. Aldwinkle continuou a tratá-la com a mesma afeição esfuziante do primeiro dia.

Entre os outros hóspedes, a chegada da sra. Chelifer foi muito mais bem recebida. O mr. Falx encontrou nela uma pessoa mais compreensiva e solidária do que poderia existir em sua anfitriã. Para lorde Hovenden e Irene, significou a cessação completa dos deveres de espiã da moça; contudo, gostaram muito dela por ela mesma.

— Uma coisinha deliciosa — era como lorde Hovenden a resumia.

— Ela é tão maravilhosamente boa, simples e integral, se entende o que quero dizer — explicava a srta. Thriplow a Calamy. — Ser integralmente entusiasmada por canções folclóricas, direitos dos animais e todo esse tipo de coisa é mesmo maravilhoso. Ela é uma lição para todos nós — concluiu ela —, uma lição. — A sra. Chelifer foi então dotada de todas as qualidades que o merceeiro da vila infelizmente não possuía. O símbolo de suas virtudes, se é que ele as tinha, fora o avental branco; a integridade da sra. Chelifer foi posteriormente representada pelos seus clássicos vestidos cinzentos.

— Ela é uma das Quakers da Natureza — declarou a srta. Thriplow. — Ah, se todos fossem como ela! — Em certa época, não havia muito tempo, a srta. Thriplow aspirara a ser uma das Guardiãs da Natureza. — Eu nunca soube que alguém tão bom e columbino existisse fora de um quadro acadêmico de 1880. Você sabe o que quero dizer: a mãe puritana a bordo do Mayflower, ou algo parecido. Pode ser um absurdo na academia, mas na vida real é adorável.

Calamy estava de acordo.

Mas a pessoa que mais sinceramente gostou da sra. Chelifer foi Grace Elver. Desde o instante em que pôs os olhos nela foi sua fiel seguidora. E a sra. Chelifer praticamente adotou-a durante esse período. Ao tomar conhecimento da natureza das preferências e ocupações da dama, o mr. Cardan pôde explicar toda aquela gentileza, apoiando-se na hipótese de que Grace era o que havia de mais próximo de um cãozinho ou um gato abandonado que a sra. Chelifer poderia encontrar ali. E o amor à primeira vista de Grace devia-se à sua percepção de que lá estava uma protetora inata e uma amiga. De qualquer maneira, ele se sentia profundamente grato à sra. Chelifer por ter aparecido naquele momento. Sua presença na casa facilitou o que, de outra forma, teria sido uma situação difícil.

Que a sra. Aldwinkle ficaria impressionada com a história romântica do rapto de Grace, disso o mr. Cardan sempre tivera certeza. Quando soube da história, ela ficou impressionada, embora bem menos do que o esperado. Suas preocupações com os próprios assuntos eram demasiado grandes para que pudesse reagir com o entusiasmo costumeiro ao que, em outras épocas, teria sido de um apelo irresistível. A maneira como ela reagiu ao caso, então, e disso o mr. Cardan jamais cogitou duvidar, foi achá-lo romântico. O que não garantia que pudesse gostar da heroína. Pelo que ele conhecia da sra. Aldwinkle, e conhecia bastante, tinha certeza de que ela se cansaria muito depressa da pobre Grace. Conhecia bem sua falta de paciência e intolerância. Grace ficaria irritada, Lilian seria indelicada, e só Deus sabe que cenas se seguiriam. O mr. Cardan trouxera a moça ao palácio com a intenção de passarem um ou dois dias e depois a levaria embora, antes que a sra. Aldwinkle tivesse tempo de irritar a pobre Grace. Mas a presença da sra. Chelifer o fez mudar de ideia. Sua afeiçoada proteção era uma garantia contra a impaciência da sra. Aldwinkle; o mais importante é que ela causara o melhor efeito possível na própria Grace. Diante da sra. Chelifer, ela se portava com discrição e sensibilidade, como uma criança dando o máximo de si para causar boa impressão. A sra. Chelifer, além disso, mantinha um olhar carinhoso e atento na aparência e nos modos da moça; mantinha-a na linha quanto às mãos limpas e aos cabelos penteados, dando um toque gentil quando ela não se comportava tão bem quanto devia à mesa e cuidando de sua propensão a comer demais as coisas de que gostava. Era óbvio que a sra. Chelifer exercia a melhor influência sobre ela. Quando estivessem casados, o mr. Cardan decidiu que a convidaria com frequência para sua casa — preferivelmente, embora ela fosse uma coisinha delicada, enquanto estivesse fora. Enquanto isso, seguro de que sua residência no palácio dos Cybo não seria prejudicada por incidentes desagradáveis, escreveu ao seu advogado pedindo que fizesse os arranjos necessários para o casamento.

De sua parte, a sra. Chelifer estava encantada com Grace. Tal como conjeturara o mr. Cardan, ela sentia falta de seus cães e gatos, das crianças pobres e dos jogos tradicionais. Foi com muita relutância que desistiu, por fim, de sua velha casa em Oxford; relutou muito, embora os argumentos de Francis fossem inquestionáveis. Era grande demais para ela, cheia daqueles artifícios arquitetônicos medievais dos quais o mr. Ruskin e seus seguidores tanto se orgulhavam; não era saudável, principalmente no inverno; havia muitos anos que os médicos a aconselhavam a deixar o vale do Tâmisa. Sim, os argumentos eram inquestionáveis; mas levou muito tempo para que finalmente ela se convencesse a sair de lá. Quarenta anos de sua vida foram passados ali, e ela relutava em afastar-se de tantas memórias. Além disso, havia os cães e as crianças pobres, todos os seus velhos amigos e a caridade. No final, entretanto, se convenceu. A casa foi vendida e ficou acertado que ela passaria o inverno em Roma.

— Agora você está livre — disse-lhe o filho.

Mas a sra. Chelifer meneou a cabeça, bastante pesarosa.

— Não sei se aprecio tanto ser livre — respondeu. — Não terei o que fazer em Roma. Sinto-me apavorada por antecipação.

— Logo encontrará alguma coisa — assegurou-lhe Francis. — Não há o que temer.

— Será mesmo? — questionou a sra. Chelifer, duvidosa. Eles andavam pelo pequeno jardim atrás da casa; olhando o gramado e os canteiros floridos, ela suspirou.

Mas Francis estava certo; cães, crianças pobres e seus equivalentes felizmente não eram raros. Ao final do primeiro estágio de sua jornada, a sra. Chelifer encontrara em Grace Elver a compensação para o que abandonara em Oxford. Cuidando da pobre Grace, ela se sentia feliz.

Para os demais hóspedes, a chegada da srta. Elver não teve nenhuma importância especial ou pessoal. Era apenas a idiota do mr. Cardan; só isso. Mesmo Mary Thriplow, de quem se poderia esperar algum interesse por um exemplo tão genuíno de alma simples, prestou pouca atenção nela. O fato é que Grace era simples demais para ser interessante. A simplicidade não é uma virtude, a menos que se seja potencialmente complicada. A sra. Chelifer, sendo uma mulher inteligente, apesar de toda a sua simplicidade, emanava luz própria, sentia a srta. Thriplow. Grace era simples como uma criança ou um imbecil pode ser; seu valor didático era, portanto, praticamente nulo. A srta. Thriplow permaneceu fiel à sra. Chelifer.